Agosto é, para muitos, sinónimo de férias. Por isso, saindo de casa ou não, o Espalha-Factos, como já é habitual, traz-te uma lista de livros para pores a leitura em dia nestas férias de verão.
A quarentena obrigou o mercado editorial português a fazer uma pausa na maioria dos seus lançamentos. Mas a reabertura das livrarias, assim como outras lojas, significou também o retorno das novidades às estantes e escaparates.
Nesta lista vais encontrar obras de todos os cantos do mundo e, desta vez, todas traduzidas para português, num gesto que pretende incentivar o apoio às editoras portuguesas, ainda a recuperar do impacto da pandemia. No entanto, os nomes originais das obras vão estar disponíveis, para que possas procurar a edição que maior interesse tenhas em ler. Desfruta, e boas leituras!
Os Vivos e os Outros de José Eduardo Agualusa

Começamos pela lusofonia. A novidade da Quetzal é o novo romance do autor angolano José Eduardo Agualusa, num retorno à personagem Daniel Benchimol, que surge nos seus outros livros A Sociedade dos Sonhadores Involuntários e Teoria Geral do Esquecimento, este último tendo sido finalista do Man Booker Prize International, um prémio para obras traduzidas no Reino Unido e Irlanda que distinguiu outras obras também nesta lista. Agualusa é um autor imperdível da literatura contemporânea em língua portuguesa, vencedor de outros prémios internacionais como o Independent Foreign Fiction Prize, em 2004, pelo O Vendedor de Passados, e o Internacional Dublin Literary Award.
Os Vivos e os Outros passa-se na Ilha de Moçambique, onde um grupo de trinta de escritores africanos, no decorrer de um festival literário, se vê isolado por sete dias na sequência de uma tempestade no continente (e de outras ocorrências trágicas). Mas é também uma história onde acontecem “uma série de estranhos e misteriosos acontecimentos, que colocam em causa a fronteira entre realidade e ficção, passado e futuro, a vida e a morte, e inquietam os escritores e a população local”.
Corpos Celestes de Jokha Alharthi

Corpos Celestes é o primeiro livro de Jokha Alharthi que chega ao mercado português, pelas mãos da Relógio D’Água. Celestial Bodies, a sua tradução inglesa, foi distinguida com o Man Booker International Prize de 2019 – um prémio que prestigia a autora e a tradutora do melhor livro traduzido publicado nesse ano no Reino Unido ou Irlanda. A vitória foi também a primeira de uma autora de Omã, com um livro que é, ele próprio, uma janela para o país e para a vida das mulheres omani. Mas apesar de este ser o seu primeiro livro editado em Portugal, Jokha Alharthi é já uma experiente escritora, autora de três romances, dois livros infantis e vários livros de contos, com um doutoramento em Poesia Árabe Clássica pela Universidade de Edimburgo e sendo professora em Mascate, na Sultan Qaboos University.
Corpos Celestes (Sayyidat al-qamar) é a história de três irmãs na vila de al-Awafi, que navegam o complexo presente em Omã, onde a tradição e a modernidade chocam. Através de Asma, Khawla e Mayya acompanhamos a evolução e desenvolvimento de Omã através dos altos e baixos de uma família. O The Guardian achou-o “fascinante. Mostra-nos uma cultura muito pouco conhecida no Ocidente”, o The Irish Times salientou que “traz uma distinta e importante nova voz ao mundo literário”, e a revista TIME exalta o facto de ir “para lá das estereotipadas narrativas sobre mulheres muçulmanas que desafiam o patriarcado”.
10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho de Elif Shafak

Elif Shakaf é já uma presença constante nas estantes ao redor do mundo. A autora turco-britânica, a mais lida na Turquia, escreve tanto em turco como em inglês. 10 Minutes 38 Seconds in this Strange World, o seu mais recente romance, originalmente publicado em inglês, teve a distinção de estar na shortlist do Booker Prize de 2019. Autora de outras catorze obras, como A Bastarda de Istambul, traduzida em mais de 40 línguas, Elif Shafak é licenciada em Relações Internacionais, mestre em Estudos de Género e da Mulher e doutorada em Ciências Políticas. Já leccionou em universidades na Turquia, Reino Unido e Estados Unidos, é membro do Conselho Global do Fórum Económico Mundial na área de Economia Criativa, membro fundador do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR), e é uma defensora dos direitos da mulher e LGBT.
Nesta sua mais recente obra, editada em Portugal pela Editorial Presença, cada minuto após a morte de Leila Tequila permite-lhe reviver momentos e sensações que a levam de volta a momentos-chave que definiram a sua vida – a infância, a adolescência, até ao presente no bordel onde trabalha. Mas cada memória traz consigo amigos que, no presente, estão desesperados à sua procura. O Financial Times chamou-o de “um romance rico e envolvente que dá voz aos invisíveis, aos intocáveis, aos desfavorecidos e aos que mais sofrem na sociedade, transformando as suas canções de dor em algo belo”, e que o The New York Times Book Review achou “um retrato magnífico de uma cidade, uma sociedade, uma pequena comunidade e de uma alma singular”.
A Invenção Ocasional de Elena Ferrante

A autora-sensação italiana, Elena Ferrante, tem novo livro a caminho. A Vida Mentirosa dos Adultos (La vita bugiarda degli adulti), lançado na Itália em novembro do ano passado, tem data de lançamento internacional marcada para 1 de setembro, que também será cumprida pela sua editora portuguesa, Relógio d’Água. A obra é o novo romance da autora, famosa pela Tetralogia de Nápoles (A Amiga Genial, História do Novo Nome, História de Quem Vai e de Quem Fica e História da Menina Perdida), e que, como esta, também já tem adaptação confirmada, desta vez na Netflix.
Mas enquanto o novo romance não é lançado, podes ler a última obra publicada da autora. A Invenção Ocasional (L’invenzione occasionale) é uma coletânea dos textos publicados no The Guardian durante um ano, entre 20 de janeiro de 2018 e 12 de janeiro de 2019, a partir de questões colocadas por editores do jornal britânico. Com ilustrações de Andrea Ucini, esta antologia de 51 textos é uma leitura curta mas interessante que aborda um vasto leque de temas, perfeito para quem anseia por mais da escritora do momento.
A Dança da Água de Ta-Nehisi Coates

Chegou o mês passado às livrarias portuguesas o primeiro romance de Ta-Nehisi Coates, autor de outros três livros – The Beautiful Struggle, Between the World and Me e We Were Eight Years in Power: An American Tragedy –, e que escreveu durante muito tempo para o jornal The Atlantic. Ao longo da sua carreira, Coates sempre se focou na problemática do racismo e da supremacia branca nos Estados Unidos, e nos problemas sociais e políticos que afetaram e afetam, em particular, a comunidade negra e afro-americana.
Neste livro, vencedor do National Book Award para Melhor Obra de Ficção – prémio que já tinha vencido, na categoria de Não-Ficção, com Between the World and Me -, Hiram Walker nasceu escravo nos Estados Unidos da América na época pré-Guerra Civil, numa plantação de tabaco no estado da Virgínia. Filho do esclavagista branco que é seu dono e de uma escrava que é vendida quando ele era ainda pequeno, Hiram não se lembra da mãe, apesar da sua excelente memória fotográfica. Um dia, num acidente em que quase morre afogado, descobre que tem um superpoder que é ativado por memórias repentinas da mãe, o que o leva a criar um plano para escapar da única casa que conhece. Da crueldade mortífera do esclavagista Antebellum South aos movimentos idealistas que ganhavam tracção nos estados do Norte, The Water Dancer é um épico surrealista, uma história dramática e emocionante que recorda o passado e nos faz pensar nas suas marcas no presente, e “um trabalho transcendente que restaura a humanidade daqueles a quem tudo foi tirado”, como relembra a Editora Cultura que o edita, agora, em Portugal.