A terceira temporada de Succession terminou, este domingo, com a estreia do seu nono e último episódio, na HBO Portugal. Criada por Jessie Armstrong e produzida por Adam Mckay, esta tragicomédia tornou-se uma das séries mais faladas e elogiadas dos últimos anos.
Tal como em anos anteriores, a série retoma a luta pelo poder entre o patriarca Logan (Brian Cox) e os seus quatros filhos: Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook), Roman (Kieran Culkin) e Connor (Alan Ruck).
Depois da rebelião no fim da segunda temporada, Logan parece, finalmente, ter uma verdadeira ameaça ao seu estatuto como um dos últimos “dinossauros” que ainda se mantém de pé. Entre uma investigação federal, uma ameaça de perda de poder na empresa que detém e traições familiares, o cenário nunca lhe foi tão adverso.
Ligeiros spoilers da terceira temporada de Succession
Na verdade, toda essa adversidade não é suficiente para o patriarca tombar. Ao longo destes nove episódios, Succession demonstra que não é uma ficção que acredita em paladinos da justiça que derrotam os mauzões, mas sim um drama fotorealista sobre a podridão do sistema financeiro, político e social.
Um sistema em que um escândalo empresarial de crimes e abusos recorrentes resulta em punições monetárias, em vez de prisionais. Um sistema que apoia e cria plataformas para quem deturpa e destrói a Democracia, porque, ao menos, dão boas audiências. E um sistema que, por muita riqueza que possa gerar a quem está no topo da cadeia alimentar, também lhe fornece uma solidão miserável.
A tragédia e a comédia da terceira temporada de Succession chegam através do horror de como riqueza e abuso são intransponíveis. De que mesmo paladinos falsos, que dizem representar os mais desfavorecidos, apesar de virem do privilégio, não conseguem ir muito longe antes de voltarem a ser engolidos.
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É por isso que, do ponto de vista da luta pelo poder, das guerrilhas empresariais, dos joguinhos de bastidores, pouco parece ter mudado desde o início da série, até agora. Porque nada mudou. Porque também nada muda, no mundo real.
A verdade é que, por mais irónico que pareça, Succession nunca esteve preocupada com a sucessão da família Roy. Nunca esteve preocupada com quem se sentará no trono de ferro, ao contrário de outra série da HBO.
Succession preocupa-se sim com a relação familiar de um pai amaldiçoado pelo seu passado e pela família quebrada que construiu. Preocupa-se com quatro miúdos que nunca se tornaram adultos funcionais e que têm todos traumas evidentes, mesmo que cada um recuse a admiti-lo. E aí, tudo mudou. Para melhor e também para pior.
A escrita da terceira temporada mantém a genialidade que caracteriza os episódios de anos anteriores. Frases eternamente citáveis, quer pela sua carga humorística, dramática, ou um pouco de ambas. Uma evolução satisfatória de cada um dos protagonistas deste leque vasto de personagens. Nenhum dos protagonistas termina, quer fisicamente ou psicologicamente, esta temporada da mesma forma como a começou.
Grandes argumentos necessitam de grandes atores e este é, provavelmente, o elenco mais equilibrado e apropriado de um drama, na atualidade. Todos os atores são o casting perfeito. Todos são pesos pesados que nos fazem adorar e odiar, rir e chorar de forma visceral.
Sob o risco de injustiçar o resto, é mesmo assim necessário destacar um, esta temporada. O Tom de Matthew Macfadyen tem, talvez, o melhor percurso destes nove episódios.
Um homem que aparenta caminhar em direção a um abismo evidente e que, num momento de definição, atira para o fundo, em seu lugar, quem mais o rebaixou. E quem mais ama. O ator britânico é brilhante na interpretação desta jornada fantástica e merece qualquer reconhecimento e prémio que lhe possa ser atribuído.
A maioria dos leitores talvez já se tenha habituado, contudo caso novos ou futuros espectadores de Succession estejam a ler isto, não se preocupem: A cinematografia da série parece caótica e desorganizada ao início. E é. Como o mundo dos Roy. E, não obstante, é igualmente capaz de uma graciosidade e poesia assombrosas.
A terceira temporada tem alguns dos enquadramentos mais marcantes deste ano, quer em Televisão ou Cinema. Os últimos dois episódios, em particular, deixam-nos com visuais dignos de uma pintura trágica.
E claro, a tecer o impacto emocional do que vemos, está a banda sonora do mestre Nicholas Britell. A introdução de Succession é já um ícone por si, porém a terceira temporada oferece três faixas especialmente poderosas que deixam o espectador a olhar para os créditos finais, em silêncio.
Os nove episódios mais recentes de Succession pode fazer-nos duvidar, por instantes, de que a série manterá o nível que conquistou tanto público. É um engano elaborado que se dissipa quando chegamos aos derradeiros momentos desta temporada.
Num dos melhores diálogos da série e do ano, Logan diz: “Eu sei coisas sobre o mundo ou não faria dinheiro. Não, necessariamente, coisas agradáveis”.
Succession também continua a saber. E é por isso que continua a ser a melhor série do momento.