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Golden Slumbers
Fotografia: Bandcamp do artista

À Escuta. Golden Slumbers, MARO e Fumo Ninja são os destaques desta semana

Mais uma semana passada, mais uma edição do À Escuta, rubrica semanal do Espalha-Factos sobre música portuguesa, está cá fora. Nesta semana, o destaque é dados ao novo disco de Golden Slumbers, o novo single de MARO e o longa-duração de estreia dos Fumo Ninja.

Além disso, falamos de mais um avanço do projeto de homenagem a Sérgio Godinho, das estreias de Carl KarlssonCatarinha CastanhasConjunto Júlio, novos singles de George SilverGOHU, Throes + The Shine, Time For T, Um Corpo Estranho, usof, e novos lançamentos de Saint John MaryToo Many Suns, Two-Time Winners e Valter Lobo.

Golden Slumbers regressam em beleza com um novo disco na altura certa

Seis anos depois do muito acarinhado The New Messiah, as Golden Slumbers estão de regresso com o seu segundo longa-duração, I Love You, Crystal que conta com contribuições na produção, arranjos e mistura de Miguel Nicolau (Memória de Peixe, Bloom).

Golden Slumbers
Fotografia: Divulgação

Descrito em comunicado à imprensa como surgindo de “fruto de quatro anos de redescoberta de identidade sonora”, o novo álbum do duo formado pelas irmãs Cat e Margarida Falcão (Monday e Vaarwell, respetivamente) aproveita tudo o que faziam de bem no seu LP de estreia – a escrita, as melodias, a estética – e amplifica-o com novas camadas de instrumentação e novas dinâmicas de composição incorporadas ao longo do trabalho. Resultado disso? I Love You, Crystal é um disco de uma beleza descomunal e valeu bem os anos todos de espera entre trabalhos. Combina o indie folk que marca a sonoridade das irmãs Falcão com uma nova sensibilidade pop, que as puxa para a comparação mui-favorável àquilo que as First Aid Kit apresentaram em Ruins, excelente disco do duo sueco de 2018.

Podia ficar-se por simplesmente rematar essa simples conclusão, rápida de atingir quando somos confrontando com a qualidade de faixas como ‘Pure’, ‘Woman’ ou Daughter’ – só para dar alguns exemplos – mas quando pensamos no contexto em que encontramos este I Love You, Crystal, é complicado desassociá-lo da discussão em torno da falta de representatividade e diversidade nos cartazes dos grandes festivais portugueses, com foco particular no dia “inteiramente dedicado à música portuguesa” anunciado pelo Vodafone Paredes de Coura na passada quarta-feira (23). Ao olhar para as virtudes de um disco como I Love You, Crystal e, já agora, também para os outros trabalhos das irmãs Falcão, fica a pergunta no ar: como é que estas artistas, nomes já reconhecidos  acarinhados dentro do circuito alternativo português, não têm espaço num dia dedicado à música portuguesa?

Escreveu Teresa Colaço, num ponto de vista publicado no Rimas e Batidas, que “está mais do que na hora que nós, o público, apontemos o dedo e avisemos estes promotores que não vamos tolerar mais isto.” Adicione-se: também está na hora de “nós” – quem escreve sobre música e a divulga – refletir também sobre o palco que é conferido a artistas que não se regem pelo pensamento e a ideia de artistas sobre as conceções heteronormativas e, maioritariamente, masculinas, que parecem estar profundamente entranhadas em muitos espaços da música portuguesa. Se há altura para pedir mais e melhor, é esta. E se quando somos confrontados com um disco que aborda precisamente essa temática – o espaço que a mulher ocupa no mundo – não conseguimos sequer refletir sobre privilégios e disparidades que abundam no mundo da música portuguesa e sobre as represálias que, muitas vezes, ocorrem quando se fala destes assuntos de forma tão vincada e necessária, então se calhar está mesmo na altura de repensarmos os sistemas sociais nos quais estamos inseridos. Ouça-se de ouvidos bem abertos e, acima de tudo, pense-se com as cartas corretas em cima da mesa – temos mesmo de tentar ser melhores quando encarados com estes problemas.

Miguel Rocha

MARO edita novo single, ‘am i not enough for now?’

‘am i not enough for now?’ é o mais recente single de MARO, cujo nome não passa despercebido desde que venceu o Festival da Canção 2022.

Que caixinha de (boas) surpresas é esta MARO. Estão a ver aquela voz que podia ecoar vezes e vezes sem conta na nossa cabeça e mesmo assim não nos cansamos dela? Ora bem, aqui temos um exímio exemplo, não fosse esse justamente o ingrediente principal desta canção – a voz calorosa e sentida de MARO que, com um toque subtil de insegurança e ansiedade, serve de fio condutor para as mil e uma emoções à flor da pele.

Em ‘am i not enough for now?’, MARO partilha uma experiência sonora intimista, envolvente e viciante que, na sua essência, é uma canção pop, traduzindo-se nuns versos contemplativos que acabam por contribuir para um refrão orelhudo e desconcertante, que dificilmente se esquece. É uma faixa que soa verdadeiramente etérea e belíssima, inovando a sonoridade e consistência que MARO tem vindo a habituar-nos nesta nova e promissora fase da sua carreira. Esperamos ansiosamente para ouvir que trunfos tem mais esta mente apaixonante na manga.

– Ana Margarida Paiva

Fumo Ninja levam-nos a viajar com Olhos de Cetim

Olhos de Cetim é o nome do primeiro longa-duração de Fumo Ninja, “um grupo de quatro agentes secretos” formado por Leonor Arnaut (voz), Norberto Lobo (baixo), Raquel Pimpão (teclas) e Ricardo Martins (bateria).

Fumo Ninja - Olhos de Cetim
Fotografia: Divulgação

“Descobrem um universo com jardins suspensos, golfinhos em chamas, boomerangs galácticos e segredos marítimos. Transcrevem as melodias das ninfas digitais, dos humanos calvos e angelicais e das plantas que nos regam, em aspersão cósmica”, lê-se em comunicado. Ouvir Olhos de Cetim é o mesmo que embarcar numa viagem alucinante de meia-hora por um mundo utópico. Estamos a falar de um conjunto de faixas carregadas de grooves que exploram a sonoridade pop por “meios não ortodoxos”, passeando entre o jazz fusion e o R&B, numa espécie de desconstrução pop que lembra Bruno Pernadas. Todas elas orelhudas, fascinantes e eletrizantes que também não deixam passar despercebida a belíssima voz de Leonor, que sabe tocar-nos bem lá dentro.

Sem rodeios e exageros, é talvez um dos discos mais bem conseguidos deste ano. Os Fumo Ninja são um grito de liberdade em formato musical e devem ser bem estimados, a todo o custo. Há encontro marcado em Viseu (Carmo 81) no dia 1 de abril, em Guimarães (Westway Lab) no dia 8 de abril, no Porto (Maus Hábitos) no dia 15 de abril, e em Lisboa (Lux) no dia 26 de maio.

– Ana Margarida Paiva

Amaura, Papillon, Valas e Charlie Beats juntam-se para continuar as homenagens a Sérgio Godinho

Depois da simbiose entre NERVE, Keso e Russa em ‘Que Força é Essa’, segue-se ‘O Primeiro Dia’ – frase colada ao nome do grande Sérgio Godinho – que junta o rapper de Mem Martins Papillon ao alentejano Valas e Amaura que serve de mais um avanço para SG Gigante, projeto elaborado por Capicua, que busca as vozes revolucionárias dos dias de hoje no intuito de homenagear a ilustre carreira de uma das vozes mais incontornáveis da música portuguesa.

Ora se falamos de Sérgio Godinho e de hip-hop, não sei porquê, não me perguntem esta matemática, mas simplesmente faz sentido falarmos de Papillon. Para quem duvida ou não percebe, experimentem ouvir músicas como ‘I’m The Money’, do seu álbum de estreia – que sejamos sinceros, já podemos considerá-lo um clássico – é evidente que a capacidade de escrita do Papi Potter, é tal como Sérgio Godinho, uma excelente fusão homogénea entre intervenção e sonoridade. Depois temos Valas, que já nos habituou à sua tranquilidade para largar bons versos que ficam bem no ouvido. Amaura ata tudo isto num poderoso verso que remata o sample de uma das músicas mais conceituadas do cantor português sobre um beat tradicional de Charlie Beats.

Como se costuma dizer em bom português: para a semana há mais e, até ao dia 23 de abril, prosseguimos com este projeto todas as semanas.

– José Duarte

‘Life Is Music’ é a estreia arrojada de Carl Karlsson a solo

Mais um membro dos Zanibar Aliens com fome de crescer e abraçar uma carreira a solo. Life Is Music é o single de estreia do músico luso-sueco Carl Karlsson.

Carl Karlsson começa por dar-nos as boas-vindas introduzindo uma estética acolhedora através de uns lo-fi beats bem convidativos. Entre a voz sedutora de Karlsson e um jogo instrumental consistente e intrigante, nasce uma faixa introspetiva formidavelmente arrojada e que atinge o coração de todos. É uma daquelas canções groovy que transporta-nos facilmente para um final de tarde sereno numa praia completamente vazia, onde somos invadidos por uma explosão de pensamentos. ‘Life Is Music’ é um ótimo e grandioso cartão de visita e com certeza que este luso-sueco não vai ficar por aqui.

– Ana Margarida Paiva

‘Tempo’ é o single de estreia de Catarina Castanhas

No ano passado, Catarina Castanhas sagrou-se a grande vencedora do concurso musical da TVI, All Together Now. Sob o abrigo da Warner Music Portugal, lança agora o seu single de estreia, Tempo, que conta com a sua própria autoria, ao lado de Edu Monteiro, Brendah e Walter 4reignr.

Começamos por ouvir uns versos introspetivos e delicados ao som de uns belíssimos acordes de piano até sermos guiados a um refrão estrondoso, acompanhado por um jogo instrumental cativante embebido numa sonoridade pop, sem nunca ofuscar a voz potente, arrepiante e mágica de Catarina Castanhas. É uma lufada de ar fresco ver mais um novo e promissor talento feminino a emergir. ‘Tempo’ tem todos os ingredientes e mais alguns para elevar esta jovem cantora a uma estrela pop e deixar-nos a nós com o apetite bem aberto para saber o que o futuro lhe reserva.

– Ana Margarida Paiva

Rejubilemos: Conjunto Júlio finalmente estreiam-se nos lançamentos

São uma das bandas emergentes mais badaladas de Lisboa do momento e aguardava-se com ânsia o momento em que os Conjunto Júlio iriam colocar cá fora alguma coisa. Os concertos que deram em 2021 foram suficiente para amalgamar algum following e, talvez até se possa dizer, tornaram-se em uma espécie de objeto de culto nos últimos meses para os frequentadores do circuito alternativo lisboeta.

Conjunto Júlio
Fotografia: Divulgação

Contudo, podemos deixar de ficar sentados à espera e podemos efetuar um pequeno rejubilo: o quarteto formado por Tomás Simões (baixo), Francisco Sanona (guitarra), João Maria Gorjão (guitarra, voz e piano) e Vasco Brito (bateria) disponibilizou esta sexta-feira (25) o seu single de estreia, ‘Achado’.

Em ‘Achado’, encontramos uma banda com uma sonoridade que bebe do indie lisboeta, mas aproxima-a mais do rock clássico – o grupo cita The Rolling Stones como influência no comunicado enviado à imprensa -, aprimorando-a com uma estética caseira, a fazer lembrar um Connan Mockasin nessas explorações pelo mundo da pop psicadélica. Na realidade, é exatamente isso que os Conjunto Júlio são – uma banda capaz de mascarar canções pop orelhudas e cativantes através do embarque rumo a aventuras sonoras que, talvez, não se esperasse de uma canção pop.

Por isso, valeu a pena a espera para este primeiro rejubilo e encontro à séria – fora da sala de concertos – que tivemos com os Conjunto Júlio, que indicam que este ‘Achado’ “é apenas o primeiro passo de um projeto que está a ser desenvolvido a passos largos.”

– Miguel Rocha

George Silver é ‘Insultório’

Depois de no ano passado nos ter entregue o seu efervescente projeto em colaboração com OPUS PISTORUM, George Silver está de volta aos lançamentos a solo com ‘Insultório’, com um som espacial e desconstruído, bastante meta e simples, que nos faz perder no meio destas blocos percussivos arrebitados e estes vocais moldados ao engenho do produtor. ‘Insultório’ é marcada pela presença de um sentimento rudimentar, mas mesmo assim não deixa de soar super cativante nem de ter uma ambiência alegre e catita. Mais um bom showdown do que este Jorge Prateado sabe fazer.

– José Duarte

ETs, (não) levem o GOHU daqui

Será um avião? Será um alien? Será um pássaro? Ou será a nova música de GOHU? Aponto mais para a terceira, em mais um avanço do novo disco do artista, que será lançado no próximo mês de maio.

“A terra não é plana, mas está chata”. É assim a entrada a pés juntos de GOHU nestaETs, Levem-me Daqui’. Uma sonoridade toda ela bastante retro, num instrumental suave que entra muito bem nos tímpanos, verdade seja dita que a ternurenta e tranquila voz do artista ajudam a torná-la ainda mais agradável de se ouvir. Tem um refrão orelhudo, daqueles que fica a fazer ricochete na cabeça desde que a ouvimos até nos irmos deitar, e mesmo aí ficamos a implorar para estes ETs nos levarem. Se eles nos vêm buscar? Não sei, mas se vierem, só temos uma exigência – deixaram-nos passar esta malha no sistema de som da nave espacial.

– José Duarte

Saint John Mary faz-nos transcender com EXPERIENCER!

EXPERIENCER! é o mais recente EP do multifacetado Saint John Mary, onde mais uma vez volta a criar umas melodias belíssimas e suaves, sons inusitados mas surpreendentemente cativantes e tudo aliado a uns incríveis e hipnotizantes arranjos.

Estamos perante um conjunto de seis faixas incrivelmente bem conseguidas. Seja pelo ritmo provocador ou pela irresistível variedade de sons ou pelas arrebatadoras vocalizações que vão surgindo ali pelo meio, conseguimos facilmente transcender e flutuar por um mundo governado pela tranquilidade e harmonia. O resultado final de EXPERIENCER! é uma experiência sonora fortíssima carregada de harmonias místicas. Saint John Mary possui um talento nato e esta é só mais uma viagem que vale mais do que a pena experienciar.

– Ana Margarida Paiva

‘Hey!’: dizem os Throes + The Shine em conjunto com Preto Show

Na meteorologia, dizem que as temperaturas andam baixas por estes dias. Tal deve acontecer porque ainda não não se tese a oportunidade de ouvir ‘Hey!’, o novo malhão Throes + The Shine em colaboração com o artista angolano Preto Show.

É um banger. Afrofuturismo no seu melhor, uma explosão de kuduro e afrobeat que hipnotiza os corpos de toda a gente que a oiça. Torna-se complicado ouvir esta música sentado, é quase automático darmos um salta da cadeira e tentarmos dar o nosso melhor trabalho de ancas que conseguirmos. Até pode nem ser um abanar perfeito, mas ao menos tentamos enquanto exclamamos HEY repetidamente.

Volátil e orelhuda, esta chega no ano em que a banda celebra 10 anos e anunciam edição de um novo disco para os finais de abril.

José Duarte

‘Boxing Gloves’ marca o regresso dos Time For T

É com o single ‘Boxing Gloves’ que os Time For T regressam às edições discográficas, marcando o início de um novo capítulo para o grupo formado por Tiago Saga, Joshua Taylor, Felipe Bastos e Juan Toran que culminará com o lançamento de Hurry Up And Wait, o próximo longa-duração da banda.

Nesta ‘Boxing Gloves’, encontramos uma faixa de pop bela, construída através de arranjos que, como muito dos trabalhos anteriores dos Time For T, combinam os diferentes universos culturais dos seus membros num só momento musical de elevada qualidade que, em momentos, lembra alguns dos melhores momentos da discografia dos Kaleo.

Sobre este seu novo lançamento, a banda indica em comunicado sobre de que se trata. “A narrativa [de ‘Boxing Gloves’] é focada nos diversos ‘campos de batalha’ existentes no mundo moderno e criados na esfera digital. É sobre como todos estamos a tentar encaixar no molde do que é considerado ‘normal’ pelas redes sociais e como essa jornada pode ser tão devastadora e irrealista”.

– Miguel Rocha

Os Too Many Suns estão tudo menos calados em Quiet

Too Many Suns - Quiet
Fotografia: Divulgação

Os Too Many Suns estão de regresso. Depois de em 2020 terem-se estreado com Meaning of Light, o trio lisboeta formado por Hugo Hugon (guitarra e voz), João Cardoso (bateria) e Vasco Rato (baixo) apresenta uma nova fase para o grupo cortesia do seu novo curta-duração, Quiet.

Com produção, mistura e masterização de André Isidro, Quiet é um EP que reaproveita muitas das qualidades melosas apresentadas em Meaning of Light, trabalhando-as para a criação de um universo mais requintado e aprimorado. E isto sem esquecer, claro, que a banda tem ouvido bem afinado para as melodias, apresentando uma sensibilidade pop que se faz ouvir ao longo de todas as faixas do EP, estejam elas carregadas com mais ou menos fuzz. O resultado final é uma sonoridade introspetiva, perdida algures entre o indie rock, o dream pop e o shoegaze, que dá-nos sempre alguma recompensa por ficarmos a ouvir o “barulho” criado pelos Too Many Suns.

– Miguel Rocha

O prémio vai para os Two-Time Winners e o seu EP de estreia

And The Award Goes To… é o EP de estreia dos Two-Time Winners, banda composta por Samuel Silva e João Sêco. Este duo surge de um berço sonoro de uns Expensive Soul ou Marta Ren, sucumbindo-se muito pelos traços sisudos de funk e soul, apimentados pela inclusão de influências de R&B e hip-hop. Depois de empurrões criados pela pandemia, a dupla já trabalha na edição do álbum de estreia homónimo, mas até lá temos estas quatro faixas para nos entretermos enquanto não temos novo material por parte destes duplamente vencedores.

O EP conta ainda com um elenco de excelência, contando com nomes como Pedro Ferreira, Guilherme Salgueiro, Marito Marques, Gileno Santana, João Sousa, Bruno Macedo e Fábio Rodrigues. Ainda temos umas vozes que vão para lá das fronteiras, com três features internacionais de Owen O’Sound Lee, Gracie Ella e Tracey Kayy. Por trás dos microfones, a cabo das misturas ficaram New Max e Mário Barreiros.

– José Duarte

É o ‘Puto e o Velho’ de Um Corpo Estranho

‘O Puto e o Velho’ é a nova faixa da dupla sadina Um Corpo Estranho e que serve de banda sonora para o novo documentário do realizador vencedor de um Sophia, António Aleixo.

O documentário surge da descoberta por parte do realizador de extensas horas de filme, gravadas pelos avós numa Super 8, motivando assim uma viagem ao passado com o intuito de saber mais sobre os seus antepassados. Serve que nem uma luva para os propósitos desta nova malha, pois esta também se sente como uma viagem temporal desde puto até velho. Eletrizante e efervescente, in your face e bruta, fazendo lembrar uns Linda Martini, esta malha cola-se com facilidade aos ouvidos, com uns vocais tenebrosos fáceis de aprender e acompanhar, não é muito difícil apaixonar-nos por este lançamento.

A música foi produzida por Sérgio Mendes em conjunto com a banda e conta com o carimbo da Malafamado Records.

– José Duarte

‘definite’ prepara terreno para o novo lançamento de usof

Estreou esta semana, na Threshold Magazine, o mais recente single de usof, ‘definite’, um sneak peek daquilo que podemos esperar de Selections 2, longa-duração a ser editado no próximo dia 31 de março pela Rotten Fresh.

Em ‘definite’, encontramos uma faixa que desenrola-se entre construções de noise, drone e música ambiente, conjugados numa espécie de transe sereno e q.b. caótico que nos leva numa viagem por entre camadas de som que vão pintando uma imagem de beleza onírica. Para nós, que ficamos presos nestes movimentos mascarados de texturas sonoras, ficamos agora à espera que venha a restante experiência auditiva do novo capítulo de seleções de usof.

– Miguel Rocha

Valter Lobo toma o nosso coração de assalto no seu novo disco

Poucas palavras ainda podem ser utilizadas para descrever os sentimentos que surgem de uma audição de Mediterrâneo, aquele que, até ontem (25), era o mais recente longa-duração de Valter Lobo. Felizmente para nós, o novo disco do cantautor de Fafe, Primeira Parte De Um Assalto, transporta-nos para muito do mesmo território de folk do seu predecessor, mas apresentando novas qualidade que justificam a nossa visita à introspeção do artista.

Valter Lobo - Primeira Parte De Um Assalto
Fotografia: Spotify do artista

Produzido por Pedro Sousa Moreira e apresentando contribuições vastas de Jorge Moura ao longo do disco e de Benjamim num dos temas, Primeira Parte De Um Assalto apresenta-se romântico e agridoce, onde a escrita de Valter Lobo torna-se, tal como  em Mediterrâneo, o foco das cantigas – a letra de ‘Fado Novo’ ou ‘Fizeste-me Sonhar’ são destaques, para nomear exemplos -, entregues pela delicadeza e ternura da voz do artista. É folk servido com o toque da portugalidade romântica de Valter Lobo. Se isso não fosse o suficiente, o cantautor consegue juntar às faixas uma sensibilidade pop que, quando surge, confere-lhes um toque a lembrar mais uns Fleet Foxes, revelado em momentos como ‘Uma Melodia’ ou ‘Menina-Mulher’.

No final de fazer as contas, Primeira Parte De Um Assalto é um trabalho que merece amor e carinho, revelador da humanidade gigante de um artista que, seis anos depois, continua a impressionar pela sua qualidade em transpor as observações do mundo para palavras que, na imagem que criam, tomam-nos a nós por assalto. E é isso a magia da obra de Valter Lobo.

– Miguel Rocha