Este sábado (30) foram anunciados os grandes vencedores da 19.ª edição do Doclisboa. A iniciar a cerimónia de entrega dos prémios, no Grande Auditório da Culturgest, os diretores do festival, Joana de Sousa, Joana Gusmão e Miguel Ribeiro, recordaram os “11 dias de movimento intenso” com cerca de “650 participantes, de mais de 50 países”.
Tiago Afonso recebeu o prémio de Melhor Filme da Competição Portuguesa por Distopia. Parte da Competição Portuguesa, o filme acompanha a mudança no tecido social da cidade do Porto, entre 2007 e 2020, tempo comum às demolições, expulsões e realojamentos que afetaram a comunidade cigana do Bacelo, a população do Bairro do Aleixo e os vendedores da Feira da Vandoma. O filme teve duas exibições no festival.
Tiago Afonso dedicou o prémio a todos aqueles a quem são negados todos os direitos, e que vivem sem casa e sem rumo. O júri justifica que o filme encontrou “a distância justa para retratar a luta de uma comunidade pelos seus direitos”. O filme recebeu também o Prémio Escolas ETIC para Melhor Filme da Competição Portuguesa.
Alcindo, de Miguel Dores, parte integrante da secção Cinema de Urgência, fora da competição, recebeu o Prémio do Jornal Público para Melhor Filme Português Transversal a Competições.
Cineasta espanhola é o grande destaque internacional
O grande Prémio Cidade de Lisboa para Melhor Filme da Competição Internacional foi entregue a 918 Nights, uma história contada na primeira pessoa. A realizadora Arantza Santesteban, presa em 2007 por alegada ligação à ETA, reexamina aqui as memórias das 918 noites que passou encarcerada. “A obra reflecte sobre a resistência a diferentes sistemas de controlo sobrepostos e fá-lo propondo dialécticas que questionam um entendimento redutor das formas de identidade”.
Pelo “compromisso político e social para com a comunidade e sobretudo para com o protagonista pelo cuidado com que se acompanha e denuncia a sua situação ao longo de vários anos”, O Lugar Mais Seguro do Mundo, de Aline Lata e Helena Wolfenson venceu o Prémio Canon do Júri da Competição Internacional. O filme retrata a vida do jovem Marlon, depois de ser vítima de uma tragédia sócio-ambiental, após o colapso de uma barragem na sua vila.
Prémios da secção Verdes Anos
“Pela observação paciente da natureza na Sicília a nível da imagem e do som”, Late August, de Federico Cammarata e Filippo Foscarini, foi eleito Melhor Filme da Competição Verdes Anos, que incluía um total de 19 filmes.
Na secção foram ainda distinguidos In Spite of Ourselves, de Olatz Ovejero, Clara López, Aurora Báez e Sebastián Ramírez, com o Prémio Especial Irmalucia. Meia-Luz, de Maria Patrão, devido ao “olhar atento sobre o cinema de António Reis, mas sobretudo sobre o cinema em si”, venceu o Prémio de Melhor Filme Português. Fora da Bouça, de Mário Veloso recebeu uma menção honrosa.
Os eleitos em todas as secções
Os prémios transversais a todas as secções, excepto as Retrospectivas e Cinema de Urgência, elegeram You Are Ceausescu to Me, de Sebastian Mihăilescu como Melhor Primeira Longa-Metragem. O júri considerou “este filme um modo muito inovador de juntar forma e narrativa”. “Pelo ritmo e energia das sequências”, a Menção Honrosa foi atribuída a The Spark, de Valeria Mazzucchini e Antoine Harari.
Gargaú, do brasileiro Bruno Ribeiro, foi eleita a melhor curta-metragem, por promover “um reencontro de pessoas e lugares”.
Nesta edição teve lugar, pela primeira vez, a indicação a melhor longa-metragem de temática associada ao trabalho, atribuído pela Agencia Europeia para a Segurança no Trabalho. Yoon, de Pedro Figueiredo Neto e Ricardo Falcão, que retrata a viagem circular e recorrente de Mbaye Sow, um routier senegalês numa viagem arriscada num antigo Peugeot 504, foi o primeiro vencedor.
A fundação Inatel distinguiu também Nūhū Yãg Mū Yõg Hãm: Essa Terra é Nossa!, de Isael Maxakali, Sueli, Carolina Canguçu e Roberto Romero, “um filme em contínuo, como são os abusos que continuam a contar, hoje, a mesma história de há 500 anos: uma história de ocupação e de extermínio”, como Melhor Filme de Temática associada a práticas e tradições culturais e ao património imaterial da humanidade.
O Prémio Fernando Lopes, como é conhecido o Prémio Midas Filmes e Doclisboa, distinguiu o “filme de cariz experimental” Sounds of Weariness de Taymour Boulos, como melhor primeiro filme português.
Nem só de obra terminada é feito o Doclisboa
Arché é um espaço na sua sétima edição, e em franca expansão no festival. Este ano reuniu 12 projectos em etapas diferentes de produção num programa de oficinas, encontros ao desenvolvimento criativo e residências artísticas, que voltou depois do interregno da última edição. Estes prémios têm como objectivo final o incentivo a ideias em fase de desenvolvimento, de forma a apoiar monetariamente a execução dos projetos.
O Prémio RTP para Melhor Projecto em Fase de Montagem ou Primeiro Corte foi para Under the Flags, the Sun, de Juan José Pereira. A McFly atriubiu o Prémio Especial do Júri Arché para um Projecto em Fase de Montagem ou Primeiro Corte a Handycam, de Francisco Bouzas. O parceiro do festival Selina, atribuiu pela “força rara e profunda sobre uma personagem que é arrancada do seu ambiente natural” o título de Melhor Projecto em Fase de Escrita ou Desenvolvimento a BEA VII, de Natalia Garayalde, .
Também em fase de escrita e desenvolvimento, a Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa elegeu As Mulheres do Pau-Brasil, de Thais de Almeida Prado, “um projecto divertido que aborda questões sérias com muito coração e alma”.
No Cinema Ideal, entre o dia 1 e 3 de novembro, serão exibidos alguns dos filmes vencedores. O Doclisboa promete voltar no próximo ano, para mais uma vez “questionar o presente do cinema, em diálogo com o seu passado e assumir o cinema como um modo de liberdade”.