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The Hand of God Netflix
Fotografia: Netflix/Divulgação

Crítica. ‘The Hand of God’ é um conjunto de segmentos falhados

O filme de Paolo Sorrentino está disponível na Netflix desde sexta-feira, dia 24 de dezembro.

O novo filme de Paolo Sorrentino já chegou à Netflix. Realizado pelo autor italiano e com protagonismo entregue a Filippo Scotti, Toni Servillo e Teresa Saponangelo, The Hand of God era um dos filmes mais aguardados do ano e conta a história de Fabietto, um jovem morador na cidade de Nápoles que passa boa parte do tempo a ver jogos da equipa da cidade e de Maradona e a ouvir música. Tudo muda quando a tragédia atinge a família de maneiras inimagináveis. Será que correspondeu às expectativas?

Adaptando eventos da própria vida para o ecrã da Netflix, Sorrentino acaba por levantar muitas sobrancelhas. O cineasta sempre foi ambicioso nas histórias, forte nas imagens e corajoso na realização, tal como Fellini, o lendário autor italiano ao qual é comparado constantemente.

The Hand of God é capaz de ser o filme mais confortável para Sorrentino – e não de uma maneira positiva. No entanto, apesar de poder não corresponder àquilo que os seus fãs estariam à espera, é também o filme do cineasta mais acessível para as massas. 

Inundado com cinema em todos os frames, o trabalho é também uma grande homenagem ao cinema antigo, à Sétima Arte italiana que tanto nos deu ao longo dos anos. Provas disso são a presença constante, quer em espírito, quer em pessoa, de vários realizadores do passado, tais como Antonio Capuano, um mentor para Sorrentino, Franco Zeffirelli ou o já falado Federico Fellini. 

Contudo, apesar de todas as vantagens, The Hand of God parece algo desengonçado, principalmente na primeira parte da longa-metragem. Nunca se sabe bem os espaços temporais das coisas, ou até o que está a acontecer. A quantidade de personagens que nos vai sendo apresentada, sempre com a histeria habitual italiana, é demasiada para conseguir acompanhar. 

Boa parte da trama é passada sem nada acontecer. Fabietto, a personagem principal, vai sendo mostrada a andar de um lado para o outro, um miúdo perdido na própria juventude. Enquanto isso, os pais, que se amam realmente, e alguns familiares vão passando por problemas, algo que acaba por afetar a maneira como o protagonista vai vivendo e algumas das suas ações.

Fotografia: Netflix/Divulgação

É sempre interessante ver um jovem a tentar descobrir o seu lugar no mundo, as próprias motivações, vontades, talentos e falhas. Fabietto é a personificação da personagem clichê do cinema coming-of-age. Só não é normal vermos este tipo de personagem no meio de uma cidade italiana nos anos 80 – e aí está o problema deste projeto. 

Este não é um filme mau, mas certamente não é bom. A falha desta longa-metragem não está na técnica, mas sim no produto à base de nostalgia. De qualquer forma, essa mesma nostalgia mostrada por Sorrentino nem é uma qualquer, é carregada do privilégio que viveu, tanto em termos sociais, como financeiros. 

Como se isso não fosse suficiente, a forma como a história vai progredindo, quase como sketches alinhavados de maneira aleatória, não abona a favor do filme. Não há um fio condutor entre todos os segmentos, para além da vida privilegiada que o jovem vai vivendo. Alguns dos momentos mostrados acabarão até por ser algo questionáveis para alguns espectadores, certamente. 

The Hand of God consegue fazer um espectador rir e chorar muito rapidamente, mas falha na conexão humana mais básica. Acaba por ser mais um filme italiano: conceitualmente interessante, visualmente também, cheio de nudez desnecessária, cigarros, tristeza e aborrecimento. Apesar de isto funcionar muitas vezes, desta vez não foi o caso. Pelo menos existe Maradona para dar e vender. 

The Hand of God Netflix
4.5