A cantora e fadista Ana Moura anunciou, esta segunda-feira, a decisão de abraçar uma carreira musical independente, desvinculando-se da editora Universal Music Portugal e da agência Sons em Trânsito.
Através de um longo texto publicado nas redes socias, Ana Moura admitiu uma “necessidade de mudança para seguir um novo caminho”, aproximando-a como nunca dos seus fãs, que terão a oportunidade de “participar sobre os direitos de parte” das músicas da artista através de NFT’s.
“O que eu sempre mais quis e senti que podia fazer, dando algum contributo a este mundo, foi cantar”. É desta forma que a fadista, cujo último álbum, Moura, foi publicado em 2015, começa por esclarecer a mudança. O sonho apenas “foi possível porque, para além de todas as pessoas que me têm seguido, estive rodeada de gente excepcional, infatigável, competente que acreditou em mim e que se disponibilizou para me acompanhar e ajudar”, garante.
No entanto, e apesar do agradecimento aos editores, menager e a todos aqueles que consigo trabalharam, a artista explica que “desde o início desta caminhada, a minha carreira tem sido gerida e trabalhada por entidades e pessoas que, de forma muito profissional e apaixonada, mediaram a minha relação com o público”. E é aqui que está a chave para compreender a mudança radical aos 41 anos; Ana Moura quer estar mais próxima de quem a ouve.
Uma nova abordagem
Apesar do reconhecimento profundamente associado ao fado, Ana Moura nunca deixou de estar ligada ao universo pop-rock, tendo inclusivamente já subido a palco com os Rolling Stones, Benjamin Clementine e Prince, que homenageou seis meses após a sua morte, num espetáculo nos EUA que contou com atuações de Chaka Khan, Stevie Wonder e John Mayer. Ao Expresso, diz que “quando temos sucesso querem à força engavetar-nos. Dizem-nos: ‘tu és isto’. E isso pode ser uma prisão”.
Nos últimos discos, essencialmente de fado, não dispensou temas em inglês e o uso de instrumentos pouco associados ao género na sua mais tradicional forma. No final do mês passado lançou, com Branko e Conan Osíris, o videoclip do tema ‘Vinte-Vinte’, em jeito de funeral a 2020. No dia 30 lança um tema novo, ‘Andorinhas’.
A diversidade musical que nos últimos anos tem cimentado as opções artísticas da fadista culmina agora, “após muita reflexão”, na “necessidade de mudança para seguir um novo caminho que quero que seja mais direto entre mim e vocês e onde todos possam participar diretamente em todos os aspetos da minha carreira“.
O objetivo passa por agregar o público em todas as questões relativas à atividade profissional de Ana Moura, como “nos direitos das músicas, nas digressões e em tudo o que está por vir”. A cantora confessa que sempre sonhou com a hipótese, que agora se concretiza, pois “há um novo mundo digital que possibilita esta relação direta”.
“E eis o que vos proponho”
Com a disseminação da tecnologia, em particular das redes sociais, o “público tem um papel muito mais ativo na carreira dos artitas, tendo efeito direto e imediato, através das suas escolhas, nos seus percursos”. Neste sentido, Ana Moura sente que é importante inovar, “utilizando todos os meios que a Internet e a tecnologia oferecem para nos aproximar, nomeadamente os NFT’s (Non-Fungible Token)”. O conceito digital, ainda pouco conhecido mas que começa a ganhar seguidores pelo mundo, permite aos artistas valorizar o seu trabalho através do blockchain.
A cantora pretende que todos partilhem o seu processo e sucesso, desde a conceção até aos possíveis resultados. “O mais perfeito exemplo disso será a emissão de um NFT que acontecerá antes do lançamento do meu novo single no fim de abril”, continua. Assim, os fãs terão a oportunidade de participar sobre os direitos das suas músicas, “que já são vossas quando se tornaram a música do vosso casamento, a música de amor entre o neto e a avó, a música que vos reconfortou num momento mais triste ou que vos elevou dando esperança e força”.
Ana Moura deixa assim a Universal Music Portugal, uma das maiores editoras nacionais, pertencente ao Universal Music Group, que pelo mundo gere nomes como Queen, Lady Gaga, Eminem, Elton John ou Billie Eilish. A artista abandona também a Sons em Trânsito, com quem colaborava há 12 anos, e que agencia artistas como Pedro Abrunhosa, Gisela João, Mayra Andrade, Valete ou António Zambujo.
Em pouco mais de uma década, Ana Moura conquistou 16 discos de platina, incluindo o mais vendido da década, Desfado, dois Prémios Amália, três Globos de Ouro e a Comenda da Ordem Infante D.Henrique, com que foi condecorada em 2015. A partir de agora, a cantora adota um caminho independente na música.
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