Start-Up (ou 스타트업) estreou em outubro de 2020, e após 16 episódios chegou, por completo, à Netflix Portugal. A série protagonizada por Bae Suzy, Nam Joo-hyuk, Kim Seon-ho e Kang Han-na explora uma Silicon Valley fictícia na capital sul-coreana, onde os quatro protagonistas se cruzarão eventualmente.
Inicialmente, a série dar-se-ia pelo nome de “sandbox“, em vez de “start-up”. Além de configurar o nome da grande central de tecnologia em que a série gira, contém um pedaço da história de Seo Dal-mi, a verdadeira protagonista da série, e da sua irmã In-jae, que eventualmente deixou o apelido Seo para trás com o divórcio dos pais e a consequente separação das irmãs.
Esta hub tecnológica, a Sandbox, pretende ser um espaço seguro para empreendedores que acabaram de começar os seus negócios e não têm nada que os ampare. A premissa é uma boa ideia de negócio, avaliada por um júri; com isso, chega a admissão na grande casa tecnológica que os propõe ajudar nos primeiros meses da sua empresa. Tal como numa caixa de areia num parque infantil, em que a areia protege a criança quando cai (debatível, nós sabemos).

Propomos perguntar: estará o modelo de drama sul-coreano saturado? Talvez.
Por um lado, o modelo está saturado para aqueles que já viram demasiados kdramas, que parecem saber exatamente o que se seguirá.
A ideia-base da maioria das séries de drama sul-coreanas começa com uma história comovente, que se vai desenrolando durante a série, e em cujo plot se centrará — em Start-Up, esta ideia não falha, estando o pai de Dal-mi conectado à Sandbox sem esta (e, infelizmente, sem este) o saber.

A Sandbox é o ponto final de ligação entre a família Seo, Han Ji-pyeong (um investidor bem sucedido mas também um órfão que na família Seo fora acolhido, na adolescência, sem que Dal-mi tivesse conhecimento disso) e Nam Do-san (cujo nome foi utilizado em cartas enviadas a Dal-mi, pretendendo animá-la depois de perder a sua mãe e irmã).
Esta história de background ajuda a compôr a série, e não é isto que começa a aborrecer aqueles que contam com uma vasta coleção de séries sul-coreanas na lista dos vistos.

O que satura este modelo é a forma como o romance acontece, que os hopeless romantics começam a desgrudar, independentemente do seu gosto pelos clichés. As séries sul-coreanas refletem a sociedade sul-coreana, mostrando o homem como bem-sucedido, muitas vezes sucessor de famílias abastadas, herdeiros de chaebols, outras vezes self-made men, para os quais o sucesso pareceu fácil, e a mulher, apesar de determinada, aparece como provinda de uma família com menos posses económicas, com uma carreira em dificuldade de arrancar, e a quem os problemas de primeiro mundo do anteriormente referido passam ao lado, apenas a atingindo quando são ambos envolvidos num triângulo amoroso.
A boa notícia é que Start-Up começa a combater este modelo, promovendo o sucesso das personagens femininas no seu elenco principal — Dal-mi acaba por se tornar na CEO da Samsan Tech, uma empresa de tecnologia focada em inteligência artificial, onde alia o talento dos seus programadores a causas sociais que a afetam; e Jae-in, inicialmente bem-sucedida por causa da fortuna e bom nome do seu padrasto, pretende provar o seu valor, sem quaisquer ajudas monetárias de um homem desprezível.

Por outro lado, para quem nunca se aventurou no catálogo de séries sul-coreanas que já começam a estar disponíveis na Netflix, Start-Up é um bom começo.
Para os amantes da tecnologia, Start-Up não é a única que pode ser de interesse. Aliás, já há anos que está disponível na Netflix a série Strong Girl Bong-soon, cujo enredo se centra numa empresa de vídeojogos.
Start-Up é atrativa porque tem a dose ideal de romance que os fãs de dramas pedem, mas não foca o drama inteiramente nessa vertente — e não o quereríamos dessa forma.
É um drama de família e inimizade, e a atualidade do enredo (a tecnologia e o empreendedorismo) fazem com que o público jovem se interesse pelos temas da série, distanciando-a de uma comparação a uma soap opera de curta duração, ainda que não se reflita totalmente na realidade que os jovens empreendedores enfrentam.