Numa semana bastante eclética para a música portugues, o À Escuta, a rubrica semanal do Espalha-Factos, destaca a colaboração de Sérgio Godinho com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o novo single de Chico da Tina e o disco de estreia de Querubim.
Sérgio Godinho lança nova versão de ‘Com Um Brilhozinho Nos Olhos’, em colaboração com a Orquestra Metropolitana de Lisboa

‘Com Um Brilhozinho Nos Olhos’ é uma das faixas mais icónicas assinadas pelo grande Sérgio Godinho e surge agora num registo diferente como o single de apresentação do disco Ao Vivo No São Luiz, que ficará disponível no próximo dia 20 de novembro.
Esta versão do clássico de Sérgio Godinho conta com a participação da Orquestra Metropolitana de Lisboa dirigida pelo maestro Cesário Costa, do pianista Filipe Raposo e do grupo Os Assessores. A atuação da faixa, aonde se faz notar o carinho que o público tem pelo artista portuguesa, foi gravada durante a série de concertos que o celebrado cantautor português efetuou no Teatro São Luiz.
Foi a primeira vez que o artista atuou com uma arquestra sinfónica, indicando que a versão resultante de ‘Com Um Brilhozinho Nos Olhos’ “resultou muito bem neste formato com a Orquestra Metropolitana de Lisboa.” O artista aproveitou também para agradecer ao público pelo papel que teve na gravação desta versão, apresentado-a como um “momento único“.
Chico da Tina volta a explorar o universo minhoto em ‘VianaViceCity‘
Chico da Tina continua a sua senda vitoriosa em 2020. ‘VianaViceCity’ é o mais recente banger do trapstar do Minho e conta com produção de KESLLEY. Sobre a faixa, o artista indica que esta era suposto ter integrado o seu disco de estreia, Minho Trapstar, mas que tanto ele como KESLLEY não se sentiam totalmente satisfeitos com o beat original.
Faz sentido que ‘VianaViceCity‘ estivesse para ser incluída em Minho Trapstar, pois inclui várias referências ao universo popular e tradicional minhoto, algo que não estava tão presente em ‘Resort’ e ‘Ronaldo’. O baixo pulsante e a bateria ritmíca marcam a faixa, com o flow e rimas de Francisco a completarem a estética da música, que ainda inclui os sintetizadores espaçosos e psicadélicos que caracterizam o género do trap.
A ponte entre o indie rock e o indie pop em Saber Estar, disco de estreia de Querubim

Querubim é o projeto musical de Rodrigo Cardoso. Saber Estar é o título do disco de estreia do músico lisboeta e é um trabalho que explora as complexidades do que é viver neste mundo atual. Enquandrando-se com uma sonoridade que vagueia entre o indie rock, com as suas guitarras melódicas (e que bela capacidade de escrever melodias tem Rodrigo) e melosas, e o indie pop, com os seus sintetizadores espaçosos e melancólicos que vão surgindo ao longo do disco.
Com Saber Estar, Querubim apresenta-se como um dos mais promissores artistas da nova geração do indie português, servindo de ponte entre o passado recente do género, baseado no garage rock, com a nova geração de artistas DYI, inspirados por Mac deMarco e contemporâneos.
O novo fado apresenado por Rita Vian em ‘Purga’
Contando com produção de Franklin Beats, ‘Purga’ é o nome do novo lançamento de Rita Vian. Depois de ‘Sereia’ (que teve a honra de receber um remix por parte de Branko) e ‘Diágonas’, ‘Purga’ é mais uma faixa aonde Rita explora a sua imensa capacidade vocal como um trunfo pronto a lançar na próxima jogada. Exceto que, aqui, o trunfo não é escondido. É revelado para todos poderem usufruir dele.
À semelhança do que ROSALÍA tem feito com o flamenco em Espanha, Rita Vian atualiza o fado para um contexto mais atual, incorporando os seus ritmos e dinâmicas em instrumentais que têm por base o trap e a eletrónica. É uma fusão que, no papel, soa estranha, mas que na realidade acaba por soar totalmente refrescante dentro do espectro da pop portuguesa.
A viagem noturna pelo meios de néons dos YAKUZA em Aileron
YAKUZA é um grupo constituído pelos músicos André Santos (baixo), Afonso Serro (teclas) e Alexandre Moniz (bateria). Aileron é o nome do seu disco de estreia, sendo este um trabalho que tem por base o jazz, mas que junta várias outras componentes ao género para uma sonoridade muito peculiar dentro do panorama musical nacional.
No baixo, André Santos evoca o seu Thundercat interior, sendo notória a influência do artista na forma como o instrumento é apresentado em Aileron. Os sintetizadores, que têm ganho um espaço maior no jazz com artistas como Flying Lotus, Kamaal Williams ou The Comet Is Coming, são psicadélicos e nostálgicos, fazendo em vários pontos lembrar, de alguma forma, as composições que Masahiro Andoh criou para o videojogo Gran Turismo ao longo das últimas duas décadas.
E, se calhar, o título Aileron provém um pouco dessa estética. Em vários momentos ao longo deste disco, somos envolvidos de forma total pelo groove infindável dos YAKUZA, que nos leva numa viagem através de uma auto-estrada rodeada de luzes neón. É um imaginário bonito, um que tem a capacidade de cruzar o futuro do jazz com o seu passado, mas que vive aonde é suposto: no presente.
Bateu Matou com Hebér Marques – ‘Povo’
‘Povo’ é o novo single de Bateu Matou, grupo lisboeta formada pelos músicos RIOT (Buraka Som Sistema), Ivo Costa (Sara Tavares, Batida) e Quim Albergaria (PAUS). Contando com colaboração de Héber Marques (HMB), ‘Povo’ é uma faixa com características de hino, dado o seu refrão orelhudo e ritmos altamente contagiantes que provêm da junção da eletrónica com o funaná que os Bateu Matou apresentam. Há espaço, ainda, para incluir toques experimentais, fruto muito da formação da banda ser constituída inteiramente por bateristas. Isto permite ao grupo explorar dinâmicas de ritmo que não seriam possíveis noutro contexto.
“É o nosso hino aos nossos e nossas“, indicou o grupo, que descreve ‘Povo‘ como “o som da felicidade de termos percebido o que realmente importa, a maior das bençãos – o nosso povo, a família e amizades”. É uma faixa sentida e isso faz-se notar durante toda a sua duração.
Cíntia – Gyals and Gyals

Gyals and Gyals é o EP de estreia de Cíntia, jovem compositora e intérprete lisboeta. Contando com colaborações de vários produtores provenientes da Nigéria e Portugal, Gyals and Gyals é um trabalho que explora a junção de ritmos africanos com a sonoridade que caracteriza a música urbana portuguesa. É um trabalho extremamente energético e eclético, aonde os beats espaçosos são criados com o cuidado para dar vida à voz cativante e flow contagiante de Cíntia e dos seus vários colaboradores.
Com a sua presença intensa e uma capacidade natural para contar as suas estórias, Gyals and Gyals cimenta Cíntia como uma das grandes promessas do hip hop português e estaremos de olho, com certeza, nos seus próximos lançamentos.
Filipe Karlsson – ‘A Paragem‘
‘A Paragem’ é o segundo avanço do novo EP do músico luso-sueco Filipe Karlsson. O membro dos Zanibar Aliens estreou-se a solo este ano com o EP Teorias Do Bem Estar. Este single prossegue no desenvolvimento da sonoridade que Karlsson apresentou nesse EP.
A junção de sons psicadélicos a uma componente pop muito forte relembra o pop psicadélico dos anos 60, mas trazido para o contexto atual, com várias referências ao mundo que rodeia Filipe Karlsson.
Maria Barreto – ‘Quantas Vezes’
‘Quantas Vezes’ é o nome do novo single da jovem cantora lisboeta Maria Barreto. A artista de vinte anos, que já conta com faixas que fizeram parte de várias novelas, coloca a sua voz à disposição de uma balada suave. Esta cabe no som da pop portuguesa dos últimos anos, mas a voz de Maria confere-lhe uma identidade própria face aos outros artistas dentro do género, capaz de aumentar o sentimento relatado pela lírica da faixa.
SaiR – Light Headed
Light Headed é o nome do novo projeto de SaiR, nome artístico pelo qual se apresenta o produtor Ruben Allen. É o segundo longa-duração do artista português lançado este ano. Fractions, o seu antecessor tinha sido editado em maio.
À semelhança do seu trabalho anterior assinado com o nome de SaiR, Light Headed é um disco puramente instrumental na sua concepção, mas que o artista considera que tem de ser visto como um todo. É como se fosse um “quarto onde cada faixa se torna um elemento decorativo“, em referência à capa do trabalho. Os beats desenvolvidos são lo-fi, relaxantes e groovey, bebendo influências do jazz, funk e hip hop para serem criados. Nota-se o cuidado para que cada instrumento soe bem (e psicadélico) e ocupe o seu espaço na mistura para funcionar tudo junto como uma unidade singular, tal como pretendido pelo artista.
Tomás Adrião – ‘Dia Mau’
‘Dia Mau’ é o novo avanço do disco de estreia de Tomás Adrião, que tem data de lançamento marcada para o início do próximo ano. Contando com produção de LEFT. na Great Dane Studios, ‘Dia Mau’ é uma faixa revitalizante para o pop português.
Podendo ser comparada a vários temas do disco de estreia de Claúdia Pascoal, ‘Dia Mau’ é uma faixa super divertida e otimista, extremamente necessária para nos colocar um sorriso na cara face ao quão complicado tem sido 2020 para todos. Sobre a mensagem contida na música, o cantor relata que esta passa pela sua crença de que “ser positivo é uma escolha” e procurou demonstrar a “aprendizagem constante” necessária para interiorizar esse sentimento.
Super divertida no instrumental e com a interpretação jovial de Tomás Adrião a guiar pela música, se todo o seu disco soar como ‘Dia Mau’, o início de 2021 não será assim tão mau com a ajuda de Tomás. Olhemos para os positivos!