São José Lapa, Rita Pereira, Fernanda Serrano, Sara Barradas e Joana Seixas formam o elenco principal de Quero é Viver, telenovela adaptada da obra chilena Casa de Muñecos.
Helena Amaral, autora de Amar Depois de Amar, é a criadora da adaptação. A realização trouxe de volta a Portugal Hugo de Sousa, após uma temporada no Brasil a assumir a realização de Orgulho & Paixão, que podemos ver atualmente na SIC.
É fácil criarmos uma identificação com a história, uma ode à necessidade de mudança.
No dia em que festejaria 50 anos de casada com Sérgio (Fernando Rodrigues), Ana Margarida (São José Lapa) decide que é a hora de mudar de vida e dar o “grito do Ipiranga”. Ao pensar no seu percurso, percebe que viveu os seus setenta anos dedicada ao próximo, ao bem-estar do marido e das quatro filhas, deixando os seus sonhos e desejos sempre para último plano. Quão comum é esta autoanálise?
Mas Ana Margarida não quer mudar sozinha e quer que as filhas também pensem no próprio caminho, antes de ser tarde de mais. Tarde é também um conceito que acaba por não existir, apesar de as filhas acharem despropositada uma mudança radical quando se celebra cinquenta anos de casada, Ana Margarida pensa que este é apenas um fechar de ciclo e hora de iniciar outro.
Em confronto, a matriarca pretende que as filhas observem os próprios casamentos, a ligação e educação que dão aos filhos. O primeiro episódio só tem um único confronto, esse da mãe a dizer exatamente tudo o que pensa da vida das filhas, que não vão ficar indiferentes.
Natália (Fernanda Serrano) é casada com Frederico (Diogo Infante), mas vai ser confrontada com o regresso de um amor de juventude, o psiquiatra Gabriel (Thiago Rodrigues). Olga (Sara Barradas) é divorciada e mantém uma relação em segredo, aparentemente com um dos cunhados, não sendo esse segredo para já revelado. Irene (Joana Seixas) vive uma relação com Santiago (Pedro Hossi) que é antes de tudo baseada na competição profissional. Já Rita Pereira regressa às novelas com uma personagem bem diferente do que estamos habituados, casada com José (Filipe Vargas), Maria enfrenta um momento depressivo e de adição ao álcool, disfarçado por uma aparente ingenuidade perante as situações.
Ninguém é de facto feliz e, se pensadas de forma isolada, as personagens parecem ser bem tradicionais e lineares, mas todo o contexto acaba por trazer algo diferente ao que estamos habituados na ficção nacional.
Leveza e delicadeza são os principais ingredientes
Na versão chilena, a personagem principal é diagnosticada com a doença de alzheimer e é esse o ponto de viragem. Aqui, Helena Amaral optou por uma mudança baseada apenas no fim de um ciclo. Ana Margarida é uma atriz que fez sucesso no passado e continua ativa, bonita e independente e a “querer é viver”. São José Lapa, uma atriz multifacetada que já nos habituou a grandes personagens, está totalmente presente no papel, talvez por o considerar um pouco autobiográfico e também pela ligação criada pelo núcleo central.
Nesta história não há vilões, segredos, reviravoltas, acidentes ou tragédias. A mensagem é positiva e agora queremos apenas saber como se vai desenrolar uma história que é tão quotidiana e sem grandes ganchos a revelar. O único segredo que sustenta o primeiro episódio e o interesse nos próximos é quem será, na verdade, o homem com quem a personagem de Sara Barradas se envolve.
Há humor familiar e é fácil haver uma conexão entre alguma destas cinco mulheres. O horário da novela não é o tradicional para este tipo de histórias, mas já Festa é Festa traz essa leveza, mas com a marca de sitcom muito mais vincada. No primeiro episódio foi a telenovela mais vista do dia, por mais de 1 milhão de espectadores e nas redes sociais as críticas têm sido bastante positivas. Um bom prenúncio para este novo ano da TVI, que promete ser de regresso aos bons resultados.
A quebra da quarta parede e a dinâmica por vezes excessiva
O início da telenovela não tem nenhum diálogo. É apenas a cena que marca o momento de mudança de Ana Margarida, a conduzir e a cantar, em forma de libertação, a música oficial da novela, o tema Quero é Viver, de António Variações, cantado por Sara Correia.
Há irreverência e ritmo nos planos. Os cenários são, mais uma vez, as casas e os locais de trabalho, não havendo cenas de exterior. Os cortes são ritmados e, apesar de ser uma história quotidiana, não cai no aborrecimento dos planos estáticos. Muito devido ao currículo e percurso do realizador.
Em exagero surgem as mensagens de telemóvel no ecrã, nesse reforço constante de ritmo dado à imagem, por vezes em exagero, como se quisesse colmatar a história simples que observamos. Acrescenta ainda a “quebra da quarta parede” que não estamos habituados a ver na ficção nacional. A determinado momento do episódio as “filhas” falam com o espectador e analisam o confronto que tiveram com a mãe sobre a própria vida. Resta saber até que ponto essa técnica irá ser utilizada e se não se tornará excessivo.
Mudança, leveza e ritmo são as palavras de ordem que ficam deste primeiro episódio. Será suficiente para prender o espectador por muitos episódios, num horário tão entregue a histórias clássicas e carregadas?