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Estudantes
Fotografia: Miguel Henriques/Unsplash

Covid-19. Quais as expectativas e receios dos estudantes no regresso ao Ensino Superior?

Os alunos do Ensino Superior estão divididos entre a vontade de regressar ao ensino presencial e congelar a matrícula.

No mês de março, a pandemia de coronavírus atingiu Portugal e obrigou ao encerramento de vários estabelecimentos, incluindo os de ensino. Impedidos de se dirigirem às faculdades, os estudantes universitários viram-se obrigados a tornar-se autodidatas e a fazer todos os esforços possíveis para conseguir concluir o ano letivo em casa. Com a chegada do novo ano, o receio é sentido e várias são as perspetivas que ocupam a cabeça dos alunos quanto ao regresso às aulas ainda em tempos de pandemia.

Este ano, só na primeira fase, candidataram-se ao Ensino Superior quase 63 mil alunos. De acordo com os dados da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), que incluem dados desde 1989, este é o número de candidatos mais alto desde 1996, quando se contabilizaram 68.798 candidaturas. Desde então, registou sempre valores inferiores, incluindo em 2019, em que se apresentaram 51.463 candidaturas.

 

Para Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, “o aumento de candidatos nesta fase do acesso ao ensino superior público representa um sinal de confiança dos jovens e das suas famílias na formação superior e nas suas instituições, bem como nas vantagens decorrentes da qualificação superior, especialmente no contexto da crise internacional emergente associada à Covid-19”. No entanto, “para além dos ingressos por via do concurso nacional de acesso, estima-se que o número total de novos ingressos no ensino superior em todos os ciclos de estudos, públicos e privados, atinja cerca de 90 mil novos estudantes matriculados no próximo ano lectivo de 2020/21”.

De recordar que o concurso nacional de acesso constitui apenas 2/3 dos ingressos no ensino superior. No ano letivo de 2017/18, foram 45.120 os candidatos pelo concurso nacional de acesso, o que constituiu 78% do total de candidaturas. As restantes surgiram através do concurso local ou concursos de maiores de 23 anos, outras formas de ingresso no sistema público, formações curtas (cursos técnicos superiores profissionais) e sistema privado.

 

Os resultados da 1.ª fase do concurso nacional de acesso são divulgados a 28 de setembro e o restante calendário está disponível na página da DGES. Face à situação vivida, a maior parte das universidades está ainda a preparar o novo ano letivo com todas as medidas necessárias. Os estudantes aguardam para que se conheçam as medidas, com certo receio. O Espalha-Factos falou com esses alunos, na tentativa de perceber as perspectivas que têm para o início do novo ano em contexto de pandemia.

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Marlene Gonçalves, 21 anos

A estudante de Braga terminou o primeiro ano da licenciatura em Marketing no ano letivo de 2019/20, na Universidade do Minho. Para este ano letivo que se avizinha, candidatou-se para transferência para o curso de Ciências da Comunicação, na mesma instituição.

Como foi terminar o semestre à distância? Quais as principais dificuldades?

Terminar o semestre à distância teve os seus prós e contras. Por um lado, penso que melhorou a nossa capacidade para sermos proativos, no entanto isso advém da dificuldade de não ter uma aula dinâmica e capaz de captar a nossa atenção como uma aula presencial. Penso que esse foi sem dúvida o maior desafio. Para não falar de que, para os professores, a possibilidade de cópia por parte dos alunos faz com que dificultem bastante os exames, quer seja em tempo ou em quantidade excessiva de perguntas, o que se percebe, em certa parte, mas acaba por ser prejudicial.

Houve alguma experiência que perdeste devido à pandemia? Como te sentiste?

Sim, na unidade curricular de Marketing Estratégico temos um trabalho prático que consiste em realizar um plano de Marketing para uma empresa local e a pandemia dificultou-nos todo o processo. Não fomos capazes de interagir com a empresa, até porque não tivemos resposta de várias empresas inicialmente, e os dados que nos deram não foram muitos, até porque muitas empresas estiveram encerradas e era difícil serem fornecidos dados quando se está fora da empresa. Conseguimos elaborar um plano com o que tínhamos e com alguma pesquisa, mas ainda assim foi uma grande frustração para todos.

Quais as expectativas para o início do novo ano letivo?

As minhas expectativas para o próximo ano estão muito direcionadas para as aulas à distância, no sentido de que consigam adaptá-las de uma melhor forma que no ano anterior, de maneira a ter uma melhor experiência, quase tão boa como as aulas presenciais. Acima de tudo, espero que esta situação melhore para que se possa readaptar o ensino.

E os principais medos e receios?

O meu maior receio é que a situação se agrave e possamos perder ainda mais aulas presenciais, visto que estão previstas cerca de 70% de aulas online. Para além do mais, estou a tentar mudar de curso este ano para um curso com mais aulas práticas e seria uma pena fazê-lo e não poder usufruir das mesmas.

O que tens mais medo e pena de perder, no caso de uma possível segunda vaga da pandemia, que obrigue a um novo confinamento?

O meu maior receio é mesmo perder a experiência das aulas práticas, pois são na minha opinião essenciais tanto na parte académica como futuramente na vida profissional.

Sentes que podes sair prejudicada com um novo confinamento e a obrigatoriedade de um ensino à distância na totalidade, seja por fatores académicos ou económicos?

Sem dúvida. A aprendizagem não se compara e a experiência não é de todo a mesma. Penso que se perde muito e que o estudo tem que ser redobrado, tem que partir de nós, caso contrário não somos bem sucedidos, até porque os métodos de avaliação são diferentes. Quem não tiver a capacidade de ser realmente pró-ativo pode sair muito prejudicado.

A instituição de ensino à qual te vais candidatar já definiu o planeamento do novo ano? Concordas? Que modelo te deixaria mais à vontade, presencial ou à distância?

Penso que o estipulado até ao momento são cerca de 70% de aulas à distância e aulas ao sábado, de forma a existir menos concentração de pessoas. Compreendo, devido à situação em que vivemos, que esta seja uma forma de prevenção, e espero que os 30% sejam as aulas práticas, para que não se percam, visto que são essenciais e que muitas pessoas vão para cursos com unidades curriculares práticas por esse mesmo motivo, a experiência que nos fornece. No entanto, espero que toda esta situação melhore, para que se possa readaptar o planeamento das aulas da melhor forma possível.

Miguel Regouga, 22 anos

O estudante de Beja encontra-se no quinto ano do mestrado em Engenharia Informática e de Computadores, no Instituto Superior Técnico.

Como foi terminar o semestre à distância? Quais as principais dificuldades?

Estou, neste momento, prestes a entregar a minha dissertação de mestrado, pelo que o passado ano letivo foi totalmente dedicado ao seu desenvolvimento. Posto isto, e tendo em conta que já tinha terminado a componente de unidades curriculares do meu mestrado, durante o segundo semestre não tive nenhumas aulas. As únicas comunicações que tive foram as ocasionais reuniões com os meus orientadores, que, mesmo antes da pandemia, já aconteciam remotamente, pois um dos meus orientadores não vive perto da minha faculdade.

No meu caso, a pandemia não trouxe grandes dificuldades adicionais em termos pedagógicos. O tema da minha tese é passível de se fazer remotamente, sem nenhum auxílio extra que me obrigue a dirigir presencialmente à minha faculdade, a uma biblioteca, ou a outro local. As maiores dificuldades que senti foram aquelas que estão subjacentes a qualquer ligação remota, nomeadamente a velocidade da internet, que, por estar numa zona remota no Alentejo, não foi das melhores, e o barulho de fundo que advém de estar em casa com familiares e animais de estimação.

Em termos sociais e pessoais, no entanto, a história foi outra. Sendo um jovem estudante, os meses em que estivemos confinados, e que coincidiram com o fim do semestre, foram bastante difíceis. Em primeiro lugar, foi muito difícil arranjar motivação para trabalhar. É bastante fácil estarmos em casa rodeados de computadores, televisões, consolas de jogos, livros, e até aquele relógio mais ruidoso que nos puxa a atenção. Estando numa fase em que tenho de obrigatoriamente ser proativo, várias foram as tentativas que fiz para me concentrar, especialmente no início de tudo. Para mim, a técnica mais eficaz foi criar um horário de trabalho com base na técnica do time blocking, em que divido cada dia de trabalho em diferentes espaços de tempo destinados a fazer um conjunto de tarefas. Isso ajudou-me bastante a manter o foco e a evitar tantas distrações ao longo dos dias.

Por outro lado, a ausência da componente social presencial também afetou não só a minha produtividade, como também o meu estado de espírito geral. Passar de um mundo em que convivemos e nos divertirmos diariamente com os nossos amigos para um mundo em que temos de estar sozinhos e limitados ao contacto via internet é bastante difícil.

Houve alguma experiência que perdeste devido à pandemia? Como te sentiste?

Sendo finalista, a maior experiência que perdi foi, sem dúvida, a queima das fitas e todos os eventos sociais que celebram de alguma forma o fim do curso. Muitos dos estudantes anseiam e vislumbram o dia em que podem finalmente celebrar o fim do curso, seja de que forma for, e foi bastante difícil perceber que esse dia não iria acontecer das formas que antecipávamos.

Quais as expectativas para o início do novo ano letivo?

Com a evolução da pandemia, creio já ser transversal a todas as faculdades que os métodos de ensino à distância vieram para ficar, pelo menos durante mais alguns semestres. Se, em março, quando vigorou o isolamento social, praticamente nenhum estabelecimento de ensino estava pronto para uma mudança radical nos seus métodos, nos tempos correntes é de esperar que haja uma melhor organização e coordenação entre conselhos pedagógicos, professores e alunos. Em particular, espero que os métodos de avaliação sejam mais assentes e justos na sua generalidade, e que as várias dificuldades sociais impostas pelo ensino à distância não sejam esquecidas no momento de avaliação dos alunos.

E os principais medos e receios?

Creio que todos nós queremos voltar à normalidade o mais depressa possível, pelo que a tão falada segunda vaga é, sem dúvida, um grande medo. Por outro lado, tenho bastante receio de que a normalidade chegue depressa demais e que nos esqueçamos de todas as mudanças, e que os mesmos problemas que vigoravam antes da pandemia voltem a acontecer de uma forma mais agravada. Considero que existe um grande conjunto de medidas aplicadas nos estabelecimentos de ensino em resposta à pandemia que deveriam ser mantidas, mesmo depois da normalidade prevalecer entre nós, pelo que não as podemos descartar assim que a oportunidade vier.

O que tens mais medo e pena de perder, no caso de uma possível segunda vaga da pandemia, que obrigue a um novo confinamento?

Sem dúvida, a componente social. Acho que todos precisamos de restabelecer a vida social a que estamos acostumados, de uma forma ou de outra, pelo que a ideia de que possamos vir a estar fechados novamente é-me bastante assustadora.

Sentes que podes sair prejudicado com um novo confinamento e a obrigatoriedade de um ensino à distância na totalidade, seja por fatores académicos ou económicos?

Pegando no meu caso, em que já não vou ter mais aulas, creio que onde poderei sei mais prejudicado será na procura de emprego. A situação atual mudou bastante o ‘jogo’, pelo que há, numa generalidade, menos vagas e ofertas de emprego. Em termos académicos, creio que uma das maiores dificuldades será mesmo a janela financeira a longo prazo dos alunos. Por exemplo: valerá a pena continuar a pagar um quarto se não estou lá? Faz sentido pagar tanto por propinas neste contexto?

A instituição de ensino à qual te vais candidatar já definiu o planeamento do novo ano? Concordas? Que modelo te deixaria mais à vontade, presencial ou à distância?

Sim. Vai ser um regime misto presencial e remoto, que acho que é o que faz mais sentido. Há unidades curriculares mais práticas cuja presença é fulcral para que haja um ensino eficaz, e essas devem ser as prioritárias. Por outro lado, acho que têm de haver critérios rigorosos que definem as disciplinas, ou componentes dessas mesmas disciplinas, que devem ser leccionadas via remota ou presencial.

Daniela Pinto, 18 anos

A jovem do Porto segue, no próximo ano letivo, para o segundo ano da licenciatura em Ciências da Comunicação, na Universidade do Minho.

Como foi terminar o semestre à distância? Quais as principais dificuldades?

Terminar o semestre à distância não foi, de todo, fácil. Num curto espaço de tempo, tive de aprender a ligar o espaço de lazer ao de trabalho. Muitas das vezes não tinha sequer vontade de me levantar todos os dias de manhã para assistir a mais uma aula. O pior foi gerir todas as emoções que o confinamento causou e ainda ter sanidade para conseguir levar a cabo mais um semestre.

Houve alguma experiência que perdeste devido à pandemia? Como te sentiste?

Em contexto académico e de aulas e avaliações, sim. Consigo lembrar-me de dois trabalhos que estavam a ser já preparados antes de tudo e que realmente me tinham deixado bastante entusiasmada. Um deles dava-me a oportunidade de ir gravar a uma cabine de som e o outro tinha de adaptar um conto para teatro. Claro que, com a pandemia, estes dois trabalhos tiveram de ser reinventados, o microfone da cabine de som passou a ser o do telemóvel e o teatro ficou-se pelo papel. Foi algo que realmente ficou a saber a pouco. Também não me posso esquecer que perdi o meu primeiro Enterro da Gata que, apesar de saber que vou ter mais para poder aproveitar, não deixa de ser frustrante, tal como trajar pela primeira vez. São experiências que, embora as possa ter mais para a frente, sinto que perdi. 

Quais as expectativas para o início do novo ano letivo?

Sinceramente, as minhas expectativas não estão muito elevadas. Quer seja online ou presencial, tenho a sensação de que o ambiente pode ser sufocante e a hipótese de congelar a matrícula está em cima da mesa, até porque, realmente, foram poucas as coisas que verdadeiramente aprendi este semestre. A maioria foi decorar, escrever e esquecer, algo que nunca antes me aconteceu.

E os principais medos e receios?

Neste momento, acho que o meu principal receio é fazer mais um ano em que não aprendo verdadeiramente nada e que isso tenha repercussões no futuro.

O que tens mais medo e pena de perder, no caso de uma possível segunda vaga da pandemia, que obrigue a um novo confinamento?

Suponho que os momentos em que podia passar à prática. Todos os alunos do segundo ano referem que esse é um ano muito mais prático, em que se vai poder experimentar de tudo um pouco, e um novo confinamento ia tirar-me isso.

Sentes que podes sair prejudicado com um novo confinamento e a obrigatoriedade de um ensino à distância na totalidade, seja por fatores académicos ou económicos?

Claro que sinto, por isso mesmo congelar a matrícula é uma hipótese. Não me adianta de nada estar a pagar por um serviço em que saio de lá a reter zero informação ou em que me sinto frustrada sempre que abro o link para uma nova reunião no Zoom. Não tenho razão de queixa de nenhum dos meus professores, porque eles fizeram o que podiam para se adaptarem melhor a este regime, mas isto não é aprender. Há também a questão das propinas, obviamente, porque uma pessoa está a pagar por um estabelecimento e condições de que não está a usufruir.

A instituição de ensino à qual te vais candidatar já definiu o planeamento do novo ano? Concordas? Que modelo te deixaria mais à vontade, presencial ou à distância?

Não sei se já foi oficializado ou não, mas ouvi que saiu um comunicado em que iriam ser 30% presenciais e 70% online. Se assim for, não sei mesmo como me sentir, porque, por um lado, teríamos as tais aulas práticas e o convívio com os nossos amigos e professores, que parece que não, mas faz falta também. Mas, por outro, sinto iria haver sempre tensão no ar ao estarmos todos com mil e um cuidados. No que toca à parte online, é como já referi, iam ser aulas a requerer muita força de vontade e capacidade para enfrentar mais um semestre, ou ano até, assim, que apesar de ser mais seguro do que o presencial, sinto que ia deixar muitas coisas pelo caminho.

Carlota Lucas, 20 anos

Fotografia: Sincerely Media/Unsplash

A jovem natural do Caniço, na Madeira, encontra-se no curso de Estudos Artísticos, com variante das Artes do Espetáculo, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Como foi terminar o semestre à distância? Quais as principais dificuldades?

É muito fácil descrever como foi terminar o semestre à distância numa só palavra: péssimo. As minhas principais dificuldades foram encontrar motivação e lidar com a ansiedade acrescida devido à situação da pandemia e ao clima de incerteza.

Houve alguma experiência que perdeste devido à pandemia? Como te sentiste?

Perdi várias experiências, especialmente nas disciplinas práticas. Por exemplo, na cadeira de introdução à prática cinematográfica era suposto fazermos uma curta metragem e vi todas as minhas ideias a ir por água abaixo e acabei por ter que me contentar com algo para desenrascar. Mas o professor foi super acessível e compreensivo. Senti-me ansiosa, desmotivada e com vontade de congelar a matrícula, muito honestamente.

Quais as expectativas para o teu primeiro ano na universidade?

Não tenho grandes expectativas para o início do próximo ano letivo, visto que ainda é tudo muito incerto. O primeiro semestre será de grande adaptação ao “novo normal” mas penso que no segundo já estará tudo muito mais estável.

E os principais medos e receios?

O meu maior receio é que a deslocação da Madeira, um local onde atualmente não existe nenhuma cadeia de transmissão ativa, para a cidade de Lisboa aumente a probabilidade de poder ser infetada com a Covid-19. Como sou paciente de risco, a possível deslocação constante que terei de fazer entre casa e a universidade causa-me preocupação e ansiedade.

O que tens mais medo e pena de perder, no caso de uma possível segunda vaga da pandemia, que obrigue a um novo confinamento?

Tenho pena de perder as experiências das cadeiras práticas como aconteceu neste último semestre, de voltar a perder motivação e de repetir tudo o que aconteceu nos últimos meses. Eu sou daquelas pessoa que adora estar na faculdade, por isso o modelo online torna-se complicado para mim.

Sentes que podes sair prejudicado com um novo confinamento e a obrigatoriedade de um ensino à distância na totalidade, seja por fatores académicos ou económicos?

Sim, sinto, porque como já referi não me adaptei nada bem ao modelo online. Contudo, sinto que com mais tempo de preparação as aulas online podem melhorar, mas penso que na minha área o modelo presencial é muito mais eficaz. É complicado analisar um filme pelo Zoom. Preocupo-me mais com a aprendizagem do que com as propinas, mas defendo a redução das mesmas na eventualidade de um ensino exclusivamente à distância.

A instituição de ensino à qual te vais candidatar já definiu o planeamento do novo ano? Concordas? Que modelo te deixaria mais à vontade, presencial ou à distância?

Nada definitivo ainda, mas fomos informados há uns meses do que estavam a ponderar, que seria um modelo presencial e online, com redução para metade na lotação das salas e por turnos, com uso obrigatório de máscara, como é óbvio. Concordo a 100%.

Inês Barata, 20 anos

A jovem de Almada encontra-se a estudar ISCTE-IUL, na licenciatura de Psicologia.

Como foi terminar o semestre à distância? Quais as principais dificuldades?

Para mim, terminar o semestre à distância foi mais fácil e melhor, a única dificuldade que tive foi, nas primeiras semanas de aulas, conseguir prestar atenção e tomar notas sem me distrair. À parte disso, os trabalhos de grupo por videochamada correram muito melhor e deixei de perder mais de duas horas diárias em transportes públicos, o que me deu mais tempo para estudar, para os meus hobbies e até para dormir. O ensino foi bom e bem feito, não demorou a chegar após a noticia de quarentena nacional e as minhas notas subiram neste ultimo semestre.

Houve alguma experiência que perdeste devido à pandemia? Como te sentiste?

O cortejo da queima das fitas é sempre um ritual que faz parte, mas não senti que tivesse perdido realmente alguma coisa, estamos todos no mesmo barco.

Quais as expectativas para o início do novo ano letivo?

Espero que organizem bem os horários escolares e que não tenha mais de três dias de aulas físicas, afinal, o vírus ainda é uma realidade que está bem presente no nosso dia-a-dia.

E os principais medos e receios?

O meu principal receio é ter que voltar às aulas presenciais e andar outra vez de transportes todos os dias e em hora de ponta. Para além de que o meu instituto de ensino não tem espaço para todos os alunos e mesmo metade seria muita gente, pondo em risco um número elevado de pessoas.

O que tens mais medo e pena de perder, no caso de uma possível segunda vaga da pandemia, que obrigue a um novo confinamento?

O que tenho mais pena e medo de perder são as oportunidades de estar com as pessoas que mais gosto e que não vivem ou não estudam perto de mim.

Sentes que podes sair prejudicado com um novo confinamento e a obrigatoriedade de um ensino à distância na totalidade, seja por fatores académicos ou económicos?

O ISCTE lidou bem com o ensino à distância e, por isso, não sinto que fosse sair prejudicada, nem sinto que este método de ensino tenha sido de menos valor que o presencial. A única coisa que me preocupa são as aulas de Estatística online, onde não posso chamar o professor, mostrar-lhe o que fiz e perguntar onde errei, para mim aprender matemática através do Zoom é o mais complicado.

A instituição de ensino à qual te vais candidatar já definiu o planeamento do novo ano? Concordas? Que modelo te deixaria mais à vontade, presencial ou à distância?

O ISCTE apenas anunciou que se prevê que as aulas decorram em regime presencial e online, sem certezas ou dados concretos de nada, nem da data de início das aulas para o segundo ano. Pessoalmente, preferia que optassem por fazer todas as aulas online, com exceção das pratico-laborais.

Isabel Marques, 21 anos

A estudante natural de Caminha terminou, no ano letivo 2019/20, a licenciatura em Ciências da Comunicação, na Universidade do Minho. No próximo ano, vai iniciar o mestrado em Ciências da Comunicação no ramo profissionalizante de Informação e Jornalismo, na mesma instituição.

Como foi terminar o semestre à distância? Quais as principais dificuldades?

Foi estranho. Senti que acabei por não aprender tanto como presencialmente, porque no online temos mais tendência a dispersar. Mas, para mim, a principal dificuldade foi a nível das avaliações, especialmente os testes escritos. Tive muita dificuldade em concentrar-me. Primeiro, por existir um tempo limite menor ao que seria atribuído presencialmente. Segundo, por ser uma rapariga que sente necessidade de escrever tudo com papel e caneta, à maneira tradicional por assim dizer. Mas, apesar de tudo, correu melhor do que estava à espera. E é de louvar o esforço dos professores em se adaptarem às novas plataformas.

Houve alguma experiência que perdeste devido à pandemia? Como te sentiste?

Talvez a cerimónia da queima das fitas. Mas não me sinto propriamente mal com isso. Há sempre outras formas de celebrar este fim de capítulo com os que nos são mais queridos. Para mim, isso é o mais importante.

Quais as expectativas para o início do novo ano letivo?

Elevadas. A esperança de que as aulas voltem a ser presenciais, mesmo com a nova realidade.

E os principais medos e receios?

Acho que o maior receio é mesmo não ter aulas presenciais. E claro, uma segunda vaga da pandemia.

O que tens mais medo e pena de perder, no caso de uma possível segunda vaga da pandemia, que obrigue a um novo confinamento?

Talvez o medo de não aproveitar o novo ciclo de estudos, o mestrado, e de não adquirir a preparação suficiente para o mundo do trabalho.

Sentes que podes sair prejudicado com um novo confinamento e a obrigatoriedade de um ensino à distância na totalidade, seja por fatores académicos ou económicos?

Claro que sim. Em primeiro lugar, preocupa-me perder mais um ano, no sentido de não aproveitar a prática jornalística oferecida pela universidade. Em segundo lugar, o pagamento do valor das propinas, que no mestrado passa a ser mais elevado.

A instituição de ensino à qual te vais candidatar já definiu o planeamento do novo ano? Concordas? Que modelo te deixaria mais à vontade, presencial ou à distância?

Penso que não está de todo definido. Do que li e ouvi falar, a Universidade do Minho está a pensar fazer x por cento online e outro x por cento presencial, sendo que o calendário escolar seria alargado até sábado. Só os alunos do 1º ano dos diferentes ciclos de estudo teriam aulas presenciais. Concordo com isso. Tenho noção de que se não for feita uma distribuição equilibrada do online e do presencial não vai haver salas suficientes para os alunos, de forma a cumprir as regras da DGS. O modelo preferencial seria o presencial.

Artigo coordenado por Diana Carvalho, com Miguel Rocha e Ana Silva.
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