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Joao Botelho, cinema

Cinemateca exibe o cinema de João Botelho em setembro

O cineasta já realizou mais de três dezenas de projetos.

A Cinemateca Portuguesa vai apresentar quase todo o trabalho cinematográfico do realizador português João Botelho. A retrospetiva tem como mote “Os filmes são histórias, o cinema é a maneira de as filmar” e vai estar disponível a partir do dia 1 de setembro.

Até ao final do mês, a Cinemateca convoca quase todos os filmes de João Botelho, “entre longas e curtas-metragens”, de acordo com a programação de setembro. De fora ficam apenas três documentários feitos para televisão, nos anos 1970, apresentando aquela que é “uma visão de conjunto de uma das obras mais vastas do cinema português”. A iniciativa visa reconhecer o trabalho do realizador, “que se estende por quarenta anos e reúne, à data de hoje, mais de trinta trabalhos”.

O ciclo foi pensado para o cineasta que nasceu em Lamego em 1949. Como descreve a Cinemateca, João Botelho pertence à geração que chegou ao cinema logo a seguir ao 25 de Abril e, no seu caso pessoal, devido ao 25 de Abril.

O projeto começa com Tráfico (1988), “uma feroz e divertida sátira ao novo-riquismo que assolou Portugal e os portugueses depois da entrada do país para o clube dos ricos da União Europeia”, como caracteriza a entidade. Não seguindo a ordem cronológica do trabalho do realizador, o alinhamento do ciclo continua com Conversa Acabada (1981), a primeira longa-metragem do cineasta, criada a partir da correspondência trocada entre os poetas Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Segue-se Um Adeus Português (1985), o primeiro filme nacional a abordar a Guerra Colonial. Além destes, vai estar disponível ainda A Mulher que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América (2003).

Ao mesmo tempo, a retrospetiva vai mostrar a forma como o cinema de João Botelho se relaciona com a literatura. “Longe de serem ilustrações dos livros que transpõem para o cinema, estes filmes dialogam com a literatura e a História de Portugal, em cuja descendência Botelho insere o seu cinema”, lê-se na apresentação. São casos desta ligação Quem És Tu? (2001), baseado em Frei Luís de Sousa, O Fatalista (2005), que “adapta para o Portugal do século XXI o romance ‘Jacques Le Fataliste’ de Denis Diderot“, A Corte do Norte (2008), que parte de um romance de Augustina Bessa-Luís, Os Maias: Cenas da Vida Romântica (2014), sobre o romance de Eça de Queirós, e O Ano da Morte de Ricardo Reis’ (2020), inspirado no romance de José Saramago.

João Botelho “situa-se entre os cineastas do tempo e não do movimento”, com um percurso que “está longe de ter chegado ao fim”, acredita a Cinemateca. A acrescentar, o profissional tem, de momento, vários filmes em preparação. Em maio deste ano, adiantou à agência Lusa que planeia gravar um filme em 2023 e estreá-lo em 2024, de modo a coincidir com os 50 anos do 25 de Abril. O cineasta contou que essa produção diz respeito aos dois últimos anos de vida de António de Oliveira Salazar.

A entidade organizadora do ciclo deu “carta branca” ao realizador, que escolheu mais de uma dezena de filmes de eleição. Entre eles estão projetos de D. W. Griffith e Jean Renoir a John Ford, Ozu, Jean-Marie Straub e Jean-Luc Godard.