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Alexandra Borges
Fotografia: TVI / Reprodução

Alexandra Borges abandona TVI com críticas ao canal

Alexandra Borges, repórter de investigação da TVI, está saída do canal onde trabalhou por mais de duas décadas. Na despedida, deixa farpas que são dirigidas à nova direção. O anúncio da rescisão foi feito pela própria, numa publicação no Facebook.

De acordo com a revista Sábado, a saída da jornalista foi negociada diretamente com a administração liderada por Manuel Alves Monteiro, não tendo envolvido a atual direção de informação da estação, chefiada pelo jornalista Anselmo Crespo desde setembro.

Mostrando gratidão à TVI por “parte” daquilo que é, Alexandra Borges afirma, contudo, que o crescimento que fez em conjunto com a estação “de forma leal e verdadeira” foi interrompido há 64 dias. Feitas as contas, este número é coincidente com a data de 31 de agosto, o dia anterior à entrada em funções da nova direção de informação. “Deixo a TVI por respeito aos meus valores e princípios, dos quais nunca abdicarei, custe a quem custar“, atira.

Do percurso de mais duas décadas que fez na estação destaca ter conseguido, com a sua equipa, ajudar a “mudar leis discriminatórias, a denunciar monopólios que implicavam o desperdício do plasma nacional” e aponta ainda o sucesso a encontrar “provas de corrupção e branqueamento que, na maioria dos casos, ajudaram o MP a acusar criminosos e o Tribunal a condená-los“. Refere ainda ter “apontado o dedo a isenções fiscais feitas à medida e enfrentámos poderosos grupos económicos travestidos de religiosos“.

Novo projeto profissional em breve

Alexandra Borges relata ainda que tem “um novo desafio profissional“, no qual defenderá os valores que refere sempre ter exigido na sua vida profissional — “ambição em fazer melhor, lideranças competentes e sérias e projetos disruptivos que acrescentem qualitativamente tanto a quem os protagoniza como, também, ao nosso País“. Não é ainda anunciado qual será a próxima casa da profissional.

Na publicação, a repórter realça ainda os valores de “honestidade e lealdade“, referindo que estes “não estão à venda nem se conseguem comprar” e sublinhando que “lamentavelmente, alguns desconhecem e desconhecerão sempre, pois é algo que se ganha no berço“.

A TVI não reagiu, até agora, às palavras da jornalista. Ao longo da carreira, Alexandra Borges passou pela TVE, a televisão pública espanhola, onde iniciou a carreira, mas também pela Globo e pela RTP. Estava na TVI desde 1999, período coincidente com a entrada de José Eduardo Moniz para a direção-geral da estação privada.

Na Quatro, um dos seus últimos trabalhos, a grande reportagem Amor Sem Fim, motivou mudanças na lei da procriação medicamente assistida, de modo a que a inseminação pós-morte passe a ser legal, nos casos em que o marido falecido tenha deixado, por escrito, essa vontade. Mais recentemente, Alexandra Borges assinou um trabalho aprofundado sobre o escândalo sexual que envolveu Matthias Schmelz, o dono da empresa Rainbow em Portugal, conhecido por Rei dos Aspiradores.

Lê aqui o texto completo:

Vinte e um anos é uma vida.

Cresci profissionalmente na TVI e dediquei-me ao jornalismo de investigação porque ainda acredito que é um dos mais importantes pilares da democracia.

Por interesse de poucos, é um género que tende a desaparecer mas, por interesse da maioria, continua a fazer a diferença em algumas (poucas) redações de Portugal.

Eu e a minha equipa deixámos uma marca no jornalismo de investigação da TVI. Juntos, fizemos a diferença e ajudámos a solidificar o princípio que em sociedade não vale tudo e que as leis devem ser cumpridas. Conseguimos vitórias importantes: ajudámos a mudar leis discriminatórias, a denunciar monopólios que implicavam o desperdício do plasma nacional, conseguimos provas de corrupção e branqueamento que, na maioria dos casos, ajudaram o MP a acusar criminosos e o Tribunal a condená-los, apontámos o dedo a isenções fiscais feitas à medida e enfrentámos poderosos grupos económicos travestidos de religiosos.

A minha única motivação sempre foi A VERDADE. A verdade que não prescreve, que não discrimina os mais fracos e que não se mede pela carteira de cada um. Uma verdade que não seja conveniente mas sim isenta, rigorosa e, sobretudo, JUSTA.

Costumo dizer que o meu Pai me deixou a mais valiosa das heranças: a HONESTIDADE e LEALDADE, valores que não estão à venda nem se conseguem comprar, mas que, lamentavelmente, alguns desconhecem e desconhecerão sempre, pois é algo que se ganha no berço.

É este ADN que levarei comigo para um novo desafio profissional, desafio este que terá os ingredientes que sempre exigi na minha vida profissional, ambição em fazer melhor, lideranças competentes e sérias e projetos disruptivos que acrescentem qualitativamente tanto a quem os protagoniza como, também, ao nosso País.

Agradeço à TVI parte daquilo que hoje sou. Crescemos juntas, de forma leal e verdadeira, durante 21 anos porém, há 64 dias, tudo mudou.

Ao público, que me acompanha há 35 anos, posso garantir, de forma plena, que deixo a TVI por respeito aos meus valores e princípios, dos quais nunca abdicarei, custe a quem custar. Parto com a integridade que me (re)conhecem e espero continuar a merecer a vossa confiança. Assim continuarei, por Si e para Si!
Em breve darei mais notícias, BOAS NOTÍCIAS!

Saúde para todos.
Alexandra Borges”

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Em atualização

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