Macabro, do realizador brasileiro Marcos Prado, foi um dos filmes que fechou a 14.ª edição do Festival de Cinema de Terror de Lisboa. Protagonizado por Renato Góes, Guilherme Ferraz, Eduardo Tomaz e Diego Francisco, o filme conta a história verídica de dois irmãos que mataram brutalmente e praticaram necrofilia com, pelo menos, oito mulheres.
Macabro começa com uma operação do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) numa favela do Rio de Janeiro, onde a personagem principal, o Sargento Teobaldo (Ricardo Góes) mata um habitante da comunidade por achar, equivocadamente, que ele trazia consigo uma arma. Este caso é inspirado num caso semelhante que aconteceu em 2010, quando um general do BOPE alvejou um civil em sua própria casa que estava a segurar um berbequim, que foi confundido com uma arma.
Para desviar a atenção do Ministério Público e de ativistas dos direitos humanos, o seu superior envia-o, juntamente com o seu batalhão, para uma missão especial em Nova Friburgo, a terra natal do Sargento no interior do Rio de Janeiro, para encontrar dois irmãos, Inácio e Matias, que têm vindo a perturbar a paz dos moradores da pequena aldeia ao matar e violar mulheres.
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Teobaldo, para além de ter de enfrentar a fúria dos habitantes da aldeia quando se resume a entrevistá-los, ao invés de procurar os dois irmãos responsáveis pelos assassinatos, tem ainda de encarar os fantasmas do passado que deixou para trás, quando se viu obrigado a migrar para a capital do Rio de Janeiro depois da sua relação proibida com a prima, menor de idade, ter sido descoberta pelo tio.
O enredo vai-se desenrolando de maneira muito lenta – há muita paisagem e pouca ação. O ponto alto do filme é, definitivamente, a fotografia, constituídas por belas paisagens cariocas que ultrapassam as praias a que estamos habituados. O que resta do filme é uma narrativa lenta e pouco chamativa, com um discurso falacioso que cai por terra no fim do filme: Sargento Teobaldo tenta mostrar aos habitantes da aldeia que os crimes dos rapazes foram impulsionados pelo ódio e racismo que a comunidade sempre lhes dirigiu e pelo abuso que sofriam nas mãos do pai alcoólico. Mas quando finalmente encontra o irmão culpado (o outro, protegido pelo Padre em troca de favores pouco religiosos, na verdade não participava na matança), todo o discurso progressista desaparece e o Sargento mata-o mesmo quando o seu braço direito, o Cabo Everson, que várias vezes mostra o seu desconforto por ser um dos únicos negros na aldeia, lhe pede para não disparar.
Inspirado na história real dos irmãos Ibraim e Henrique de Oliveira, o filme acaba por contar fielmente os acontecimentos que sucederam em Nova Friburgo nos anos 1990, mas o ângulo que o realizador escolheu para contar a história, com todo o drama focado na personagem de Teo e na sua brigada militar, deixa pouco espaço para quem realmente sofria com os ataques dos irmãos e não dá abertura a uma história multidimensional. A cinematografia é, certamente, lindíssima, mas a história que a acompanha é insípida e acaba por marcar o espetador pela negativa.