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Luca Argel
Fotografia: Kristallenia Batziou

À Escuta. Luca Argel e colaboração entre Moullinex e Sara Tavares entre os destaques

Numa semana especialmente cheia no que toca o mundo da música, o À Escuta, rubrica semanal que divulga os lançamentos nacionais, destaca o novo “samba-ópera” de Luca Argel e a mais recente de Moullinex, que se juntou a Sara Tavares numa canção que promete rebentar as pistas de dança quando a conjuntura assim o permitir. As colaborações entre Primeira Dama e Lucía Vives, Desconectados e Jorge Palma e Chico da Tina e Tripsy, as novas canções de Richie Campbell, Sleeping Whales, Serushiô, Castilho e Elisa e os novos discos de Chinaskee, Rua das Pretas e da Criatura também protagonizam esta edição.

Luca Argel traça a história do samba em Samba de Guerrilha

Para Luca Argel, artista brasileiro radicado no Porto há cerca de dez anos, o samba é música de intervenção – torna isto bem claro no seu novo disco, Samba de Guerrilha. Composto por 21 covers de sambas há muito cantados e tocados que ganham agora nova roupagem, este disco mostra a força deste género musical brasileiro enquanto ferramenta de mudança e luta além fronteiras. Neste disco, Luca pretende honrar a memória dos sambas e sambistas que usaram a sua voz para documentar períodos de transição e reconquista de direitos – o período da abolição da escravatura, a opressão vivida em tempos de ditadura.

Neste disco, Luca mostra que o combate ao racismo estrutural também pode ser feito através da música porque “o samba não é só carnaval” e realça que ao longo das 21 canções, tenta passar “várias mensagens”. “Do ponto de vista político, eu acho que a mensagem principal é um repto anti-racista, é denunciar o racismo estrutural, o racismo histórico e mostrar como é que o samba, a história do samba e alguns sambas específicos são testemunhos de que esse racismo existe e tem consequências que a gente sente até hoje.“, explica. Para tal, Luca Argel contou com a voz de Telma Tvon, rapper e contadora de histórias, para a narração de cada “capítulo”, e com os artistas Karla da Silva, Vinícius Terra e Frankão.

Antes de ser disco, Samba de Guerrilha foi desenvolvido em artigos, na rádio, em seminários e em workshops e, agora, regressa ao papiro – o suporte físico não é CD nem vinil, mas sim um jornal ilustrado onde se podem ler as canções acompanhadas por ilustrações de José Feitor.

Samba de Guerrilha é um “samba-ópera” – que Luca adaptou do termo rock opera cunhada pela banda britânica The Who, que significa, no fundo um conjunto de canções que visam, juntas, contar uma história – arrepiante, de imprescindível a todos os povos e nações. Samba de Guerrilha preenche as lições que ninguém nos deu na escola sobre escravatura e o processo que se deu para a sua abolição, sobre racismo e desigualdade estrutural que, hoje mais que nunca, são importantíssimas porque o passado pode bater à porta, mas Samba de Guerrilha está aqui para ensinar e alertar.

Lê aqui a entrevista do Espalha-Facos a Luca Argel: “A História devia servir como prevenção contra certas tragédias”

Sara Tavares junta-se a Moullinex em ‘Minina di Céu

Se achávamos que a vontade de sair para dançar que nos assola já era demasiado grande, chegam Sara Tavares e Moullinex com ‘Minina di Céu‘ e o que era vontade vira necessidade. Aconteceu assim: Sara Tavares recebeu um telefonema do “Mano Moullinex” a chamá-la ao estúdio. Daí saíram os “rabiscos” da canção… num primeiro encontro Sara descobriu o interesse de Moullinex pela astronomia, que lhe contou o que existe no céu, e juntos, sentiram que os ritmos cósmicos passam pelo funaná.

Não poderiam estar mais corretos: ‘Minina di Céu‘ é viagem astral pelas pistas de dança e são as palavras do próprio Carl Sagan que Moullinex dá o tom a esta nova canção: “Já foi dito que astronomia é uma experiência de humildade e criadora de carácter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o “pálido ponto azul”, o único lar que conhecemos até hoje”.

Richie Campbell apresenta ‘Tsunami

Richie Campbell juntou-se a Gson e a Charlie Beats para causar ‘Tsunami‘, o primeiro single do artista em 2021. Já em 2018 Gson, um dos integrantes do colectivo Wet Bed Gang, mostrava, em entrevista ao Rimas e Batidas, a vontade de colaborar com Richie Campbell: “Aqui, em Portugal, quero trabalhar com o  [Richie Campbell]!“. ‘Tsunami‘ chegou sem aviso prévio e conta com um videoclipe produzido por Pedro Dias, filmado no Estoril Wellness Center.

Para além de constar como um dos nomes mais reconhecidos do hip-hop e reggae em Portugal, Richie Campbell é, ainda, criador da Bridgetown, agência de renome que conta com nomes como Mishlawi, com quem Richie colaborou em ‘Rain‘ em 2018, Plutonio e com o comediante Pedro Teixeira da Mota.

Chico & Tripsy apresentam lovetape

lovetape é o disco que junta Chico da Tina e Tripsy numa colaboração especial para o dia de São Valentim. Composto por sete temas de amor, lovetape revela-se como novidade no atual contexto da música portuguesa. O trapstar minhoto já mostrou que está na cena para inovar, e neste disco não é diferente – conta com trispyhell, artista do Porto que também tem vindo a revolucionar estilos musicais e mostrar um estilo próprio, incomparável ao que se vê no panorama português.

O disco é o primeiro no país até agora a dar uso aos estilos musicas plugg e pluggnb, subgéneros do trap que têm vindo a ganhar cada vez mais espaço internacionalmente e que, agora, começam a conquistar terrenos nacionais. Chico & Tripsy contam com a colaboração do alemão skrt cobain e do brasileiro Lil Zé e com vários produtores que dão cunho especial a cada música do disco.

‘Madragoa Dreams’ é o split-single conjunto da Primeira Dama e Lucía Vives

Madragoa Dreams é um single duplo partilhado pela Primeira Dama e Lucía Vives, parceiros musicais da Xita Records e amigos de longa data. Composto por ‘Madragoa (Até Deixar de Ser)‘, escrita por Vives e ‘Janelas Verdes Dreams‘, por Manuel Lourenço na flor da adolescência, estas canções acompanharam as dores de crescimento de cada um. Ser ou não ser, partir ou ficar, guardar as canções ou deixá-las voar – estes dilemas resultaram num presente. Vives ofereceu as canções que compôs a Primeira Dama e, no seu regresso a Portugal e durante o reencontro, a dupla decidiu gravar as duas canções ao longo de um fim de semana.

As canções contaram com a participação de João Raposo em ‘Madragoa (Até Deixar de Ser)’, Alexandre Oriano, Martim Brito e Adriano C de Crochê; a mistura ficou a cargo de Chinaskee e o grafismo da capa foi feito por Tomás Queiroz.

Bochechas é o novo disco de Chinaskee

Bochechas é o mais recente disco de Chinaskee, que despe os Camponeses e a roupagem psicadélica de músicas passadas para adotar uma atitude mais rock’n’roll nesta nova empreitada. Ao lado de Miguel ‘Chinaskee’ Gomes para cantar a juvenilidade ingénua e irónica e despreocupada, estão Bernardo Ramos, Inês Matos e Ricardo Oliveira.

Filipe Sambado ficou a cargo da produção, e as colaborações vieram dos mais variados géneros e atitudes: Vaiapraia entra em ‘Dragões‘, Bia Maria em ‘Edredom‘ e Primeira Dama em ‘Mobília‘. Cada um destes nomes torna-se imprescindível para compor a estética e completar o círculo rock que Chinaskee propõe em Bochechas.

Castilho apresenta novo tema, ‘Numbers

Numbers‘ é o quinto single de Castilho, o primeiro de 2021. A distorção da realidade levada a cabo pelo uso do telemóvel em demasia é o tema principal desta canção repleta de boas vibrações e harmonias groovy, com guitarras penetrantes e uma batida catchy. Nesta canção, Castilho contou com várias colaborações como a dos membros da banda Ditch Days, José Crespo e Luís Mendeiros nas segundas vozes e de Niki Moss na mistura e bateria.

O videoclipe, realizado por Ana Viotti, mostra um Castilho distraído que, ao longo do seu dia, nunca larga o telemóvel, estando completamente além daquilo que se passa à sua volta. ‘Numbers‘, assim, alerta para o uso em demasia, especialmente nos tempos de confinamento, e mostra que os números não são tudo.

Rua das Pretas oferecem Um Copo de Fado, Dois de Bossa Nova

O mítico grupo noturno lisboeta, Rua das Pretas, que conta sempre com participações internacionais, regressa com o novo disco Um Copo de fado, Dois de Bossa Nova, gravado ao longo de duas semanas de fevereiro de 2020. Desta feita, a parceria é entre Pierre Aderne, Francis Hilme, Gabriel Moura, Pedro Luís e José Eduardo Agualusa é explorada mais a fundo neste disco que conta, ainda, com a participação de vários outros nomes da música portuguesa, brasileira e cabo-verdiana.

Os encontros semanais no palacete da Rua das Pretas onde, sem microfones, o grupo se junta para tocar, dos quais Pierre é anfitrião, são serões de bom vinho, conversa e música, onde os ouvintes podem presenciar um set intimista onde se contam “um mundo de histórias, por alguém que esteve no centro da cena americana e agora, com um simplicidade de miúdo abraça este novo mundo lisboeta e tropical“.

Sleeping Whales estreia-se a solo com o single ‘Colorado

‘Colorado’ é o single de estreia de Sleeping Whales, nome artístico de Fred Rossi e de “qualquer pessoa que queira voluntear no processo de expressão da beleza da vida quotidiana” do artista. O músico brasileiro baseado em Londres sempre teve pé na música e é um dos membros de Call Me Alice, banda que se estreou no ano passado com o disco Cosmos, Sampled

A dream e indie pop estão bem assentes nesta canção onde a melancolia e a nostalgia reina. Durante os três minutos de duração, a guitarra acústica e a voz distante mas íntima de Sleeping Whales ecoam na mente, deixando a marca e vontade de ouvir mais deste músico em ascensão.

Frio de Inverno‘, uma colaboração entre Desconectados e Jorge Palma

Pedro Vidal, guitarrista e diretor musical de Jorge Palma, figura a solo o projeto Desconectados. ‘Frio de Inverno‘ é o seu segundo single de antecipação do disco Liberdade Condicional e, nesta canção, Vidal é acompanhado pelo seu “mestre”, numa digressão pelo passado, e por “memórias que se perderam num caminho por vezes sinuoso” e cujo videoclipe viaja por locais que fazem parte da história do músico.

Liberdade Incondicional tem data de edição prevista para 2021 e contará com temas compostos por Carlos Tê, colaboração de Manel Cruz e masterização de Mário Barreiros. A “energia elétrica das guitarras e ritmos intensos liderados por vozes rasgadas ou apenas melodias vocais acompanhadas por um só piano” são o ponto de partida para este disco, algo que podemos ouvir de antemão em ‘Frio de Inverno’. 

‘somozumnãodois‘, de Jüra é uma ode ao Dia de São Valentim

somozumnãodois‘ é o single de Jüra dedicado aos eternos namorados. Editado no Dia de São Valentim, esta canção conta a história de Pedro e Inês adaptada aos tempos de hoje, e é acompanhada com um videoclipe filmado na Quinta das Lágrimas, palco da história verdadeira do príncipe e da fidalga. Em ‘somozumnãodois‘, a artista jura o amor, cantando “a dor do amor“.

Mister Roland edita ‘The New Old

Mister Roland é o heterónimo de Rolando Ferreira, músico de Guimarães e membro dos Paraguaii, que neste novo projeto conta com a colaboração de Rui Souza (Projeto Dada Garbeck) e Pedro Gonçalves de Oliveira (Unsafe Space Garden e Indigo Quintet). ‘The New Old‘ é o seu mais recente single, uma antítese que estabelece a ponte entre as suas obras anteriores e a abertura para a nova fase da sua vida artística. A canção retrata alguém que ultrapassa auge da boémia, restando-lhe as memória. A necessidade de se reinventar é premente e a solidão é evidente.

Bem Bonda abre a nova fase da Criatura

Bem Bonda é um resgate da ancestralidade linguística beiroa, uma expressão mutável, dependente das gentes e dos lugares, que dentro do mundo dos significados nos lembra não só que “já chega”, como também que, “como se não bastasse”, “um mal nunca vem só”“, pode se ler na apresentação do disco no site oficial da apresentação do discoBem Bonda é o novo disco do coletivo Criatura, que vem mostrar que a tradição pode ser expressada de várias formas e que a música é uma poderosíssima forma de intervenção cultural. Bem Bonda é uma peça criada pelo artista Diogo Vaz Cavaleiro, inspirada na fotografia de João Catarino e Catherina Cardoso e teve o apoio da Fundação GDA, da Câmara Municipal do Fundão e da Padaria Natural “Peter Pão”.

 

 

Na Ilha‘, o novo single de Elisa

Elisa, vencedora do Festival da Canção 2020, regressa após ‘Coração‘ com um novo single. ‘Na Ilha’ é dedicada à sua terra natal, a Madeira, e nasceu “de uma sessão de composição com o João Repolho e o Mikkel Solnado, numa altura da minha vida em que as saudades de casa eram quase impossíveis de suportar”. A saudade e a nostalgia de estar “na cidade grande” e tão longe de casa puxam as cordas ao coração de todos aqueles que também vivem longe de casa e não podem ver os seus, principalmente neste contexto de confinamento.

Elisa atua hoje (20) na primeira semi-final do Festival da Canção na RTP1.

Serushiô traz consigo a ‘Saudade da Sardinhada

Serushiô (Sérgio em japonês) é o projeto de Sérgio Silva e José Vieira, no ativo desde de 2011. O duo instrumental apresenta agora ‘Saudade da Sardinhada‘, uma canção que remonta ao jazz e ao groove, podendo figurar como banda sonora de westerns americanos. Com um som baseado no folk e no americana, os Serushiô têm ganho espaço em Portugal e internacionalmente, tendo tocado em países como o Canadá, França e Alemanhã em diversos festivais.