Tiago Bettencourt, IRMA e Mike El Nite estão entre os destaques desta semana do À Escuta, a rúbrica semanal do Espalha-Factos que coloca na linha da frente os lançamentos mais recentes da música nacional. Para além destes lançamentos, esta semana está também em destaque o movimento #aovivooumorto, criado pela rede Circuito para alertar para o impacto que a pandemia da Covid-19 está a ter nas salas de espetáculos portuguesas.
A nostalgia de Tiago Bettencourt em ‘Viagem’
‘Viagem’ é o nome do novo single de Tiago Bettencourt. Depois de ‘Trégua’ e ‘Dança’, é o terceiro single que antevisa o lançamento do sétimo álbum de estúdio do artista, intitulado de 2019 Rumo ao Eclipse, no próximo dia 30 de outubro.
É uma faixa que evoca nostalgia clara no seu instrumental e lírica, que fala de uma viagem através do tempo e da memória, sendo a nostalgia da faixa aumentada ainda mais pela entrega que a voz de Tiago Bettencourt nos apresenta. Relata a “partida, do caminho, e do regresso” para algum local, seja ele qual for, para com o qual sentimos uma conexão profunda que leva à criação de uma “voz interior que nos serena e nos transforma em verbo“.
É um pouco isto que explica o videoclipe que acompanha a faixa ter sido gravado na Vila de Vela, na Ilha de São Jorge, nos Açores, o local de origem da família paterna do artista. “Escolher este regresso à Vila das Velas é uma homenagem à memória, uma declaração de amor à Ilha e aos Açores onde quero sempre voltar. Por mais estranho que pareça, encontro sempre pedaços de mim por lá escondidos à espera de serem descobertos, e muitos sorrisos também.“, indicou o cantor numa nota enviada à imprensa.
Primavera é o disco de estreia de IRMA

Primavera é o nome do disco de estreia da artista Irma Ribeiro, que aqui se apresenta apenas e só por Irma. É um trabalho que é indicado como uma renovação do compromisso da artista para com os seus “sonhos“. “A sensação é mais ou menos do dia em que nasce um filho“, escreveu Irma nas redes sociais sobre o lançamento do seu álbum de estreia na quinta-feira (15), dia em que também completou mais um ano de vida.
Com influências de música angolana bastante evidentes ao longo do disco, é um trabalho que fala “do coração” e que vem lembrar que “a qualquer hora, em qualquer lugar, somos da mesma pele“, capaz de aquecer o coração com os seus instrumentais calorosos, associados à voz de Irma, que transmite e adiciona (ainda mais) emoção às faixas e que consegue ainda roubar hooks para criar uma sensibilidade pop que povoa este trabalho.
Mike El Nite junta-se a Pedro Mafama e rkeat para nos dar um ‘Calafrio’
Depois de ‘Type R’, lançado no início deste ano, Mike El Nite está de regresso, desta vez na companhia de Pedro Mafama e rkeat, com ‘Calafrio’, tema que já havia sido estreado ao vivo no concerto do artista na edição de 2019 do Super Bock Super Rock.
‘Calafrio’ acaba por manter alguns elementos da estética apresentada em ‘Type R’. O beat é dançável, psicadélico e com vibes noturnas, e os versos são povoados pelo flow característico de Mike El Nite e pelos adlibs de Pedro Mafama, tendo este último um papel bastante preponderante no excelente clímax da faixa, fazendo-se sentir em “casa” na sua primeira colaboração com O Justiceiro. Com um refrão orelhudo, esta é mais uma faixa em que o rapper português revela a sua capacidade de conseguir criar todo um universo em torno de uma música, espelhado no videoclipe animado por Pedro Custódio.
Apesar das semelhanças entre ‘Type R’ e ‘Calafrio’, a possibilidade do lançamento de um novo projeto por parte do artista ainda é algo incerta. Ao Rimas e Batidas, esclarecia que, quanto a projetos, estava com “alguns em produção” mas que devido à situação atual o processo transformou-se numa “questão mais diária e menos planeada.”
Electric Man traz uma ‘Modern Machine’
Electric Man é o projeto a solo e em formato de one-man band do músico Tito Pires. O projeto do ex-Gessicatrip já conta com dois longa-duração, o disco homónimo de 2015 e Electric Domestique, de 2017, relatado pelo próprio como sendo o seu “veículo de expressão artística” onde a música acontece pelo meio de “batidas eletrónicas, guitarras em loop num jogo criativo de efeitos, devaneios de theremin, sintetizadores e voz“.
É num riff de guitarra carregado de fuzz que assenta o seu novo single, ‘Modern Machine’, fazendo lembrar alguns dos riffs que Matt Bellamy, dos Muse, foi criando ao longo da discografia da banda de rock britânica, notando-se vastamente a influência da eletrónica aqui. Os sintetizadores e os vocais distorcidos complementam a estética da canção, toda ela futurista e distópica, relatando sobre “o fenómeno das redes sociais e o ego exacerbado que daí explode” e de uma realidade distorcida que se constrói a partir daí.
Este single é o segundo lançamento do projeto este ano, depois de ‘Much More Space’, que contou com participação de Suspiria Franklyn, a antiga vocalista dos Les Baton Rouge.
EVAYA estreia-se com INTENÇÃO
EVAYA é o nome do projeto pelo qual se dá a conhecer a produtora, compositora e cantora Beatriz Bronze e INTENÇÃO é o nome do seu EP de estreia, um trabalho conceptual onde uma forte componente lírica e vocal são fundidas com melodias minimalistas e atmosféricas que caracterizam a sua música, influenciada pelo IDM, eletrónica e música ambiente.
São vários os momentos em que é possível identificar “sons do quotidiano da artista“, usados em forma de sample para aumentar uma atmosfera que se enquadra na “atual dinâmica de grupo vivida mundialmente“. Os vocais melosos e sedutores são belíssimos, a produção do projeto é imaculada, fazendo com que todos os pequenos detalhes que povoam as batidas de INTENÇÃO sobressaiam de forma sublime, contribuindo para o som futurista, mas atual e relacionável, que nos é apresentado ao longo deste EP.
Misfit Trauma Queen com Nancy Knox — ‘Lucretia My Reflection’
O produtor e baterista Misfit Trauma Queen juntou-se a Nancy Knox para uma cover de ‘Lucretia My Reflection’, faixa lendária da banda Sisters of Mercy.
A vibe gótica da faixa mantém-se da original, mas longe está o seu post-punk, substituído pela eletrónica que marca a música de Misfit Trauma Queen. A voz de Nancy Kno complementa o instrumental espaçoso e distorcido, tornando-o numa experiência ainda mais perturbante. Uma muito interessante interpretação de um tema lendário da cultura gótica.
NERVE com GHOST WAVVES — ‘Mínimo’
Há muitos poucos rappers no meio musical português com uma aura lendária sobre o seu nome. Tiago Gonçalves, mais conhecido por Nerve, é um deles e ‘Mínimo’ é o nome do seu novo lançamento, que conta com colaboração de Ghost Wavves.
O instrumental pesado criado por Ghost Wavves encontra uma relação de simbiose no flow e lírica de Nerve, duas das principais razões que fizeram com que Nerve se tornasse num dos nomes mais aclamados do hip hop português dos últimos anos. O hip hop abstracto do “Sacana Nervoso” continua a fazer furor. Totalmente merecido para este mestre das “letras”.
The Dirty Coal Train — Dirty Coltrane Volume I e II
O novo trabalho dos The Dirty Coal Train, o duo de garage rock constituído por Ricardo Ramos e Beatriz Rodrigues está cá fora. Um duplo disco, Dirty Coltrane Volume I e II é uma celebração dos 10 anos de existência da banda e um retorno à fórmula simples, centrando grande parte da instrumentação no duo Ricardo e Beatriz, depois de dois discos gravados com convidados.

Enquanto que a primeira parte deste trabalho, o Volume I é um disco puro de garage rock e punk sujo, que assenta como uma luva em toda a estética estética DYI que marca a música do duo, o Volume II acaba por ser algo fora da caixa para o grupo, onde é explorado aquilo que lhes “der na telha”. A música é divertida, como sempre foi para o par, e é política, como o punk deve de ser. É uma descarga de rock’n’roll pura e dura e mal há tempo para respirar antes do próximo riff de guitarra ser transportado para os nossos ouvidos.