O À Escuta está de regresso mais um sábado para a rubrica semanal sobre música portuguesa do Espalha-Factos. Nesta edição, o destaque de lançamentos é dado ao regresso dos Sensible Soccers, ao novo single de Julinho KSD e de mais um avanço do próximo disco de Joana Espadinha.
Fala-se ainda, em termos de novos singles, de André Carvalho, Auroora, FRED, Herlander, João Couto, Luís Trigacheiro, Mimi Froes e São Roque, de mais um lado-B de Gisela João – desta vez entregue por Xinobi – e da regravação de ‘Young Blood‘, dos Norton, com Filipa Leão. Em termos de novos discos, fala-se da nova aventura sónica dos 10 000 Russos e do EP de estreia de Martim Baginha.
Sensible Soccers regressam com ‘Cantiga da Ponte’
É com ‘Cantiga da Ponte’ que os Sensible Soccers anunciam o seu regresso aos trabalhos. O novo single do trio antecipa Manoel, o sucessor do excelente Aurora, de 2019, que chega no primeiro de outubro. A ideia para Manoel, o quarto LP dos Sensible Soccers, nasce da vontade de compor uma banda sonora para Douro, Faina Fluvial (1931), o primeiro filme de Manoel de Oliveira.
E se Aurora foi um disco centrado no verão, ‘Cantiga da Ponte’ abre as chances para Manoel ser um disco que é quase o inverso do seu predecessor, mas que é construído pelas bases que constituíram Aurora. O baixo e a percussão que ganharam vida em Aurora surgem em ‘Cantiga da Ponte’, mas são agora acompanhados por uma instrumentação mais orgânica, com um piano e sopros a criarem uma atmosfera que, apesar de fria, nos aquece de alguma forma – a fazer lembrar um pouco 8, de 2014, nesse aspeto. Há um grande toque de chamber music em ‘Cantiga da Ponte’ e é essa influência que torna a faixa em algo que soa rendilhada, nostálgica e emotiva. Uma belíssima cantiga para abrir Manoel e para abrir este novo ciclo para os Sensible Soccers.
Julinho KSD revela ‘Sabi na Sabura’, o banger para este outono
‘Sabi na Sabura’ é o nome do novo single de Julinho KSD, um dos mais excitantes e populares artistas portugueses do momento. O título da faixa significa algo como “estar bem na vida” e este espírito de felicidade é bem espelhado ao longo do single, que conta com produção do próprio Julinho mas também de Fumaxa, Migz, e Rubik.
O instrumental de ‘Sabi na Sabura’ conta com a presença de ritmos cabo-verdianos bem presentes, ajudando a criar uma atmosfera que cruza os tempos de verão – cortesia dos ritmos – com a de outono, pautada pela presença de guitarras algo nostálgicas ao longo da faixa. Se ‘Stunka’ foi o banger de verão português – e merecido -, ‘Sabi na Sabura’ vai ser o banger de outono que Julinho nos entrega de mão beijada.
Joana Espadinha tenta-nos ‘Dar Resposta’ em mais um avanço de Ninguém nos vai tirar o sol
‘Dar Resposta’ é o nome do novo single de Joana Espadinha. É o quinto avanço do seu próximo longa duração, Ninguém nos vai tirar o sol, e conta mais uma vez com a produção de Benjamim.
De acordo com a artista, ‘Dar Resposta’ é uma “revolução pessoal contra todas as expectativas que desenham para nós, e fala sobre a liberdade de poder dizer não, e perceber que o mundo não vai cair por causa disso“. A sua sonoridade apresenta um misto entre um pop rock dos anos 90, com as suas guitarras orelhudas, e pop analógica, característica do tipo de som que Benjamim coloca nos seus sintetizadores – e que soam sempre bem quando colocados ao lado da voz de Joana Espadinha.
Contando com um refrão orelhudíssimo, ‘Dar Resposta’ é mais um avanço que nos deixa muito curiosos e entusiasmados para ouvir Ninguém nos vai tirar o sol, que tem data de lançamento marcada para o dia 24 de setembro.
Superinertia é a conquista com sucesso de novos territórios sonoros dos 10 000 Russos
Superinertia é o nome do quinto disco de originais dos 10 000 Russos, trio portuense que, neste novo trabalho, abraça uma maior presença dos sintetizadores para apresentar uma nova versão (e evolução) do seu rock carregado de fuzz. Segundo o grupo, “os synths abriram o espectro sonoro e deram diferentes rotas a seguir“, rotas essas que vamos descobrindo ao longo de Superinertia.

Rapidamente em Superinertia vamos descobrir que este é o disco mais arrojado (e, pode dizer-se, maturo) que os 10 000 Russos apresentaram até ao momento. A faixa de abertura, ‘Station Europa’, é krautrock hipnotizante, psicadélico e cinético por natureza e apresenta o tema geral do álbum, inteiramente ligado ao “estado de inércia em que os humanos vivem no Ocidente hoje em dia”. “Não é um álbum sobre o passado ou o futuro. É sobre o agora”, refere a banda.
Para um disco refletir de forma fidedigna o “agora”, é natural que Superinertia soe em momentos inseguro e dissonante, como é caso de ‘A House Full of Garbage’, o mais próximo que o grupo esteve de criar uma faixa de pop na sua totalidade. Os seus sintetizadores fazem lembrar Depeche Mode, mas adornados com guitarras dissonantes que criam um cenário quase apocalíptico, servindo de porta de entrada para o caos de ‘Mexicali/Calexico’, que soa como se ecoasse diretamente de colunas colocadas no meio do deserto californiano.
E para quem veio para o stoner, não fuja. Além de ‘Mexicali/Calexico’, também ‘Saw the Damp’ e ‘Super Inertia’ correspondem às expectativas para quem tem acompanhado o historial do grupo, com as suas grooves dançáveis e batida motorik a fazerem-se sentir. Superinertia é um disco dissonante e arrojado, um em que os 10 000 Russos conquistam novos territórios sonoros com sucesso.
André Carvalho traz os Países Baixos para o seu jazz erúdita com ‘Uitwaaien’
‘Uitwaaien’ é o primeiro single do novo álbum do contrabaixista e compositor André Carvalho. De origem neerlandesa, “uitwaaien” é uma palavra intraduzível que significa “sair para passear num dia ventoso, com o intuito de espairecer e relaxar a cabeça”.
Sobre este novo tema, o contrabaixista e compositor refere, sobre o momento em que escreveu o tema: “imaginei algo contemplativo, mas ao mesmo tempo com uma certa tensão, já que o significado de uitwaaien remete para uma ação libertadora”. O tema conta com a participação do saxofonista José Soares e o guitarrista André Matos e explora uma sonoridade que varia entre o jazz e a música erudita, construído através de várias secções que se complementam para criar uma composição arrojada e emotiva.
‘Uitwaaien’ irá fazer parte de Lost in Translation, o quarto álbum de André Carvalho. Todo o trabalho se inspira em palavras intraduzíveis.
Auroora tenta encontrar o seu destino em ‘Pássaro perdido’
Auroora é o nome da dupla que junta a cantora portuense Claudia Aurora ao guitarrista e produtor Javier Moreno, natural de Barcelona. ‘Pássaro perdido’ é o nome do seu mais recente single, uma canção de fado extremamente delicada e sentimental.
Em ‘Pássaro perdido’, a voz belíssima de Claudia sobrevoa toda a canção. Apoiada por um instrumental minimalista, onde a guitarra clássica de Javier é adornada por toques de sons de ambiente – a fazer lembrar algumas das experimentações sónicas dos Madredeus – a voz de Claudia soa como se fosse um pássaro a tentar encontrar o rumo para o seu destino. É um efeito belo, algo dissonante, que funciona muito bem para o estilo de fado que os Auroora tentam criar.
FRED apresenta ‘Road of the Lonely Ones’, o primeiro avanço do seu tributo a Madlib

Dois anos depois de se ter estreado em nome próprio com o disco O amor encontra-te no fim, FRED regressa com Series Vol.1 – Madlib, uma espécie de disco de tributo ao lendário produtor Madlib por parte do baterista e produtor com data de lançamento marcada para 24 de setembro. O primeiro single revelado é ‘Road of the Lonely Ones’, e conta com Eduardo Cardinho no vibrafone, Diogo Santos no piano, Filipe Louro no baixo, Zé Cruz no trompete e flauta, Iúri Oliveira nas percussões e A Garota Não nos coros.
Em ‘Road of the Lonely Ones’, FRED apresenta uma faixa cheia de groove, abraçando um jazz fusion que certamente faria Madlib orgulhoso. A bateria é, de facto, o palco central da faixa, mas o que a torna realmente fantástica são todos os adornos adicionados pelos outros instrumentos. Tudo isto torna ‘Road of the Lonely Ones’ numa faixa extra complexa e densa, mas que soa extremamente limpa e bem conseguida. Não há tons errados aqui nem falhas de composição, contudo, soa como se fosse uma jam session a dar origem à faixa.
Xinobi dá o seu toque a ‘Tábuas do Palco I’, de Gisela João
Gisela João continua a sua demanda de apresentar lados B para as faixas de AuRora. A Holly, Justin Stanton, DJ Ride e Stereossauro junta-se agora Xinobi, que veste ‘Tábuas do Palco I’ com as suas cores de eletrónica.
Esta não é a primeira colaboração entre os dois artistas. Em 2019, haviam colaborado para a criação de ‘Fado Para Esta Noite’, uma demonstração de que o fado e a eletrónica conseguem coexistir no mesmo espaço. Aqui, esse coexistir volta a acontecer, com Xinobi a adicionar camadas de sintetizadores à faixa, com o toque do deep house a notar-se e usando a voz de Gisela João como mais uma camada para incutir ritmo e textura à faixa.
O resultado final da exploração sónica de Xinobi é uma faixa extremamente dançável. Para além disso, mostra – mais uma vez – o tipo de fusões que o fado permite quando a mente criativa se abre para estes caminhos.
Herlander encanta com o psicadélico dissonante de ‘woohooo!!!’
Na lista de artistas mais excitantes do panorama musical português atual, Herlander é um dos nomes que aparece bem perto do topo. O artista lisboeta está a preparar o seu primeiro longa-duração, intitulado de Pirralho, e depois do banger que é ‘Gisela’, apresenta agora o segundo avanço do projeto.
‘woohooo!!!’ é, em primeira instância, uma faixa de total libertação. É cheia de ritmo, extremamente dançável, adornada de um toque experimental e premeia-nos com um refrão orelhudo, onde o hook é impossível de ignorar. Em momentos, a junção eclética de géneros e a produção dissonante e psicadélica incutida na faixa faz lembrar os trabalhos mais recentes de Yves Tumor, mas recheados com uma história vívida e contínua que se completa. Ao Rimas e Batidas, o artista conta que “em ‘woohooo!!!’ volto a contar episódios da personagem que apresentei na ‘Gisela’, o ‘Manny’, que se situa, outra vez, a viver em corda bamba, desta vez conduzindo quem ouve pela ponte 25 de Abril até à costa, num ambiente ocupado como um eclipse de fim de Verão”.
Dois avanços para Pirralho, dois bangers recheados de história. O disco de estreia de Herlander está para breve e não poderá passar despercebido.
João Couto deseja ‘Boa Sorte’ com a aproximação do lançamento do seu segundo disco
‘Boa Sorte’ é a faixa que dá o título ao próximo longa-duração de João Couto, que é lançado a 1 de outubro. Trata-se do quarto e último single a ser lançado antes do lançamento do sucessor de Carta Aberta, de 2018. Como o resto do novo disco, a faixa é produzida por Pedro Pode (S. Pedro e doismileoito) e conta com música e letra de João Couto.
Nesta faixa, o artista volta a brincar com o seu conceito de pop. ‘Boa Sorte’ é uma faixa de cantautor, algo melosa e nostálgica, em que João Couto volta a relembrar-nos que é um nato contador de histórias. Em momentos, o tema faz lembrar algumas das melhores composições d’Os Azeitonas, com o seu toque de pop acústico bem presente no instrumental, que é muito bem conseguido. O instrumental assenta muito bem a João Couto enquanto vocalista, que está no seu habitat natural neste tipo de canção. É pop bem construída e composta, pronta a ser cantada e desfrutada por muitos.
Luís Trigacheiro revela ‘Peixe Fora De Água’
‘Peixe Fora De Água’ é o nome do novo single de Luís Trigacheiro e o segundo avanço do seu disco de estreia. A faixa foi escrita por Joana Espadinha, que conta que escreveu a canção “depois de ouvir a sua versão do clássico ‘Vocês Sabem Lá’ e achei que lhe assentaria bem“. No fundo, adiciona Joana, ‘Peixe Fora De Água’ é uma canção “sobre a tristeza das novas rotinas, que não impediram que o amor continue a crescer, qual erva daninha que nos vai salvando”.
Nesta sua nova faixa, Trigacheiro abraça um registo mais meloso, quase como que a abraçar a lírica escrita por Joana Espadinha. O grande trunfo de Trigacheiro é a sua voz e ele volta a usá-la em toda a sua extensão aqui, com Joana Espadinha a descrever o artista alentejano como “um intérprete sofisticado que, sem pretensiosismos, conta as histórias com a delicadeza e o respeito que merecem”.
O artista trata, de facto, a música escrita por Joana com respeito e delicadeza, assentando muito bem ao tipo de instrumental – próximo de um folk – aqui apresentado. O intérprete alentejano, sobre a sua nova faixa, indica o seguinte: “Identifico-me bastante com esta música pois considero-me uma pessoa que luta por aquilo que quer mesmo que não consiga, mas, pelo menos, sei que tento e que mesmo que não consiga, sei que estive perto”.
Martim Baginha conta as Histórias do Meu Lugar
Histórias do Meu Lugar é o nome do EP de estreia de Martim Baginha. O curta-duração conta com produção do Aquário Clube e masterização de Tiago Sousa.
Sobre este primeiro projeto, Baginha revela que este lhe surgiu num momento em que sentia que “precisava de recomeçar, depois de uma longa reflexão e avaliação sobre o passado, as memórias dos espaços e das pessoas que me marcaram nos últimos anos”. Histórias do Meu Lugar está recheado de nostalgia, tanto nas suas líricas como na sua sonoridade. Baginha conta as suas histórias, que são elevadas pelos instrumentais que ajudam a que se cria essa sensação de nostalgia.
Neste EP, há influências bastante notáveis da new wave e indie pop, que surgem ao longo das faixas, ecoando também uma certa portugalidade distante nas referências que Baginha efetua nas suas composições. É um trabalho sólido e que consegue atingir todos os pontos que Baginha se auto propõe para recriar o seu imaginário de um passado que, talvez, não esteja assim tão distante quanto isso.
Mimi Froes apresenta o vocal jazz de ‘Petiza’
A compositora e intérprete Mimi Froes apresenta ‘Petiza’, o primeiro avanço de um EP com data de lançamento marcada para o dia 8 de outubro. A faixa conta com contribuição de Manel Oliveira no piano, Rodrigo Correia no contrabaixo e Guilherme Melo na bateria.
“Esta é a canção mais autobiográfica que já escrevi, fala da criança que fui e que ainda sou, mas que vai desbravando caminho e construindo confiança em si mesma“, explica a artista ao portal Forum Estudante. ‘Petiza’ é uma canção suave e bem conseguida, onde o grande destaque é dado à voz de Mimi Froes, que sobrevoa o instrumental fortemente influenciado pelo jazz e bossa nova. No final de contas, o tema é uma cantiga de vocal jazz, com um toque de pop à mistura, que mostra o tipo de contadora de histórias que Mimi Froes deseja ser.
Norton lançam nova versão de ‘Young Blood’ com Filipa Leão
Para celebrar o seu regresso aos palcos, os Norton lançaram uma nova versão de ‘Young Blood’, faixa incluída no seu disco do ano passado, Heavy Light. Esta nova versão, intitulada de ‘Young Blood (Daylight)’, conta a participação da voz de Filipa Leão e de uma nova mistura feita por Eduardo Vinhas.
‘Young Blood (Daylight)’ é um tema de final de verão, povoado por guitarras melosas e distantes, que servem de perfeita almofada para a química entre a voz feminina de Filipa Leão e a voz masculina de Pedro Afonso. Há um bocadinho de Best Youth nesta nova versão da canção, que continua tão orelhuda quanto a original.
São Roque soam delicados em ‘Longe de Nós’
‘Longe de Nós’ é o nome do segundo single dos São Roque, trio constituído por Frederico Andrade (vocais e guitarra), Francisco Andrade (bateria) e João Correia (baixo). Este é também o segundo avanço do disco de estreia do grupo, Roma, que será lançado ainda durante este ano.
Esta é uma cantiga delicada, premiada por uma junção entre um folk minimalista e o indie rock que chega a lembrar The National. É quase cinemática na sua sonoridade, diga-se. A canção fala sobre as dificuldades das relações simples e foi escrita num comboio na Toscana.