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Fotografia: Divulgação / Joanna Correia

Entrevista. JÜRA: “Este EP é uma viagem pela tristeza, pelo encontro entre o amor e a dor e pela beleza que daí nasce”

Depois de se estrear com os singles és o amor (2020) e somozumnãodois (2021), Joana Silva, conhecida artisticamente por JÜRA, está prestes a lançar o seu curta-duração de estreia, Jüradamor, com lançamento marcado para o dia 20 de maio.

São já quatro os temas revelados deste primeiro trabalho de originais de estúdio: diz-me, porquê?, aluzétudo e dentro. Esta quinta-feira (12) há direito a mais um, antes do concerto de apresentação, no dia 19 de maio, no Estúdio Time Out, em Lisboa, onde JÜRA convida-nos a embarcar, ao vivo, numa “viagem do que foi, e é, sentir na minha pele”. De forma a antecipar este projeto, o Espalha-Factos conversou, remotamente, com a artista e compositora alcobacense.

Comecemos por uma pergunta básica para quebrar o gelo. De onde é que surgiu o nome JÜRA?

É engraçado, porque costumam muito perguntar-me isso, mas não tenho uma grande história. Foi consequência. Eu chamo-me Joana e há muitos anos que me chamam Juka. Houve uma vez em que eu estava a rabiscar num caderno e percebi que o k rapidamente se transformava num r. Eu fiquei: “Jura… Que lindo”. Não pensei logo: “Isto vai ser o meu nome artístico”, mas mudei o meu Instagram para JÜRA e, a partir daí, ficou.

Sempre tiveste uma veia artística a fluir dentro de ti. És formada em Dança e acabaste por ir parar a Lisboa, onde começaste a explorar outras artes. Em 2019, começaste a dar mais atenção à música. Consideras ser a vertente principal ou é apenas mais um caminho a traçar?

É, sem dúvida, a mais importante. É a forma onde eu me traduzo completamente. Eu sempre adorei artes, mas as outras áreas não traduzem o que eu sinto como a música. Sinto que a música nasceu comigo. Eu sempre gostei muito de cantar e de me expressar através da melodia. Mesmo desde pequenina, sempre que estava contente, cantarolava.

Estás prestes a lançar o teu EP de estreia, Jüradamor. Prometeste revelar um novo tema todas as semanas e é isso mesmo que tens feito, culminando na divulgação de quatro faixas, até à data. O que te levou a tomar esta decisão?

Basicamente, a urgência em mostrar, porque eu já estava ansiosa para poder partilhá-las. Os beats foram (quase) todos feitos pelo FreeSoulBeats (Miguel Pacheco), que mora comigo, e, portanto, as músicas foram nascendo [em casa] durante estes anos. Contudo, [a ideia] nunca foi criar para lançar, mas, sim, para expressar o que sentia. Entretanto, já tinha aquelas canções todas, guardei-as durante algum tempo e queria muito lançá-las. Primeiro, nós pensámos em divulgar todas ao mesmo tempo, no dia do concerto de apresentação, mas eu já não aguentava mais. Para além disso, achámos que era fixe ir mostrando pouco a pouco, para também criar um bocadinho de curiosidade e dar a conhecer um bocadinho mais, porque é o meu primeiro EP e, claro, fazer com que as pessoas venham ao concerto, que vai ser muito lindo.

Todas essas faixas falam sobre a dor e o amor. É essa a temática que podemos esperar deste projeto que se avizinha?

Este projeto, em específico, é mesmo sobre isso: sobre a dor, o amor e esta reflexão de momentos de conflito (ou não) da relação. No futuro, não sei. Eu sou muito emocional, acho que vou ter sempre esta coisa de falar sobre o amor e sobre sentimentos, mas também há outros temas que quero abordar, mas sempre de uma forma sentimental e emotiva. Mas o amor é mesmo a minha maior inspiração. Quer dizer, não sei se é inspiração, mas é o que mais me faz falar.

Considerando o rumo que este EP está a tomar, sinto precisamente que a letra é um dos aspetos mais chamativos. Do que tem vindo a ser revelado, soa algo intimista, quase como se fossem pequenos momentos de reflexão sobre a tua vida. Aliás, em comunicado enviado à imprensa, afirmas ser “uma viagem do que foi, e é, sentir na minha pele”. O que é que te inspirou diretamente para a criação do Jüradamor?

É mesmo a minha vida. Às vezes, perguntam-me: “Não achas que é pessoal demais?”. Mas, lá está, é a verdade. É aí [na música] que eu me consigo expressar e as canções nascem automaticamente. É quase como se me fizessem ouvir o que eu preciso de ouvir, porque eu estou a sentir. É quase como se eu não conhecesse ainda toda aquela verdade, mas que ela estivesse em mim e alguma coisa me faz falar comigo própria. Portanto, é a verdade e é o que eu sinto naquele momento. Ou seja, pode ser [um momento] super dramático e amanhã já estar tudo bem, mas, naquele momento, foi aquilo que eu senti.

Quando pensas no conceito de amor e olhas para o que escreveste no EP, achas que aprendeste algo sobre ti?

Aprendi muito e estou sempre a aprender. É mesmo isso: eu ouço-me e as canções nascem. Por exemplo, às vezes eu reouço as canções e penso: “É mesmo isto”. É incrível e, às vezes, não tão incrível. Tanto faz-me repensar na minha vida, isto é, no que eu quero para a minha vida, como também faz-me organizar melhor o que eu sinto e não ter medo de o expressar, nem na música, nem na vida. Conheço-me sempre mais. Mesmo a minha forma de escrever, eu não diria que é uma coisa estudada, às vezes até é mesmo uma surpresa para mim, tipo: “Como é tu escreveste aquela frase? De onde é que aquilo veio?” [risos]. Por isso, estou sempre a conhecer-me e acho que é mesmo um lugar onde é tudo verdade, mas também novidade para mim própria.

Então, é possível afirmar que a música que crias é, digamos que, uma maneira de canalizares as situações boas e menos boas pelas quais vais passando?

Sim, sem dúvida!

Sendo este o teu primeiro projeto a solo, queria perceber como é que funciona o teu processo criativo.

Gosto de escrever só, não penso logo em fazer canções e nunca escrevi nada que se transformasse em música. É sempre o contrário. Começo sempre através de acordes. Por exemplo, este EP nasceu muito em casa e em dias diferentes. Quando estava farta ou cansada ou chateada, ia para o quarto, ouvia-me e escrevia. Hoje em dia, já trabalho mais em estúdio. Vou para o estúdio, ouço os acordes e a música nasce automaticamente. E, lá está, abre-se aquele canal e parece que começa tudo de novo, estou a ouvir-me e estou a sentir. Porque, às vezes, eu também me esqueço de refletir na vida. Tudo acontece tão rápido que eu nem sei bem o que é que estou a sentir. De repente, estamos ali no estúdio e: “Vamos experimentar coisas” e nasce a canção e eu: “Ok, é isto que eu estou a sentir, é aqui que eu estou neste momento”.

Ou seja, é muito à base da tua intuição. É uma coisa do momento…

Sim, é isso mesmo! Eu nunca corrijo canções. É algo meu, está ali e eu não posso mexer.

Relativamente à sonoridade deste curta-duração, tem vindo a apontar para uma fusão entre o R&B e a pop, aprimorado por toques de hip-hop. Podemos, portanto, esperar uma mescla de géneros. Quais foram as inspirações mais diretas para o som deste projeto?

Eu não sou a maior responsável pela sonoridade, porque tudo isto nasceu a partir do FreeSoulBeats e, ultimamente, tem vindo também a ser trabalhado com o DØR (Miguel Ferrador). Chegámos aqui a este ponto. Eu sempre gostei de improvisar em beats de hip-hop, mas nunca pensei naquela cena de: “Ah, vou fazer pop ou hip-hop ou R&B”. Simplesmente as melodias vêm e depois as pessoas é que têm encaixado em sítios que eu sinto que pertence, mas nunca pensei nisso como um estilo, ou vou mais por aqui, ou vou mais por ali. Este EP foi mesmo a vida a deixá-la viver e nascer e não foi tão pensado assim. 

Fotografia: Divulgação / Joanna Correia
Por acaso, ia agora mesmo mencionar os nomes do FreeSoulBeats e do DØR, responsáveis pelos beats e pela produção do projeto, respetivamente. Que contribuição é que eles tiveram para a sonoridade do EP?

O FreeSoulBeats foi o criador da cena toda, partiu tudo dali, a letra e a melodia. Eram loops um bocadinho mais simples, mas que me deram uma liberdade gigante para criar as melodias e, lá está, foi onde eu morei para fazer nascer essas canções. Com o Ferrador, temos dado mais estrutura, mais ambiente, para fazer elevar um bocadinho a canção e tem sido incrível. Eles são supertalentosos e eu estou muito feliz com o resultado. 

Há um outro aspeto que, pessoalmente, também desperta-me uma certa atenção e curiosidade. Os videoclipes que tens lançado são acompanhados por um lado mais visual e corporal. Quais os teus objetivos ao explorar essa tua vasta sensibilidade artística?

Eu costumo dizer que a vida me preparou para isto. É quase como se o caminho estivesse traçado, embora eu não acredite muito nessas coisas, mas é a verdade. Eu passei por tantas coisas e cheguei agora aqui. Sinto que estou preparada para o que vem aí e que tenho muitas artes para cruzar. Como já disse, a música é o principal e é o que eu mais amo fazer, mas é incrível eu poder ter todas estas ferramentas que a vida me deu, em que eu posso utilizar o movimento ou o circo, por exemplo. É incrível cruzar cada vez mais isto, tanto a nível de concertos/espetáculos, como nos videoclipes. Portanto, [o objetivo principal é] construir cada vez mais este mundo artístico, que não seja só música. 

É já no dia 20 de maio que sai o Jüradamor. Como é que te sentes? O que é que significa para ti e o que queres passar cá para fora?

Sinto-me muito feliz, estou ansiosa. Este projeto é o início de um caminho, é a minha apresentação ao mundo e é a minha verdade. Para mim, isto é incrível, porque [este EP] sou eu. É permitir-me a mim sentir e tentar passar aos outros que é na boa sentir, é bom falar, que o que é hoje amanhã, se calhar, pode não ser, porque tudo se transforma e há beleza na tristeza. São coisas que este EP me deu: estas frases, estas sensações. Fala na esperança, amores, não ter medo de amar e não ter medo de mergulhar na nossa dor. É, portanto, uma viagem pela tristeza, pelo encontro entre o amor e a dor e pela beleza que daí nasce. É não ter medo de sentir o que se sente.

Mas, antes, tens apresentação do EP marcada para o dia 19 de maio, no Estúdio Time Out (Lisboa). Que expectativas tens para esse momento e o que se segue de futuro para a JÜRA?

Estou muito ansiosa por esse concerto, vai ser diferente. Eu já passei por vários palcos, mas noutras áreas, como dança, circo e teatro. Porém, agora vou ser eu, JÜRA, a cantar as minhas canções para as pessoas. Estou super ansiosa, mas num bom sentido. A banda está a soar lindamente, é uma outra experiência para as pessoas, porque o que nós ouvimos no streaming não vai ser a mesma coisa, por exemplo, a energia da banda e os arranjos que estamos a fazer. Estou também muito curiosa, tanto para ver como é que me vai correr, ou seja, como é que eu vou interagir e como é que vai ser ter ali as pessoas, tanto para ver qual vai ser a reação delas. No futuro, temos aí mais umas datas a aparecer, o que é ótimo, e mais concertos. É continuar também a fazer canções e, portanto, ir construindo este caminho.

Na minha perspetiva, acho curioso apresentares-te ao vivo antes do lançamento do teu EP de estreia. Está também relacionado com a tal “urgência em mostrar”, que já referiste anteriormente?

Exatamente, é mesmo essa urgência! Relativamente às músicas, nós decidimos mostrar uma a cada semana, faltam sair duas e a última sai no dia a seguir ao concerto. Então, é quase como abrir janelinhas e, no concerto, é abrir a porta e estou lá eu, não é só a minha música. Aliás, estou lá eu e as histórias por detrás dessas canções, bem como algumas reflexões. Quero que me conheçam. Não só a minha música, mas também a mim e que possam entrar neste mundinho e sair dali a saber mais sobre mim e sobre os próprios.