Mais uma semana, mais uma edição do À Escuta, a rubrica semanal do Espalha-Factos que pretende divulgar a música portuguesa aos seus leitores. Nesta edição, dá-se destaque aos novos singles de Minta & The Brook Trout, Xinobi e Rita Onofre, mas há muito mais a explorar numa semana muito forte em termos de lançamentos.
Há, ainda, para audição, novos discos de Dream People, Frankie Chavez e da estrutura de produção artística Mascarenhas-Martins, e novos singles de Churky, DARKSUNN, Fábia Rebordão, himalion, Jasmim, MARTA, Miguel Marôco, Razy, Septeto Interregional e Vicente.
A suavidade em ‘Matador‘, novo single de Minta & The Brook Trout
‘Matador’ é o primeiro single do quarto álbum de originais de Minta & The Brook Trout, banda fundada por Francisca Cortesão (voz, guitarra elétrica e acústica) e composta por Mariana Ricardo (baixo e voz), Margarida Campelo (piano, piano elétrico, sintetizador e voz) e Tomás Sousa (bateria e voz).
Sobre a faixa, Francisca Cortesão refere que esta foi “primeira das músicas a ser escrita para o disco” e que esta partilha muito dos assuntos que são alheios ao próximo trabalho da banda: “paisagens artificiais, a relação com a passagem do tempo, autoilusões e desilusões e, finalmente, uma tentativa de fazer as pazes com um certo tumulto interior.”
Suave na sua composição e desenvolvimento, e em momentos a lembrar algumas das composições dos Death Cab for Cutie ou Wilco, ‘Matador’ é bela e deixa com apetite bem aberto para o que virá para o resto do novo disco do grupo. Demolition Derby tem data de lançamento marcada no próximo dia 16 de abril.
‘If You Want It’ é a primeira faixa nova do revisitar de Xinobi a On the Quiet
Quatro anos depois de lançar On the Quiet, um dos discos mais emblemáticos da sua carreira, Xinobi decide revisitá-lo, trazendo com ele instrumentais originais de todas as músicas e mais quatro novas faixas – a primeira delas dada a conhecer esta semana.
Intitulada de ‘If You Want It’, a faixa foi escrita na mesma sessão das gravações originais. Com uma energia punk irreverente, pronta para arrasar pistas de dança quando tal possível, ‘If You Want It’ é uma faixa que retira bastantes elementos à house, com a sua groove infindável. Há toques etéreos adicionados à música que lhe confere um tom muito mais complexo que uma música faixa de house – não que house seja alguma vez simples de interpretar.
Esse toque etéreo que vai surgindo ao longo da faixa confere um toque de nostalgia, que rapidamente é coberto pelos sintetizadores e drum machines que nos levam a dar o próximo passinho de dança. A reedição de On the Quiet tem data de lançamento marcada para o próximo dia 14 de maio.
Rita Onofre revela-se em maior esplendor em ‘Talvez Tenhas’
‘Talvez Tenhas’ é o novo single de Rita Onofre, que fará parte do EP de estreia da artista, com data de lançamento marcada ainda durante este ano. A faixa conta com produção de Choro.
Contando com influências de pop progressiva na criação do instrumental, a fazer lembrar um pouco Kate Bush, ‘Talvez Tenhas’ é uma faixa sonhadora, onde a voz de Rita brilha alto. O refrão da música é orelhudo e revela uma faceta mais aventureira de Rita Onofre para a sua música, que, depois de ter aparecido em ‘Lugar Nenhum’, aqui revela-se em maior esplendor.
‘mapa’ marca o início de um novo ciclo para Churky
Diogo Rico é Churky e ‘mapa’ é o nome do novo single do artista da Arraial. A faixa conta com colaboração de Diogo Pedro no coro e trompete, Paulo Bernardino no harmonium, Miguel Alves na tuba e André Ramalhais no trombone.
‘mapa’ marca o início de um novo ciclo para o cantautor português, que se estreou em 2019 com o disco É, depois de ter vencido o EDP Live Bands do mesmo ano. “‘mapa’ foi a primeira canção que escrevi quando voltei ao estúdio. Assim que montei o equipamento todo, sentei-me na bateria e fui construindo toda a história com outros instrumentos. No fim de gravar tudo, chamei alguns músicos para gravar as linhas de sopro que eu já tinha escrito”, revelou o artista.
A música é marcada pela percussão intensa e dinâmica, a fazer lembrar a música popular portuguesa. Os instrumentos de sopro vão rompendo pela paisagem sonora, e a guitarra vai-se associando ao ritmo da percussão, certificando que a influência da música popular portuguesa está aqui bem presente. Os Diabo na Cruz são talvez a comparação mais apta aqui, com vários momentos em ‘mapa’ a fazer lembrar a muito saudosa banda de Jorge Cruz. A voz de Churky é suave e faz chover pingos de nostalgia por toda a música, e cria ainda melodias belas e harmoniosas com o seu coro. Um primeiro single sólido para abrir uma nova fase na carreira do artista de Alcobaça.
A carta de amor de DARKSUNN a ‘almada’
DARKSUNN está de regresso com o primeiro avanço do seu próximo álbum, Almada Velha, um trabalho que pretende ser uma carta de amor à sua cidade. É precisamente essa cidade que dá o título a este single: ‘almada’.
A nova faixa do membro fundador do coletivo Monster Jinx releva – mais uma vez – que um produtores mais respeitados do underground português continua com as skills intactas e pronto a surpreender quando assim o deseja. Viajando por influências de jazz, hip hop, eletrónica e fado, ‘almada’ é uma faixa que ecoa uma certa portugalidade, mas que se revela dissonante, distante e nostálgica, como se tratasse de um genérico de apresentação de algo – neste caso, da cidade, de Almada.
A melhor forma de apresentar a faixa e a sua junção eclética de sons seria da seguinte forma: se Madlib ouvisse ‘almada’, com certeza daria o seu selo de aprovação. A forma como DARKSUNN trabalha samples e como este se revela um mestre da exploração de vários sons que, à partida, não têm muito em comum, mas que aqui parecem encontrar o seu habitat natural. Veremos o que esta homenagem a Almada nos trará mais, mas por agora, já fomos introduzidos às ruas da Margem Sul com muita classe.
‘Rumo ao Sul’, o novo single de Fábia Rebordão
‘Rumo ao Sul’ é o novo single de Fábia Rebordão. É o primeiro avanço daquele que será o seu próximo longa-duração. A faixa conta com música de Carlos Viana e letra de Jorge Fernando.
De acordo com a artista, ‘Rumo ao Sul’ “representa o álbum“. “É a história de alguém que está farto da vida que tem, que não quer voltar para o sítio de onde vem, mas que, ao mesmo tempo, não se sente com forças para sair.“, conta a artista. A faixa é marcada pela imensa voz da fadista, que se eleva pelo meio de um instrumental que junta o fado à pop. O novo disco de Fábia Rebordão sairá ainda durante este ano.
A beleza hipnotizante do novo disco dos Dream People
Almost Young é o nome do novo EP dos Dream People, banda lisboeta constituída por Francisco Taveira (voz), Bernardo Sampaio (guitarras e synths), Nuno Ribeiro (guitarra e synths), João Garcia (baixo) e Diogo Teixeira de Abreu (bateria). Em entrevista ao Espalha-Factos, a banda contou que “este disco é uma reflexão sobre sair da juventude“. Este é um sentimento que ecoa, de forma predominante, pelas letras e instrumentais do sucessor de Soft Violence, ora de forma mais nostálgica e melancólica, ora mais energético. Está lá, constantemente.
Mantendo a sua estética associada à dream pop, em Almost Young os Dream People exploram outras influências musicais, como a new wave (‘People Think’) ou o slowcore (‘Almost Young’). Os instrumentais são grandiosos e minuciosamente construídos, apresentando composições arrojadas e altamente dinâmicas em termos de como evoluem. Há sintetizadores etéreos, guitarras que se multiplicam, como camadas de sonho cheias de reverb, por entre a produção espaçosa e limpa que faz cada elemento da música, por mais pequeno que seja, brilhar e sobressair. Há, até, espaço para solos estridentes e calculados, carregados de efeitos, que relembram mais shoegaze do que a dream pop.
E se o clímax de ‘Almost Young’ não for dos momentos mais belos da música portuguesa de 2021, o que é que será? Os Dream People já tinham mostrado um bocadinho do seu potencial com os seus lançamentos anteriores, e em Almost Young a banda cumpre o seu potencial. Só podemos agora esperar para ver qual será o próximo passo, porque sentimos que este trabalho não será ainda a sua evolução final.
Para celebrar o lançamento do disco, no próximo dia 14 de março, às 21h30m, haverá uma listening party em livestream no Facebook dos Dream People, com conversa com os vários elementos da banda, convidados surpresa, passatempos e, obviamente, audição do disco. O host será José Raposo da Arte-Factos.
Live at Home, o disco ao vivo “confinamento style” de Frankie Chavez
“Cru, a la «confinamento style»“. É assim que Frankie Chavez descreve o seu novo lançamento, Live at Home, um conjunto de gravações de um concerto que o artista realizou online.
Frankie Chavez é dos melhores guitarristas portugueses, e em Live at Home, há muito espaço para este mostrar os seus dotes. O seu dedilhar das cordas vai desfilando pelas faixas, evocando influências da americana como Ry Cooder ou Bob Dylan, seguindo acompanhadas da sua voz, bela e crua, capaz de nos fazer viajar por planícies desérticas imensas.
Ao percorremos essas planícies, percebemos que Live at Home mostra como um artista do calibre de Frankie Chavez consegue brilhar mesmo quando presentado com condições que não são as mais ideais para tal acontecer. É um pequeno presente para os fãs do artista, e que aquecerá, com certeza, os corações destes.
himalion aproxima-nos da primavera com ‘Kaleidoscope’
A construção de BLOOMING, longa-duração de estreia de himalion, projeto musical de Diogo Sarabando, continua a acontecer a cada passo. ‘Kaleidoscope’ é o nome do novo single do artista aveirense. Paisagens primaveris pautaram os singles anterior de himalion, e o folk de ‘Kaleidoscope’ não é diferente.
A forma como a atmosfera é criada pelos instrumental da faixa transporta-nos para uma floresta. À medida que as guitarras vão surgindo e desaparecendo, a linha de baixo suave e os sintetizadores etéreos vão pautando a atmosfera, por onde a voz de Diogo surge, encantadora, capaz de fazer os verdes dessa floresta surgir, como se a primavera estivesse finalmente a aparecer. E, felizmente, para nós, a primavera está quase aí. BLOOMING tem data de lançamento marcada para o próximo mês de maio.
A velada homenagem a Walt Whitman de Jasmim em ‘Tudo/Nada’
‘Tudo/Nada’ é o nome do novo single de Jasmim. É o segundo avanço para o próximo longa-duração do artista. Intitulado de Acordado ou a Sonhar, o disco tem data de lançamento marcada para o próximo mês de abril.
Descrita pelo artista como sendo um tema “sobre a capacidade de encontrar beleza nas pequenas coisas do dia a dia“, ‘Tudo/Nada’ é uma faixa encantadora e sonhadora, carregada de melancolia e saudade, onde a voz de Jasmim brilha por entre acústicas minimalistas e sintetizadores etéreos. A faixa é, também, uma velada homenagem a Walt Whitman, um dos poetas favoritos do cantautor.
A libertação de MARTA em ‘Give It To Me’
MARTA é o nome artístico pelo qual se apresenta Marta Oliveira e ‘Give It To Me’ é o nome do seu single de estreia. O tema fará parte do alinhamento do seu disco de estreia, intitulado de Montebello.
‘Give It To Me’ é uma faixa extremamente eclética, que tanto retira ao funk, com a sua linha de baixo extremamente groovey e as linhas de guitarra que vão surgindo, à neo-soul, com a interpretação vocal poderosa de Marta, e ao hip hop, com os scratches que marcaram os anos iniciais do género a aparecerem regularmente ao longo da faixa.
É uma faixa dançável, extremamente orelhuda, e que nos alerta para aquele que poderá ser um dos projetos mais interessantes a ser lançado dentro do contexto da pop portuguesa de 2021. A faixa conta com colaboração de Gonçalo Fidalgo (guitarra), Marco Santos (teclado), Eduardo Santos (trompete), Ricardo Fidalgo (baixo), Gonçalo Salta (bateria e programação) e Disca-Riscos (scratch), tendo sido produzida por Colin Girod.
Terrível Estado: o disco mui interessante da Mascarenhas-Martins
Terrível Estado é o nome do projeto de estreia da Mascarenhas-Martins, uma estrutura de produção artística fundada em 2015 no Montijo. Dirigido por Maria Mascarenhas e Levi Martins, a estrutrura tem desenvolvido trabalhos de criação artística e acções culturais complementares, tendo produzido espectáculos de teatro, documentários, livros, organizado conversas e concertos.
Contando com letras de Miguel Branco e música de André Reis e Levi Martins, Terrível Estado conta com, ainda, colaboração de Afonso Pacheco, Diogo Sousa, Inês Monteiro Pires, João Ferreira Gomes e Sérgio Crestana para a criação do disco. Com influências de rock português bem pautadas, mas também da música tradicional do nosso país, Terrível Estado revela-se uma viagem por situações do dia a dia na sua lírica. Estas são cantadas e contadas com um toque de humor inesperado para um álbum, mas que assenta a tragédia sobre a qual se vai cantando. Uma tragédia dos tempos atuais, em que a esperança às veze surge distante, e em que mais vale cantarolar para ignorar o estado das coisas.
É algo inesperado, mas bem vindo, encontrar este tipo de humor num disco, sendo mais expectável que surja numa peça de teatro, e isto não é ao acaso. “É um disco, mas podia ser um espectáculo, um livro, aliás, já deve ter estado nos nossos livros e nos nossos espectáculos e nas nossas conversas adiadas.“, é escrito na nota enviada à imprensa. Um disco muito bem trabalhado em termos de instrumentais e em termos de lírica, e que se vai revelando de forma progressiva a cada música, encantando-nos nesse caminho bem pautado.
Miguel Marôco faz ‘Contas à Vida’
Pouco depois de concluir a sua partição na edição deste ano do Festival da Canção da RTP, como um dos dois autores apurados pelo concurso de livre submissão, Miguel Marôco aproveita o momento e lança o seu novo single, ‘Contas à Vida’.
Composta e escrita pelo próprio, ‘Contas À Vida’ é uma faixa marcada pelas suas guitarras melosas, ora mais estridentes, ora menos. Contando com uma componente rítmica fortalecida, os sintetizadores sonhadores juntam-se às guitarras melosas para criar uma faixa cuja estética se enquadra no indie pop, influenciada por artistas como Tiago Bettencourt ou Luís Severo. O refrão, bem construído, revela a capacidade do artista em conseguir criar melodias que ficam no ouvido. Ficar à cuca, certamente, do que Marôco irá trazer num futuro próximo.
’23rd of December’ apresenta uma Razy cheia de alma e groove
‘23rd of December’ é o nome do novo single de Razy. É o primeiro passo para o EP de estreia da cantora e instrumentalista planeado para este ano, intitulado de It Must Be a Jazz Soul.
Partindo a partir do seu baixo, a canção ganha vida a partir dessa groove, algo funk e cheia de soul, e rapidamente a voz da artista floresce no meio, poderosa e cheia de alma. A influência do jazz é notável na composição da música, com a bateria e teclas que vão surgindo, a fazer lembrar Herbie Hancock nas teclas e Tony Williams na bateria.
Extremamente suave, ’23rd of December’ garantidamente chamou-nos à atenção para observar o que Razy tem mais para oferecer nas restantes faixas que irão constituir o seu EP.
A aventura musical corajosa dos Septeto Interregional em ‘Disvorce’
Ariana Casellas (Sereias), Mr. Gallini (Stone Dead), Rafael Ferreira (Glockenwise), Rodrigo Carvalho (Solar Corona), Violeta Azevedo (Savage Ohms) e Zézé Cordeiro (Equations) formam o Septeto Interregional, projeto que nasceu de um desafio proposto pelo Musicbox à Lovers & Lollypops para a criação de uma obra que, embora ligada a este tempo, pudesse viver em qualquer outro. Disvorce é o segundo avanço para o disco de estreia do grupo.
Contendo influências de vários géneros, como o post-punk, o rock alternativo e a eletrónica, Disvorce é uma faixa eclética, e com várias sonoridades, que pode ser comparada ao que bandas como black midi ou Black Country, New Road andam a trazer para a mesa do rock. O desenvolvimento da faixa é brilhante e o clímax ruidoso é tudo aquilo que necessitamos para expandir o nosso tempo de vida para voltar a ouvir e desfrutar de todos pequenos elementos que compõem Disvorce.
A introdução ao mundo de Vicente em ‘Agouro’
‘Agouro’ é o nome do novo single de Vicente. É o primeiro avanço do novo trabalho de originais do artista.
Iniciando e terminando como uma balada folk, onde a voz de Vicente tem espaço para brilhar, suave e calorosa, a secção principal da música acaba por soar a um misto de jazz fusion, com os seus ritmos e groove irreverente, com chamber pop.
Veremos o que Vicente oferece-nos ao longo deste ano, pois Meta, EP do ano passado, foi um trabalho que continha ideias bastante interessantes, que em ‘Agouro’ voltam a surgir, mas mais vincadas.