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Celso
Fotografia: Divulgação / Luís Gala

À Escuta. Celso, T-Rex e Papillon são os destaques desta semana

O À Escuta, rubrica semanal do Espalha-Factos sobre música portuguesa, está de regresso para mais uma edição. Neste sábado, conferimos destaque ao disco de estreia de Celso e aos novo singles de T-Rex e Papillon.

Além disso, falamos da homenagem à zona velha no novo disco de DARKSUNN, da estreia dos Apolo 70, Cíntia e Sete Pés e dos novos singles de Catarina Branco, Ghost Box, Gobi Bear, INÊS APENAS, Orfélia e da colaboração entre Moullinex e Xinobi

Celso estreiam-se em longa-durações com Não Se Brinca Com Coisas Sérias

Surgiram em Lisboa no final de 2017 e tornaram-se um dos nomes mais balados do circuito indie lisboeta. Vários singles e muito hype depois, o disco de estreia dos Celso, quinteto formado por Duarte Igreja na guitarra, João Pedro Lima na bateria, João Paixão na guitarra e voz, Martim Baptista nos teclados e Miguel Casquinho no baixo, está cá fora.

Celso - Não Se Brinca Com Coisas Sérias
Fotografia: Divulgação / Luís Gala

Com produção e gravação de Artur Gomes da Costa e mistura e masterização de Luís Montenegro, Não Se Brinca Com Coisas Sérias justifica o hype e o tempo de espera para o LP ver a luz do dia. Longe estão os dias em que os Celso soavam próximos de uns Capitão Fausto, e apesar da influência destes e de outros grupos da Cuca Monga se fazer sentir, os Celso aqui fazem lembrar as experimentações sónicas do último disco de Primeira Dama. Quando temos isso em perspetiva, não é surpresa quando descobrimos que Bejalor ficou a cargo de produção extra em duas faixas deste trabalho.

Na colisão deste “mundo” entre influências de Cuca Monga e Xita Records, os Celso cavam a sua própria personalidade. O seu indie rock é dotado de uma sensibilidade pop enorme, que se já se havia ouvido nos singles, em deeps cuts como ‘Rambóia‘ ou ‘Sonho Americano‘ sobressai ainda mais. Quando combinado com a presença de autotune em várias faixas, o indie rock dos Celso eleva-se a um neopsicadélico que faz lembrar Pond ou Unknown Mortal Orchestra se estes incutissem influências tradicionais portuguesas na sua música.

Acima de tudo, a música de Não Se Brinca Com Coisas Sérias soa divertida. Soa a um grupos de amigos que se juntou e criou um disco por amor à música e por ao amor que existe entre eles. E fazem-no sem perder qualquer noção das suas qualidades enquanto grupo. O resultado final é um dos discos de estreia mais interessantes do ano e que assegura que os Celso são, mesmo que o título do disco assim não diga, para serem levados bem a sério.

T-Rex está de regresso com um ‘Feeling’

Depois de ter lançado uma das melhores faixas do ano com ‘Volta’, T-Rex está de regresso com um novo single, Feeling, que conta com letra, mistura e masterização do próprio artista e com um instrumental de Active By Night, que já trabalhou com artistas como Summer Walker.

 

T-Rex
Fotografia: Divulgação

Feeling’ é uma faixa que puxa muito ao R&B – tem uma atmosfera muito noturna, a fazer lembrar The Weeknd – mas sem esquecer a sonoridade trap do artista, bem presente nos adlibs e baterias da faixa. Com um refrão orelhudo e com alguns dotes vocais de excelência, ‘Feeling‘ é mais uma prova da versatilidade e criatividade de T-Rex que, se tudo correr bem, irá apresentar o seu disco de estreia, Cor D’Água, em 2022.

Papillon fecha o ano com ’01 Coisa Leve’

Papillon está de regresso com uma nova faixa, em mais um lançamento que segue a linha pensada pelo artista desde que lançou Deepak Looper em 2018: sempre em crescente experimentalidade e com uma capacidade natural de criar bangers. ‘01 Coisa Leve‘ é a mais recente adição a esta lista.

’01 Coisa Leve’, que conta com produção do próprio artista e coprodução de Charlie Beats e ainda contribuições na guitarra de Dodas Spencer, é descrito pelo artista como uma faixa que “nasce da vontade de ir à luta e de não recuar perante o desafio“. É o culminar de um “processo” iniciado pelo artista em que um dos seus “grandes objetivos” era melhorar as “suas skills de produção“. Isto nota-se em ‘01 Coisa Leve’, que apresenta um dos beats mais criativos que Papillon já criou. As várias secções da faixa unem-se perfeitamente com cada beat switch, que faz lembrar algo que podia ser criado pelos Buraka Som Sistema.

Os toques de eletrónica estão bem presentes, mas sem esquecer elementos suaves de R&B e até indie pop, que tornam a faixa em algo que vai além de eclético: ela própria é uma viagem. Os vários hooks são orelhudos e o storytelling de Papillon está no ponto. Nesta faixa leve e pesada, Papillon demonstra mais uma vez que é um dos artistas mais criativos do hip-hop português. Esperemos que o seu próximo projeto não esteja longe, porque cada single lançado abre mais a nossa vontade de ouvir coisas novas do artista.

Apolo 70 fazem-nos dançar na sua estreia com ‘Bailetalha’

É com ‘Bailetalha’ que os Apolo 70 se estreiam oficialmente. A banda de Oeiras prepara-se para lançar o primeiro de uma série de 3 EPs, o primeiro dos quais inclui este seu primeiro lançamento.

Apolo 70
Fotografia: Divulgação

Sobre esta ‘Bailetalha‘, a banda indica o seguinte: “fala-nos das noites de festa em que as diferenças entre uma pista de dança e um campo de batalha se esbatem, onde quem passa música e quem a recebe e dança se desafiam mutuamente.” Na realidade, o verdadeiro desafio deste single ocorre entre as suas guitarras barulhentas de garage rock, quase a tocar num stoner rock, e os ritmos dançáveis criados pela secção rítmica do grupo, que puxam para o post-punk dançável de uns Franz Ferdinand. É música para fazer moshpit mas dançar ao mesmo tempo, sem nunca perder ritmo à meada.

O EP de estreia dos Apolo 70, 00:00, será lançado no próximo dia 17 de dezembro.

Catarina Branco prepara o seu LP de estreia com um ‘Solitário Sudoku’

O nome de Catarina Branco não é desconhecido para quem anda atento ao indie português. O seu EP de 2019,‘Tá Sol, é uma joia de indie pop, com alguma da melhor escrita para o género no nosso país. Agora, Catarina prepara-se para lançar o seu primeiro longa-duração, Vida Plena, e esta semana deu a conhecer o primeiro avanço deste projeto, ‘Solitário Sudoku’.

‘Solitário Sudoku’, que conta com contribuições de Chica na guitarra, Raquel Pimpão nos teclados, Rodrigo Castaño no baixo, e Júlio Branco (pai da artista) na percussão, de Rafael Silva na masterização e de Luís Severo na produção e gravação, é uma faixa belíssima (e orelhuda) de indie pop. A voz de Catarina é suave tal como o instrumental, onde as guitarras e teclados ecoam uma atmosfera sonhadora e gentil, que nos acaricia com cada movimento. É uma faixa que tem o poder de aquecer corações neste inverno, mas que contrasta com uma letra que invoca uma certa nostalgia por algo ou alguém.

A real ânsia agora é recebermos, de braços abertos, o resto de Vida Plena, que irá já acontecer no início de 2022.

Cíntia fazem uma ‘Introspecção Mística’ na sua estreia

‘Introspecção Mística’ é o nome do single de estreia dos Cíntia, trio lisboeta formado por Simão Bárcia, Tom Maciel e Ricardo Oliveira. É também o primeiro avanço do seu primeiro disco, intitulado de Sítio.

Esta é uma faixa que vai buscar muito ao jazz, soando em momentos como uma jam session. No entanto, na sua estrutura pouco ortodoxa, encontram-se melodias que soam belas e psicadélicas. As samples usadas vão contando uma história que soa emancipadora – pode-se até dizer mística – e o instrumental vai acompanhando a narrativa. As guitarras conferem textura à faixa, as baterias conferem ritmo e criam a groove que vai sendo acompanhada pelos sintetizadores, que invocam influências de grupos de nu-jazz como The Comet is Coming ou Yussef Kamaal.

Na estranheza de ‘Introspecção Mística‘, a criatividade dos Cíntia sobressai e é uma primeira pista de um disco que os pode juntar a grupos como YAKUZA, OCENPSIEA ou Mazarin como mais um nome a surgir na cena de jazz portuguesa. Sítio tem data de lançamento marcada para o próximo dia 10 de dezembro.

Almada Velha é a carta de amor de DARKSUNN à zona velha da cidade rainha da Margem Sul

No mundo das batidas em Portugal, o nome de DARKSUNN é incontornavelmente um dos mais importantes. Com uma carreira que está prestes a atingir as duas décadas, o produtor e DJ natural de Almada apresenta agora o seu sexto trabalho a solo (e quarto longa-duração), Almada Velha, um disco que é descrito como “uma carta de amor à cidade que o viu nascer e, em particular, à zona velha da cidade”.

DARKSUNN - Almada Velha
Fotografia: Divulgação / Chikolaev

Almada Velha traz truques na sua manga. A primeira coisa que se vai notar na audição é que o disco, como indica o músico fundador da Monster Jinx, não cai “nos lugares comuns de samplar os seus sons ou de quem lá vive”. Se isto pode parecer estranho à partida para um disco que pretende homenagear Almada, enganem-se: a homenagem é feita nos termos de DARKSUNN.

E sendo nos termos de DARKSUNN, a viagem é feita através de beats recheados de nostalgia, que agem como um guia para nos navegar pelas ruelas da zona velha de Almada. Cada beat switch é uma mudança de direção, uma indicação que nos leva à próxima história contada por cada instrumental.

Aqui, ouvem-se toques de MF DOOM ou Madlib em vários momentos, com o lado suave e jazz-y de DARKSUNN a conjugar-se com o seu lado mais boom bap e old school, sempre com a personalidade do artista a sobressair em cada faixa. São estes os termos impostos por DARKSUNN – nós só obedecemos. Além dos catorze instrumentais, Almada Velha conta ainda com uma nova versão de ‘Almada‘ – uma remistura que conta com a presença do rapper J-K a fechar esta viagem.

Ghost Box prepara o fecho de ano com ‘While It’s Chilly Outside’

Ghost Box, alias de Pedro Caldeira, está a preparar o fecho de um ano em que tentou lançar uma nova faixa por mês. Ao décimo primeiro mês – esse tal conhecido por novembro – o produtor apresenta While It’s Chilly Outside, o décimo primeiro passo dado por este em 2021.

‘While It’s Chilly Outside’ é uma faixa que soa como se estivéssemos a observar a chuva a cair a partir de um espaço interior. O piano que guia a faixa soa nostálgico e quentinho, com a percussão a conferir uma textura adicional que nos guia pelas gotas frágeis de chuva que vão embatendo na janela enquanto o tempo passa.

“Esta música tem tanto de fragilidade como de esperança e é por isso que consegue encapsular estes dois meses na perfeição. E eu sei que está frio lá fora, mas por dentro sinto-me mais quente do que nunca”, revela o artista. Não é preciso dizer mais nada: a banda sonora para estes dois meses está aqui.

Gobi Bear inícia uma nova fase com ‘Where We Are’

‘Where We Are’ é o nome da faixa que marca o regresso de Gobi Bear, alter-ego do vimaranense Diogo Alves Pinto, aos lançamentos. É o primeiro avanço do novo EP do artista que lançou o seu última longa-duração, Our Homes & Our Hearts, em 2018.

Este novo lançamento de Gobi Bear marca uma nova fase para a sua sonoridade. O jogo de loops e guitarras de indie-folk mantém-se, mas agora o artista traz uma componente mais luminosa e esperançosa para a sua música. Toda a faixa é feita para criar essa atmosfera luminosa e esperançosa, que soa a uma manhã fria de primavera onde o sol nos aquece sempre que nos apanha desprevenidos. É música feita para aproveitarmos o momento sem pensar no que vem antes ou depois, e perdermo-nos na poesia musical de Gobi Bear.

O novo EP de Gobi Bear tem data de lançamento marcada para o próximo dia 10 de dezembro.

INÊS APENAS fala do conceito de ‘Bloqueada’

‘Bloqueada’ é o nome do novo single de INÊS APENAS, a identidade artística da pianista, cantora e compositora Inês Oliveira. A faixa conta com produção de Xumiga e masterização de Rúben Teixeira.

Neste seu segundo lançamento do ano, INÊS APENAS traz-nos uma faixa de electro pop que fala sobre relações e bloqueios que ocorrem no coração e em aplicações. É uma faixa tensa nos seus versos recheados de soul e que culmina na explosão do refrão orelhudo, que retira algumas influência ao bubblegum bass de artistas como Charli XCX ou Hannah Diamond. Uma canção extremamente curiosa em estrutura e produção que mostra uma faceta diferente de INÊS APENAS.

Moullinex e Xinobi unem forças em ‘Imaginary Numbers’

Moullinex e Xinobi voltem a unar forças numa faixa. Depois de lançarem ‘Azul’ em 2019, os dois produtores e fundadores da Discotexas regressam em conjunto com Imaginary Numbers’, um single que é também mote para o regresso à digressão de Moullinex e Xinobi – DTX Marks the Spot, uma tour onde a dupla se faz acompanhar de outros membros da família Discotexas.

Imaginary Numbers‘ é uma faixa grandiosa e pujante. A influência do trance e house é bastante evidente, mas a dupla desconstrói os dois géneros através da junção de sintetizadores cristalinos e emotivos a uma batida que tem uma missão em mente: colocar-nos a dançar. A missão, como seria de esperar, é conseguida.

Orfélia faz-nos parar ‘Por Um Momento’

Orfélia, o duo constituído por Anaïs Thinon e Filipe Mattos, regressou esta semana com um novo avanço do seu disco de estreia. A faixa, intitulada de Por Um Momento’, é uma junção entre o mundo psicadélico da MPB, lembrando Os Mutantes, com fado.

O resultado desta junção é uma faixa que soa experimental na sua natureza, mas acessível ao mesmo tempo. A voz de Anaïs é belíssima e o crescendo do instrumental – com progressivamente mais camadas a serem adicionadas – não nos deixa perder a atenção. Ficamos perdidos na atmosfera da música, enfeitiçados pela música dos Orfélia, que nos faz parar ‘Por Um Momento‘ para disfrutar do que estamos a ouvir. É a sinceridade ao vir ao de cima e que conseguimos ouvir em todos os lançamentos de Orfélia até ao momento.

Sete Pés estreiam-se cheios de groove com ‘Raposa’

‘Raposa’ é o nome do single de estreia de Sete Pés, duo constituído pelos músicos Valter Lima e Paulo Silva. Esta é uma faixa onde o jazz se junta ao rock psicadélico e onde as grooves habituam como se fosse o habitat natural desta Raposa.

Exótica e dançável, ‘Raposa’ faz-nos lembrar de algo que os Khruangbin poderiam entregar, tanto em jogo de ritmos como de produção. Para primeira carta de apresentação, já queremos ouvir mais do que estes Sete Pés têm para nos entregar no futuro.