Despedir-nos de algo como o Espalha-Factos não é fácil. Não é a só a despedida em si mesma, é também o agradecimento que quero fazer. Como colocar em palavras como o EF marcou a minha própria biografia sem palavras ou parágrafos incompletos? Como o fazer sem soar estranho para quem me está a ler? Não faço ideia.
Para quem não sabe, o Espalha-Factos foi um projeto que nasceu pelas mãos do Pedro Miguel Coelho, nos tempos idos de 2005, na Rádio Boa Nova, em Oliveira do Hospital. O Pedro e eu andávamos na escola juntos, ele tinha 14 anos, e eu para lá caminhava. O EF era um projeto de rádio que passava ao fim-de-semana, em que ele nos brindava com as últimas sobre a Música, Cinema e TV, enquanto passava algumas músicas da moda. A minha memória mais nítida desses tempos do EF sou eu a estudar para Psicologia (ou para Filosofia?) enquanto ouvia a ‘Because You Live’ do Jesse McCartney.
A minha adolescência ficou marcada por essa companhia e parece que sempre esteve comigo. Quase não me lembro dum período em que o EF não existia. Convenci-me que o EF estaria sempre presente e que nunca acabaria. Por isso, confesso-vos que ainda estou em negação. Há uma parte minha substancialmente grande que acredita que a 1 de janeiro de 2023 vou ler os resultados das audiências da noite de fim de ano no EF (Fox Life, acredito em ti!).
Além de me ter acompanhado as fatídicas tardes de estudo de fim-de-semana no Secundário, o EF representou um conjunto de primeiras vezes minhas: escrevi as minhas primeiras notícias (spoiler alert, sou muito má); fiz as minhas primeiras entrevistas de recrutamento; fiz os meus primeiros amigos de Ciências da Comunicação e de Jornalismo; e encontrei pessoas com quem podia falar do Festival da Canção e da Eurovisão livremente. O EF também foi o sítio onde aprendi a gostar de ler sobre TV, Cinema e Música e a comentar o mercado de transferências televisivo.
Mas sabem o que o EF me mostrou mesmo?
O EF mostrou-nos que vontade de ser, vontade de explorar, de aprender, e, sobretudo, a curiosidade fazem tudo acontecer. O projeto do EF nasceu das mãos dum garoto de 14 anos que queria ocupar o seu tempo com algo engraçado e, passados 17 anos, cresceu para uma publicação online jovem, relevante e sóbria com milhões de visualizações por ano.
Afinal, malta, eu penso que isto ainda não vos encaixou, mas nós somos um projeto feito maioritariamente por estudantes do ensino superior, nas horas vagas.
Já passaram pela equipa centenas de pessoas. De adolescentes de 17 anos, a pessoas com vida profissional consolidada. Tivemos pessoas de todo o lado, de todos os cursos. Pessoas que se redescobriram por terem feito parte da nossa equipa. Tenho muito orgulho de histórias de pessoas de medicina ou engenharia que entenderam com o EF que o que gostavam era de Comunicação. No pólo oposto, tenho orgulho de histórias de pessoas que entenderam que o futuro delas não passava pelo Jornalismo. Desculpem-me o viés de psicóloga, mas apesar de todas as coisas lindas que fizemos e escrevemos, são as histórias das pessoas que cresceram connosco que me marcam mais e me deixam com o maior sorriso na cara.
Existem jornalistas agora com bonitas carreiras na área que foi no EF que aprenderam a fazer um lead jornalístico bem feito. Como não posso eu sentir-me orgulhosa do que fizemos e como posso eu não sentir saudades do que vai acabar?
Podia aqui encher este texto com palavras motivacionais para o futuro e como vamos ser todos felizes e bla bla bla bla bla e como o melhor é o que fica bla bla bla bla. Vou poupar-me a esse exercício analgésico, que apenas distrai do essencial.
Vou sentir saudades do Espalha-Factos. Vou sentir saudades de fazer a estrelinha do mês, de abrir o Slack quando precisava de procrastinar com alguma coisa, de ajudar a resolver os dramas que iam acontecendo, de ir ao trello avaliar entrevistas. Vou sentir falta de ler os nossos artigos e de conseguir ter uma perspectiva sóbria-não-chata sobre os assuntos da TV e da Cultura ou de me rir com os posts nas redes sociais. Vou ter saudades de ir chatear a cabeça às pessoas dos podcasts com as minhas frases cortadas a meio. Vou sentir saudades de uma pessoa aleatória qualquer me dizer “Fazes parte do EF? Que fixe! Gosto muito de vos ler.”.
Vou sentir falta das nossas hashtags #EFiel e #EFamília. Vou sentir saudades de ler as publicações do Pedro em como alguém falou de nós. Vou sentir saudades de ter o Fernando Mendes a partilhar os nossos posts no Instagram. Vou ter saudades de responder a publicações no Slack com os emojis :tininha: ou :fernando:. Vou sentir saudades de ouvir os discursos aspiracionais do Pedro sobre o futuro do EF enquanto metia a roupa a lavar em casa. De ver a reação dos nossos mais tímidos aos seus primeiros jantares/encontros EF, e depois, ao segundo encontro eles já estarem a falar com toda a gente. Bolas, como vou sentir saudades dos nossos jantares e dos encontros! Vou sentir saudades de poder dizer a alguém “Conheces o EF? É um projeto de Oliveira do Hospital, feito por um grande amigo meu e por uma malta toda bacana. Tens que nos seguir!”.
Obrigada por tudo, amigo Espalha-Factos. Tudo aquilo que eu possa ter dado foi-me devolvido em triplo.
Obrigada por todas as pessoas que me deste a conhecer, o convívio, a partilha, o conhecimento… enfim, tudo.
Vou sentir saudades desta Energia da Emoção.