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Martin Scorsese New York Film Festival 2022

Martin Scorsese critica Hollywood: “O cinema está a ser desvalorizado”

Depois de ter criticado os filmes da MarvelMartin Scorsese volta a criticar o estado atual do cinema em Hollywood. Esta quarta-feira (12), na apresentação do documentário Personality Crisis: One Night Only, co-realizado e protagonizado por David Tedeschi, no Festival de Cinema de Nova Iorque, o cineasta condenou a obsessão “repulsiva” da indústria para com as receitas de bilheteira, chegando ao ponto de afirmar que o foco no lucro desvaloriza o cinema enquanto forma de arte.

“Desde os anos 80 que tem havido um foco nos números. Chega a ser repulsivo”, afirma o realizador. “O custo de um filme é uma coisa. Compreende-se que, quando o filme custa uma certa quantia, é esperado que se receba a quantia de volta e um pouco mais. O ênfase agora é nos números, custos, o fim-de-semana de abertura, quanto é que fez nos Estados Unidos, quanto é que fez em Inglaterra, quanto é que fez na Ásia, quanto é que fez no mundo inteiro, quantos espectadores é que teve“, acrescenta ainda.

Martin Scorsese tem sido muito vocal em relação ao seu desagrado com a transição da indústria para um mercado mais favorável às plataformas de streaming, reduzindo longas-metragens e séries televisivas a “conteúdo” e algoritmos. O realizador aponta que, devido às circunstâncias impostas pela pandemia Covid-19, o cinema está a ser “marginalizado e desvalorizado” em prol de cumprir com metas trimestrais de assinantes.

Para além disso, Scorsese verbalizou o seu carinho para com o festival de Nova Iorque. “Este festival é uma casa espiritual para cineastas e para a arte do cinema, particularmente importante agora, quando o cinema está a ser desvalorizado, humilhado, menosprezado de todos os lados, não necessariamente do lado do negócio mas certamente da arte, comentou.

A mudança de como Hollywood opera tem sido lenta mas eficaz. O próprio realizador expressou dificuldades em arranjar financiamento entre os grandes estúdios de cinema americanos para financiar O Irlandês, acabando por recorrer à Netflix. Apesar de não existir um consenso na quantidade oficial, as estimativas do orçamento do drama biográfico variam entre os 159 a 250 milhões de dólares, o equivalente a cerca de 163 a cerca de 257 milhões de euros. O filme foi aclamado pela crítica e arrecadou dez nomeações aos Óscares, incluindo a categoria de Melhor Filme.

O próximo filme de Martin Scorsese, desta vez financiado pela Apple TV+, é Killers of the Flower Moon, que conta com os seus parceiros recorrentes, Leonardo DiCaprioRoberto De Niro (que também protagonizou O Irlandês), nos papéis principais. Estima-se que o orçamento da longa-metragem ronde os 200 milhões de dólares, o equivalente a cerca de 205 milhões de euros.

Ao longo do discurso, o realizador apontou para a sua paixão pela Sétima Arte. O próprio cineasta é responsável por financiar várias formas de preservação de cinema tanto americano, como internacional, uma dedicação que ganhou renovada relevância quando a HBO Max começou a remover conteúdo original da plataforma em agosto.

“Enquanto cineastas, enquanto pessoa que não consegue imaginar a vida sem cinema, acho isto um grande insulto. Eu sempre soube que este tipo de considerações não têm lugar no Festival de Cinema de Nova Iorque e a chave também está no seguinte: aqui não há prémios. Não é preciso competir. Apenas é preciso que se ame cinema, concluiu o realizador americano. O novo documentário, que estreou no festival, vai ser distribuído pelo canal de cabo Showtime.