O novo filme dos Irmãos Russo chegou à Netflix no dia 14 de julho. The Gray Man é a nova longa-metragem de Anthony e Joe, que conta com um regressado Ryan Gosling no papel principal e com nomes como Ana de Armas e Chris Evans nos papéis secundários.
Com uma carreira à base de sitcoms e filmes da Marvel, os Irmãos Russo têm tentado desligar-se daquilo que os fez famosos. Depois do sucesso dos seus Vingadores, realizaram Cherry, um dos piores filmes de 2021, e depois disso conseguiram com que a Netflix abrisse os cordões à bolsa, obtendo cerca de 200 milhões de dólares para a realização deste thriller de espionagem, a fazer lembrar 007 e Jason Bourne, mas sem a substância que deixou estes dois famosos.
The Gray Man começa com um diálogo típico daquilo que é mais criticado em filmes da Marvel e apresenta um Ryan Gosling enclausurado, mas sempre bem disposto. O protagonista está prestes a sair da cadeia para se tornar num espião para o programa Sierra, um grupo de mercenários que a CIA usa quando pretende fugir um pouquinho aos direitos humanos.
Os primeiros 15 minutos acabam por ser agradáveis. Alguns até podem dizer que é o melhor esforço dos Irmãos em algum tempo. Tudo descamba depois disso. A preocupação em apresentar um enredo e ação anormais para o género acaba por atraiçoar a longa-metragem, tornando-a mais genérica do que a maioria do género.
A fórmula está toda lá. A personagem principal, Seis, descobre segredos incriminadores do patrão, enquanto tem uma das piores cenas de luta já vistas no cinema. Depois, acaba com um alvo nas costas. Como se isso não bastasse, claro que tinha que existir uma criança em perigo. Aparece uma mulher demolidora (Ana de Armas) pelo meio e o vilão, protagonizado horrivelmente por Chris Evans, é um sociopata. The Gray Man podia ser um filme de Liam Neeson, um daqueles que vai direto para DVD sem passar pelas salas de cinema, mas não é.
Tudo isto é filmado com uma luz capaz de deixar qualquer um com problemas de visão, tal é a escuridão misturada com os tons mais bizarros possíveis. A ação em si é indecifrável em alguns pontos, com cenas verdadeiramente vergonhosas para algo que custou tanto dinheiro. Em particular, o salto de paraquedas de Seis para o meio de um deserto qualquer é tão mal feita, com efeitos visuais dignos de algo que custou dez euros a fazer, que qualquer mete as mãos à cabeça.
No meio disto tudo, é óbvio que a Netflix quer tornar The Gray Man no seu próprio franchise. A empresa anda há meses a dizer que quer ter uma saga característica do serviço de streaming, mas alguns ingredientes estão claramente em falta. Onde está a diversão de algo como Velocidade Furiosa ou o charme de James Bond? Tirando um Chris Evans maluco da cabeça, que consegue ser engraçado aqui e ali, não há mesmo ponta por onde se lhe pegue nesta produção.
Na verdade, para um filme que pretende ser algo diferente, existe um medo enorme em ultrapassar riscos. Tudo parece completamente genérico, sem qualquer tipo de decisão criativa que o possa tornar memorável. Parece mais uma estratégia da Netflix para agitar o algoritmo do seu streaming do que outra coisa. Se há facto sobre este filme é que ele vai ser visto em milhões de casas nos próximos dias. No entanto, o que vale isso se não deixa qualquer tipo de marca em quem lhe mete os olhos em cima?
Este é o estado atual da Netflix. Para quem não quer dar dinheiro a autores, é uma pena que rios de notas estejam a ser atirados para coisas que vão ser esquecidas num par de meses. Apesar de ver Ryan Gosling num ecrã tanto tempo depois seja algo que deixe qualquer um bem disposto, é frustrante que seja em algo tão mau. Esperemos todos que tenha enriquecido financeiramente com este projeto. Quanto aos Irmãos Russo, se calhar fazer cinema não é mesmo para eles.