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Smile. Assim que o vês, é mais do mesmo.

‘Smile’. Assim que o vês, é mais do mesmo

'Smile' faz regressar ao grande ecrã o terror aliado à saúde mental, numa estrutura que nos é familiar.

Smile é a primeira longa-metragem do realizador Parker Finn, que até então apenas tinha feito curtas-metragens dentro do género de terror. O filme é baseado na última curta-metragem do cineasta, Laura Hasn’t Sleep (2020), e traz ao grande ecrã o terror aliado à saúde mental, numa estrutura que nos é familiar.

O filme explora experiências traumáticas e assustadoras vividas por uma médica psiquiatra, Dra. Rose Cooter (Sosie Bacon), após assistir ao suicídio de uma das suas pacientes, Laura (Caitlin Stasey). A rapariga alegava ser perseguida por uma entidade que tomava a forma de pessoas que conhecia, aparecendo sempre com um sorriso desagradável no rosto. A partir desse incidente, Rose começa a experienciar o mesmo que a paciente e procura perceber o que se passa. Algo já parece familiar, não?

Em Laura Hasn’t Sleep, a protagonista, Laura (Caitlin Stasey), que tem o mesmo nome da personagem de Smile e é inclusivamente interpretada pela mesma atriz, procura conforto num psiquiatra devido aos pesadelos. Ambas as obras têm em comum a exploração da saúde mental, mas divergem no seu caminho, não servisse a curta apenas de base para o filme.

A curta conseguiu bastante atenção, no entanto, Finn, ao passar para a longa-metragem, acabou por cair numa estrutura muito familiar, sendo semelhante a outros filmes, como The Ring (2002). Um filme que pode ser ainda mais semelhante é  It Follows (2014), cuja narrativa gira em torno de uma maldição que vai passando de pessoa em pessoa e que possui uma entidade que atormenta aqueles que são amaldiçoados, podendo assumir a forma de pessoas próximas da vítima. Outro projeto semelhante é Truth or Dare (2018), que constrói a sua premissa também à base de uma maldição e, antes de morrer, as vítimas suicidam-se com sorrisos assustadores e exagerados nos rostos.

Claramente Smile está melhor, principalmente no que toca aos sorrisos, porque os atores são claramente capazes de fazer sorrisos estranhos sem recorrer a CGI. A trama acaba assim por misturar um pouco aspetos de alguns filmes que nos são familiares.

Smile
Fotografia: Walter Thomson/Paramount Pictures

Para além disso, neste primeiro filme, e já nas suas curtas, Parker Finn parece querer beber muito dos clássicos, com aberturas que nos fazem regressar aos anos 80 e estruturas de narrativas que têm vindo a ser repetidas com alterações de detalhes. No caso da curta The Hidebehind (2018), baseada numa superstição americana, tudo funciona e até nos faz querer ver mais. Porém, em Smile isso não acontece e falta apenas que não haja continuação, porque não há muito mais a explorar. Enfim, é terror comercial e hoje há claramente dois mundos do cinema de terror, um que não tenta inovar e até parece que tem receio de ser demasiado assustador e deixar o espectador arrepiado e outro mundo que arrisca, com histórias como Hereditary (2018), entre outros.

As surpresas são assim poucas. Apesar de haver momentos que nos deixam ansiosos e jumpscares que nos apanham de surpresa, relacionam-se pouco com os elementos associados à entidade que assombrava a protagonista. O plot twist também deixa a desejar, sendo apenas uma pequena surpresa, bem fraquinha, que torna o final muito previsível e até entra em conflito com o elemento humano apresentado: a saúde mental, mais especificamente, o trauma.

Os diálogos acerca da saúde mental não dão uma visão muito diferente da que já vimos noutros filmes e a a força para ultrapassar esses traumas não melhora em nada a condição da personagem principal. Seria interessante sentir que o filme provocaria uma reflexão através do terror, mas não é isso que acontece.

Smile
Fotografia: Paramount Pictures

No que toca ao CGI, somos confrontados com um trabalho razoável, desde cenas mais impressionáveis a diferentes formas tomadas pela identidade. De destacar ainda a forma com que Sosie Bacon, conhecida por muitos de nós pela participação em 13 Reasons Why (2017-2020), encarnou bem a sua personagem. Outra pequena surpresa pode ser ver Kal Penn como Dr. Morgan Desai, por ser muito associado à comédia.

Smile chegou aos cinemas esta quinta-feira, dia 29 de setembro como um projeto que tenta ser algo mais do que um simples filme de terror. No entanto, falha e cai numa narrativa que não tem nada de novo e é pouco fascinante.

Smile. Assim que o vês, é mais do mesmo.
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