Nesta edição do À Escuta, a rubrica semanal de lançamentos musicais do Espalha-Factos, celebramos o grande fadista Carlos do Carmo ao destacar E Ainda…, o seu álbum póstumo. Mas esta boa nova não chegou sozinha – a semana está recheada de belíssimos discos, como os de Minta & The Brook Trout, Murais, Vasco Completo, Andrage e João Tamura ft. Beiro; e de novos singles e canções, como é o caso de Yagmar e Iguana Garcia. As colaborações também marcaram presença: Gohu juntou-se a Tainá e Um Corpo Estranho a A Garota Não, e Mirai e Domi também formam par em ‘Toque’.
E Ainda…: história e simbolismo no álbum póstumo de Carlos do Carmo
Composto apenas por temas inéditos, E Ainda… foi gravado ao longo de três anos, “fruto da intuição e da certeza de quem ainda tinha fado e poetas por cantar“. Nove canções integram este disco carregado de história e de carga simbólica, no qual Carlos do Carmo canta, pela primeira vez, Sophia de Mello Breyner e Herberto Hélder, e dá voz a outras personalidades da cultura portuguesa como Mia Couto, José Saramago, Júlio Pomar, Vasco Graça Moura e Jorge Palma.
Algumas canções do disco já eram conhecidas pelo público, como ‘Mariquinhas.com‘, que foi apresentada no concerto de despedida dos palcos de Carlos do Carmo a 9 de novembro de 2019, concerto onde lhe foi concedida a chave da cidade de Lisboa. Em E Ainda… participam nomes como Victorino D’Almeida, Mário Pacheco, Paulo de Carvalho e José Manuel Neto, todos colaboradores frequentes e grandes amigos do fadista.
Lê também: De Buarque a Pink Floyd. Reveladas as “canções de vida” de Carlos dos Carmo
Carlos do Carmo fechou com E Ainda… o ciclo musical da sua carreira. Todas as canções são igualmente marcantes, mas ‘Canção De Vida‘ salta à vista. Nela, o fadista faz uma incursão pela sua vida e conclui que “Mais tarde valorizamos a inocência/ E o que dela resta em nós/ Mais tarde temos plena consciência/ De que o final é sempre a sós“.
Demolition Derby, o novo disco de Minta & The Brook Trout
Demolition Derby é um nome curioso para um disco tão bonançoso. Nos Estados Unidos, trata-se de um desporto, corrida automobilística na qual os carros estão gravemente danificados. Para Francisca Cortesão, voz principal por trás dos Minta, a “essência do desporto remete para a vida“. O novo disco do grupo formado por Francisca, Margarida Campelo, Mariana Ricardo e Tomás Sousa oferece desaceleração – a calma que a voz traz sacia mas, por trás dela, revelam-se letras preenchidas por melancolia. Os Minta explicam em comunicado: “Com uma certa tristeza contínua que sinto com a justaposição da emergência climática e a quantidade enlouquecedora de objetos inúteis que são produzidos, vendidos e deitados fora todos os dias apesar dela. E, se calhar acima de tudo, com os corações partidos que não resistem a voltar à corrida, por muito que saibam que a probabilidade de saírem de lá mais espatifados ainda é, inevitavelmente, alta.”
“Apocalípticas”. Essa é uma das palavras que Francisca usa para caracterizar o conjunto de canções que apresenta em Demolition Derby. Se em ‘Easy‘, a primeira faixa do disco, calcula-se um futuro esperançoso, ‘Neighbourhood’ arrebate na revisitação do passado e das inevitáveis feridas da memória. Mas Minta também tem sido conselheira. Se, em 2016, nos dizia para “take it slow/ learn to let it go“, em 2021 provoca catarse e orienta-nos. “Make your peace with whatever you feel“.
O concerto de estreia de Demolition Derby terá lugar no dia 24 de maio no Teatro Maria Matos, em Lisboa.
MURAIS apresenta disco homónimo
Dez canções sem pretensões. É isso que propõe Hélio Morais com o novo disco homónimo do seu projeto a solo, MURAIS. É a primeira vez que o músico dos PAUS e Linda Martini se aventura a solo, e foi a partir do piano que o caminho se foi trilhando. “Sou uma nódoa a tocar guitarra, mas o piano é meio percussão meio cordas“, contou ao Público. MURAIS é um projeto transatlântico: conta com a produção de Benke Ferraz, guitarrista da banda brasileira Boogarins.
Com MURAIS, Hélio afasta-se do rock pesado que caracteriza ambas as suas bandas, viajando por caminhos mais alternativos em canções como ‘Marialva‘ e ‘Acordadx‘, com uma batida marcadamente eletrónica, e mergulhando no jazz em ‘Dentes Afiados‘. O disco será apresentado ao vivo a 1 de junho no Teatro Maria Matos, em Lisboa, no dia 4 de junho em São João da Madeira, a 5 de junho no Porto e no dia 6 do mesmo mês em Coimbra.
Wormhole é o disco de estreia de Vasco Completo
Vasco Completo, membro do coletivo Monster Jinx, edita o seu primeiro disco em nome próprio sob o selo do mesmo coletivo. Com sete faixas, Wormhole é uma belíssima obra de ambient e lo-fi que explora, sobretudo, a subjetividade do tempo. “É a minha visão e o meu sentimento relativamente a uma fração do tempo, a uma questão que o tempo me põe a mim (ou eu ao tempo). E acho que, em termos de sons, isso se reflete, a minha tentativa de explorar alguns desses conceitos através do som, em técnicas com os delays ou com reverb“, contou em entrevista à A Cabine.
A masterização do disco foi levada a cabo por M.A.F, e Carolina Caldeira canta na única canção com voz, ‘Lullaby for the Innebriate‘. J-K e João Tamura também deram uma perninha na remasterização de ‘35mm‘. O disco está disponível nas plataformas digitais e em vinil.
Groove e uma pitada de rock clássico marcam o disco de estreia de Andrage
Os Andrage são Margarida Marques, Daniel Gouveia, Humberto Dias , João Heliodoro, José Rego e Pedro Campos, e revelaram o primeiro longa-duração da carreira esta semana. Depois dos singles ‘Stuck‘, ‘Sign‘ e ‘Getting Wild‘, dão a conhecer o disco homónimo que mistura as várias influências que inspiram o tom groovy da banda. Desde King Gizzard & The Lizard Wizard a Led Zeppelin e Fleetwood Mac, os gostos deste sexteto cruzam-se sem choques, culminando em Andrage, um disco cheio de energia revitalizante. A voz poderosa de Margarida Marques dá o mote para as guitarras ostensivas e o trompete que nos brinda sempre.
De ‘Getting Wild‘ a ‘Somebody, Some Body‘, os Andrage fazem uma viagem do jazz ao rock clássico, nunca perdendo o vigor que instauram na primeira nota do disco. O álbum foi gravado no Black Sheep Studio, em Sintra, com o apoio de Bruno Xisto, que ficou a cargo da masterização. Andrage chega ao público com selo da agência discográfica Throwing Punches.
Homem Severo é o primeiro disco dos Yagmar
Preparado ao longo de 2020, Homem Severo é o primeiro disco dos Yagmar (“You Actually Gave Me A Ride”). A entrada no ano novo traz a esperança de tempos menos difíceis e deu-nos a conhecer os oito temas que, no fundo, se adequam “ao homem severo“. Homem Severo é o sucessor de Amargo, o segundo EP da banda e, desta feita, mistura rock alternativo com batidas africanas, alternando entre um punk mais pesado e canções mais amenas.
‘Coisas Más‘, ‘Judas‘, ‘Mítica Luz‘ e ‘Homem Severo‘ são os singles que compõem Homem Severo, dados a conhecer pelos Yagmar ao longo do ano passado.
‘Mátrix da Pátria‘ é o mais recente avanço de Iguana Garcia
Após ‘Tarraxo do Animal Doméstico‘, os Iguana Garcia apresentam o single ‘Mátrix da Pátria‘. A banda caracteriza a canção como “uma ode às dissonâncias harmoniosas de uma pista de dança, música etérea num ensaio futurista, que cada vez mais parece motivar o jovem lisboeta”. A canção faz parte do terceiro EP da banda, Ilha da Iguana, com edição prevista para o primeiro semestre de 2021.
A Garota Não junta-se a Um Corpo Estranho em ‘Mavorte‘
A dupla de Setúbal composta por Pedro Franco e João Mota, conhecida pelo nome Um Corpo Estranho, tem novo single: ‘Mavorte’. Para acompanhá-los nesta canção, convidaram a também setubalense Cátia Mazari Oliveira, mais conhecida como A Garota Não. ‘Mavorte‘ tem como mote vivências passadas, o autoperdão e a superação. O grande lema da canção ecoa: “E se o amor não chega/ Nada vai chegar”.
A canção vem acompanhada de um videoclipe realizado por António Aleixo.
João Tamura e Beiro apresentam, com várias colaborações, Osso de Prata
Osso de Prata é um disco feito a quatro mãos por JoãoTamura e Beiro. É o disco de estreia desta dupla e conta com várias participações ao longo das suas doze canções – xtinto, Pedra, Chek1, Keso, ZA e Maudito emprestam as suas vozes às canções e MVTILDE, Pedra, Holly e Catraio dão apoio instrumental e de produção.
O objetivo de Ossos de Prata é criar uma paisagem sonora onde a escuridão e a sombra causam inquietação. As melodias e batidas cortantes, pensadas por Beiro, e as palavras do rapper João Tamura encontram-se num perfeito equilíbrio permitindo, precisamente, que essa paisagem ganhe asas para voar.
Mirai e Domi formam par em ‘Toque‘
‘Toque‘ é o novo single de Mirai, artista, fenómeno no Twitter e cocriador do movimento SHIN SEKAI, com Lostnot. Para esta canção, junta-se ao rapper Domi, conhecido por canções como ‘Pensando Leve‘, que chegou ao primeiro lugar das trends em Portugal. Por sua vez, Mirai também tem conquistado terreno no panorama do hip-hop português tendo uma das suas canções, , inclusivamente, integrado a banda sonora da coleção Primavera/Verão 2021 do designer João Magalhães na ModaLisboa.
Gohu e Tainá apresentam ‘Nesga de Sol‘
A primavera lisboeta merece ser celebrada. E é precisamente isso que Gohu e Tainá fazem em ‘Nesga de Sol’. Gohu (Hugo Vieira) é português mas vive no Brasil, ao passo que Tainá é brasileira e vive em Portugal. O amor pelo característico céu azul português juntou-os nesta empreitada, levada a cabo por intermédio da internet. Em ‘Nesga de Sol‘, o par louva o poder regenerador do sol e os encontros sociais por ele consentidos.
O primeiro single de Gohu, ‘vai ficar fixe‘, já conta com mais de 200 000 visualizações e foi considerado “o hino da quarentena‘ pela MTV. Tainá também tem feito sucesso em solo português e foi uma das concorrentes do Festival da Canção com ‘Jasmim‘. ‘Nesga de Sol‘ é, assim, “um abraço transatlântico”.