A escritora Isabela Figueiredo integra a primeira seleção do Prémio Femina Estrangeiro, um dos mais prestigiados prémios literários em França, com o livro Caderno de Memórias Coloniais.
O Caderno de Memórias Coloniais relata a história de uma menina que vive o início da adolescência no período tumultuoso do final do Império colonial português. Foi lançado em Portugal em 2009, pela editora Angelus Novus e revisto e reeditado pela Editorial Caminho em 2015, tendo sido a própria editora a anunciar esta nomeação.
Em 2009, falou com a jornalista Alexandra Lucas Coelho, para o jornal Público, sobre o livro e explica que optou pela autobiografia nesta obra por sentir que não podia distanciar-se, “o facto de ter sido testemunha de uma série de ações que me pareciam erradas e não poder dizer nada sobre elas tornou-me uma pessoa violenta. A minha expressão é violenta, escrevo de forma violenta. Não queria ficcionar, queria contar a verdade, a realidade com a crueza com que a vivi”. Isabela assume que “foi preciso esperar muito tempo, que o meu pai morresse, que eu fizesse o luto dele, que fizesse uma série de anos de psicanálise, para ter vontade de escrever o que está aí”.
A nomeação surge, assim, como uma validação desta obra que nem sempre foi consensual. O último grande sucesso da escritora é o livro A Gorda, editado pela Caminho em 2016. Na edição 2021 da Feira do Livro em Lisboa, foi das obras mais vendidas na banca da Leya.
Isabela Figueiredo nasceu em Moçambique em 1963 e mudou-se para Portugal em 1975, tendo este passado marcado o seu estilo literário e principalmente esta obra agora nomeada. Começou a ganhar notoriedade com os textos escritos no blog Mundo Perfeito, onde levantava questões tabu em Portugal, como o racismo dos colonos portugueses.
O Prémio Femina Estrangeiro
O prémio Femina Estrangeiro é um dos prémios literários mais importantes de França e premeia escritores desde 1985. Da lista de nomeados em 2021 fazem parte Ahmet Altan (Madame Hayat); Najwa Barakat (Monsieur N.); Jan Carson (Les lanceurs de feu); Claudia Durastanti (L’étrangère); Lucy Fricke (Les occasions manquées); Nino Haratischwili (Le chat); Mona Hovring (Parce que Vénus a frôlé un cyclamen le jour de ma naissance); Robert Jones Jr. (Les prophètes); Daniel Loedel (Hadès, argentine); Ariel Magnus (Eichmann à Buenos Aires); Joyce Maynard (Où vivaient les gens heureux); Leonardo Padura (Poussière dans le vent); Natasha Trethewey (Memorial drive: mémoires d’une file); Nina Wähä (Au nom des miens) e Philipp Weiss (Le grand rire des hommes assis au bord du monde).
A autora que ganhou o prémio em 2020 foi Deborah Levy, com os livros Coisas que não quero saber e o Custo de Vida, editados em Portugal pela Relógio D’Água.