A primeira longa-metragem realizada por Catarina Vasconcelos, A Metamorfose dos Pássaros, foi o filme de encerramento nos Encontros do Berlinale e, esta semana, será exibido no Festival Internacional de Documentários Ji.hlava. A realizadora portuguesa esteve à conversa com a revista Variety sobre as suas inspirações para o filme.
Catarina Vasconcelos concorda que tanto este filme como a sua curta metragem de 2014, Metáfora ou a Tristeza Virada do Avesso, estão profundamente ligados à sua família. A realizadora contou à Variety que, durante a crise económica que atingiu Portugal, ela estava a estudar Comunicação Visual no Royal College of Art em Londres e essa ausência, num período tão conturbado, deu-lhe vontade de aprender mais sobre o seu país e a sua família para se poder conhecer melhor.
Um filme muito pessoal
A Metamorfose dos Pássaros é, essencialmente, uma recriação, e a realizadora queria que fosse filmado tanto quanto possível nos locais originais, como a casa dos seus avós, embora não tenha sido possível porque foi vendida durante a produção do filme. No entanto, foi possível filmar num dos navios do seu avô, o Navio Escola Sagres, e todas as cenas de natureza foram filmadas na Serra da Estrela.
Quando questionada sobre como surgiu a ideia para este filme, afirma que “quando retornei a Portugal, em 2014, o meu pai falou-me de um vinil que tinha sido gravado em 1957 com a voz da minha avó, Beatriz. Eu fiquei muito surpreendida, e tive a oportunidade de ouvir a voz dela pela primeira vez. Comecei a conversar com o meu pai e tios sobre a mãe deles. Estava interessada no lado mais misterioso da minha família, nos cantos escondidos de que ninguém fala.”
Dar a conhecer a vida das mulheres portuguesas
A realizadora diz que um dos temas centrais do filme é dar a conhecer a vida das mulheres portuguesas naquela altura. “A minha avó teve seis filhos e o meu avô passava a maior parte do ano no mar. A minha avó era, efetivamente, a chefe de família. Ela tinha uma ligação especial com a natureza, com as plantas e os pássaros”. O filme explora essa conexão com a natureza, e encontra-se dividido em duas partes, uma antes da morte prematura da sua avó em 1984 e outra, no período subsequente.
Outro dos temas principais do filme é o luto após a perda de uma mãe, uma vez que tanto Catarina Vasconcelos como o seu pai perderam as mães cedo – aos 17 e aos 36 anos de idade, respetivamente. “Entender como o meu pai aceitou a perda da sua mãe fez com que eu entendesse melhor o meu sentimento de perda”, afirma.
O título, A Metamorfose dos Pássaros, vem do avô, que chamava passarinho a um dos filhos, e da avó, para quem todos os filhos eram pássaros que ela não conseguia controlar. Pala além disso, “o filme também faz várias referências a pássaros”, como explica a realizadora. Já metamorfose “remete para a ideia de como a personagem que retrata o meu pai no filme se transforma em mim”.
Outra das inspirações de Catarina Vasconcelos foi o livro Novas Cartas Portuguesas de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, um “passo inicial fundamental no movimento feminista português”, como explica a realizadora à Variety. A ideia do filme também era explorar como era, e como é agora, ser mulher em Portugal, comparando os percursos de vida de três gerações da família. “Em alguns níveis, avançamos muito, mas noutros não”.