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Imagem: O Padrinho

Óscares. Os melhores Melhor Filme da história

É o prémio que todos querem ganhar e aquele que nos deixa em expectativa até ao fim.

A categoria de Melhor Filme é o o momento alto da cerimónia dos Óscares e o maior selo de qualidade que um filme pode receber. É também, às vezes até mais do que um reconhecimento artístico, um retrato do panorama da indústria cinematográfica no momento.

Ouve o podcast de antevisão dos Óscares:

Ser Melhor Filme não significa que um filme se torne num clássico do Cinema e há mesmo alguns que ficam na sombra de outro nomeado que aguentou melhor o teste do tempo. No entanto, neste artigo celebramos exatamente o contrário.

Espalha-Factos recorda alguns dos melhores Melhor Filme que ainda hoje deliciam os amantes da Sétima Arte.

Lawrence of Arabia

O expoente máximo dos épicos que saíram dos anos 60, Lawrence of Arabia é um filme inevitável nas listas dos melhores de sempre.

A jornada épica capturada visualmente com mestria por F.A. Young e realizada por David Lean servem ainda hoje de referência para a indústria do Cinema e… Martin Scorsese, que diz que revê sempre o épico antes de embarcar na sua próxima produção.

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Peter O’Toole assume um dos papéis mais icónicos da Sétima Arte e lidera um elenco de luxo que também conta com Alec Guinness e Omar Sharif.

A palavra “épico” está um pouco vulgarizada hoje em dia, mas Lawrence of Arabia é um dos filmes que coloca peso e respeito no termo.

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Imagem: Lawrence of Arabia

The Godfather 1 + 2

Talvez seja batota, mas seria uma injustiça para ambos os filmes não os incluir.

Os dois primeiros capítulos de O Padrinho garantiram a imortalidade de Francis Ford Coppola e o realizador ainda nem tinha feito Apocalipse Now.

A história da decadente família Corleone e do filho pródigo que se torna patriarca impiedoso são uma marca do Cinema e da cultura pop. Os dois filmes são perfeitos em quase todas as componentes que os constituem. No entanto, o elenco fenomenal que inclui Marlon Brando, Al Pacino, Robert De Niro, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton merece um elogio especial.

Dois Óscares de Melhor Filme e Óscares para dois atores diferentes por interpretar a mesma personagem. No total, estes dois filmes arrecadaram nove estatuetas entre si e muitas mais nomeações.

Return of the King

A relação entre a academia e o cinema genre que domina a bilheteira tem algo que se lhe diga. Num ano típico, mesmo os melhores blockbusters de géneros “populares” de ação, fantasia ou ficção científica vêem-se limitados aos prémios técnicos, nomeadamente efeitos visuais e design de som.

De vez em quando, surge um filme profundamente excecional, que quebra a barreira de de vidro e é reconhecido como uma produção tão legítima como a maré de dramas e biopics normalmente favorecidos pelo júri.

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Neste caso, não foi apenas um, mas sim três filmes. Embora tenha sido O Regresso do Rei a tomar os Óscares de 2004 de assalto com onze vitórias (um recorde que partilha com Titanic e Ben Hur), toda a trilogia Senhor dos Anéis foi reconhecida pela academia entre 2002 e 2004.

Ainda hoje uma das produções cinematográficas mais avassaladoras de sempre, é acima de tudo um triunfo de produção em condições impossíveis que se revelou pioneira e icónica em todos os aspetos técnicos e criativos.

Mais do que nos contar uma história épica, esta trilogia usou novas e velhas ferramentas, técnicas e conhecimento para nos levar para um novo mundo, e o terceiro filme é o culminar da aventura.

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Imagem: Senhor dos Anéis

The Apartment

Numa altura em que saúde mental nem existia na cabeça das pessoas, eis que chega o visionário Billy Wilder, um realizador que até já mencionado em discursos de vencedores só por existir, com The Apartment, no longínquo ano de 1960.

Protagonizado por Jack Lemmon, The Apartment é uma comédia romântica à superficie, mas, no seu interior, é muito mais do que isso. É uma tragédia sobre adultério, relações e infidilidade, tudo captado no ponto de vista de C.C. Baxter, um eterno romântico que não tem muita sorte no amor.

Para além disso, C.C. Baxter é o retrato de um homem com tudo o que é sentimento reprimido, uma autêntica bomba relógio, andando de cena em cena como se a sua vida dependesse disso, cuspindo as suas falas de maneira sarcástica, leve e bastante humoristica, os traços principais do cinema de Billy Wilder. 

No final, The Apartment é um daqueles filmes que não parece que tenha sido feito há 70 anos atrás. Os seus temas, para a altura, eram controversos, mas a maneira como misturou tudo da forma mais simples e mundana possível acabou por conquistar o público, acabando por tornar-se numa das escolhas mais inspiradas da história no que a vencedores de Melhor Filme diz respeito. 

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Million Dollar Baby

Clint Eastwood sempre foi reconhecido pela variedade e, em tempos, pelos riscos que tomava nos seus filmes. Depois de ter vencido em 1992 com Unforgiven, o filme que, diz-se por aí, acabou por acabar com as histórias de Western, matando o género, chegou com toda a força possível à cerimónia de 2004 com Million Dollar Baby.

Para quem só ler a sinopse, Million Dollar Baby parece o tipíco filme que venceria o Melhor Filme em qualquer ano que fosse lançado. Um treinador de boxe que se junta uma novata que pretende tornar-se a melhor nesse desporto? Já vimos essa história um milhão de vezes. Mas isso é um dos maiores trunfos do filme. A sinopse é simples, a história que acontece realmente… nem por isso.

Maggie Fitzgerald é interpretada por uma gloriosa Hillary Swank, uma mulher que quer tornar-se uma boxista profissional e, isso, até dado ponto, parece estar a correr bem. No entanto, a meio desta longa-metragem há uma daquelas mudanças de género capaz de arrepiar qualquer um, transformando-se numa história inspiracional para uma autêntica viagem de dor e agonia, fazendo com que todas as nossas decisões sejam repensadas.

É digno de ser visto e revisto, e é importante ter em conta que, na cerimónia de 2004, acabou por ganhar quatro Óscares, levando de vencido The Aviator de Martin Scorsese no grande prémio da noite. 

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Imagem: Million Dollar Baby

The Sound of Music

Hoje em dia, uma nomeação de um filme musical para o Óscar de Melhor Filme – como a nova versão de West Side Story, este ano, de Steven Spielberg – é uma exceção à regra. No entanto, nos anos 60, um realizador ganhou os seus quatro Óscares graças a dois filmes deste género: Robert Wise, o realizador do original West Side Story e de The Sound of Music.

Este último foi o vencedor de cinco prémios da Academia em 1966, ajudou a catapultar os seus protagonistas para a fama, eternizou a história da família Von Trapp e a cidade de Salzburgo, foi um sucesso comercial desde o lançamento e tornou-se um clássico intemporal, considerado o quarto melhor musical do cinema americano pelo American Film Institute (AFI).

Muitos elementos contribuem para o seu sucesso: as músicas compostas por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II para o musical no qual o filme se baseia e que se tornaram clássicos, com melodias e letras que ficam no ouvido e são interpretadas por todo o mundo; a adaptação do argumento do palco para o cinema de Ernest Lehman, que tomou proveito da chance de filmar em Salzburgo e da escala e liberdade que um filme ganha em relação ao teatro – o que também implicou alterar toda a coreografia, pensada especificamente para o filme pelo duo Marc Breaux e Dee Dee Wood, que já tinham trabalhado em Mary Poppins (1964); e a escolha acertada de atores principais e secundários.

A icónica dupla de Julie Andrews e Christopher Plummer não eram estrelas na altura. O filme iria catapultá-los para a fama, mas o filme precisava de nomes reconhecidos pelo público, especialmente para a personagem da Baronesa Elsa Schraeder, que foi interpretada por Eleanor Parker.

O filme foi um estonteante sucesso comercial, permanecendo nos cinemas durante quatro anos e meio desde a estreia, e tornando-se o filme com mais bilhetes vendidos em 1965. Em novembro de 1966, ultrapassou Gone with the Wind e foi o filme com melhores resultados de bilheteira de sempre durante meia década.

Hoje, é um clássico familiar que agrada a todos os tipos de público, com uma história universal de amor e família contada sobre um fundo histórico importante. O filme foi considerado um dos 100 melhores filmes americanos de sempre pelo AFI, e está preservado na Biblioteca do Congresso dos EUA desde 2001.

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Imagem: The Sound of Music

Birdman

Da violência de Amores Perros, à violência de um The Revenant, passando pelos seus dramas brutos (Biutiful, Babel, 21 Grams), é fácil perceber que versatilidade é uma palavra que entra sem dificuldade no léxico de Alejandro González Iñarritu

Talvez seja por isso que muitos ficaram desiludidos quando, em 2014, o aclamado cineasta mexicano, nos brindou com uma trama que roda em torno de atores da Brodway e nas suas abordagens às virtudes inesperadas que a ignorância lhes proporciona. Mas, se em sinopse o filme parece menos apelativo – já agora,  não parece – do que os viscerais primeiros trabalhos do realizador, o tom in your face e impactante típico do seu ADN continua presente, não num formato tão grosseiro e brutal, mas sim num ritmo mais frenético e candente concebido numa execução imaculada.

Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) é gravado de forma a que pareça que tudo o que vimos foi gravado sem cortes. Não é nada de groundbreaking ou de novo, mas é definitivamente um ponto artístico que faz levantar a sobrancelha sempre que sabemos que esse componente existe.

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Em termos técnicos, há tanta coisa que nos faz deixar cair o queixo, seja o blocking, a edição – basta tentarmos encontrar os cortes e falhar miseravelmente para percebermos isso -, o staging ou a fantástica cinematografia – trazida por um dos melhores por de trás da câmara, o exímio Emmanuel Lubezki.

Para além disso, temos o incrível trabalho de todos os atores presentes no filme, que conseguiram desempenhar todas as extensas cenas coreografadas, ao mesmo tempo que deixavam papelões sempre que as câmaras apontavam para eles – destacando Michael Keaton na melhor performance da sua carreira, juntando ainda nomes como Edward Norton e Emma Stone – o que vai bastante de encontro com a temática do teatro.

Não é só nesse sentido que a parte conceitual e extrínseca ao filme em si contribuem para enaltecer a experiência. O engraçado, é que um filme sobre um ator a tentar encontrar-se artisticamente combatendo com o mediatismo do seu passado como super-herói, todos os atores supracitados, entraram em filmes desse mesmo género. Ainda melhor se pensarmos que Keaton no ano a seguir desempenhou o papel de Vulture – um homem-abutre, ou seja, um homem pássaro – em Spider-Man: Homecoming.

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Imagem: Birdman

Parasite

Esta lista não estaria completa sem mencionar o filme que gerou choque na cerimónia de 2020, pelas melhores razões.

Parasite, realizado por Bong Joon Ho, conta a história da família Kim, uma família sul-coreana que vive numa cave e passa por grandes dificuldades económicas. A sua sorte começa a mudar quando surge uma oportunidade para o seu filho se tornar explicador de inglês da filha da família Park, uma família bastante abastada. O senão é que o filho dos Kim tem de se fazer passar por um estudante universitário com qualificações para ser explicador, algo que não é.

A partir daqui, a família Kim desenvolve um esquema para se infiltrar na vida dos Park ao fazerem-se passar por pessoas com qualificações e, ao mesmo tempo, ao minar o trabalho dos atuais empregados dos Park.

Este filme entra na lista dos melhores Melhor Filme por várias razões. Não só engloba críticas sociais, escondidas de forma brilhante dentro de um argumento que mistura o entretenimento de uma comédia com o suspense de um thriller, como dirige essa crítica ao próprio público que lhe deu o prémio.

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Parasite é um filme excelente, com performances espantosas e nuances difíceis de encontrar na maioria dos filmes. Nada neste filme é preto e branco e isso torna-o não só mais real como também mais instigante. Este filme é o culminar do trajeto que Bong Joon Ho estava a traçar desde o início da sua carreira.

A crítica ao capitalismo e à impossibilidade que é a mobilidade social está presente noutros projetos, como é o caso de Snowpiercer e Okja, mas neste caso foi demonstrada através de casos próximos da realidade, que nos fazem refletir sobre o mundo e o sistema à nossa volta.

A vitória acaba por se destacar de outros vencedores porque celebra a diversidade, ao ser o primeiro filme que não foi feito em inglês a ganhar o prémio de Melhor Filme, e mostra que a arte não tem língua definida. Isto é especialmente importante quando vemos o contraste com o filme que arrecadou o prémio no ano anterior, que glorifica o white-saviourism presente particularmente no ocidente. Parasite destaca-se por serCinema que não tem medo de criticar o sistema e é arrebatador enquanto o faz.

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Imagem: Parasite
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