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Gisela João
Gisela João | Fonte: Rodolfo Magalhães

À Escuta. Gisela João e Holly, Joana Espadinha e João Couto entre os destaques desta semana

À Escuta, rubrica semanal do Espalha-Factos sobre os lançamentos da música nacional, está de volta e com ela chegam as mais recentes novidades da música portuguesa. Esta semana o destaque vai para a reinvenção de Gisela João pelas mãos de Holly, o monarca e o anfíbio de Joana Espadinha e a sexta-feira de João Couto.

Também falamos de novos trabalhos, como as remisturas do EP de estreia de YAKUZA, a compilação da Discotexas de Mullinex e Xinobi, o regresso de LYFE, o novo single de RIVAthewizard, os novos projetos de R V, rui neves, Pedro Soares e Mr. Gloomy. Ainda falamos do novo EP de Boy Funktastic e a banda sonora de Miguel Sousa.

Holly reinventa ‘Sai Da Herança’ de Gisela João

Um dos produtores portugueses mais aclamados, Holly, decidiu dar um novo brilho à faixa ‘Saia Da Herança’ retirada do novo álbum de Gisela João, Aurora.

A melancolia da melodramática e serena faixa original é absolutamente disfarçada por uma eletrónica reluzente e multifacetada que nos traz à memória nomes como Four Tet ou até mesmo Jamie XX, com umas pitadas de afro sempre a acompanhar, e que bom é ter estas estéticas e influências acompanhadas da performance angelical de Gisela João. O remix de Holly, que é carregado da identidade à qual o artista já nos habituou, traz tanto carácter e beleza a uma faixa que só por si já era bastante satisfatória para quem a ouve.

Catita e veranil, Joana Espadinha traz-nos ‘O Príncipe e o Sapo’

Em ‘Príncipe e o Sapo’ o instrumental funky e jovial faz a cama para uma letra também ela alegre e bem-disposta. Com um refrão cativante, uma energia brincalhona, uma produção tanto doce como bruta e uma letra reconfortante, o novo single de Joana Espadinha é um autêntico indutor de sorrisos.

A ‘Sexta-Feira 13’ de João Couto

Serena, delicada e apaziguadora, são adjetivos que podemos atribuir ao novo single de João Couto. A tímida guitarra serve de base a um arranjo que floresce de requinte e nos mergulha nesta sorte (ou falta dela) do que acontece ao artista neste dia 13. Com um refrão eletrizante, dentro da tranquilidade da faixa, e uma letra repleta de infortúnio, ‘Sexta-Feira 13’ é um tema que não deve ser ignorado e que enche de curiosidade quem anseia este novo álbum de João Couto, Boa Sorte, que tem lançamento marcado para 1 de outubro e apresentação para dia 29 do mesmo mês, no Auditório CCOP, no Porto.

Um reinventar do EP de estreia dos Yakuza

Este EP baseia-se num conjunto de remixes do projeto de estreia de YAKUZA. Aqui os temas transformam-se numa eletrónica groovy e energética, muitas das vezes as faixas originais, apesar de passarem quase despercebidas, continuam a deixar a essência e identidade de YAKUZA que, fundido com esta cativante e hiperativa eletrónica, espoletam numa explosão de temas orelhudos. As remisturas ficaram a cargo de Moreno Ácido, Iguana Garcia, Miguel Torga e Carolina Bernardo.


A label Dicotexas demonstra todo o seu talento na compilação ‘DTX Marks the Spot’

A label portuguesa de música eletrónica dos ilustres Mullinex e Xinobi, lançam aqui uma compilação que ajuda a sintetizar e demonstrar todo o talento presente nesta editora.

Aqui temos de todos os tipos, para todos os gostos, daí o dever desta compilação passar por todos os ouvidos dos amantes do género. Temos da eletrónica mais quente, à mais imersiva, da mais calma, à mais ritmada, algo que não vai faltar nesta compilação é talento e versatilidade. Para além dos produtores supracitados temos também nomes como Da Chick, DJ Vibe, Best Youth, Oma Nata, GPU Panic, Diana Oliveira, entre outros.

A ‘Caipirinha’ de LYFE

O produtor natural de Mafamude, LYFE, regressa com duas calorosas faixas.

Em ‘Caipirinha’, sem surpresa devido ao nome, somos automaticamente “jogados” para a praia de Copacabana (ou qualquer outra das maravilhosas praias Brasileiras), com influências assentes na subtil e delicada Bossa Nova, com pitadas do Boom Bap mais “convencional” e as camadas salteadas de jazz, esta primeira faixa é pura tranquilidade sonora, classificação que também podemos atribuir a Again’. Desta vez o beat é embelezado pelo que parece ser um sample de João Gilberto que atribui tanto carácter e ajuda à afirmação da influência brasileira, as características da primeira faixa prevalecem, porém esta é muito mais apimentada de jazz.

A imobilidade de RIVAthewizard

‘Imóvel’ tem um beat creepy e eerie que acaba por florescer numa caótica explosão de sintetizadores e batidas, que dá espaço a RIVAthewizard de largar, repetidamente, alguns versos que fazem deste single um tanto de ensurdecedor (num bom sentido) como de hipnotizante. Uma faixa com robustos baixos, uma performance robótico e uma batida e estética cyberpunk-ish.

R V traz-nos Instrumental Songs To Listen To While Driving Slow In Short Routes

À semelhança do seu projeto da semana passada, aqui os nomes das faixas também só diferem por poucas letras, algo que contrasta com a forma como todas estas faixas se diferenciam. Ao contrário da semana passada, em que fomos brindados com uma eletrónica irrequieta e agitada, em Instrumental Songs To Listen To While Driving Slow In Short Routes, que parece ter o seu objetivo bem explicito no título, podemos apreciar o abstrato presente nestas faixas experimentais que vão desde a eletrónica rítmica e submersa, até aos arranjos mais avant-garde. O projeto é tão rudimentar como inovador, é versátil e a peculiaridade de certas faixas fazem deste trabalho uma experiência bastante interessante.

R V demonstra mais uma vez como manter um ouvinte intrigado ao ponderar no que pode surgir a seguir.

Rui Neves apresenta Simillar

O drone e dark ambient juntam-se a algum jazz tímido e requintado e chega-nos pelas mãos de rui neves. Com uma atmosfera densa assente num tom cinemático que deixa respirar e dá espaço às percussões, é difícil não nos deliciarmos com este projeto. É escuro, dramático, aterrador e acolhe o ouvinte como se de um abraço se tratasse.

O ambiente junta-se ao experimental e à clássica neste novo projeto, Forest Glade, de Pedro Soares

São faixas interessantes, têm tanto de submersas como de ritmos e sons pouco convencionais. Passamos de faixas mais rupestres e misteriosas para êxtases de tranquilidade e harmonia. O projeto é consistente e bastante versátil, conseguindo variar entre tons e energias com mais ou menos brilho e que fazem de Forest Glade uma boa experiência tanto para os fãs de ambiente como para quem o quer descobrir ou simplesmente para quem deseja descontrair ao som destes abstratos pianos e sintetizadores.

Mr. Gloomy e The Regression Tapes, Vol​​​​​.​​​​​10: That Time I Gave You, I Need It Back

Ouvir o novo trabalho de Mr. Gloomy, é um autêntico mergulho numa eletrónica imersiva que tantos nos assombra como nos conforta e nos brinda com momentos eletrizantes como é o caso da faixa ‘Can We Start Again’, que acaba por ser confusa quando tentamos categorizar o género. Muito do que se ouve tem um nível impressionante de produção para um projeto tão enigmático e independente. É uma boa experiência para quem se aventurar a perder neste mergulho eletrónico imersivo.

Boy Funktastic e o EP ‘PSI’

Ligeiramente psicadélico, como a própria capa indica, e lançado pela minhota Far Down Records, Boy Funktastic chega com o EP PSI.

É groovy e tem influências que nos injetam uma certa nostalgia trazida pelos sintetizadores e pela energia funky. É calmo quando tem de ser calmo e agitado quando precisamos de ritmo, tudo isto feito sobre uma produção raw e com a entrega de melodias confortantes.

A soundtrack de Esta Noite Abriu​-​me os Olhos pelas mãos de Miguel Sousa

Este projeto, nada mais é que um conjunto de três faixas composto por Miguel Sousa para uma curta-metragem do mesmo nome com argumento e realização de Tomás Mateus e Bernardo Naia. O doce e simples Indie Rock assenta na perfeição com a história de Kiko, um jovem skater que guarda um segredo acerca da sua sexualidade. Nenhum dos temas é muito arrojado, mas é eficaz naquilo que transmitem, e mesmo sem ver o filme, através destas faixas conseguimos delinear e prever a possível energia e atmosfera que terá.