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Dua Lipa
Fotografia: Charles Dennington/Vogue Australia

Dua Lipa. A carreira em ascenção da nova princesa da pop

Dua Lipa completa este sábado 25 anos. A artista já nasceu com genes musicais, mas a sua carreira vai muito para além disso

Dua Lipa nasceu em Londres e tem herança jugoslava, por parte dos pais, que nasceram no atual Kosovo. Este sábado (22), completa 25 anos. Desde os 20, em 2015, que é um fenómeno na música pop e o Espalha-Factos passa em revista a ascenção de uma estrela que veio para ficar.

Parece tratar-se de um nome artístico, mas Dua Lipa é, efetivamente, o nome verdadeiro da artística britânica, que nasceu numa família jugoslava e, à data (1995), do Kosovo. A filha de Dukagjin e Anesa Lipa nasceu em Londres, para onde estes se haviam mudado para, presumivelmente, fugir aos conflitos da sua terra natal.

Em 2008, foi tempo de regressar ao Kosovo – mas a filha do casal voltaria para Londres cedo, para seguir os seus sonhos.

O início da carreira musical

Na sua adolescência, Dua Lipa partilhava vídeos a cantar no YouTube, tal como outros artistas com ambições semelhantes, sendo exemplo disso Justin Bieber ou até mesmo, mais perto de nós, Mia Rose.

Mas não foi a plataforma que lhe garantiu a sua descoberta. Dua juntou-se a várias companhias de agenciamento de artistas musicais para tentar encontrar o seu sucesso. Em 2013, a Tap Management foi a primeira companhia que lhe permitiu trabalhar inteiramente na música.

Até ao momento, dividia a sua atenção entre a busca por quem ouvisse a sua voz e entre trabalhos diversos, fosse como empregada em bares ou como modelo para websites como a ASOS (que eventualmente deixaria por não ter as “proporções ideais“, como lhe eram descritas estas recusas).

Foi em 2015, quando assinou contrato com a Warner Music Group, que a carreira da britânica finalmente descolou. Foi nesta altura que vimos chegar aos charts temas como ‘Be The One’ (2015), o seu primeiro êxito, ou ‘Hotter Than Hell’ (2016), esta última guardada na gaveta já desde os seus 18 anos.

‘New Rules’, o novo hino feminino

Em 2017, Dua Lipa lançou o seu primeiro álbum, cujo título é apenas o seu nome – mais tarde, viria-se a perceber que isso bastou. O álbum incluiu os singles que a cantora lançara nos dois anos anteriores, em que se estreava no cenário da música pop britânica e feminina, e trazia ainda duas grandes canções que marcariam os amores jovens desde então: Dua Lipa introduzia “novas regras” e uma delas, que mais tarde relembrou, é um simples estou-me a cag*r.

O conceito de sororidade, que se perdera nas últimas décadas para cada vez mais fortes rivalidades femininas, começa a reaparecer nesta altura. Considera-se que o videoclipe de New Rules(2017) acabou por influenciar essa tendência, tão bem que, até hoje (e para já), continua a ser a música mais bem sucedida da artista.

A canção tem um papel de hype up a todos aqueles que estão a passar por fases complicadas na sua vida amorosa (amores não correspondidos ou finais de relação conturbados) e, num aspeto mais literal, pretende afastar aqueles que estão a sofrer da própria causa desse sofrimento – uma relação. As regras são simples, embora até a própria Dua Lipa admita que não conseguiu sempre segui-las. Numa entrevista à National Public Radio, confessou que são regras importantes e auto-lembretes para que não se ceda a tentações momentâneas.

New Rules‘ esteve no top 10 do Billboard Hot 100, e no Reino Unido chegou ao 1.º lugar dos charts, ultrapassando ‘Hello’ de Adele, a última música por uma artista feminina a chegar ao topo. O sucesso musical destas 3 simples regras fê-la viajar em digressão pelo mundo porque todos a queriam ver, incluindo Portugal, por onde passou pelo festival Sudoeste em 2017 e prometeu voltar – e voltou, em 2018, para passar férias na cidade do Porto e na região do Douro.


As regras ditariam também o sucesso inquestionável de Dua Lipa nas premiações do ano seguinte. Em 2018, recebeu 5 nomeações para os Brit Awards. Não só foi a primeira vez que uma artista feminina recebeu tantas nomeações, como foi também a artista mais nomeada da noite. Trouxe para casa os prémios de Artista Solo Britânica Feminina e de Melhor Revelação Britânica.

Neste ano, já todos estavam apaixonados por Dua Lipae não foi preciso um beijo para tal. Mas só para o confirmar, tiveram de lhe dar um Grammy de Artista Revelação, em 2019.

Ao segundo disco, a nostalgia do futuro revoluciona a sua carreira

Estávamos quase no final do ano quando Don’t Start Now começou a tocar nas estações de rádio, nas lojas dos shoppings e nas discoteca. E suspirámos de alívio, estando solteiros ou comprometidos, há pouco ou muito tempo: ‘Don’t Start Now’ parecia parte de uma sequência lógica de como agir após o final de um relacionamento, que começava em ‘New Rules‘ e passava por ‘IDGAF‘. A rainha da superação estava de volta e anunciava um novo álbum.

Ansiosos, os fãs aguardaram: Dua Lipa mencionou que traria ao mundo, em 2020, o álbum Future Nostalgia, que prometia ser diferente do seu primeiro álbum de estúdio, verdadeiramente puxando o seu dance pop ao extremo: “O álbum tem vários elementos nostálgicos, influências de disco dos anos 80. E é basicamente uma aula de dancercise durante toda a duração!“, confessou na altura.

As adversidades do mundo real – uma pandemia – mostraram-se como um impedimento para vários artistas nesta altura, porém o álbum tinha de sair do seu casulo: Future Nostalgia (2020) apareceu nas plataformas habituais no final de março, e rapidamente foi comentado por todos e por todo o lado na Internet, fosse pelo seu som retro e cativante (para todos os que estavam em casa a tentar implementar rotinas de exercício, certamente ajudou), fosse pelas letras que sugeriram, principalmente, o empoderamento feminino.

O disco é um dos mais aclamados do ano pela crítica. Com os singles Don’t Start NowPhysicalBreak My Heart e Hallucinate, além do promocional Future Nostalgia, valeu a Dua Lipa a entrada no top 3 da Billboard Hot 200 com o primeiro single e a permanência no topo da parada do Reino Unido durante quatro semanas não-consecutivas, o primeiro a conseguir este feito.

Além dos tops tradicionais, Future Nostalgia é um sucesso nos serviços de streaming: no dia de lançamento, foi, simultaneamente, o disco mais ouvido de uma artista britânica nos Estados Unidos, no Reino Unido e também globalmente no Spotify, com 21.7 milhões de streams alcançados na primeira semana. Este lançamento garantiu também a Dua Lipa tornar-se na primeira artista feminina a ter quatro canções com mais de mil milhões de reproduções na mesma plataforma.

A presença feminista e a política

No último tema do mais recente álbum de Dua Lipa ouvimos:boys will be boys / but girls will be women (rapazes serão rapazes mas raparigas serão mulheres).

Curiosamente, esta ideia vai de encontro ao que Anne Hathaway dizia quando protagonizou Jules no filme The Intern: “Já ninguém chama aos homens “homens”. Repararam? As mulheres passaram de “raparigas” a “mulheres”. Mas os homens passaram de “homens” para “rapazes”?“.

Mas, enquanto que Jules está a falar sobre o facto de os homens terem perdido o cavalheirismo e do facto de sentirem que a sua masculinidade evapora com o sucesso feminino, em ‘Boys Will Be Boys’ Dua Lipa está a falar-nos sobre o problema de desrespeito e abuso que todas as raparigas tiveram de aguentar, desde que o eram, até que se tornaram mulheres.

A consciencialização através da arte é um aspeto importante para chamar atenção aos problemas da sociedade, como é o caso do machismo, da toxicidade vivida nos mundos feminino e masculino, interligados ou não. De forma aparentemente discreta e sonoramente animada, Dua vai além da cura de corações partidos para passar uma mensagem necessária.

A cantora, porém, não se esgota nas canções sobre o empoderamento feminino. Em 2017, Dua Lipa confessou querer usar a tua plataforma para ensinar as gerações mais novas sobre o feminismo, acreditando que “qualquer pessoa que não acredite na igualdade para todos é sexista”.

Querer a igualdade entre homens e mulheres passa por querer a igualdade em todos os aspetos

A artista tem-se pronunciado, nos últimos 5 anos, não apenas sobre a igualdade independentemente de género, mas também sobre a igualdade para além da orientação sexual.

Desde a sua estreia no mundo musical que tem mostrado o seu apoio à comunidade LGBTQ+. Embora se questione qual a orientação sexual da cantora, a mesma nunca falou sobre isso em público. Pertencendo à mesma ou não, este apoio passa, por agora, pela participação em eventos como marchas LGBTQ+ e pela consciencialização através do uso das suas redes sociais, onde tem um grande following.

O envolvimento no feminismo e na comunidade LBGT+ acarreta, também, o seu envolvimento nas questões políticas e raciais que, infelizmente, estão na ordem do dia. No Reino Unido, apoiou o Partido Trabalhista, e embora não tenha voto na América, assume-se como apoiante do Partido Democrata nas eleições dos Estados Unidos – apoiou publicamente Bernie Sanders até o momento em que este se retirou da corrida eleitoral.

Junho marcou momentos de forte tensão para as vidas negras nos Estados Unidos e no mundo. A artista esteve presente em protestos pela causa Black Lives Matter em Londres, com a sua família, e mostrou também o seu apoio nas redes sociais, especialmente atendendo aos que têm a sua vida dificultada pela sua raça e pela sua identidade sexual simultaneamente.

O taboo do Leste e do Meio Oriente

Dua Lipa tem família em Kosovo, que fazia parte da Jugoslávia, nos Balcãs – zona internacionalmente reconhecida pelos conflitos, e assim o é desde o século XX. O verniz estala sempre que a artista publica nas suas redes sociais sobre as suas origens.

Recentemente, a artista partilhou um stories no seu Instagram que falava sobre “porque é que o Kosovo não é e nunca será a Sérvia“, o que gerou controvérsia entre algum do seu público, especialmente dos residentes na área, acusando-a de ser etno-nacionalista e de promover o separatismo étnico. A cantora considerou ter sido mal interpretada.

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Dua Lipa e o Primeiro-Ministro do Kosovo, Isa Mustafa, em 2016. | Fotografia retirada do website oficial do Governo kosovar (The Prime Minister Office)

Em conjunto com o pai, Dua Lipa é responsável pela Sunny Hill Foundation, uma fundação cujo objetivo é ajudar aqueles com mais dificuldades na zona da Pristina-Kosovo. O mais recente projeto da fundação consiste num investimento de 250 000 euros para a criação de um centro de música e arte na região.

A questão das etnias nos Balcãs não é a única em que se ouve a voz de Dua Lipa, embora seja essa a mais próxima do seu coração. Meses antes, a cantora teria partilhado, e mais tarde eliminado, um post sobre o conflito entre Israel e a Palestina, que mostrava detenções de palestinianos por parte das forças israelitas. A polémica publicação incluia a acusação de que “falsos judeus” em Israel e “falsos cristãos” nos Estados Unidos estariam a fomentar o aparecimento de forças fundamentalistas, como o Hamas, para que as pessoas acreditassem ser esse “o motivo de décadas de ocupação, opressão, limpeza étnica e homicídios”. 

A cantora pronunciou-se várias vezes nas suas plataformas sobre os conflitos atuais no Médio Oriente, como a guerra na Síria ou a situação do Líbano.

O que podemos esperar de Dua Lipa no futuro?

Os fãs aguardam pela continuidade do seu som na música pop como a temos vindo a conhecer, mas não descartam o toque subtil de mudança no padrão da mesma, mesmo que a mudança seja para retomar ritmos das décadas anteriores.

De acordo com Dua Lipa, a sua inspiração musical são artistas e grupos tão diversos como Gwen Stefani, Blondie, Nelly FurtadoOutkast ou Madonna – em agosto, a “rainha da pop” participou no remix de um dos temas do álbum de Dua Lipa com Missy Elliott. A britânica já disse que gostaria de ter uma carreira como a de Madonna, que considera ter tido o seu auge décadas mais tarde. No podcast What We Coulda Been, confessou: “Eu quero fazer isto pelo máximo de tempo possível. Sinto que a Madonna teve o seu auge aos 40 ou 45 e fez o melhor álbum pop de sempre, e ela continua a arrasar.

Neste momento, a carreira de Dua Lipa parece continuar a voar rumo às estrelas sem paragem em vista. Ainda este mês, a artista lança Club Future Nostalgia, um disco de remixes das faixas originais que, além da colaboração com Madonna e Missy Elliott, trará também featurings com Gwen Stefani ou Mark Ronson. Além de uma nova digressão internacional em 2021, está ainda prometido um Side B do mais recente disco – que servirá de continuação a esta era da sua carreira, a qual pretende trabalhar durante pelo menos dois anos.

De desconhecida a ganhar o apelido de nova princesa da pop, Dua Lipa dá provas consequentes da mestria que, em conjunto com a sua equipa, tem para se superar a cada novidade. Um caminho a observar, que promete fazer-nos levitaralucinar, sem nunca nos partir o coração.