Depois de Taylor Swift e Lady Gaga, chega a vez de Shawn Mendes revelar um pouco mais de sua rotina, dia a dia e desafios profissionais e pessoais num documentário da Netflix. Shawn Mendes: In Wonder estreou na plataforma de streaming esta segunda-feira (23).
Realizado por Grant Singer, o documentário permite uma visão mais intimista da vida do cantor lusodescendente. Durante pouco mais de uma hora, é possível acompanhar Shawn durante a sua mais recente digressão mundial, quando a narrativa principal foi gravada. São ainda abordados temas como a sua infância, o início da carreira, a distância da família e o relacionamento com Camila Cabello.
“Isto não é uma história sobre um cantor famoso. É uma história sobre o crescimento de um rapaz“, revela o protagonista. Uma das mensagens que Shawn Mendes tenta passar é a de que, contrariamente ao que muitos pensam, está longe de ser perfeito. O dom não lhe caiu no colo, nem nasceu famoso. Também luta contra adversidades e tem dias em que tudo lhe corre bem. Apesar de se ter debatido sobre se deveria ou não acabar com a ilusão de ser um “super-homem”, concluiu que deveria mostrar-se transparente como a água – um humano como todos os outros.
O documentário arranca no Brasil, local onde decorreram alguns dos últimos concertos da tour mundial, mas não da melhor forma, já que é logo revelado que a voz de Shawn atingiu um ponto de rutura durante esta centena de concertos (104, no total). Atinge o ponto bizarro de ter de utilizar o telemóvel para falar, poupando a voz de que tanto gostamos. Esta chapada de luva branca, por parte da realidade, fê-lo entender que não era invencível. Também o público fica com a noção que, apesar de parecer um ser extraterrestre, o artista tem cordas vocais vulneráveis como as nossas, tem receios como os nossos, saudades.
Em In Wonder, Shawn abdica do ego e encara o medo do falhanço. Mesmo com a fama que conquistou, continua a temer ficar aquém das expectativas de quem o idolatra. Os desabafos perante a câmara são constantes e criam uma ligação entre o espectador e o narrador (no caso, ele próprio). O tom ponderado e terra-a-terra do cantor compele-nos a simpatizarmos com o seu discurso. Ficamos encantados tanto pela voz do artista de 22 anos, como pela sua maneira de ser. Até os fãs têm protagonismo em In Wonder, quando Shawn reconhece o seu apoio incansável, que ainda hoje o choca.
A “abertura da cortina” é um dos melhores elementos deste documentário. Temos acesso ao backstage, tanto ao da vida pessoal do canadiano, como ao dos palcos dos seus concertos. Até o staff tem tempo de antena nesta produção, desde o manager aos back-up singers. Este acompanhamento permite-nos conhecer o esforço e dedicação necessários para atingir o sucesso de Shawn Mendes. Desde os ensaios, às deslocações e aos investimentos, assistimos a todos os pormenores da gestão da sua carreira. Testemunhamos ainda a cumplicidade com os entes queridos e o respeito perante as figuras secundárias, como o porteiro do seu apartamento.
Neste documentário, conseguimos observar alguém que nos parece puro, determinado e preocupado, que deixa de ser só um nome no top do Spotify ou uma cara bonita. O processo por detrás de uma canção é desvendado quando vemos a composição demorada e perfecionista, a adaptação específica do instrumental, a pós-produção e quem dela faz parte. Também as imagens do artista a tocar guitarra e piano nos deixam boquiabertos.
Ao mesmo tempo, Shawn leva-nos numa viagem até ao passado com vídeos caseiros de quando era criança. Pelos vistos, desde cedo que quis seguir esta carreira, mas não era a fama que lhe interessava. Aos 15, já estava a trabalhar para conquistar o seu sonho. Louva o apoio que sempre o rodeou e vai desvendando algumas das caras que, sempre que podem, estão presentes na plateia, a aplaudi-lo de pé, tal como desde o primeiro dia. Desde os vídeos no Vine aos covers, fases que não podiam faltar nesta história. Neste documentário, Shawn regressa às raízes, aos sítios onde tudo começou. Abre-nos a porta não só para o seu apartamento, como para a casa que o viu crescer, as quatro paredes que durante longas horas o ouviram. Tanto a maturação da sua voz, como a evolução da sua confiança são notórias.
In Wonder dá-nos também a conhecer a sua família (pais, irmã, avós) e os amigos de infância, que ainda hoje o acompanham. Mas o principal foco não poderia deixar de ser Camila, a sua namorada. Segundo revela, é muito mais do que esse título: uma amiga de longa data, uma união destinada, um porto de abrigo. Como ambos são artistas, encontraram um no outro a compreensão que procuravam. Num dos pontos altos do documentário, Shawn revela que todas as suas músicas até à data são sobre Camila. Assim, deixam de ser apenas um casal sensação, para passarem a encarnar uma história de amor que começou cedo e ainda hoje se desenrola.

A referência à relação com a artista cubana-americana não podia faltar no documentário, mas, ao contrário do que o que seria expectável, não nos fizeram esperar até ao final para conhecer a história dos dois pombinhos. Camila é referida e aparece ainda antes dos primeiros 20 minutos, que entra em cena de forma pertinente e interessante. Apesar de não estar organizado por ordem cronológica ou sistemática, o encadeamento acaba por resultar. A aparição de Camila não se torna fastidiosa, já que vai sendo abordada subtilmente e está sempre lá nos momentos-chave.
Mas In Wonder traz-nos outras revelações. Quem ainda não teve oportunidade de assistir a um concerto de Shawn Mendes, consegue ficar com uma ideia da atmosfera que se vive por lá. A sua presença em palco é incrível e também justifica o sucesso. É de relembrar que a primeira vez que atuou em Portugal, em 2016, fez a festa na Sala Tejo, uma sala à parte, com dimensões menores, na Meo Arena. Um ano depois de a esgotar, regressou, mas, desta vez, para a sala principal.
Embora o documentário não mostre momentos de concertos até à exaustão, fá-lo em quantidade suficiente para converter os céticos e agarrar os nostálgicos. Shawn Mendes: In Wonder dá-nos um olhar intimista perante a vida e carreira do cantor luso-descendente.
Para além de passar uma mensagem e revelar factos exclusivos de Shawn Mendes, o documentário antecipa o novo álbum que será lançado a 4 de dezembro.