Que Adam Sandler é um nome incontornável da comédia estadunidense é um facto incontornável. O ator, comediante e realizador, que é um dos mais prolíficos no que toca comédias romântico-obscenas e tem a sua própria produtora, a Happy Madison, completa hoje (9) 54 anos. Para celebrar, relembramos o seu percurso no mundo da comédia, desde os seus espetáculos de stand-up comedy e atuações no Saturday Night Live, e mostramos que apesar de ser associado automaticamente a este género cinematográfico, o talento não se esgota aí. Adam Sandler é um ator multifacetado que, desde o início da sua carreira, mostrou-nos que é excelente em papéis dramáticos.
Adam Sandler nasceu em 1966 em Nova Iorque e com apenas 17 anos começou a dar nas vistas no mundo da comédia, em espetáculos de stand-up comedy em vários clubes de comédia. Um dos seus primeiros papéis foi no The Cosby Show, uma sitcom que liderou as audiências durante cinco anos seguidos. A sua estreia no cinema foi em Going Overboard, um filme de comédia sobre comediantes a bordo de um cruzeiro (com a humilde cotação de 1.8 no IMDB). Em 1989, o comediante Dennis Miller, durante uma das várias atuações de Sandler em clubes de comédia, reparou no talento do jovem comediante e recomendou-o aos produtores de Saturday Night Live. No ano seguinte, Sandler foi contratado pelo programa.
Durante vários anos, Sandler protagonizou várias comédias físicas que tiveram uma má receção por parte dos críticos, entre elas Billy Madison que, apesar de ter sido negativamente avaliada pela crítica cinematográfica, foi um sucesso junto do público estadunidense, tendo sido um hit de bilheteira no ano em que estreou, 1995.

Um artista multifacetado
As coisas começaram a transformar-se em 2002, aquando da estreia do drama Punch-Drunk Love, do conceituado realizador Paul Thomas Anderson cujos filmes Magnolia e Boogie Nights tinham conquistado as audiências mundo fora. Em Punch-Drunk Love, Sandler é Barry Egan, o dono de uma empresa que faz desentupidores de sanitas com sete irmãs que o ridiculam a cada oportunidade, o que lhe provoca ataques de raiva e de ansiedade social. Num evento familiar, onde a chacota das irmãs vai longe demais, Barry acaba por partir uma janela de vidro e por pedir o número de um psicólogo, para ajudá-lo a enfrentar a sua ansiedade e a interminável solidão onde se encontra.
Desde a marcação de um encontro com uma prostituta (algo que ele se arrepende de fazer imediatamente a seguir, despoletando um esquema de extorsão de dinheiro), à tentativa de construir um relacionamento com Lena (Emily Watson), colega de uma das irmãs de Barry, o jovem empreendedor vai lidando com os problemas que vão surgindo após uma viagem ao Hawaii, onde Lena se encontrava numa viagem de trabalho. Ao mesmo tempo, ele coleciona cupãos de embalagens de pudim para recolher pontos (miles) para uma viagem – quando finalmente os completa, promete que acompanhar a sua amada em todas as futuras viagens de trabalho com os pontos conseguidos.
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Punch-Drunk Love foi o primeiro filme onde vemos um Adam Sandler sério, composto, sem recurso ao humor físico e atrevido que lhe era tão característico. A longa-metragem recolheu vários louros, incluindo um 3.5/4 do crítico de cinema Roger Ebert, um prémio de Melhor Ator a Adam Sandler no Festival Internacional de Cinema de Gijón, um prémio a Paul Thomas Anderson no Festival de Cannes e uma nomeação ao Palm D’Or.

The Meyerowitz Stories, um original da Netflix realizado em 2017 por Noah Baumbach (Frances Ha, Marriage Story) é outro filme que mostra a versatilidade de Sandler. Os três filhos de Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) voltam a reencontrar-se em Nova Iorque para a retrospectiva da carreira do pai, um professor na renomada Universidade de Bard. Sandler tem um foco especial na trama, pois é recém-divorciado e é obrigado a voltar a viver com o pai e a nova madrasta, protagonizada por Emma Thompson.
Mas o filme onde Sandler realmente brilhou foi em Uncut Gems, o original da Netflix dos irmãos Benny e Josh Safdie. Considerado um dos melhores filmes de 2019, este drama/thriller angustiante conta-nos a história de Howard Ratner, um joalheiro judeu viciado em jogo da Diamond District, a rua de Nova Iorque que é um dos centros globais do comércio de diamante.
Em Uncut Gems, Sandler dá a performance de uma vida, faz-nos odiá-lo e amá-lo ao mesmo tempo, faz-nos sentir raiva, pena e nojo, tudo ao mesmo tempo. O ritmo acelerado do filme condiz com o batimento cardíaco do espectador e um dos grandes responsáveis por isto é o próprio Sandler, que com um elenco à altura, composto por Idina Menzel, Lakeith Stanfield, Julia Fox e Eric Bogosian, torna este filme inesquecível. Muitos fãs revoltaram-se à falta de nomeação aos Óscares, com razão. Já sabíamos do talento acrescido deste comediante dramático, mas Uncut Gems lapida Sandler de uma maneira irrepreensível, mostrando que ele é capaz de muito mais do que alguma vez imaginámos.
São poucas as atuações que Sandler nos oferece fora da rota normal das suas comédias repetitivas, mas quando o vemos em papéis mais sérios, o certo é não sairmos desapontados. Adam Sandler criou um império no cinema de humor físico, e conquistou o seu lugar como Rei nesta indústria. Mas não nos podemos esquecer que este é, também, um dos atores mais talentosos do cinema norte-americano, e não faltam provas para isto.