O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
Extrazen
Fotografia: Gonçalo Afonso

À Escuta. Extrazen, Bárbara Tinoco e iolanda são os destaques desta semana

Mais um fim de semana e, no Espalha-Factos, já se sabe o que a casa gasta: mais um número do À Escuta, a nossa rubrica semanal sobre as últimas novidades do mundo da música portuguesa. Nesta edição recheada, dá-se destaque ao EP debut de Extrazen e aos novos singles de Bárbara Tinoco iolanda.

Falamos ainda dos novos lançamentos de Almirante RamosAna Lua CaianoBIÉ, Gonçalo e ProntoHérculesIndignuJoão BorschSolar CoronaTagua TaguaVasco Completo, da junção entre Batida e Poté e da estreia oficial de Eloiza Montanha. Juntam-se a estes os novos trabalhos de Basilda Ditch Days, o disco de estreia de Wolf Manhattan e ainda uma versão inédita ao vivo de GONGORI.

I THINK I THINK TOO MUCH, o EP debut de Extrazen

Extrazen é o nome artístico de Francisco Andrade, artista natural de Santo Tirso, que é a mente por trás de I THINK I THINK TOO MUCH, o seu primeiro EP, onde assume total controlo: é ele o compositor, cantor, rapper e produtor. A sua caminhada no mundo da música começou em 2015, quando o então adolescente fazia do armário um estúdio e os beats e melodias eram introduzidos num iPad. Desde então, Extrazen colaborou com YANAGUI e LEFT. e lançou singles, sendo o primeiro Miss You, datado de 2019.

Fotografia: Divulgação

I THINK I THINK TOO MUCH conta com seis faixas generosas que transbordam hip-hop e rap, com canções tanto destinadas para a pista de dança como ‘OUTTA SIGHT’ ou 5MINUTES, que conta com a participação de Lucy Val, mas também mais introspetivas como OKAY OKAY – que conta com belíssimos segundos finais – ou REVOLVER, que nos permite conhecer melhor a mente deste artista que pensa demais.

Com produção, masterização e mixing por Kidonov, sob selo da editora One House Only e com videoclipes pela mão de Gonçalo Afonso, que é enumerado por Extrazen como uma das suas inspirações, I THINK I THINK TOO MUCH é mais um passo que o artista dá no sentido de tornar-se um household name do hip-hop em Portugal. A apresentação deste EP ao vivo dar-se-á no Plano B, no Porto, no dia 7 de outubro.

– Kenia Nunes

‘chamada não atendida’ é a nova cantiga de Bárbara Tinoco

Bárbara Tinoco está de regresso e traz consigo um novo single, chamada não atendida, que marca uma nova fase da sua carreira depois de ter lançado Bárbara,, o seu disco de estreia, em 2021. ‘chamada não atendida’ é uma faixa de pop terapêutica, onde por entre momentos influenciados pela chillwave e por R&B etéreo, (a produção de Charlie Beats é um highlight), a voz de Tinoco captura a nossa atenção com a escrita incisiva que nos tem habituado, perdida entre momentos de confissão, dor e emancipação apropriadamente dramáticas, embebidas em versos que se abrem num delicado refrão.

Contudo, e apesar de ser uma canção pop (mainstream) bem conseguida, não conseguimos deixar de sublinhar que notamos algum jogo seguro por parte da cantora nesta próxima fase de carreira, deixando para trás alguns dos elementos mais interessantes que adornavam os deep-cuts de Bárbara,, como ‘diz-me o que é que fizeste’ ou ‘noutra vida’, em troca de outros que esteticamente estão mais próximos de algumas trends atuais da pop portuguesa mais amigável ao ouvido. Não é algo propriamente, mas não deixamos de notar. Veremos que mais Bárbara Tinoco tem para oferecer de futuro nesta nova fase.

– Miguel Rocha

O ‘Lugar Certo’ de iolanda

iolanda estreou-se a solo com ‘Cura’ – e arrasou com tudo e com todos. Entretanto, também deu cartas no Coletivo Avalanche, surgindo em dois singles colaborativos, ‘Assim’ (com Choro, Inês Lucas e Matheus Paraizo) e ‘Contigo’ (com SOLUNA e Luar). Para nosso deleite, chegou-nos aos ouvidos, esta semana, o seu mais recente tema, Lugar Certo’, que conta com letra de iolanda e produção de LEFT..

O comunicado partilhado com a imprensa conta que ‘Lugar Certo’ fala sobre a distância que por vezes surge numa relação e a angústia de não saber voltar a esse lugar, que é perto de quem amamos”. Este lado mais sombrio da relação que iolanda tem vindo a narrar desde o single de estreia é notavelmente materializado num instrumental progressivo e intenso. Começa suavemente, com uns tímidos acordes de guitarra como pano de fundo, até romperem umas batidas envolventes e acentuadas embebidas em nuances eletrónicas, que culminam num contagiante e sensacional refrão (está a ser difícil tirar isto das nossas cabeças). Tudo isto adocicado pelas belas e harmoniosas vocalizações de iolanda, que quase parecem sussurros, de tão suaves que soam.

O resultado final é uma canção literalmente fenomenal, que coloca iolanda no cerne das artistas nacionais mais promissoras. Uma autêntica obra-prima que pede pista de dança noturna, de modo a fazer brotar as ondas sonoras, que soam mágicas e grandiosas na sua melancolia dançável. Depois disto, só podemos afirmar que o ‘Lugar Certo’ de iolanda é nos nossos corações.

– Ana Margarida Paiva

‘Portas do Céu’, a antevisão ao disco de Almirante Ramos

‘Portas do Céu é o primeiro e único avanço de Almirante Ramos ao seu novo disco cujo título, Fiel Ao Romance, é há muito conhecido. A canção ilustra muito bem este título: “Às Portas do Céu estavas tu e eu”, verso sinédoque do romance, é aquele que nos fica impresso. Bebe diretamente do pop-rock português e é o sintetizador que acaba por ganhar aqui protagonismo. 

Na entrevista ao Espalha-Factos em 2021, Almirante Ramos (ou Pedro Ramos) traçava-nos os primeiros passos daquilo que viria a ser Fiel Ao Romance: uma reinterpretação de um disco que existe, mas que nunca chegou a existir para o público, dando às canções uma nova roupagem e produção, com destaque para a voz de Ramos ao longo do disco. Na altura, disse-nos ainda que é um disco que acredito que será muito afirmativo, com uma identidade muito forte – conseguimos, com Portas do Céu, conhecer um pouco dessa identidade. 

Com produção, arranjos e mistura de Gagliardini Graça, as restantes responsabilidades ficam a cargo da voz do álbum – música, letra, voz, coros e a masterização ficam a cargo de Almirante Ramos, que em 2021, dizia ter como objetivo procurar de onde vem o pop-rock com português. Arriscamo-nos a dizer que com a edição de Fiel Ao Romance, será ele parte da resposta a essa procura.

– Kenia Nunes

‘Cheguei Tarde A Ontem’ é a última revelação do EP de estreia de Ana Lua Caiano

Nesta fase do campeonato, já todos concordamos que Ana Lua Caiano é uma das artistas mais fascinantes e intrigantes no atual cenário da música portuguesa. Cheguei Tarde A Ontem’, o último avanço antes do lançamento do seu EP de estreia, é mais uma prova disso mesmo – nós podemos comprovar.

Tal como nos dois singles antecessores (‘Nem Mal Me Queres’ e ‘Sai Da Frente, Vou Passar’), o que ouvimos em ‘Cheguei Tarde A Ontem’ são dois universos sónicos díspares de mãos dadas: a música tradicional portuguesa e a música eletrónica. De um lado, uma linha melódica de flauta e guitarra, emanando um tom mais melancólico. Do outro lado, sintetizadores e instrumentos percussivos, carregando às costas toda a força e ritmo presentes na canção. É delicioso ouvir como estas sonoridades se misturam tão bem, ao ponto de culminar num som orgânico tão deslumbrante, expressivo e viciante. Os instrumentais, por mais mágicos e irresistíveis que possam parecer, não conseguem ofuscar a performance vocal de Ana Lua Caiano que, entre murmúrios e vozes fortes, tornam estes quatro minutos sonoros totalmente memoráveis.

O EP de estreia de Ana Lua Caiano tem data de lançamento marcada para o dia 30 de setembro.

– Ana Margarida Paiva

Blood and Love é o novo EP de Basilda

Começaram a dar cartas no mundo da música sob o nome de MEERA. Entretanto, adotaram uma nova identidade: Basilda. Sucessor do álbum Keep on Dancing, Blood and Love é o novo EP do trio formado por Cecília Costa (aka Cece), João Abrantes (aka Jonny Abbey) e Leonardo Pinto (aka Goldmatique), que revela a faceta mais vulnerável da personagem Basilda”.

Fotografia: Divulgação

Com uma estética eletrónica a sobressair, piscando o olho ao funk, ao nu-disco e ao R&B, Blood and Love traduz-se num conjunto de nove faixas aliciantes e contagiantes, que convidam todos os ouvintes a tirar os pés do chão, seja de que maneira for – ora mais suavemente, ora mais freneticamente. Uma banda sonora ideal para tornar os nossos dias mais alegres, positivos e enérgicos. Com Blood and Love, Basilda voltam a provar ser um dos grupos mais vibrantes do panorama musical português. Estamos todos de acordo, certo?

– Ana Margarida Paiva

‘Ah!’ marca a colaboração entre Batida e Poté

Batida, projeto de Pedro Conqueirão, artista angolano criado nos subúrbios lisboetas, ganhou asas em 2011 e, desde então, tem-se mantido no ar com edições alucinantes e batidas fenomenais. Recentemente, tem-nos caído no ouvido ‘Bom Bom, colaboração que fez com Mayra Andrade e que anda a rodar nas rádios nacionais. 

Desta feita, Batida junta-se a Poté, músico e DJ natural de Saint Lucia e sediado em Londres para editar Ah!, single de três minutos que mostra que uma batida sentida e melodias contagiantes são tudo o que é preciso para pôr fogo a uma pista de dança, culminando numa faixa galopante. Tanto esta canção como a anterior farão parte de Neon Colonialismo, o próximo álbum de Batida, com data de lançamento a 21 de outubro e que se debruça sobre “a base sonora e rítmica comum compartilhada pelos dois produtores, que cresceram num lugar diferente do de nascimento”.

– Kenia Nunes

É a laranja de BIÉ

‘Essa Laranja’ é o novo single de BIÉ. Como dissemos em maio aquando do lançamento do single ‘Linguagem da Respiração’, BIÉ até se podia referir a uma das 18 províncias de Angola, mas neste caso referimo-nos ao nome musical de Rafael Fernandes e esta semana chega-nos este citrino musical recheado de sumo ainda por espremer.

Essa Laranja’ fortifica-se com cordas cintilantes e melodias que se repetem com a ajuda dos cantares atentos de BIÉ. As palavras cantadas também emanam muita vitamina C. Uma letra comovente, serena e com uma melodia que se encaixa bem ao encéfalo.  O artista transmontano lança então uma bela laranja sumarenta capaz de fazer roer de inveja as laranjas do Algarve.

– José Duarte

Ditch Days regressam às edições discográficas com Blossom

Seis anos depois de Liquid Springs, os Ditch Days regressam às edições discográficas “com o seu trabalho mais maduro até à data”. Depois dos singles de avanço (‘Seth Rogen’, ‘Private Eyes’, ‘Space Between Everything’, ‘Clementine’ com Laure Briard e ‘Familiar Faces’), o grupo composto por Guilherme Machado Correia, José Crespo e Luís Medeiros partilha os restantes temas, que culminam no segundo longa-duração, Blossom.

Fotografia: Divulgação

No total, são nove faixas que deambulam entre o groove mais intimista e o psicodelismo meloso, trazendo à baila universos sónicos de uns TOPS ou de um Toro y Moi. Ao embarcarmos nesta estonteante viagem sonora, pelo meio, deparamo-nos com tanta coisa: refrões francófonos orelhudos, vocalizações atmosféricas e melódicas e hooks proeminentes, resgatados da pop dos anos 80, mandando-nos delicadamente para trás no tempo. Blossom revela-se um disco extremamente eclético e nostálgico, que prova saber puxar pelos seus pontos mais fortes, desde a capacidade infalível de trabalhar com toda esta estética antiga, à produção, componente lírica e performanceBlossom está finalmente cá fora: para ouvir, repetir e chorar por mais.

– Ana Margarida Paiva

Eloiza Montanha estreia-se em nome próprio com ‘Lilás’

Eloiza Montanha, artista transdisciplinar com reconhecida trajetória nas artes visuais, lançou esta semana o primeiro single em nome próprio, Lilás. Segundo o comunicado enviado à imprensa, é uma canção “sobre cura e amor próprio, sobre honrar quem somos, ter tempo para olhar para nós, com amor e dedicação, como as únicas que estamos no início e no fim de todos os nossos ciclos”.

Fotografia: Divulgação

‘Lilás’ é, acima de tudo, uma criação conceptual, onde uma forte componente lírica e vocal colide com melodias espaçosas, minimalistas e atmosféricas. Os vocais doces e charmosos são belíssimos e a produção (assinada por Felipe Felino) é impecável, na medida em que todos os pequenos detalhes que habitam nas batidas de ‘Lilás’ fazem-se sobressair de uma forma brilhante, oferecendo um tom futurista e etéreo à canção. Ficámos maravilhados com esta estreia, portanto. Veremos que mais Eloiza Montanha tem para nos brindar de futuro.

– Ana Margarida Paiva

‘Caju’ é a surpresa deixada por Gonçalo e Pronto

Gonçalo e Pronto surpreende-nos. Nos últimos tempos, o artista natural de Évora tem-nos vindo a surpreender com cada novo single e Caju prossegue nessa linha de raciocínio.

Mesmo se não gostarem de caju, não se deixem intimidar pelo tema desta música. Lá no fundo, é uma faixa de pop romântica, uma analogia para tudo o que tem de doce e salgado o amor. “A música fala sobre relações intensas, que precisam de um elemento que as acalme, Mas, também, sobre a vontade de querer viver de uma forma literal, sem rodeios ou hesitações”, conta Gonçalo e Pronto em comunicado.

‘Caju’ é a faixa mais bem conseguida que Gonçalo e Pronto apresentou até ao momento. É doce no refrão bem orelhudo e dançável, agridoce nos versos mais intimistas, onde a influência do jazz ganha espaço na progressão da faixa. É quase kitsch na forma como aborda o tema do amor, mas a dedicação de Gonçalo ao tema coloca a sentimentalidade acima de tudo – é suave, mas aguerrida. Se este ‘Caju’ é uma tentação, então acho que nela iremos cair.

– Miguel Rocha

Uma apresentação ao vivo de ‘Primacy’ de GONGORI

Depois de se estrear nos longa-duração em maio deste ano, com o lançamento de VAZIO, GONGORI, nome musical do produtor e multi-instrumentista Gonçalo Alegre, entrega-nos uma versão live da penúltima música do seu disco, Primacy.

Com três círculos luminosos na retaguarda dos músicos, as percussões sonantes apoderam-se do cenário, colmatando-se com guitarras que mais parecem saídas de uma malha emo e depressa se progride para os sintetizadores etéreos que tanto se fizeram ouvir em VAZIO. A delicada voz de GONGORI funciona perfeitamente para embelezar e enaltecer o arranjo espacial, o que aliado às ténues luzes e às catarses instrumentais, culmina nesta experiência hipnotizante e transcendente – características estas que estavam em peso no álbum, que após este vídeo, deve voltar às audições assíduas de quem aqui chegou.

– José Duarte

‘Ok, Poser’ é a última antecipação do novo disco de Hércules

Escrevemos no À Escuta sobre o último single de Hércules o seguinte sobre a sua relação com o conceito de pop chiclete (no seguimento do lançamento de uma malha dos Salto): “Talvez, até possamos falar num estilo em si: pop chiclete. Orelhuda, divertida, saltitante nos seus ritmos, introspetiva e jovial nas suas letras, mastigável tanto a curto como a longo-prazo”.  Recuperamos a definição e a descrição porque Ok, Poser, o novo single da banda e o último avanço antes do lançamento do próximo longa-duração, Clube de Recreio, volta-se a enquadrar. Sobre esta cantiga, a banda indica: “Num tom entre o jocoso e o sarcástico, este novo single propõe uma questão de verdadeiro ou falso sobre música, indústria e os seus protagonistas”.

Alexandre Guerreiro (letras, voz, guitarra), David Simões (teclados), Dusmond (baixo), Humberto Dias (bateria) e Pedro Puccini (guitarra), com a ajuda de Luís Catorze nos teclados e de Diogo Rodrigues (aka HORSE) na produção, trazem-nos uma faixa orelhuda e dançável, com alguns dos seus momentos a fazer lembrar Capitão Fausto (perdoem-nos fãs da Cuca Monga), a alcançar o nível de pop chiclete em toda a sua elasticidade. Não sendo particularmente inferior em qualidade face aos outros dois singles do disco, ‘Ok, Poser’ só perde ligeiramente devido a agarrar-se um pouco demais aos “truques” que ficamos a conhecer dos Hércules em ‘Só Quero’ e ‘’Tás a Ir Bem’.

Clube de Recreio tem data de lançamento marcada para o próximo dia 7 de outubro e já tem data de apresentação, 15 de outubro no Musicbox, em Lisboa. Antes disso, os Hércules ainda tocam no MIL Lisboa no dia 30, segundo dia do festival.

– Miguel Rocha

‘sempre que a partida vier’ é o single de antecipação ao próximo álbum dos Indignu

Com o lançamento do próximo trabalho discográfico agendado para dia 4 de novembro – contando ainda com uma apresentação ao vivo no Amplifest no próximo mês – chega-nos o segundo single de antecipação de adeus, sucedendo ao malhão que foi urge decifrar no céu’. O disco marca a estreia da banda pela prestigiada dunk!records (em parceria com a norte-americana A Thousand Arms).

Neste segundo instalo do que ambiciona ser dos projetos mais interessantes e fulminantes que 2022 terá, o grupo volta a mergulhar nas grandes produções e temos mais um trabalho grande (dez minutos, contando com mais um do que o antecessor) que é ótimo para se ir digerindo enquanto nos submergimos neste pós-rock detalhado e mui-belo. À mente chegam-nos uns Sigur Rós, mas poderemos também tecer comparações a uns Spiritualized, ou aos momentos mais celestes de um Panopticon, pela forma como estas cordas transcendem géneros e enaltecem um estado de espírito imaculado, que tão bem contrasta com uma certa escuridão inerente à genética da banda.

É mais um trabalho orelhudo que só demonstra o potencial que este projeto tem para se encontrar nas listas de melhores do ano. O álbum conta com a mistura de Ruca Lacerda (Mão Morta, Pluto) e a masterização de Birgir Jón Birgisson (Björk, Sigur Rós, Spiritualized).

– José Duarte

‘Pólvora!’ é a amostra de pop estonteante de João Borsch

Em 2021, João Borsch brindou-nos com um dos discos de estreia mais interessantes do ano. Com Uma Noite Romântica com João Borsch, o artista abordou uma miríade de sonoridade, reinventando-se ao longo do disco, sem esquecer as suas influências – desde Ornatos Violeta até coisas mais experimentais como Death Grips ou Throbbing Gristle -, nem omitir o seu universo de se encontrar sempre envolvido num invólucro de pop ultra-eficiente.

Com Pólvora!, o seu mais recente single, Borsch volta-se a reinventar. Demasiado cedo para o clamarmos como um camaleão em potencial? Notas a considerar no futuro. ‘Pólvora!’ é uma daquelas faixas que aponta ao estrelato, à pop bombástica e orelhuda, mas sem perder nenhuma das nuances inventivas que marcaram o longa-duração de estreia do músico. O próprio o diz, em comunicado: “representa um salto há muito predestinado para o pop mais orelhudo e estrondoso, com toda a intensidade e ímpeto da música eletrónica para a pista de dança, ambos estilos que me fascinam pela sua visceralidade e escrúpulo na sua conceção”.

Por agora, repare-se: ‘Pólvora!’ é pop retro-futurista provocante a beber de influências como Jessie Ware (bem reparamos naqueles sintetizadores a la ‘What’s Your Pleasure?’), Kylie Minogue ou Dua Lipa (mais na estética que na sonoridade), a cumprir a missão de honrar o passado, mas a apontar para o futuro – e o futuro de Borsch será grandioso, disso não duvidamos. Até chegarmos lá a esse futuro (esperamos lá chegar), a missão é só uma: meter ‘Pólvora!’ a bombar nas colunas, em casa ou na discoteca, sentir as suas batidas pulsantes e dançar a noite inteira. É mesmo para darmos tudo até queimar. Sem dúvida, uma das grandes canções pop do ano – se não mesmo a mais gigante.

O segundo longa-duração de João Borsch vai ser lançado em 2023. Que venha.

– Miguel Rocha

 

‘Parker S.P.’ é a nova malha dos Solar Corona em antecipação de novo disco

Os Solar CoronaJosé Roberto Gomes, Nuno Loureiro, Peter Carvalho e Rodrigo Carvalho são uma das bandas portuguesas de rock a oferecer perspetivas mais interessantes a esse género dado como “morto”. Os seus mais recentes trabalhos, Lightning One (o mais “acessível”) e Saint-jean-de-luz (o mais experimental), foram o resultado de uma evolução contínua desde do longínquo Innerspace e parece que o próximo longa-duração, Pace, vai ser o apogeu de toda essa linha de continuidade – afinal, é isso que nos indica Parker S.P.,  a primeira malha a ser revelada do disco.

‘Parker S.P.’ é uma faixa que cresce muito das sonoridades de rock experimental e krautrock exploradas pelos Solar Corona em Saint-jean-de-luz. Ao longo de seis minutos, a groove da canção parece infinita, as guitarras vão surgindo pelo espaço deixado pelo baixo e pela bateria, cavalgando por entre pequenos drones e texturas que nos elevam enquanto dançamos (ou melhor, abanamos o corpo) ao som de ‘Parker S.P.’ – é como se os NEU!, de repente, fossem de Barcelos. 

Com esta ‘Parker S.P.’, os Solar Corona colocam-nos a gravitar em torno da sua galáxia de psicadelismos mais uma vez. A 11 de novembro conheceremos os restantes planetas que circulam neste Pace – com selo Lovers & Lollypops, é claro.

– Miguel Rocha

‘Tanto’ revela o groove de Tagua Tagua

Pintemos um cenário, imaginemo-nos em décors de anos 1970, nalgum lugar onde o fumo envolve e onde estará em palco Felipe Puperi, a cabeça por trás de Tagua Tagua. Nesse palco, revela-nos uma canção, Tanto, onde o groove e soul alucinam. O single bilíngue do paulista é apaixonante e eletrificante e acabamos por ficar estonteados com a guitarra hipnotizante e com o quase-sussurrar, envolto numa letra que retrata a paixão e que entra tal qual mel. 

Com a sua “vibe sonhadora, Tanto serve como antevisão do disco que seguirá Inteiro Metade e conta com a participação do baterista Leo Mattos e do multi-instrumentista JoJo.

– Kenia Nunes

‘vinte e dois dias por ano’, o novo single de Vasco Completo

Há algum tempo que Vasco Completo vem mostrando mestria na arte de, a partir da sua eletrónica, suscitar nostalgia, êxtase ou introspeção. Em vinte e dois dias por ano, o novo single que chega no rescaldo das férias de verão, estas três sensações misturam-se, aliando-se a elas uma espécie de tristeza – quiçá melancolia – transposta para a batida que começa constante, de leve, e que vai sendo construída com vários elementos, que vão rompendo sem nunca tirar o fôlego à canção: eis uma analogia com o ritmo das férias, aqueles 22 por ano que sabem a pouco e pelos quais passamos um ano inteiro a sonhar.

O fim da canção, como o vento que leva a areia e com ela estes dias que correm, voam, fecham esta ode ao ócio, a uma infância onde as férias pareciam tão mais longas e o sal do mar entranhava-se dia após dia às pestanas. Agora, cingimo-nos a estes 22 dias que muitas vezes nem conseguimos gozar na totalidade, num mundo onde a busca incessante por uma produtividade servil, onde qualquer tempo livre parece obrigar à produção de algo.

Não há muito que possa dizer para além daquilo que o próprio Vasco escreve na apresentação do single, que se pode encontrar no Bandcamp, depois de quase três anos no baú: vinte e dois dias por ano é muito pouco tempo para olharmos para dentro, para vivermos em pleno as pessoas à nossa volta. voltei à praia e senti que voltei a falar comigo.

– Kenia Nunes

Já podemos ouvir o disco de estreia homónimo de Wolf Manhattan

Wolf Manhattan, o novo projeto/persona de João Vieira (X-Wife e White Haus), estreia-se nos longas-duração com este disco homónimo. O álbum conta com 13 faixas que vão correndo dentro de 29 minutos e conta com muito material para cantarolar e abanar a cabeça.

Fotografia: Bandcamp

Com raízes fincadas no lo-fi e nos espectros mais crus da música indie, vão-se cantando uns refrões bem orelhudos e vão-se dedilhando umas guitarras catitas que culminam nesta miscelânea de ritmos e sentimentos. Num momento chega-nos a ternura triste e ambiguamente jovial de um Daniel Johnston, seguindo Five Years como exemplo, como no outro parecem surgir os psicodelismos pop de uns MGMT como na música‘Sometimes’. É uma montanha-russa com vista para o indie rock e indie pop, com muita cor, punk e música de garagem à mistura, navegando por mares nostálgicos e muita muita diversão. 

Em comunicado, podemos ler que “Wolf Manhattan não é só um alter-ego. É mesmo uma personagem, com direito a uma história imaginada, que estará sempre caracterizada e encenada. Vai dar-se a conhecer em disco, cuja capa é também um jogo e que, posteriormente, terá também a edição do livro de ilustração com selo da Stolen Books”. O disco conta ainda com datas de apresentação ao vivo já marcadas: vai ser apresentado ao vivo no dia 28 de outubro na Galeria Zé dos Bois em Lisboa e no Auditório CCOP, no Porto a 3 de Outubro.

– José Duarte

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