O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
Cabine de Leitura
Foto: António Alfarroba

Há uma cabine telefónica na Praça de Londres… transformada numa biblioteca

Uma antiga cabine telefónica, pintada de vermelho e cheia de livros. É uma Cabine de Leitura e está na Praça de Londres, em Lisboa. Este domingo celebrou o seu terceiro ano de existência e o Espalha-Factos também quis comemorar  e conhecer melhor este projeto.

Foi ao som da música e dos teclados das máquinas de escrever que a Cabine de Leitura celebrou, no passado domingo, dia 23 de abril, o seu 3.º aniversário. Fundada pelo Movimento de Comerciantes da Avenida de Roma, Praça de Londres e Avenida Guerra Junqueiro, esta antiga cabine reabilitada pretende promover a troca de livros entre os moradores da zona.

“Criar qualquer coisa de inusitado, diferente, que chamasse a atenção das pessoas para esta zona de Lisboa, criasse uma proximidade entre moradores e comerciantes e, talvez a razão principal, fomentasse a leitura e a cidadania” era, nas palavras de Carlos Moura-Carvalho, um dos membros do movimento, o objetivo deste projeto quando vários moradores se juntaram e inauguraram esta microbiblioteca.

Três anos depois, no dia Mundial de Livro e dos Direitos de Autor, a Cabine celebrou o seu aniversário junto dos amigos e moradores do Areeiro. O evento contou com música ao vivo, uma caixa de correio dos anos 40, uma bicicleta de 1960 e várias máquinas de escrever. E porque o aniversariante também merece prendas, a cabine recebeu mais de 20 novos livros, prontos a ser lidos.

Quem por ali passava podia escrever uma carta numa antiga máquina de escrever e colocá-la na caixa de correio. A Cabine de Leitura tratou, depois, do seu envio. “Pensámos que era interessante fazer algo que desapareceu muito que era escrever cartas”, refere Carlos, que recolheu alguns exemplares, desde um dos mais antigos, de 1912, até aos mais recentes, elétricos.

Levar, Doar, Ler e Devolver

Este é o lema da Cabine de Leitura. As regras estão afixadas na porta, bem como o horário de funcionamento, para que quem passe e encontre a Cabine fechada saiba como pode fazer parte do movimento de troca de livros. Inicialmente, cada leitor deve doar um livro que goste e levar outro, para ler em casa. Assim que o terminar, deve devolvê-lo à cabine e trocá-lo por um outro livro à escolha, mantendo sempre o mesmo esquema.

“A cabine não é para deixar os livros quando não sabemos o que fazer com eles”, explica Carlos. “Nós gostamos muito de um livro e queremos que as pessoas tenham o mesmo prazer que nós tivemos na leitura. A ideia é deixar um livro e levar outro de alguém que tenha pensado da mesma forma”.

Quando começou, há três anos, a cabine estava sempre aberta, mas os livros começaram a desaparecer e foi necessário conseguir mais voluntários, que abrissem a Cabine de Leitura e estivessem presentes para os utilizadores fazerem as trocas. Atualmente, os horários variam, mas são afixados todas as semanas e publicados na página do Facebook da Cabine.

Isabel Castelo Branco é voluntária desde o início deste projeto e não esconde a sua admiração pelo conceito: “Desde o início que fiquei muito entusiasmada e acho que foi das melhores coisas que me aconteceu, porque gosto muito de livros. Além de ser um projeto fantástico, é algo que faço em prol dos outros, uma forma de ajudar as outras pessoas, de as trazer para o mundo de leitura”.

Mais do que um momento de troca de livros, Isabel encontra na Cabine de Leitura um lugar de conversa e partilha: “Há muitas pessoas que vivem sós, já com alguma idade e sem ninguém, e que muitas vezes vêm à cabine já não só para trocar livros, mas também para conversar e contar as coisas da sua vida. E isso é gratificante”.

Mais recentemente, novos voluntários juntaram-se a esta iniciativa, permitindo que a Cabine esteja aberta durante mais tempo, mais dias por semana. Miguel Rodrigues, estudante universitário, é um deles. Conheceu a Cabine enquanto passava na rua e decidiu colaborar. “Gosto de abrir a cabine e ficar lá sentado a ler. É como se fosse uma libertação dos problemas do dia, não estou a pensar nas coisas que tenho de fazer”, confessa.

Um projeto a replicar

Depois desta microbiblioteca, na Praça de Londres, foram vários os municípios interessados em implementar cabines semelhantes. Atualmente, existem sete cabines espalhadas por todo o país, desde os Açores, Madeira, Vila Nova de Milfontes ou Trafaria. Todas elas contaram com o apoio da Fundação PT, que vai inaugurar já esta quarta-feira a oitava, em Leiria. Até final do ano, espera-se a abertura de dez novas cabines, em vários concelhos de Portugal.

Graça Rebocho, diretora da Fundação PT, explica que a conversão de velhas cabines em bibliotecas é uma forma de manter vivo um símbolo das comunicações e revela que os pedidos para abrir novas bibliotecas, semelhantes à da Praça de Londres, são semanais. Atualmente, a Fundação PT faz protocolos com os municípios, para levar livros a zonas em que o seu acesso seja difícil, além de disponibilizar velhas cabines a escolas, que fazem a sua reabilitação. Além de envolver os moradores e promover o turismo, a ideia é promover os hábitos de leitura.

Carlos Moura-Carvalho concorda com esta ideia. “Há uma vontade desta geração mais nova de voltar a ler. Mas durante muitos anos as pessoas perderam o hábito de leitura”, conta, explicando que agora, novamente, há uma procura pelos livros, o que explica que ainda hoje moradores do Areeiro fiquem surpreendidos ao ver pela primeira vez esta biblioteca no meio da Praça de Londres.

O Miguel, a Isabel e todos os outros voluntários, que dão algumas das suas horas por semana para manter a cabine aberta, partilham o gosto pela leitura e o desejo que no futuro seja possível manter a Cabine sempre aberta, para que as pessoas possam fazer as suas trocas de livros sem intermediários. Até lá, estão à espera de quem queira por lá passar para trocar livros ou só para conversar sobre o mundo das histórias.

Créditos Fotográficos: Cabine de Leitura e António Alfarroba