Mais uma semana concluída, mais uma edição do À Escuta, rubrica semanal do Espalha-Factos, onde esta semana conferimos destaque ao novo single de Expresso Transatlântico com Conan Osíris e aos discos de estreia de Nena e Coletivo Avalanche. Falamos também dos curta-duração de BIÉ e Velhote do Carmo, de novos singles de Frankie Chavez, Raquel Martins, Rita Onofre e Zé Simples e do regresso aos longa-duração por parte dos Trevo.
‘Barquinha’ junta Conan Osíris aos Expresso Transatlântico
A fechar 2021 – a 26 de novembro, para ser exato -, os Expresso Transatlântico revelaram o seu EP de estreia homónimo. Agora, quase um ano volvido dessa data, regressam com uma nova canção, ‘Barquinha’, uma colaboração com Conan Osíris que é também o primeiro avanço do primeiro longa-duração do trio formado por Gaspar Varela (guitarra portuguesa), Sebastião Varela (guitarra elétrica) e Rafael Matos (bateria) a ser lançado em 2023.
‘Barquinha’ é, sem tirar nem pôr, uma senhora malha. Uma faixa que junta a Lisboa, aquela da menina moça, com uma Lisboa multicultural, a “Nova Lisboa” de Dino d’Santiago, cruzando passado, presente e futuro num só momento, onde a voz de Conan Osíris nos transporta por saudade e, quando cruzada com as grooves do trio (a influência dos Dead Combo volta a surgir bem presente nesse campo), faz-nos querer dançar Alfama acima sem qualquer desdém para as inclinações desafiantes. São estes, afinal, os novos fados que se cantam por aí, não tenham dúvidas disso.
Sobre ‘Barquinha’, o trio fala em comunicado: “A ideia de fazer uma canção com o Conan Osíris precede até as gravações do nosso EP de estreia. Desde o início deste projeto que o nosso intuito tem sido juntar diferentes sonoridades, de diferentes realidades, numa casa comum. Barquinha acaba por ser exactamente isso, um sítio onde nos podemos encontrar musicalmente.”.
– Miguel Rocha
A estreia de Nena, ao fundo da rua
Dez canções compõem o disco de estreia de Nena. ao fundo da rua vem dar a conhecer a “história por contar um beco escondido, uma família numerosa ou alguém um pouco mais sozinho.”, narrando a vivência partilhada de bairro ao mostrar que as histórias mais singelas estão mesmo à mão de semear. Lisboa é o pano de fundo de canções de amor e desamor, prega-se o ‘santo popular’ e com Nena seguimos até ao ‘café da esplanada’; em ‘portas do sol’ refazem-se os passos de um amor vivido e ‘do meu ao teu correio’ mostra que ainda se escrevem cartas apaixonadas.

Com produção de João Só e Ricardo Ferreira, ao fundo da rua vem cimentar o caminho que Nena tem feito na música portuguesa, e o alcance as letras melancólicas e melífluas emparelhadas com a voz singular de Nena vem mostrar precisamente isso. ao fundo da rua pode ser ouvido nas apresentações ao vivo a 2 de dezembro no Casino Estoril (Salão Preto e Prata) e a 25 de janeiro 2023 na Casa da Música (Sala Suggia), onde estarão artistas convidados como Bárbara Tinoco, Carolina de Deus e João Só.
– Kenia Nunes
É o Volume I do Coletivo Avalanche
Podemos suspirar de alívio. Já está finalmente cá fora Volume I, o álbum de estreia do Coletivo Avalanche. Uma viagem sonora, organizada num conjunto de músicas criadas em colaboração, contando com as participações de Alda, Ana Cláudia, Ana Mariano, Choro, Guire, INÊS APENAS, Inês Marques Lucas, iolanda, kikomori, LEFT., Luar, Matheus Paraizo, NED FLANGER, Rita Onofre, Sara Cruz, SOLUNA, Tom Maciel e YANAGUI. Sim, a enumeração é longa, mas é precisa, posto o talento e qualidade dos artistas com quem nos vamos cruzando ao longo do projeto.

Composto por 11 faixas (sendo a última, ‘Até Já’, uma pequena faixa à qual podemos chamar de interlude, que nos deixa estranhamente melosos), este Volume I trata-se de um best of das quatro primeiras edições de Writing Camps Avalanche, em parceria com os Great Dane Studios. “Saíram dezenas de demos das sessões que organizamos. As músicas finais dependeram de um misto da nossa curadoria interna, dos desejos dos artistas em questão e da coerência entre os temas para formarem juntas um álbum”, conta Luar, em comunicado de imprensa.
É um disco fenomenal, incrivelmente bem produzido, onde encontramos vozes cheias de personalidade, cada uma com um recorte textual único, guitarras cósmicas que se distendem em riffs arrojados e magnéticos, flows que cruzam ideias antes de pensarem no jogo com as palavras e beats de alta classe. Para além de revelar a união e compadrio que existe entre os membros, o Coletivo Avalanche prova também aos ouvintes que são feitos de certified bangers levados ao extremo, ora num registo mais nostálgico (como ‘Medo’, ‘Neblina’, ‘Batata-Frita’, ‘Corta-Chamas’ e ‘Colo’), ora num registo mais dançável (como ‘Corpo ao Mar’, ‘Assim’, ‘Contigo’, ‘Eowe’ e ‘Para Trás’), aprimorados por uma dose de groove brutal, de modo a que ninguém que goste de abanar a cabeça consiga resistir por muito que tente. Um espantoso trabalho de um Coletivo que recusa limites para a sua criatividade, liberdade e expressividade – e nisso, Avalanche é mesmo muito especial.
Assim, a banda sonora para alguns dos momentos mais emocionantes e entusiasmantes das nossas vidas está criada. Resta-nos carregar no play para se apreciar um dos melhores álbuns do ano – tão depressa não esqueceremos o que acabámos de ouvir.
– Ana Margarida Paiva
Falas Mansas é o novo EP de BIÉ
Depois dos singles ‘Linguagem da Respiração’, ‘Não Avisto o Mar Daqui’ e ‘Essa Laranja’, podemos finalmente ouvir na íntegra o novo EP de BIÉ, Falsas Mansas.

Ora BIÉ, nome com que Rafael Fernandes fala línguas respiráveis e canta sobre citrinos, já nos tem demonstrado a sua delicadeza em chutar poemas cantados que devem ser lidos e sentidos tal como estas melodias emotivas que este faz questão de emanar. As suas interpretações são plácidas e cautelosas e chegam-nos aos ouvidos rodeadas destes jardins de pianos e cordas, resultando numa fusão cativante entre Yo La Tengo, Bill Callahan e até os momentos mais badalados de um Salvador Sobral ou de André Henriques. Com palavras poderosas e uma sensibilidade pop bem assente na composição de refrões orelhudos e de uma ambiência apelativa que vai projeto adentro, Falas Mansas é um EP que satisfaz qualquer bom ouvinte, não se fazendo sentir como um mero projeto de 18 minutos, mas sim como uma bela obra que só nos deixa famintos para poder ouvir um trabalho discográfico do multi-instrumentista.
Todos os temas foram produzidos e tocados por BIÉ, à exceção de ‘Linguagem da Respiração’ que contou com a bateria de Cláudio do Lago Tavares, as cordas de Guilherme Santos, baixo de Vitor Hugo Ribeiro, teclas de Sérgio Bastos e vozes de Tika Perdicoúlis e Rebecca Lapa. A masterização ficou a cabo de Miguel Pinheiro Marques.
– José Duarte
‘Não Saberás’ é a segunda antevisão de novo disco de Frankie Chavez
Sucessora de ‘Cheguei Bem’, ‘Não Saberás’ é a segunda antevisão de Frankie Chavez ao projeto que dará a conhecer em fevereiro de 2023. O cantautor multi-instrumentalista, um dos nomes mais ressonantes do blues e folk português, explorará pela primeira vez a sua língua materna. Em ‘Não Saberás’, a reconciliação é tema entre semi-murmúrios e uma guitarra bem afinada: “Fala de reencontro e de compromisso. Fala de cedência, de diálogo e de compreender o outro lado, ainda que não apeteça. Fala de liberdade. De liberdade de escolha e de liberdade de expressão. Às vezes temos que arriscar para nos sentirmos vivos.”, diz-nos Chavez no comunicado à imprensa.
Mantêm-se, nesta canção, as características únicas de Frankie Chavez: as influências do blues e folk continuam, mais do que nunca, a traçar o seu caminho e a tradição, eletricidade convivem em harmonia em canções que unem, num só, presente, passado e futuro. ‘Não Saberás’ fica assim, enquanto gostinho de um disco que, ansiosamente, aguardamos.
– Kenia Nunes
‘Fragile Eyes’, a nova de Raquel Martins
Depois do seu debut ‘Real’ e as sucessivas edições das canções ‘Freedom’, ‘Show Me’ e o EP ‘The Way’ — que fez sucesso junto do público inglês e que por estas páginas também não passou despercebido —, Raquel Martins apresenta, agora, ‘Fragile Eyes’. Baseada em Londres, a portuguesa tem vindo a trabalhar com nomes como Poppy Ajudha, Amaarae ou Gracey, bebendo inspirações destes artistas e de clássicos de jazz e bossa nova.
‘Fragile Eyes’ é uma mescla perfeita destas influências: junta R&B, jazz e bossa nova através dos toques suaves dos instrumentos e da voz incrivelmente continente de Raquel Martins, que transpira versos charmosos que fazem lembrar Arlo Parks ou Biig Piig. A canção vem deixar um gosto residual nectáreo no ouvinte que se vicia nos versos doces de Martins, indagando o que virá a seguir com, confessemos, curiosidade inquieta.
– Kenia Nunes
Rita Onofre antecipa álbum de estreia com ‘Perdoei’
Em 2021, Rita Onofre lançou o seu EP de estreia, Raiz, e marcou também presença em canções colaborativas com alguns dos seus compinchas favoritos. Esta semana chegou às prateleiras ‘Perdoei’, novo single que antecipa o primeiro longa-duração da artista, previsto para sair em 2023.
É um tema que fala sobre “aquelas dores que são passadas de geração em geração”, adianta Rita Onofre, em comunicado de imprensa. “Agimos a dormir constantemente, até que há alguém no caminho que já anda tão pesado de passado que dá por essa dormência (…) Para libertar eu escrevo, e para libertar e deixar ir serve esta música”, remata.
Numa estética indie pop tropical, ‘Perdoei’ explora um apetite dançante dentro de uma atmosfera aconchegante e bucólica, tecida arrojadamente entre os instrumentos da praxe (uns picantes riffs de guitarra servem de base principal para toda a criação). Capaz de se unir ao todo como manteiga em pão quente, Rita Onofre tem dentro de si o poder de curar. Há sempre algo de caloroso na sua entrega e ‘Perdoei’ prova que por trás das suas criações musicais está um ser melómano, cujo batimento cardíaco se dá por entre notas e escalas, materializando-se na sua voz. É também aqui muito bem-vinda a participação de Choro e NED FLANGER na produção e de Vítor Carraca Teixeira na mistura e masterização, elevando ainda mais a qualidade de todo o trabalho.
O resultado final é uma canção profundamente vibrante, envolvente e marcante, que se complementa a cada minuto volvido. Quer-se ouvido em loop sem nunca cansar. Avizinha-se aqui um álbum de estreia promissor.
– Ana Margarida Paiva
Os Trevo regressam aos discos com Ar, Amar e Terra
Gonçalo Bilé, Ricardo Pires e Ivo Palitos – que é como quem diz, os Trevo – dizem ser um “um power trio que teve a fortuna de se cruzar na vida e na música”. Em 2016, estrearam-se com o seu disco de estreia homónimo e, seis anos depois, regressam aos trabalhos discográficos com Ar, Amar e Terra, lançado dois anos depois da passagem de Gonçalo Bilé pelo The Voice Portugal, onde chegou às semifinais do concurso da RTP.

Contando com as contribuições do pianista Paulo Borges na coprodução e ao longo das faixas de Ar, Amar e Terra, os Trevo jogam no campo da pop rock, expandido o universo sonoro do seu disco homónimo com instrumentação extra e crescentes emoções. Ao longo de Ar, Amar e Terra os Trevo exploram o seu lado mais sentimental, apresentando canções onde o ênfase é o sentimental meets melodia, como ‘Eu Falo Alto’, ‘Se Eu Desenhasse’ ou ‘Oh Da Joana’ – esta última a lembrar um Caio -, mas sem discernir o seu lado de rockeiros, evidentes em malhas como ‘Se Eu Soubesse Que Era Assim’ ou ‘Mazelas’, a fazer lembrar Cão, dos Ornatos Violeta.
Entre esses mundos, existe um pouco de tudo – os Trevo pretendiam entregar um disco a revelar as suas novas potencialidades encontradas enquanto banda e conseguiram. Dia 24 de novembro, no Musicbox, em Lisboa, há apresentação de Ar, Amar e Terra marcada.
– Miguel Rocha
São as Páginas Amarelas deste Velhote do Carmo
Depois de anos passados em fundo de palco de projetos como Zanzibar Aliens, Stckman ou Guy Proença, chegou a altura de Velhote do Carmo assumir-se como protagonista da sua própria narrativa, assumindo-se a solo com Páginas Amarelas, curta-duração de estreia editado pela Discos Submarinos (editora de Benjamim).

Em Páginas Amarelas, a fórmula de Velhote do Carmo é eficiente, maleável, intransigente nos seus maneirismos de pop analógica e nostálgica, próxima daquilo que – curiosamente – Benjamim apresentou no seu último disco, Vias de Extinção. Canções como ‘Saco de Boxe’ ou ‘A Percepção’ são iluminadas pelas suas influências de pop dos anos 60, perdidas num romantismo sempre presente ao longo das faixas do EP, pronto todo a desaguar na caótica e orelhuda, algo kitsch, ‘Será Romeu?’, a fechar o EP com uma nota que abre portas para aquilo que Velhote do Carmo poderá apresentar daqui para a frente.
Mais que sólido, recheado de uma personalidade divertida e de muitas melodias para cantarolar, estas Páginas Amarelas confirmam-se como uma das estreias mais auspiciosas de 2022 no mundo da música portuguesa. Dia 16 de dezembro, no Musicbox, em Lisboa, Velhote do Carmo irá apresentar o EP acompanhado por António Reis nos teclados, Martim Seabra no baixo e Francisco Santos na bateria e irá contar com os convidados especiais Benjamim, A Sul e Filipe Karlsson.
– Miguel Rocha
Zé Simples revela-se ‘À Vontade’
José Penacho é Zé Simples a solo e encontra-se a preparar o seu primeiro álbum. Depois de revelar ‘Miragem’, o membro de bandas como Marvel Lima, Cancro, Riding Pânico, entre outras, traz-nos o segundo avanço do seu LP de estreia, ‘À Vontade’.
‘À Vontade’ é uma canção pop orelhuda, servida entre o mundo de pop eletrónica e os devaneios de pop kitsch de um Filipe Karlsson. Os sintetizadores têm o seu quê de oníricos, a groove é infalível em colocar-nos a dançar (à vontade, claro, perfeita para encher as ondas sonoras da Musa, em Lisboa), o refrão um cocktail efervescente para cantarolar e disfrutar. Uma bela canção pop, portanto.
O disco de estreia de Zé Simples tem data de lançamento marcada para o início de 2023 com selo Throwing Punches.