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Bons Sons volta a habitar as ruas com Lena d’Água, B Fachada e Fado Bicha

Apresentação da programação do festival ocorreu esta terça-feira em Cem Soldos. O Espalha-Factos esteve presente e reporta todas as novidades

É 12h30 na aldeia de Cem Soldos, a 5 km de Tomar. O espaço aberto do largo da Igreja, epicentro da povoação, apresenta um tom amarelado: são as poeiras do Sahara, que teimam em chegar a Portugal, vindas do Norte de África, deixando o céu da tarde a ‘fazer pendant’ com o chão de terra batida.

Mesmo no centro da praça, o diretor artístico do Bons Sons, Miguel Atalaia, dá início à conferência-passeio de apresentação da programação 2022, esta terça-feira (15), com uma boa nova para os amantes da música portuguesa: o festival está de volta, após dois anos de interlúdio motivado pela pandemia.

De 12 a 15 de agosto, a música vai voltar a ocupar as ruas de Cem Soldos para a 11.ª edição do festival, 15 anos após a primeira. A oferta é choruda: mais de 50 artistas, entre eles Lena d’Água, Marta Ren, B Fachada, David Bruno, Cassete Pirata, Maria Reis, Fado Bicha e Bia Maria, concertos, DJ sets, espetáculos e exposições.

A “noção de comunidade” continua a ter um papel central para o festival, diz Miguel Atalaia. “É determinante que as pessoas se sintam bem no lugar onde moram“, e “a felicidade das pessoas” e “o seu encontro” devem estar no centro do modo como se pensa a oferta cultural. O mote para 2022, “habitar a rua”, é uma palavra de ordem a levar à letra.

Lena d’água, David Bruno, Rita Vian e GROGnation são destaques para 2022

O cartaz deste ano conta com repetentes e muitas novas propostas, além de algumas surpresas do passado. Lena d’Água regressa ao festival no dia 15 de agosto depois da sua atuação em 2018 com Primeira Dama, que marcou o início do seu regresso aos palcos. Também Pluto, banda que Manel Cruz e Peixe formaram depois dos Ornatos Violeta, atua no dia 13.

B Fachada está de regresso para apresentar Rapazes & Raposas, Criatura trazem o seu novo disco Bem Bonda, Rui Reininho apresenta o seu novo álbum inovador 20.000 Éguas Submarinas e a fadista Aldina Duarte também não quis faltar à festa.

Nomes da música portuguesa independente não vão faltar, de que são destaque Maria Reis, Cassete Pirata, Marta Ren, David Bruno, nem grupos como GROGnation, Sunflowers ou Acácia Maior. O palco Giacometti será lar de novos cantautores que repensam o legado da música de intervenção, como Garota Não ou o duo Fado Bicha.

Rita Vian, portadora de um som que mistura fado com eletrónica, também estará presente. A cantora tem uma “relação particular a Cem Soldos”, onde a “família Vian tem raízes”, explica Miguel Atalaia. Também Motherfluters são filhos da terra, e bom filho a casa torna.

Não faltará espaço para projetos inovadores, como a banda 5ª Punkada, que dará a “ver pessoas em cadeiras de roda a criar música punk em palco“, prossegue o diretor artístico, ou as baterias ritmadas de Bateu Matou.

Menos palcos, mais rua

Em 2022 trazemos a música para o chão da rua e ensaiamos uma aproximação entre artistas e público, entre quem dá e quem recebe“, lê-se na programação. O espaço quer-se mais enxuto e as ruas (ainda mais) vivas, para aproximar ouvintes e artistas, aldeãos e festivaleiros. Para isso, passam a existir menos palcos, com algumas atuações a fazerem da rua o seu habitat.

O palco dedicado à programação da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP), que em 2019 se localizava no lagar de Cem Soldos, passa agora para a rua, e o Palco Amália, em frente à igreja de São Sebastião, adaptado para um novo espaço de exposições que vão ter lugar durante o festival: a Casa Sem Teto Amália.

Manel Ferreira em Cem Soldos

Professa-se desde já o mote. Ainda o percurso da conferência-itinerário vai no início, quando uma atuação faz estacar a procissão. Sentado numa cadeira sobre o alcatrão da rua estreita, Manel Ferreira dedilha a guitarra de olhos fechados. De uma melodia triste e melíflua passa para outra, mais animada. Composições suas, saídas do álbum Vento Ibérico, inspirado em lugares e viagens e com sonoridades do flamenco e do tango, que poderão ser escutadas no palco Carlos Paredes, a 12 de agosto.

Escuta a guitarra de Manel Ferreira aqui:

A música portuguesa – e cigana – a gostar dela própria

A sede do SCOCS, Sport Club Operário de Cem Soldos, casa-mãe da organização, do festival junta-se à rima amarelada do largo da igreja, onde o percurso retorna. Aqui se dá a apresentação da programação pelo diretor, escrita, no interior, em caixas de luz, numa “lógica absolutamente eclética de propostas musicais.” Tradição não pode faltar e a grupos folclóricos nacionais juntam-se bandas de culto e propostas inovadoras.

A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) terá um espaço de programação própria, que este ano terá lugar nas ruas da aldeia. Toy & Emanuel – mas não são esses! – fazem uma dupla imperdível, num projeto que homenageia a música cigana, uma das valências da MPAGDP. A eles se juntarão no ciclo Peixinhos da Horta, João Francisco e MaZela.

Os José Pinhal Post Mortem Experience estão de volta para mais uma atuação de homenagem ao cantor (re)descoberto, que se tornou fenómeno de culto, com direito a um documentário. A música é de baile e festa, cruzando inspirações da música tradicional portuguesa e cigana com rock e pop. 

Sebastião Antunes & Quadrilha vão trazer sonoridades celtas para cima da mesa, fundindo melodias tradicionais com eletrofolk. Ao lado estarão grupos de arruada e canto tradicional, como o Grupo de Gaitas da Golegã e as Cantadeiras do Vale do Neiva, e instrumentistas como a flautista Violeta Azevedo.

ONIRI vão criar um projeto em colaboração com a gente da aldeia: o processo do festival é local e colaborativo – em função de um ideal e não por acaso.

Manifesto Bons Sons, pela música na comunidade

A nova edição do festival faz cumprir os dez mandamentos do manifesto do Bons Sons de 2019, como relembra Miguel Atalaia.

A folha reivindica “a contemporaneidade no campo“, novas “ideias” para “o planeamento do território“, a criação conjunta de uma “cidadania participativa“, a “cultura” como “uma plataforma de encontro“, a promoção de um “envelhecimento ativo“, o erguer de uma “cultura popular” e “sem dono“, o “ensino em comunidade“, a criação de “projetos de território focados nas pessoas”, a “sustentabilidade” e a “criação de um espaço público” para “habitar as ruas.”

Atuação de Bia Maria

A conferência é dada por encerrada com uma atuação surpresa de Bia Maria, cantautora de Ourém que também estará presente no festival para apresentar o seu novo EP, Do Roberto.

Escuta o poema musicado de Bia Maria, ‘Lenço de Papel’, aqui:

Já podes consultar a programação completa por dias no site do Bons Sons. O festival volta a habitar a aldeia de 12 a 15 de agosto.

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