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Crítica: ‘A Janela Indiscreta’ será sempre um filme inesquecível

O filme ‘A Janela Indiscreta’, de Alfred Hithcock, será exibido esta noite (7) no TVCine 2 e o Espalha-Factos revisita um dos maiores clássicos de Hollywood.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que vi A Janela Indiscreta. Foi a primeira peça de Hitchcock que visitei e, se a memória não me falha, durante algum tempo não me aventurei noutras embarcações hitchcockianas, pois acreditava que nada poderia ser melhor que Rear Window. Não me enganei totalmente, pois A Janela Indiscreta permanece como um dos meus filmes favoritos de sempre, mas julguei Hitchcock sem o conhecer.

A curiosidade matou o gato, é uma das frases que poderíamos utilizar para descrever o plot de Rear Window de forma rápida e concisa. Sem querer revelar possíveis finais, o clássico de 1954 é o exemplo, talvez máximo, do voyerismo de Hitchcock, já discutido num artigo anterior.

L.B.  Jeffries (James Stewart) é um fotógrafo que vive como prisioneiro no seu próprio apartamento, por ter partido uma das pernas enquanto trabalhava. Limitado a uma vida de tédio, cujo as suas únicas atividades são a leitura de jornais e a observação da vida alheia, Jeff acaba por criar uma teoria que uma das suas vizinhas terá sido assassinada pelo próprio marido, enquanto tenta reunir todas as peças do puzzle através de uns binóculos. Acompanhado pela namorada elegante e sofisticada Lisa (Grace Kelly) e pela sua enfermeira da companhia de seguros, Stella (Thelma Ritter), Jeff mergulha a fundo na tentativa de resolução do crime que acredita – verdadeiramente – ter acontecido.

Grace Kelly participou em vários filmes de Alfred Hitchcock, antes de ser tornar Princesa do Mónaco.

A Janela Indiscreta é, acima de qualquer história que possa ser explorada durante a sua narrativa, uma declaração de amor ao cinema e uma homenagem ao espectador. Tal como Jeff se inseria na vida de estranhos, tentado decifrar os seus segredos, dramas e complexidades, o espectador de cinema coloca-se no mesmo papel; o papel de observador. Quando vemos um filme, estamos precisamente na mesma posição. Vemos, aceitamos, criamos cenários e tentamos decifrar os mistérios, mesmo sem nunca nos envolvermos por completo na história.

Na realidade, nunca chegamos a conhecer a vizinhança de Jeff, apenas a presenciamos com o nosso olhar. Procuramos por características e desenhamos mapas que nos podem levar à condenação, mas na verdade, todo o desenlace é construído através de um olhar distante; um olhar que não se insere na presença das personagens e, que quando o faz, arrisca-se no perigo (falo de uma cena em que Lisa tenta descobrir um dos grandes segredos da trama).

Alfred Hitchcock sabia o que queria contar, exatamente, com A Janela Indiscreta. E não é de admirar que passados quase 70 anos desde o seu lançamento, o filme do realizador permaneça como uma das grandes obras-primas do cinema.

Podemos argumentar que a personagem de James Stewart foi a razão. Ou que a presença de Grace Kelly que, mesmo sem dizer uma única palavra já preenche o ecrã, poderá ter sido outra das razões. Mas não. Rear Window é um clássico pois, até hoje, não existiu nenhuma obra cinematográfica que chegasse tão perto de homenagear este voyerismo tão clássico dos filmes de Hitchcock.

Geralmente, em Hollywood, são os protagonistas que movem a ação. Que fazem as peças do puzzle encaixarem-se lentamente à medida que a longa-metragem avança. Mas em A Janela Indiscreta, isso não acontece. É sob o olhar atento de Jeff que todo o mundo ali construído por Hitchcock se desenvolve, sendo que a personagem principal nunca passa de um plano quase tão secundário que a própria vizinhança poderia encabeçar o filme.

Cheio de twists, suspense e drama, A Janela Indiscreta é um daqueles filmes que nunca se esquece e é o filme perfeito para quem pretende iniciar-se na saborosa aventura que é descobrir antigo Hollywood. O glamour e a inocência marcaram uma época em que ser um homem do cinema era muito mais do que ser uma celebridade.

O clássico de Hitchcock espera por ti hoje às 22:00, no TVCine 2.

Título original: Rear Window
Realização: Alfred Hitchcock
Argumento: John Michael Hayes
Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Thelma Ritter, Wendell Corey
Género: Mistério, Thriller
Duração: 112 minutos

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