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MARO Festival da Canção 2022
Fotografia: MARO/Instagram

À Escuta. MARO, Kady e David Fonseca são os destaques desta semana

Em mais uma edição do À Escuta, rubrica semanal do Espalha-Factos sobre música portuguesa, o destaque é conferido aos novos singles de MARO, Kady e David Fonseca.

Falamos ainda de novos singles de Grand Pulsar, Manteau e Mariana Dalot, do regresso de Mirror People, do single de estreia dos FUGUE, da colaboração de Rita Borba com Pedro de Tróia, dos EPs de estreia de JÜRA e INÊS APENAS, dos novos discos de George SilverSopa de Pedra e do lançamento surpresa dos Bruxas/Cobras.

‘it keeps on raining’ é o terceiro avanço do novo disco de MARO

Há uma semana conquistou o 9.º lugar na Grande Final do Festival Eurovisão da Canção 2022. Já a conhecemos minimamente bem para sabermos que não consegue ficar parada por muito tempo. Ela dispensa apresentações, mas sim, estamos a falar da nossa querida MARO, que acaba de lançar o terceiro avanço, it keeps on raining, do seu novo longa-duração.

É mesmo caso para dizer “time to say goodbye”, ou pelo menos para já, ao registo nostálgico e melancólico que tão bem conhecemos de MARO. Se ‘am i not enough for now?’ e ‘we’ve been loving in silence’ já tinham alguns toques de upbeat ali e acolá, com este ‘it keeps on raining’, a nossa vontade em querer ouvir um projeto na íntegra de MARO, a viver esta nova e intrigante faceta, aumenta. Estamos a caminhar para uma experiência sonora fortíssima, incrivelmente carregada de energia – tudo o que precisamos neste momento. ‘it keeps on raining’ é uma canção toda ela electropop, onde um pujante e orelhudo refrão se sobressai por entre uns sensacionais drops eletrónicos, que soam extremamente futuristas. Claro está que estão, mais uma vez, presentes uns grandiosos toques do músico e produtor norte-americano John Blanda. Obviamente, guardamos sempre um espaço para enaltecer a inigualável voz de MARO, dona de um timbre único, que faz tudo valer a pena. É extraordinário como encaixa em qualquer estilo, que sorte a nossa. 

O novo álbum de MARO ainda não tem data de lançamento definida, mas está previsto sair durante este verão.

– Ana Margarida Paiva

Kady chama Dino d’Santiago para nos entregar o avanço do seu próximo EP

‘DJUNTO’ junta Kady a Dino d’Santiago e serve de primeiro avanço ao próximo EP da cantora e compositora, pronto a sair ainda este ano.

‘DJUNTU’ (JUNTO) é um hino à liberdade – sem surpresa, tendo em conta que temos um Dino D’Santiago – esta que é tão bela como a performance vocal de Kady. É uma malha que transpira união, cujo laço conivente e envolvente surge através destas batidas fortes e cativantes a que estes dois já nos acostumaram. É quente, é infetante e é com certeza viciante, pois é sempre feito o convite de regresso quando acaba a canção. 2020 já foi há quase uma década – se não foi, parece  -, mas não devemos esquecer a canção que Kady levou ao Festival da Canção que teve a autoria de Dino D’Santiago, pois é outro bom exemplo da virtuosidade característica da simbiose destes dois.

Fotografia: Divulgação

No comunicado enviado à imprensa podemos ler :DJUNTU’ (‘Juntos’) é um apelo à união, à empatia, ao saber dar e receber, e à consciencialização de que a força de cada um de nós como indivíduo torna-se muito maior quando nos unimos. O vídeo contou com a direção criativa de Urivaldo Lopes e foi inspirado pela tradição cabo-verdiana, onde o branco e o lenço das batucadeiras são peças-chave da mensagem que se pretende transmitir, e que simbolizam a paz, o amor, a união e a liberdade de expressão. Segundo Urivaldo Lopes, “the video is an acceptance of a modern society, where all together we can express our freedom. […]‘DJUNTU’ dita o compasso desta nova fase de KADY e marca o tom do que está para vir. Neste trabalho, uma fusão entre a pop e a música tradicional de Cabo Verde mas arrogado de uma nova contemporaneidade, cada letra e melodia são sentidas na pele e as canções surgem como uma homenagem às raízes da cantora e compositora e, simultaneamente, um manifesto e uma apologia ao empoderamento, emancipação, força, beleza e orgulho da mulher africana”.

O tema conta ainda com a colaboração de Djodje na letra.

– José Duarte

‘Love Me or Leave Me’ é o quarto capítulo de Living Room Bohemian Apocalypse, o novo disco-filme de David Fonseca

Depois de serem dadas a conhecer ‘Chasing the Light’, ‘Live It Up’ e ‘I Gotta Learn How to Let You Go’, David Fonseca entrega ‘Love Me or Leave Me’, uma colaboração Libra (nome artístico de Sónia Curcialeiro), o quarto capítulo de Living Room Bohemian Apocalypse, o novo disco-filme do ex-Silence 4.

Fotografia: Divulgação

Sobre a colaboração com Libra, David Fonseca indica, no comunicado partilhado com a imprensa, que descobriu a cantora e compositora portuguesa com raízes cabo-verdianas e angolanas “num zapping pelo Youtube”, tendo ficado “hipnotizado pela voz dela, como se estivesse a segredar-nos ao ouvido um segredo polvilhado de Soul e Punk Rock”. O artista revela ainda que ‘Love Me or Leave Me’ é um dos seus momentos “preferidos de Living Room Bohemian Apocalypse, a abrir um capítulo mais escuro desta saga, e que percorre outro tipo de sonoridade, a misturar mundos e personalidades distintas num encontro duro e emocional”.

‘Love Me or Leave Me’ é uma cantiga peculiar para ser adicionada ao já longo catálogo de momentos inóspitos existentes na discografia de David Fonseca. Mas é isso que o torna um artista extra especial no cânone da pop portuguesa – a sua capacidade camaleónica de se adaptar a qualquer estilo, a sua mente aberta para novas colaborações, e a sua capacidade de, com cada novo projeto, explorar conceitos arrojados. Tudo indica que Living Room Bohemian Apocalypse, por ser um disco-filme, poderá ser a coisa mais arrojada e megalómana que David Fonseca já entregou – coisa que o seu longa-duração anterior, Radio Gemini, já o era, mas parece poderá ser suplantado em todo o nível. Contudo, os singles em antecipação deste novo trabalho do artista responsável por discos como Futuro Eu, Dreams in Colour ou Sing Me Something New, indicam que poderemos estar prestes a ser presenteados com um álbum que ficará nos primeiros lugares em rankings futuros da discografia de David Fonseca.

Parece, de facto, haver algo especial em torno deste Living Room Bohemian Apocalypse, e a colaboração com Libra que se ouve em ‘Love Me or Leave Me’ simboliza um pouco aquilo que tem sido a antecipação deste disco-filme: primeiro estranha-se, mas depois entranha-se. Ao início, questionamos como é que a junção entre o universo da pop rock eclética de David Fonseca e o R&B de Libra vai funcionar, mas à medida que a canção se vai desenvolvendo, percebemos que, para além de funcionar, é uma das canções mais interessantes que David Fonseca já colocou cá fora. É uma faixa que se aproxima do neo-soul mais experimental (ouçam as grooves da batida), a fazer lembrar um pouco algo que os Gorillaz podiam conseguir fazer, que desagua num refrão orelhudo e apaixonante, onde as vozes de Libra e David Fonseca se encontram naquele que poderá ser um dos momentos mais belos de Living Room Bohemian Apocalypse.

Living Room Bohemian Apocalypse tem data de lançamento marcada para o próximo dia 10 de junho. Antes disso, o disco-filme vai poder ser visto (e ouvido) em sala de cinema em registo de antestreia. No dia 24 de maio, a exibição ocorre no Cinema Trindade, no Porto, e no dia 25 de maio, no Cinema Ideal, em Lisboa. Ambas as sessões vão contar com a presença de David Fonseca para um momento exclusivo de Q&A.

– Miguel Rocha

Rita Borba e Pedro de Tróia cantam ‘Lá Fora’, canção que dá título ao disco de estreia de Rita Borba

Em 2021, Rita Borba colocou cá fora dois singles, ‘Chá das Cinco’ e ‘Até Três’, tão enternecedores, delicados e bem construídos que justificaram a inclusão da artista açoriana como parte da lista do Espalha-Factos de artistas nacionais que se revelaram em 2021.

Fotografia: Divulgação

Se os singles já antecipavam o lançamento de um disco de estreia em 2022, agora finalmente temos a confirmação da existência de Lá Fora, título do longa-duração de estreia e do novo single de Rita Borba, um dueto com Pedro de Tróia, responsável também pela produção do disco ao lado de Tomás Branco, com tanto Pedro de Tróia como Tomás Branco a terem apresentado já contribuições para os dois primeiros singles da artista. ‘Lá Fora’ conta ainda com a contribuição de Alexandre Alves na bateria e Bernardo Barata no baixo.

Das três canções colocadas cá fora, ‘Lá Fora’ é aquela que mais se aproxima de alguma definição de canção “pop”. É romântica e orelhuda, cheio de hooks e harmonias – viva a química e as dinâmicas existentes entre os timbres de Pedro de Tróia e Rita Borba – que não dão para ignorar, povoada por sintetizadores nostálgicos que, primeiro, trazem muita da delicadeza e jovialidade presentes em ‘Chá das Cinco’ e ‘Até Três’, e segundo,  traz à cabeça a nostalgia insurgente da junção entre dream pop e new wave que Pedro de Tróia tem feito nos seus trabalhos a solo (Depois Logo Se Vê e Tinha de Ser Assim, ambos discos merecedores de serem incluídos em listas de final de ano aqui no Espalha-Factos, em 2020 e 2021 respetivamente). 

Se esta é uma receita vencedora? Sem dúvida – ‘Lá Fora’ é uma canção “pop” extremamente bem executada e eficiente, daquelas que nos convida a vir visitar uma e outra vez. O álbum que a cantiga dá título, Lá Fora, tem data de lançamento marcada para o próximo dia 3 de junho. Que chegue rápido! 

– Miguel Rocha

‘Só Mais Um’ avanço auspicioso do álbum de estreia de Grand Pulsar

O duo formado por Alex Mey e Diogo Brandão continua a preparar o lançamento de 1000000 de Coisas Para e Por Dizer, o seu primeiro longa-duração. Grand Pulsar mostram agora o quarto avanço desse trabalho, intitulado Só Mais Um.

Sobre este primeiro lançamento do ano: “é uma canção de verão saborosa, um hino à ronha e a uma das (outras) melhores coisas da vida: o beijo”, lê-se em comunicado enviado à imprensa. É do mundo da pop onde nasce a sonoridade de Grand Pulsar. É facilmente audível a influência do estilo quer na presença de hooks constantes, quer nas dinâmicas orgânicas de composição da dupla, onde umas grooves virtuosas pairam numa espécie de balada acústica deturpada. É desta forma que ‘Só Mais Um’ revela-se uma faixa suave e, ao mesmo tempo, dançável – melhor combinação que esta era impossível. Pelo meio, surgem uns acordes polidos de guitarra e umas batidas envolventes de bateria, que culminam num refrão incrivelmente orelhudo e que fica facilmente no ouvido, fruto das harmonias vocais entre Alex e Diogo. Uma canção grandiosa em ambiência que, com toda a certeza, não vai ficar de parte da nossa playlist de verão – acho que estamos todos de acordo. 

– Ana Margarida Paiva

‘Almost Time’ é o segundo avanço do EP de estreia dos Manteau

O single de estreia dos Manteau – grupo lisboeta formado por João Maria Girbal, João Carvalho, José Salgado e António Jordão -, ‘T’as l’heure?’, ter-nos passado ao lado foi um erro crasso. Acontece, nem sempre apanhamos todo o peixe que vem à rede do À Escuta e, de vez em quando, passam pelas brechas artistas que mais tarde nos ativam os radares para olharmos para eles. 

Fotografia: Bandcamp da banda

No caso dos Manteau, foi isso que nos aconteceu. Com ‘Almost Time’, seu segundo single e novo avanço de Timequake, EP de estreia do grupo, surge a oportunidade de redimir-nos e colocarmos os olhos naquilo que a banda lisboeta anda a fazer. ‘Almost Time’ conta ainda com contribuição nos sopros por parte de Pedro Monteiro.

Produzido por Gonçalo Bicudo (Ganso), ‘Almost Time’ é uma canção que puxa de alguns dos galões de influência que se observavam em ‘T’as l’heure?’ – o jazz, a dream pop e o slowcore -, juntando-lhe um toque bem presente de bossa nova (tanto pelas grooves da cantiga como pela presença bem conseguida dos sopros), tornando a faixa próximo de algo que poderíamos ouvir de um Tim Bernardes ou Rubel, mas mais virados para a estética do indie rock

Em jeito de conclusão, ‘Almost Time’ funciona como uma espécie de summer jam, onírica e nostálgica, pronta a ser a companheira numa viagem por uma praia distante. É uma viagem na qual queremos embarcar, na boa verdade. No próximo dia 1 de julho, vamos conhecer o resto dos passageiros dessa excursão que será Timequake, curta-duração de estreia dos Manteau.

– Miguel Rocha

‘Coisa Simples’ é a nova cantiga encantadora de Mariana Dalot

Depois de se ter estreado no início de 2022  com o single ‘No Final’, Mariana Dalot entrega-nos agora o seu segundo single, ‘Coisas Simples’, a antecipar o seu disco de estreia que será editado ainda em 2022. ‘Coisas Simples’ conta com contribuições na letra de Lour e produção de Rui Pedro “Pity” Vaz (The Black Mamba), que tem colaborado com artistas como Ana Moura, Dino d’Santiago, ou Bárbara Tinoco.

No comunicado partilhado com a imprensa, Mariana Dalot revela que escreveu a canção “no meio da quarentena, num dia de mau tempo”, surgindo a partir de uma lista elaborada pela cantora bracarense sobre as “coisas simples da vida”. O resultado desse exercício é que ‘Coisas Simples’ é uma canção que soa mui-alegre, cheia de esperança, apresentando um refrão orelhudo que invoca a ideia principal da canção, antes de surgir o principal hook da canção, que quando combinado com a instrumentação orgânica – a fazer lembrar um pouco o disco do ano passado de Bárbara Tinoco -, resulta num belo momento de pop para os dias de hoje. Porque é isso que ‘Coisas Simples’ é: uma bela canção pop, despretensiosa e jovial, bem capaz de nos captar mais a atenção que ‘No Final’.

– Miguel Rocha

‘Reckless’ marca o regresso de Mirror People aos lançamentos 

“Idealizado para ser um projeto de colaboração com outros artistas de diferentes expressões culturais, o foco de Mirror People está na música de dança com um cunho que vagueia pelo disco, eletrónica e house”. Está cá fora Reckless, o single de antecipação ao novo registo discográfico de Mirror People, alter-ego do músico, produtor e DJ Rui Maia (X-Wife, Storm Factory) , a ser editado em setembro deste ano com o título Heartbeats etc. 

Fotografia: Divulgação

Escrito por Rui Maia e (Maria do Rosário), ‘Reckless’ traduz-se numa simbiose perfeita e orgânica entre dois universos artísticos. De um lado, temos Rui Maia a assumir o controlo de umas cativantes experimentações eletrónicas, que tão bem caracterizam o seu trabalho a solo, apimentadas por uns toques super contagiantes de funk. Do outro lado, a eletrizante e vibrante entrega vocal de Rö. É delicioso ver como estas sonoridades e interpretações combinam tão bem e culminam num som tão homogéneo e viciante. Claramente, não é música para só se ouvir uma vez, mas sim múltiplas vezes até perder a conta.

Já há três palcos prontos para receber Mirror People, são eles o Terraço do Lux (Lisboa) no dia 14 de julho, o Festival dos Canais (Aveiro) no dia 24 de julho, e o Stereogun (Leiria) no dia 24 de setembro.

– Ana Margarida Paiva

‘Keep Walking’ é o single de estreia pujante dos FUGUE

Às vezes, é preciso entrar logo com a energia toda no primeiro lançamento, de forma a revelar muito do que um projeto é. É exatamente isso que os FUGUE, trio formado por por Francisco Freire, Rafael Castilho e Thomas Fresco, aparentam fazer com o single de estreia, ‘Keep Walking’, o primeiro avanço do seu longa-duração de estreia.

‘Keep Walking’ é uma faixa que soa bombástica na sua produção – algo megalómana, se nos perguntarem -, combinando influências de estilos que vão desde do dubstep até ao rock alternativo, desenvolvendo-se como uma canção de um rock mais eletrónico. Os sintetizadores soam escuros, quase próximo de um darkwave, mas é a bateria – ou, melhor, a batida – que faz ‘Keep Walking’ ganhar vida, dando-lhe toda a pujança e adrenalina necessária para, quando combinada com o sample vocal que dá nome à faixa, esta se torne em algo orelhudo e dançável. Às vezes, vale mais mesmo entrar com tudo – e foi isso que os FUGUE fizeram.

O disco de estreia dos FUGUE será lançado durante o decorrer de 2022.

– Miguel Rocha

jüradamor é uma “viagem” ao mais íntimo de JÜRA

Já está cá fora o tão aguardado EP de estreia de Joana Silva, que no mundo da música se dá a conhecer pelo nome de JÜRA. Chama-se jüradamor e conta com produção de DØR (Miguel Ferrador).

JÜRA - JÜRADAMOR
Fotografia: Divulgação

Em entrevista ao Espalha-Factos, a artista e compositora alcobacense descreveu-o como “uma viagem pela tristeza, pelo encontro entre o amor e a dor e pela beleza que daí nasce. É não ter medo de sentir o que se sente”. Composto por seis poderosíssimas faixas, jüradamor é um projeto que vive ora da pop, ora do R&B, aprimorado por uns toques de hip-hop através de uns beats de boom bap super convidativos – da responsabilidade de FreeSoulBeats (Miguel Pacheco). Os instrumentais soam extremamente polidos e bem conseguidos, conferindo espaço para a poesia pura e a belíssima voz de Joana brilharem. Cada tema é uma experiência nova e agradável, pronta para atingir os nossos corações de rompante. É uma vibe perfeita, que soa extremamente introspetiva e sincera e, sobretudo, necessária e aconchegante – não fosse este curta-duração todo ele caseiro, nascido em casa e transportado diretamente para os estúdios. 

jüradamor é uma audição obrigatória, é uma viagem que vale, sem dúvida alguma, embarcar. É um prazer conhecer esta JÜRA através das suas palavras (en)cantadas. Que belo início de um capítulo que, com toda a certeza, será promissor. Mal podemos esperar para o que se segue. 

– Ana Margarida Paiva

um dia destes é a estreia eclética de INÊS APENAS 

Já está cá fora um dia destes, o primeiro curta-duração de INÊS APENAS, nome com o qual se apresenta artisticamente a pianista, cantora e compositora, Inês Oliveira

INÊS APENAS - um dia destes
Fotografia: Divulgação

Sobre este projeto, Inês afirma: “Trata-se de uma manifestação de incerteza e confusão que nasce de um relacionamento intenso, porém instável, com ecos do passado e afinidades próximas do presente. É um grito de amor, desespero e frustração, interligados com a vertente negativa da tecnologia e o seu potencial impacto emocional. É um despir de alma perante o mundo, uma conclusão em aberto, que dá voz à esperança de que ‘um dia destes’ a dor se tornará mais leve”.

A sensibilidade de Inês é transcendente em todas as frentes deste eclético EP de estreia. Ora nas introspetivas, honestas e pungentes letras. Ora nas suas belíssimas e fortíssimas performances vocais. Ora nos instrumentais, que tanto soam vibrantes e enérgicos, como também soam melancólicos e suaves. Produtores como LEFT., Luar, Diego Coelho, Kamuya, Mariana Soares e Xumiga emprestaram os seus dotes artísticos para ajudar Inês a “representar e acompanhar a diversidade de emoções e sensações vivenciadas”. Se funcionou? Está mais que visto que sim. Tudo neste um dia destes equivale a um abraço (bem apertado) sonoro e que bom que ele sabe. Não há um único momento em que não sejamos aconchegados e seduzidos, pelo conforto e pela energia, que a música da artista leiriense nos transmite. Seis faixas excelentes que fundem a pop ao soul, com sonoridades mais alternativas e uns toques eletrónicos à mistura. Não haja dúvidas que a última faixa, que dá nome ao EP, é a melhor forma de terminar uma experiência sonora de tamanha qualidade, culminando numa fenomenal e eletrizante junção dos restantes temas que dão vida ao curta-duração.

O resultado final: é um dos projetos mais interessantes do ano e que assegura que INÊS APENAS é um nome para ficar debaixo d’olho por muito tempo. um dia destes é uma prova viva que a melhor arte pode nascer da dor e do amor unidos num só.

Há encontro marcado para ouvir esta obra-prima ao vivo no dia 10 de junho, no Porto (Maus Hábitos), e no dia 22 de julho, em Leiria (Festival Ti Milha).

– Ana Margarida Paiva

George Silver edita Inocente Indecente 

Já se pode ouvir o sucessor de “Santo André”, chama-se Inocente Indecente e conta com o selo da Panama Papers. O disco conta ainda com as colaborações de Camila Vale, Bruno Contreira e Tiago Inácio.

Fotografia: Bandcamp do artista

Dois anos depois do seu último longa-duração, e depois de ainda se ter juntado a OPUS PISTORUM em Couro Duvidoso, George Silver, nome com que se atira ao munda das produções André Neves – sim, não se chama Jorge Prateado -, chega-nos com o seu mais recente trabalho Inocente Indecente. São 36 minutos de eletrónica, mas daquela exploradora, que se aventura a viajar sonoramente a diferentes continentes, desde África, à América Latina, chegando mesmo à Ásia Ocidental, e explora ainda as facetas de electroacoustic e synthpunk em alguns dos momentos mais aventureiros do disco. É uma eletrónica eclética e efervescente, que nunca para de nos surpreender e nos faz ficar presos da primeira à última faixa.

Podemos saber mais um pouco sobre o disco pelo que se lê no Bandcamp do artista: “O novo disco de George Silver (aka André Neves) é um exercício dialético em torno do impulso e da forma; uma tentativa de canalizar o fluxo que precede a linguagem e de parar, ouvir, e voltar atrás sob o compromisso de não o comprometer. Uma conversa de si para sobre criar com a consciência de que já tudo parece ter sido criado, sem que se perca o espanto da revelação.

A dezena de temas do disco (composto e gravado ao longo de 2021 e ao abrigo da Bolsa de Criação da OUT.RA – Associação Cultural) atravessa territórios de contemplação beatífica transcultural (como em “Jardim”, meditação de encontro entre Brasil, África Ocidental e o Sudoeste Asiático), de eletrónica chill para um sunset inquieto (“Insultório” ou “Pessoas são ilhas”) ou de synthpunk (em “Bom petisco” imaginamos, como se ouvida do outro lado do rio, uma colaboração entre os Suicide e os Scúru Fitchádu), para acabar placidamente numa esplanada parisiense não-necessariamente deste século (“Última rodada”).

Entre motivos transversais que remetem em permanência para a música de um fourth world que são todas as civilizações e nenhuma em particular, revela-se o ser-no-mundo de Silver – em todas as partes e em todas as épocas onde se imagine a sua música, no interior do fluxo que lhe precede a linguagem, sabe-se de tudo mas sabe-se nada”.

José Duarte

O mergulho das Sopa da Pedra à música tradicional portuguesa com Do Claro Ao Breu

Do Claro Ao Breu é o novo álbum das Sopa de Pedra e marca o segundo longa-duração do projeto composto por Benedita Vasquez, Inês Campos, Inês Loubet, Inês Rosa Melo, Maria Vasquez, Mariana Gil, Rita Campos Costa, Rita Sá, Sara Yasmine e Teresa Campos. O disco conta com o selo da portuense Lovers & Lollypops.

Fotografia: Divulgação

É através de inflexões vocais e de um mergulho denso na cultura do cantar tradicional português, que as Sopa de Pedra se atiram para este novo disco. Começa-se claro, mas depressa se afunda no tom mais escuro, ou melhor dizendo, breu, que imerge o ouvinte neste campo tão aprimorado de sons e trabalho fonéticos, sem se fazer sentir pesado, pois o projeto entrega essa ambivalência de conseguir incutir o tom mais escuro sem que este consuma toda a experiência, sendo leve e luminoso ao mesmo tempo que é densamente abrasivo.

Sobre o álbum, pode-se ler no comunicado de imprensa: “O segundo disco das Sopa de Pedra é um novo capítulo no trabalho que a banda tem vindo a fazer em torno da música de veio tradicional portuguesa. Aqui o coletivo abandona o formato canção para nos entregar uma obra de caráter imersivo onde cada um dos lados do disco aponta a um polo: o lado A mais luminoso, onde o trabalho vocal desvela atmosferas ricas em diálogo com dois poemas de Eugénio de Andrade, o lado B, mais sombrio parte de um trabalho em torno dos elementos sinistros e grotescos do imaginário popular tradicional”.

O álbum está pronto para se ouvir nas plataformas de streaming e também conta com uma edição física em vinil, pronta a sair nos meses que se avizinham. 

– José Duarte

Bruxas/Cobras lançam VERDE

VERDE é o novo álbum de Bruxas/Cobras, projeto de Ricardo Martins (bateria) e Pedro Lourenço (baixo).

Bandcamp da banda

Se são fãs de rock psicadélico e experimental, então o novo disco destas bruxas e cobras tem de estar nos vossos ouvidos. É um autêntico veneno – ou feitiço, depende de que lado se encontrem -, com riffs maníacos e infetantes, batidas pouco ortodoxas e uma energia absolutamente infetante e que nos deixa colados do inicio ao fim do projeto. Tem um tom tão ébrio, como alucinado e funciona como uma viagem, ou melhor, como uma trip vertiginosa e extasiante que não será diferente para quem se aventurar.

O verde ganhou mais cor – será que são efeitos secundários? Se calhar, este escorpião é capaz de nos ter picado e se assim foi, ainda bem.

– José Duarte