Como manda a tradição, os Muse lá vão regressando a Portugal, ano após ano. Com uma multidão de fãs agora não tão novos, mesmo que igualmente empolgados, e com uma setlist não tão diferente daquela apresentada o ano passado no NOS Alive, a expectativa era grande, e o primeiro dia de concerto no MEO Arena esgotou.
Um palco circular com duas extensões rasga o recinto, e por cima dele aparece suspenso do teto de madeira um enorme aparato semelhante a um Transformer de colunas, ecrãs e outros aparelhos tecnológicos cuja função é difícil de discernir. O cenário deixa adivinhar a dimensão do espetáculo que se está a aproximar, e o entusiasmo é visível no local, com os balcões já repletos de pessoas.
As luzes apagam-se para a banda entrar, disfarçada com fatos pós-apocalípticos e sob um ruído estrondoso vindo de todo o pavilhão. Uma dezena de esferas transparentes iluminadas por brilhantes LEDs brancos levantam voo do aparato e começam a pairar sobre o público, a lembrar a versão futurista da temática da tour, Drones.
Depois de uma introdução coral, a banda começa o concerto com duas músicas do último álbum, Psycho e Reapers, que apresentam guitarras agressivas mas também um pouco confusas. Ao mesmo tempo, passam vídeos relativos à temática do álbum, que faz lembrar uma distopia Orwelliana, nos ecrãs que circulam o alto do palco, juntamente com projeções que incidem sobre redes semitransparentes que entretanto desceram do aparelho.
Apesar do espetáculo ser vistoso, a saturação de sons existente nas músicas não estimula muito os ouvintes, e isso é ainda mais evidente quando, à terceira música, se ouvem as notas iniciais de Plug In Baby. O som é mais limpo e organizado, mas sem com isso sacrificar na agressividade dos fantásticos toques de guitarra de Mathew Bellamy. O público corresponde e no refrão criam na arena um assombroso coro. Os ânimos resfriam com The 2nd Law: Isolated System e The Handler, para voltarem depois a aparecer com Supermassive Black Hole.
Esta diferença na reação entre músicas antigas e recentes explicam o motivo pelo qual o MEO Arena encheu este dia, e ilustra a situação que os Muse enfrentam. Ao sétimo álbum apresentam já sinais de fadiga criativa, o que faz das suas atuações uma espécie de reunião musical mal-sucedida onde a banda necessita das suas músicas antigas para impulsionar os concertos.
A mensagem de Drones, uma tentativa de The Wall contemporâneo, não entusiasma, principalmente devido ao seu conceito apressadamente explorado e musicalmente atrapalhado.
Ainda assim a banda mostra que está aqui de coração cheio e com vontade de mostrar serviço: o espetáculo visual é impressionante; o palco rotativo, mesmo que por vezes fragmente a sua presença, permite a que todos os espetadores se encontrem a uma posição bastante boa dos artistas. Além disso, tem de se reconhecer o empenho da banda de vir a Portugal em nome próprio e com isso apresentar todos os meios técnicos que melhoram o seu espetáculo, ao invés de optar pela opção financeiramente mais segura de ir a um festival de verão, como aconteceu o ano passado e como é a opção de quase todas as bandas mais conhecidas.
No entanto, fica a faltar o toque de artista nos seus trabalhos mais recentes, e que arrasta para baixo metade do concerto. Se não fossem elementos passados como o riff de Knights of Cydonia, as linhas de baixo e o solo de Hysteria, ou a sucessão de piano de Starlight (com enormes balões a saltar sobre a multidão), este seria um concerto que rapidamente sairia da memória. Trata-se de um espetáculo que tenta marcar pelo impacto visual, não pelo valor musical, o que acontece com a maior parte dos artistas pop.
Resta esperar por uma chama criativa que motive os Muse a criar um álbum que consiga acompanhar a sua vontade técnica de artista, para que o seu legado não se vá já desvanecendo.