Luca é o mais recente filme da Pixar que estreia esta sexta-feira na Disney+. O Espalha-Factos já teve a oportunidade de assistir à longa-metragem animada e diz-te o que achou.
Luca é um monstro marinho adolescente, curioso por descobrir o mundo terrestre. Quando conhece outro monstro da sua idade, Alberto, que lhe revela que, em terra, se transformam em humanos, os dois fogem para uma pacata vila piscatória italiana. É lá que conhecem a irreverente Giulia e formam um grupo para ganhar uma prova de triatlo e derrotar o bully da vila.
Depois de alguns filmes mais ambiciosos e existencialistas, a Pixar regressa aqui a uma história mais simples. No entanto, Luca também aborda temas familiares como a amizade e a luta pelos nossos sonhos. Será que vale a pena fazer esta viagem a Itália?
Sou teu amigo, sim
O ponto mais forte de Luca são as personagens. O protagonista titular, Alberto e Giulia são um trio maravilha com personalidades distintas, mas que se complementam na perfeição. Luca é o curioso de coração puro que tem sonhos infinitos. Alberto é uma espécie de irmão mais velho do grupo, desenrascado, confiante e leal. Giulia é a criança estranha da vila que finalmente encontra uma dupla que lhe pode fazer companhia na exclusão.
A narrativa tem um objetivo claro: vencer a prova de triatlo. No entanto, se este filme fosse apenas hora e meia destes três traquinas a brincar e a divertirem-se durante o verão italiano, o espetador ficaria igualmente entretido. É uma amizade forte, credível e que nos dá vontade de também estar lá com estas personagens, ao estilo de um Tom Sawyer.
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Cada uma das personagens deste trio tem também um motivo diferente para querer ganhar a competição, que neste artigo não serão revelados. Todos fazem sentido, todos permitem a evolução das personagens, que culmina quando o filme chega ao fim, e a todos é dada a atenção do argumento brilhantemente escrito.
Como qualquer amizade, há momentos de tensão e discussões. Luca evita cair nos clichés frustrantes e previsíveis. Pelo contrário, o confronto não tem um lado certo e outro errado, não tem base na maldade, mesmo que provoque mágoa, e acaba por ser resolvido com uma maturidade surpreendente.
As restantes personagens também merecem menção. Os pais de Luca são a dupla cómica do filme, sem deixar de dar uma âncora emocional ao protagonista. O pai de Giulia é um gigante de coração mole, com um dos gatos mais carismáticos da Disney. E o vilão é um bully simplista e insuportável. Sim, a Disney tem criado antagonistas com mais complexidade nos últimos tempos, mas às vezes o que um filme precisa é de uma figura fácil de detestar e que ansiamos por ver punida.
Tudo isto graças a um elenco de luxo, que conta com estrelas como Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Maya Rudolph e Jim Gaffigan. Há também performances ótimas da novata Emma Berman e dos experientes Saverio Raimondo e Marco Baricelli.
Sonhos animados
A amizade é a base de Luca. Contudo, também há um grande foco na vontade de realizar os nossos sonhos. A personagem principal do filme tem tendência para se apagar da realidade e entrar em sequências imaginárias, geralmente relacionadas com o que acaba de descobrir ou ambicionar.
Estes momentos resultam, em parte pela criatividade dos visuais, e também graças à animação mágica a que a Pixar já nos habituou há muitos anos. E a recriação dos sonhos de Luca talvez resulte tão bem por causa de quem está por trás do filme. Enrico Casarosa, veterano de produções Pixar, faz a sua estreia na escrita e na realização e prova que é um grande talento do cinema. Para além de trazer genuinidade à história, devido às experiências reais da sua infância que inspiraram o filme, a arte de Luca bebe do folclore italiano, das obras de Federico Fellini e dos desenhos de Hayao Miyazaki.
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A banda sonora é o ponto menos impressionante do filme. Cumpre o papel e passa relativamente despercebida, sem nunca maravilhar ou melhorar algum momento específico da longa-metragem.
Para fãs das produções mais profundas da Pixar, como Inside Out, Toy Story e o mais recente Soul, Luca poderá parecer um regresso a uma narrativa mais simples. Não se tenta descobrir o significado da vida nesta aventura italiana, ou responder a temas fraturantes dos dias de hoje (apesar de haver uma clara alegoria sobre aceitar a diferença dos outros). O filme não tem de o fazer e funciona muito bem assim, porém pode desiludir alguns espetadores.
Independentemente das expetativas à entrada, é impossível não sair de Luca com um sorriso na cara (e talvez algumas lágrimas a espreitar pelo canto do olho). É um conto doce sobre a simplicidade e, simultaneamente, a complexidade da infância, das amizades que colecionamos pelo caminho e os sonhos que partilhamos com quem nos é mais próximo, mesmo que o caminho até eles nos afaste desses laços.
Luca é sobre os amigos que nos fazem sonhar e Luca é também um filme que fará toda a família sonhar. Como só a Pixar consegue.