O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
Time for T
Time for T | Fotografia: Tatiana Saavedra

À Escuta. Time for T, Gala Drop e Conjunto Júlio entre os destaques da semana

O À Escuta desta semana tarda em chegar mas, mesmo assim, regressa com os destaques e lançamentos da música portuguesa da última semana. Desta vez, destacamos o regresso dos Gala Drop, o novo disco de Time for T e a estreia do Conjunto Júlio. Temos, ainda, a estreia de Maripool, as colaborações entre Adler Jack e help!, ELIS NEON e Paco Romero, Elisa Rodrigues e Rita Onofre, os EPs de O Triunfo dos Acéfalos e de prehistoricos, e os LPs de DJ Player, Inês Malheiro e Rita Silva; e os novos singles de Brisa, Trevo, Alda, Isaura e Cavalo55.

Hurry up and Wait é a banda sonora para este outono dos Time for T

Hurry up and Wait é o nome do novo disco dos Time for T, projeto “nómada e multicultural”, como se intitulam, formado por Tiago Saga, Joshua Taylor, Felipe Bastos e Juan Toran, lançado com selo da editora alemã Lotte Lindenberg.

O sucessor de Galavanting, lançado em 2019, vê os Time for T amplificarem as suas explorações sonoras com um lado mais introspectivo. Não é que os seus lançamentos anteriores pecassem pela introspectividade, mas em Hurry up and Wait, isto surge num contrabalançar deveras interessante com um movimentos upbeat, grooves dançáveis que embelezam aventuras pela americana psicadélica do country ao blues, adornadas por multiculturalidade natural – o afrobeat (bem se escuta em ‘Running Man’ essa influência…), a tropicália. Em momentos, encontramos algo que lembra Kings of Convenience ou Bill Callahan, como as orelhudas ‘Sun on My Back’ ou ‘Believer’; em outros, escutamos canções que soam a versões superiores de algo que os Kaleo têm feito ultimamente, como a maravilhosa ‘Boxing Gloves’ ou ‘I Feel Strange’, a explorar um lado mais emocional da banda.

Não são só as diferentes grooves que encontramos neste Hurry up and Wait que complementam a ideia entre melancolia e alegria. Os toques psicadélicos, sempre presentes ao longo da discografia dos Time for T, conferem às canções texturas solarengas, que quando exploradas lado-a-lado com o universo da introspeção deste Hurry up and Wait, tornam-no num disco perfeito para este outono e, quiçá, perfeitamente escutável em outras alturas do ano (verificaremos com mais afinco perto do final de 2022…). 

Portanto, a receita é a seguinte: colocar a chaleira ao fogo, aquecer a água, preparar um chazinho e um prato de bolachas e preparar-nos para ver as folhas a cair (pode o outono a sério chegar, por favor?) ao som deste belo novo longa-duração dos Time for T.

– Miguel Rocha

O regresso de Gala Drop em Amizade

Oito anos depois e agora em formato trio, os Gala Drop regressam com Amizade, o seu terceiro longa-duração.  Afonso Simões – bateria, sintetizadores e percussão –, Nelson Gomes – guitarra elétrica e electronics –, e Rui Dâmaso no baixo elétrico, guitarra e sintetizador – são as cabeças por trás deste disco instrumental que eleva a electrónica e leva-nos por uma viagem psicadélica por uma “cartografia que a banda tem explorado com singular e já patenteado entender e jogo de cintura“. 

Começando pelo single Amizade‘, essa viagem segue para a já conhecida ‘Monte Do Ouro‘, seguindo pela mexida e futurista ‘Dança das Camélias‘, uma espécie de ficção científica a acontecer em formato musical. A seguir, o ‘Dub da Meia Noite‘ traz melodias sacadas do raggae num loop; Guitarra Voadora‘ é precisamente uma ode ao instrumento que ganha protagonismo, ‘Areal Dub‘, “descaradamente dubby” e a hipnótica ‘Raio‘ – eis as “sete malhas concisas de labor minucioso, mas nunca forçado, feitas de cascatas de sintetizador, linhas de baixo líquidas, muita percussão em linha ténue entre o orgânico e o eletrónico, ecos, guitarras pausadas e um sentimento esfuziante que irradia”, como nos diz o comunicado.

Krautrock, dub, house e eletrónica misturam-se em Amizade, disco que marca o regresso dos Gala Drop às edições discográficas: estes sete temas ficam imortalizados não só nas plataformas mas recebe ainda uma edição em vinil. A banda já começou a tournée de apresentação do disco, passando por Setúbal, no dia 12 de novembro, em Barcelos, no dia 25 de novembro, na Parede, Cascais, em 10 de dezembro, e no Porto, em 17 de dezembro.

– Kenia Nunes

Só Mais um Júlio marca a estreia de Conjunto Júlio 

Só Mais Um Júlio é o primeiro EP do Conjunto Júlio, quarteto formado por João Maria Gorjão, Tomás Simões, Francisco Sanona e Sérgio Nicolau. Em março deram os primeiros passos com o lançamento de ‘Achado‘, com o qual deram início a uma nobre missão: musicar, retraçando com a adição de camadas energizantes, os poemas absortos da língua portuguesa. ‘Achado’ adaptava Os Colombos, poema de Fernando Pessoa que pode ser encontrado na II Parte de Mensagem, o tomo incontornável da obra de Pessoa. 

Agora, revelam quatro novos poemas-musicados: representa-se Florbela Espanca, em ‘A Doida‘, canção que se abre aos poucos numa murmuração; ‘Passei o Dia‘ dá corpo ao poema de António Botto com pitadas de música popular brasileira, ecoando os passos do calçadão de Ipanema; ‘Os Bons‘ e ‘Ninguém‘ fecham este EP de quatro canções dando vida e alma aos versos de Luís de Camões, atribuindo-lhes a componente épica desta feita numa viagem que se move entre guitarras que ora bramem, ora sussurram.

Só Mais um Júlio será apresentado no dia 19 de outubro no Musicbox, em Lisboa, mostrando a rápida ascensão da banda nos corolários do rock português, tornando-nos numa das bandas mais estimulantes deste ano.

– Kenia Nunes

DJ Player apresenta-nos o seu novo álbum Trek

Trek é o mais recente trabalho discográfico do produtor poveiro DJ Player, nome com que Nuno Loureiro assina as suas produções. Este chega 6 anos depois do seu último longa-duração, Interludes e 13 anos desde a sua mixtape de estreia. O álbum conta ainda com participações de AMAURA, MadMarcu$ e Lia.

O conceito deste Trek é inspirado no que poderia acontecer numa noite em que o artista se colocasse ao volante do carro que se encontra na capa do disco – do qual só conseguimos ver as jantes e talvez assumir como um carro desportivo. Apesar de não sabermos de que carro se trata, toda ambiência, dentro e fora da viatura, consegue ser determinado através das viagens sonoras que são tomadas. Uma late night drive, toda neon mesmo à filme, agora se é estilo Speed Racer ou Drive, isso fica ao critério de cada um. Viajamos por entre um syntpop orelhudo, um R&B alucinante e um hip-hop groovy que suscita o bounce das nossas cabeças. Pelo caminho existem momentos que partilham a possível melancolia de viajar solitariamente à noite, como é o caso da faixa ‘Requiem’, que tão bem se contrastam com autênticos shots de adrenalina como ‘La Fuga’ ou a imersiva ‘Lucifer’s Avenue’. Sonoramente navegamos entre uns HEALTH e as produções mais versáteis de um Gesaffelstein. É um projeto que nos engole, acolhe e nos leva para uma viagem fulminante.

Um excelente showdown das capacidades invejáveis que DJ Player possui. Muita personalidade, carisma e versatilidade para dar e vender.

– José Duarte

Lê também: Crítica. ‘Halloween Ends’ desaba sob o peso da própria ambição

It All Comes At Once é o EP de estreia promissor de Maripool

Maripool é o alter-ego de Natasha Simões, artista nascida em Lisboa a residir na cidade de Londres, que agora se estreia no formato de curta-duração com It All Comes At Once, editado com selo da Practise Music, label de onde já saltaram nomes como Squid ou deep tan.

Em pouco mais de dez minutos e ao longo de quatro faixas, Maripool faz mais do que o suficiente para nos impressionar e certificar que é um nome a termos em consideração para o futuro. 

A sonoridade de Maripool puxa-nos para o slacker rock dos anos 90 à la Pavement. Núcleo lo-fi, guitarras melosas, paisagens joviais e suburbanas adornadas por melodias pop decadentes, próximas das aventuras de bedroom pop de um Mac DeMarco ou Alex G ou dos primeiros trabalhos de beabadoobee.

‘Softly’ e ‘This Time Again’ são as duas canções que já conhecíamos deste It All Comes At Once – mantêm-se orelhudas e melosas, ora – e as duas novas faixas que a artista nos dá a conhecer, ‘Untitled’ – com as suas grooves de pós-punk a lembrar algo que podia sair do disco de estreia das Wet Leg, e a sonhadora e introspectiva ‘Coming Back’, são mais duas provas do potencial de Maripool. Há aqui uma estrela indie e uma estrela rock a florescer – anotem para a celebrarmos no futuro.

– Miguel Rocha

Inês Malheiro apresenta Deusa Náusea

Um estudo de experimentalismo, dissonância, transcendentalismo – era isso que dizíamos aquando do lançamento do primeiro single de Deusa Náusea, LP de estreia de Inês Malheiro. Buscando a ascensão entre o bucólico e o silêncio, a artista encontra na eletrónica o seu casulo, explorando texturas, buscando no tumulto uma harmonia preciosa e singular.

Em cada uma destas dez canções que compõem o disco, reina a transformação, o onírico, trocando as voltas à composição “tradicional” e abrindo asas a um experimentalismo cortante e desafiante, onde bocados de voz são contrapostos a um fundo de sons dissonantes e texturas que tanto chocam como se complementam, dotando o bucólico de uma visão futurista. Dissonância e harmonia podem ser considerados antónimos, mas em Deusa Náusea juntam-se para compor um dos LPs mais interessantes dos últimos tempos.

– Kenia Nunes

Adler Jack e help! voltam-se a fundir em ‘This Little Feeling’

‘This Little Feeling’ marca o regresso das colaborações entre Adler Jack e help!, depois deste ano já nos terem entregue a beatífica ‘Além de Mim’. Esta música é o primeiro de três lançamentos que Adler Jack vai lançar semanalmente ao longo deste mês.

2022 tem sido um ano em que Adler Jack tem provado ser um dos artistas mais prolíficos do cenário de música independente português, sendo bastante suscetível, entre álbuns, singles e colaborações, perdermos a conta da quantidade de música que o jovem coimbrense já lançou. Em ‘This Little Feeling’, música que sucede o curto, hiperativo e super divertido Fun, temos um regresso a uma eletrónica abusiva e psicadélica, que não nos é nada estranha. Com uns blocos progressivos que se situam entre uns Boards Of Canada e a dinâmica de uns The Prodigy, a faixa é um autêntico malhão, com um groove infetante cheio de estilo e com muita personalidade. Todos estes aspetos só se enaltecem com o hipnótico e imaculado saxofone falante de help!, que toma conta do volante e guia-nos pelo meio destas melodias cyberpunk-ish, culminando num veneno sónico do qual não nos conseguimos ver livres.

Agora é esperar que as semanas acabem para podermos ouvir os próximos lançamentos de Adler Jack. Ele que se acautele, pois a fasquia que aqui deixa, já é bem elevada.

– José Duarte

‘Metamorfose’ é mais uma canção arrebatadora de Brisa

Começa a ser complicado não nos apaixonarmos eternamente pela música de Brisa. Depois de ‘Nuvem’ e ‘Outro Mar’, agora é uma ‘Metamorfose’ que nos encanta.

A contar com a ajuda na produção por parte de Ariel – também com créditos na música e letra, ao lado da própria Brisa e de Gonzalo Tau -, esta ‘Metamorfose’ é uma canção pop que tem tanto de orelhuda como de melosa e sonhadora ou, como indica a artista, é “ uma experiência sonora libertadora que começa por reconhecer os sentimentos indesejados de cada ouvinte e cresce até um clímax que marca um ponto de viragem de perspetiva e dá força para começar um novo caminho”. Os sintetizadores capturam-nos pela sua ambiência, as dedilhadas de guitarra e as baterias embelezam uma groove afincada, mas é a voz de Brisa que realmente nos arrebata, nos faz apaixonar, uma qualidade de diva pop com tudo para se consagrar. 

Esta ‘Metamorfose’ não engana – já não é uma questão de tempo. Esta Brisa está mesmo para ficar – e ainda só estamos no início.

– Miguel Rocha

Rita Silva apresenta The Inflationary Epoch 

The Inflationary Epoch é o mais recente longa-duração da compositora e instrumentista Rita Silva e sucede a sua estreia lançada no ano passado Studies Vol.1. The Inflationary Epoch conta com selo Colectivo Casa Amarela.

Entre montanhas de sintetizadores modulares e cascatas de aperggios imersivos, a música de Rita Silva apresenta-nos paisagens cósmicas que nos acolhem pelo meio destas robustas e alongadas faixas que nos encapsulam neste ambiente sui-generis e hipnotizante. No meio de improvisos, vamos mergulhando em texturas sintéticas fogosas e virtuosas, com ciclos maníacos, como é o caso de ‘Cyclic universe’, ou perdermo-nos no meio das poeiras galácticas que faixas como ‘A Full Circle’ emanam. No cosmos, chegam-nos nomes como Caterina Barbieri, Suzanne Ciani ou até mesmo os momentos mais esotéricos de um Oneohtrix Point Never.

O segundo pilar da discografia de Rita Silva, é uma obra bem completa e com muito espaço para explorarmos.

– José Duarte

Elisa Rodrigues e Rita Onofre juntas em ‘Sonhar

Sonhar é o single que marca a colaboração entre Elisa Rodrigues e Rita Onofre, composta pela dupla e por Clara Dualibi. Interpretações doces e otimistas marcam a discografia tanto de Elisa Rodrigues como a de Rita Onofre, que agora juntam-se neste tema que floresce entre toques de jazz.

A canção, que é quase “tão leve como o sono” leva-nos a refletir sobre a leveza e simplicidade que no fundo é feita a vida, mesmo que não nos consigamos aperceber disso no nosso dia-a-dia. As vozes das duas cantoras mesclam-se de maneira exímia, abrindo um espaço de “coragem infantil que precisamos de reaprender se não queremos desistir de sonhar, nem de ser quem somos a caminho dos nossos sonhos“. 

Para Elisa Rodrigues, tanto esta canção como a anterior, ‘Amor Perfeito‘ são a continuação do caminho à procura de um lugar que quer feito à sua medida.

– Kenia Nunes

‘Estava Escrito’ é o segundo avanço do próximo disco dos Trevo

Gonçalo Bilé, Ricardo Pires e Ivo Palitos continuam a traçar o caminho do próximo longa-duração dos Trevo com o lançamento do segundo single a ser retirado desse projeto, ‘Estava Escrito’.

A contar com produção da banda e do pianista Paulo Borges, ‘Estava Escrito’ é uma canção melosa, introspectiva, perfeitamente outonal, onde os Trevo exploram o seu lado mais folk, fazendo lembrar algo que CAIO poderia apresentar em Desassossego ou Viagem, incorporando-o na estética pop que caracteriza os Trevo, mesmo que esta faixa não seja tão orelhuda como ‘Eu Falo Alto’ (e não há nada de errado com isso – a faixa também não se propõe a tal).

O sucessor do disco homónimo dos Trevo, lançado em 2016, será revelado ao mundo no próximo dia 18 de novembro. Dia 24 de novembro, no Musicbox, em Lisboa, está marcada a apresentação do longa-duração ao vivo.

– Miguel Rocha

A ‘Viagem‘ de Isaura

‘Viagem é o mais recente single de Isaura, a cantora de Gouveia que tem vindo a conquistar espaço único do universo da pop portuguesa e cuja participação no Festival da Canção veio dar um empurrão ainda mais significativo nesse sentido. Desta feita, apresenta-nos ‘Viagem‘, o segundo single do novo projecto que mistura hip-hop e pop electrónica com uma pitada de eighties.

Gravado em formato analógico de 16mm, o videoclipe conta com realização de Fabiana Tavares e fotografia de Duarte Domingos e, tal como na canção, somos transportados numa verdadeira viagem, onde Isaura é a personagem procura respostas que acalmem as suas inquietações entre paisagens dominadas pela natureza. 

– Kenia Nunes

7488 é o EP de estreia dos prehistoricos

Os prehistoricos, grupo constituído por César Correia, André Gomes, Pedro Rodrigues, Rúben Garção Silva e Carlos Pires, estreiam-se nos projeto de curta-duração, com 7488. O disco foi gravado entre os estúdios tuff, BEEP e Comcordas e foi misturado por João Santos e masterizado por Paulo Abelha.

7488, contam-nos, trata-se de “um código de acesso às ideias, às memórias e às influências de cada músico. Construído para viajar no tempo sem sair da sala de estar e para ser ouvido com tempo, como um bom velho whisky, saboreando a surpresa de cada nota e progressão a cada trago que é dado pelo ouvinte. Um disco que é quase que uma compilação das longas horas de ensaios e concertos que foram tendo ao longo dos anos.”.

Em termos sonoros, a mistura orelhuda entre jazz, rock, world music, funk e hip-hop, tanto se faz sentir como aquelas pomadas que se faziam ouvir nos concursos e programas televisivos umas décadas a esta parte, como nos faz sentir no mais requintado e aprimorado clube de jazz.  Fazendo jus ao nome, o seu som ultrapassa barreiras temporais e geracionais. Com guitarras intemporais, percussões hiperativas e um groove intocável, este 7488 não tem skips é uma meia hora altamente jovial com malhões como ‘Zé Libório’, ‘9×7=7’ e ‘Alma Velha’. Que bela estreia desta malta da pré-história.

– José Duarte

O Triunfo dos Acéfalos indicam: Vivemos num Inferno

No universo dos amantes da música – os melómanos -, a partilha é um momento de enorme rejubilo que, de vez em quando, impõe agendas para explorar no futuro. Com Vivemos num Inferno, o novo EP de O Triunfo dos Acéfalos, aconteceu-nos isso. Num chat de grupo, enviaram o curta-duração e referiram fazer lembrar Conferência Inferno se Ata Saturna fosse feito em Santo Tirso – mais do que suficiente para nos aguçar a curiosidade.

Ora, O Triunfo dos Acéfalos é um duo de Santo Tirso formado por Luís Barreto e Joana Ferreira que parece existir há uns bons anos, mas que só agora nos chegaram aos nossos ouvidos (pedimos desculpa por estarmos desatentos) que, neste Vivemos num Inferno, entregam um manifesto anticapitalista (correto) que nos marca pelo presente de sabermos ter de ir ouvir aquilo que existe para trás nesta história. 

‘Vivemos num Inferno’ é punk ruidoso, muito humorístico e catártico, servido como se fosse criado numa garagem no Norte (provavelmente foi, mas a observação é uma de enorme gabarito, não se enganem), ‘A.I.T.A’ é hyperpop à la 100 gecs e ‘Gado Suino’ e ‘Moon Gorgeous Meditation’ a serem incursões pelo mundo do electro-punk pujante e cavernoso, sintetizadores cortantes, camaradagens efémeras onde a revolução parece ser o único caminho viável para estes O Triunfo dos Acéfalos. 

E agora? Agora é ir ver o que há mais no futuro deste duo e ir ouvir o que ficou do passado – parece que há aqui todo um universo a descobrir – há escribas que têm de acontecer também por essas razões.

– Miguel Rocha

‘nem mil anos vão chegar’ é o novíssimo single de Alda

Depois de se ter estreado em 2021 com o belíssimo tema ‘Demência’ – um dos melhores singles desse ano em Portugal -, Alda, nome com que Carolina Costa assina a sua carreira a solo, começou o seu 2022 em lançamentos com o bop de new wave, ‘amar não me salvou’. Se o salto estilístico que se observou entre os dois primeiros singles já era indutor de interesse pela versatilidade e vontade de ouvir mais de Alda, então o ouvido em nem mil ano vão chegar’ só aumenta a curiosidade de acompanhar a carreira de Alda.

Continuando nas andanças de new wave, nem mil anos vão chegar apresenta o trabalho de percussão mais arrojado da artista até à data. A progressão da faixa ainda nos apresenta uma eletrónica ritmada ténue e os efeitos vocais da artista vão buscar uma vertente que navega entre o hyperpop e uma art pop cuidadosa. A performance de Alda é sem surpresa, muitíssimo cuidada e exemplar e só ajuda a embelezar as palavras que vão sendo proclamadas com toda a emoção e plenitude.

É mais um trabalho muito bem conseguido pela artista, que antecipa o lançamento do seu EP de estreia a solo, para ser lançado no próximo ano.

– José Duarte

B.E.R.A quer mais no seu novo single

‘Quero Mais’ é o novo single de B.E.R.A, alter-ego de Frederico Martinho, guitarrista, produtor, compositor e uma das faces dos HMB. Depois de se estrear com os singles ‘Não Pára’ e ‘Lentamente’, de ter atuado em Lisboa e no Porto nas primeiras partes dos concertos de New Max, apresenta agora o seu terceiro tema do projeto a solo.

Abraçando-se mais ao hip-hop, daquele bem sumarento e rechonchudo, com 808’s abusivos e uma mistura de funk e R&B quase inerente, B.E.R.A em modo autocrooner, vai dançando com as suas rimas despidas de condescendência e vai emanando uma groove bem contagiante. Com influência assumida de um To Pimp A Butterfly e uns ritmos de J Dilla, o tema foi totalmente produzido e escrito pelo músico e compositor.

O tema é ainda acompanhado por um video estrondoso e improvável de Rui dos Anjos e André Pega.

– José Duarte

Hi&Lo’s‘ é o single de apresentação de Cavalo55

Cavalo55 é Simone Carugati, multi-instrumentalista e cantautor do Norte de Itália que encontrou em Lisboa um solo fértil para criar. ‘Hi&Lo’s‘ é o primeiro single que apresenta, que mostra na completude a sua veia folk e country – como ele próprio diz, a sua infância foi passada a sonhar numa vida passada algures na América. 

Indonésia, Austrália, Escócia, Estados Unidos são sítios por onde passou e fez música, mas foi em Portugal que firmou raízes. Essa folk e essa country que trouxe das viagens assenta aqui bem, e Cavalo55 conta com um ensemble de músicos portugueses e brasileiros que ajudaram ao alcance do artista. Agora, é esperar para ouvir o que mais Carugati tem a dizer. Por aqui, estamos rendidos.

– Kenia Nunes

Everything or Nothing’ é o nome do novo single de ELIS NEON

ELIS NEON é o nome do projeto que junta André Dias (aka Beiro) a Fred Severo e que agora se estreia de uma forma mais oficial com esta Everything or Nothing’ – em setembro, o duo lançou uma versão “slowed + reverb” de uma faixa chamada ‘Nothing’.

‘Everything or Nothing’ inclui contribuições do saxofonista Paco Romero, instrumento que rompe pelo seio da faixa, fazendo-nos viajar com cada riff destilado, um acompanhamento delicioso à groove pautada da faixa, perdida entre influências de música eletrónica e neopsicadélico, a puxar ao nu jazz que grupos como os Bardino ou Yawn Society andam a praticar, num cruzamento entre o orgânico e o sintetizado. É uma canção que nos permite dar o passinho de dança apropriado e que nos leva a querer escutar mais das explorações que estes ELIS NEON possam efetuar no futuro.

– Miguel Rocha