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Billie Eilish
Fotografia: Apple/Divulgação

Crítica. ‘The World’s A Little Blurry’ é um olhar real sobre a vida de Billie Eilish

Billie Eilish: The World’s A Little Blurry estreou esta sexta-feira, 26 de fevereiro, na Apple TV+. O documentário sobre a cantora Billie Eilish foca-se no desenvolvimento e progressão da sua carreira e traz um olhar autêntico sobre a sua vida pessoal e familiar.

O documentário, produzido pela Apple Original Films e realizado por R.J. Cutler, acompanha toda a carreira da cantora, desde que gravou a sua primeira música até ao grande momento nos Grammys de 2020.

A vida antes da música e o início de uma carreira

The World’s A Little Blurry
Fotografia: Apple TV+

A primeira cena mostra parte da gravação da música ocean eyes, que Billie Eilish gravou com o irmão, Finneas O’Connell, para uma aula de dança. Esta abertura marca o ritmo do documentário: um conjunto de eventos gravados na altura em que aconteceram, quase ao estilo home video, compilados de forma a contar uma história.

Não há uma narração dos acontecimentos; o espectador presencia-os como aconteceram. A partir desta primeira cena, vão sendo apresentados diferentes aspetos do percurso da cantora. Logo de seguida, somos transportados três anos para o futuro, quando Billie já está a dar concertos e tem vários fãs à sua espera.

Existem algumas temáticas principais que aparecem várias vezes: o processo de escrita e produção do álbum When We All Fall Asleep Where Do We Go, a pressão da digressão e das lesões que tem de combater, a sua vida familiar e também a sua vida pessoal.

Aprendem-se várias coisas sobre a vida de Billie ao longo do documentário. O mais curioso – sempre viveu na mesma casa, mesmo após a fama; presenciamos a sua relação com a sua família e somos informados que a mesma é bastante musical, o que despoletou a própria relação de Billie com a música; vemos a gravação do seu álbum de estreia, feita em conjunto com o irmão Finneas no quarto dele; percebemos também que Billie foi bailarina e que acabou por desistir da dança devido a uma lesão. Tudo o que é mostrado faz o espectador sentir empatia pela cantora, ao testemunhar os eventos tal e qual como aconteceram e foram gravados.

Uma visão sem filtros da vida de uma estrela

The World’s A Little Blurry
Fotografia: Apple TV+

Existe uma dualidade em quase tudo o que é mostrado no documentário. Quando é relatada a produção do primeiro álbum da cantora, é possível ver tanto o entusiasmo por estar a produzir o álbum como a frustração quando algo corre menos bem. Existe até um ponto em que se assiste a uma discussão sobre o tipo de música feita por Eilish, e se esta devia ser mais acessível para um público mais generalizado em vez de ter sempre temáticas obscuras.

O mesmo acontece quando se vê a gravação do vídeo para a canção when the party’s over. Inicialmente mostra a ideia para o vídeo a ser desenvolvida, bem como a inspiração e paixão de Billie ao planear o vídeo. Mais tarde, podemos observar a sua insatisfação com as gravações. A cantora afirma até que quer passar a realizar os seus próprios vídeos.

O documentário apresenta um equilíbrio entre o bom e o mau da vida da cantora. Não é tendencioso ao ponto de se focar mais nos aspetos negativos ou positivos, apresenta ambos e deixa ao critério do espectador quais os mais pesados.

The World’s A Little Blurry
Fotografia: Apple TV+

O perfecionismo de Billie Eilish é um aspeto bastante presente e que mostra sua dedicação. Em vários momentos é possível testemunhar o descontentamento quando algo não corre exatamente como planeou, seja por não conseguir dar um concerto tão enérgico devido a uma lesão ou por gravações não correrem exatamente como quer. Ainda assim, conseguimos perceber que isto está relacionado com as expectativas da cantora, visto que em ocasiões a ouvimos dizer que algo não lhe parece bem ou que soa mal, enquanto ao mesmo tempo o seu irmão lhe diz que parece bem.

No fundo, tudo isto serve um propósito: mostrar que Billie Eilish é uma pessoa real e tem problemas e preocupações como todos os jovens adultos, apenas em escalas diferentes. O estilo do documentário faz com que quem o vê sinta uma proximidade com a vida da cantora, apesar das disparidades entre a sua vida e a do “espectador comum”. Vemos a cantora a lidar com uma relação pouco saudável, a sua obsessão pelo Justin Bieber e a sua vontade de ter um determinado carro; preocupações comuns e que criam empatia com a cantora, assim como transmite uma sensação de “realidade” ao documentário.

Existem também preocupações mais específicas que a assolam. Billie Eilish fala abertamente sobre pensamentos depressivos e sobre como escreve para conseguir lidar com eles. Fala sobre o seu passado com automutilação e sobre como não se sentia feliz, por isso não escrevia sobre isso. Fala sobre como sente que não pode ter um mau momento porque é sempre apanhado. São momentos que mostram a vulnerabilidade da cantora e a pessoa real por detrás da imagem de celebridade com uma vida perfeita que muitas vezes imaginamos.

Um final feliz

The World’s A Little Blurry
Fotografia: Apple TV+

O final do documentário traz uma certa sensação de paz. Vemos Billie a ganhar vários Grammys, a realizar o seu próprio videoclipe e a falar com Justin Bieber em videochamada, depois de este ter participado num remix de bad guy e se terem tornado amigos.

Essencialmente, The World’s A Little Blurry é um documentário genuíno que permite acesso a partes da vida privada de Billie Eilish e que quebra a barreira entre a vida do estrelato e os bastidores de uma celebridade, pessoa real com problemas real. Proporciona uma visão diferente daquela a que estamos acostumados, ao mesmo tempo que mantém aquilo a que Billie nos habituou: autenticidade.