A GLAAD organizou a sua primeira edição virtual dos GLAAD Media Awards esta quinta-feira (30). A gala celebra a representatividade de experiências LGBTQI+ nos media e premeia representações satisfatórias e inclusivas de pessoas queer de cor. Os principais vencedores da noite foram as séries Pose e Schitt’s Creek, o filme Booksmart e o cantor Lil Nas X.
Os vencedores de algumas categorias foram sendo revelados durante o dia, através do Twitter, e cada um deles pôde fazer discursos de agradecimento dos prémios. A série Pose, da FX, ganhou o prémio de Melhor Série Dramática, com grande parte do elenco, desde Mj Rodriguez, Billy Porter, Dominique Jackson, Angelica Ross, Indya Moore, Ryan Jamaal Swain, entre outros, a aceitar o troféu.
O elenco deixou algumas palavras sobre a forma como a série conseguiu abalar o cenário televisivo dos últimos anos, mas também honrou, no seu discurso, a comunidade LGBTQ+, comunidade trans negra e latina e ainda as pessoas queer, por se permitirem a ser “os seus próprios heróis.” De notar o facto de Pose ser a primeira grande série em televisão a centrar-se em mulheres trans de cor.
Schitt’s Creek ganhou o galardão de Melhor Série de Comédia, tendo também contado com alguns membros do elenco, Dan Levy, Karen Robinson e Noah Reid, a aceitar o troféu. Do lado do cinema, o filme Booksmart venceu o prémio de Melhor Filme, com Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever, as atrizes que formaram a dupla da história, e Olivia Wilde, a própria realizadora, a aceitarem o prémio.
Beanie, ao aceitar o prémio, num ecrã dividido com Olivia e Kaitlyn, deixou claro que o prémio “significa muito para mim enquanto atriz queer.” A atriz pediu ainda, no seu discurso, para que as pessoas abracem “aquilo que és, porque só existe um de ti.” Cara Delevigne, atriz e modelo, apresentou um dos prémios da noite, vestida com um casaco peludo de arco-íris, e partilhou o mesmo sentimento: “Cada um de vocês é especial”.
Lil Nas X agradeceu a todos por ter vencido o prémio de Melhor Artista Musical. Dolly Parton cantou à capela e confessou estar “emocionada” por ter sido premiada pelo seu programa, Dolly Parton’s Heartstrings.
#BlackLivesMatter no centro dos discursos
A cerimónia foi palco de várias chamadas de atenção para a importância da representatividade da comunidade negra LGBTQ, no grande e pequeno ecrã. Angelica Ross, uma das atrizes principais de Pose, falou sobre os eventos recentes que provocaram os protestos globais em defesa do movimento Black Lives Matter. “Quando vimos aquele vídeo dos polícias brancos a matarem o George Floyd, nós explodimos”, disse.
“Aquelas imagens inflamaram-nos e encorajaram-nos. Portanto, quando protestamos, publicamos nas redes sociais, vamos continuar a mudar a forma como as pessoas pensam das vidas negras, especialmente vidas negras LGBTQ, ao contar as nossas histórias no grande e pequeno ecrã.”, pediu Angelica, salientando o facto de que a luta pelos direitos da comunidade LGBTQ ainda estão longe de acabar.
A atriz acabou o seu discurso com um apelo à ação: “Aliados, precisamos de vocês para denunciar situações de transfobia, homofobia e racismo, logo no momento em que parem de assistir a esses momentos. É assim que começamos a ver conteúdo, e começamos a sentir justiça a ser feita.”
O apoio à comunidade trans
Mas se os vencedores eram autênticas estrelas, do lado de quem apresentou os prémios individuais também pudemos contar com caras sonantes. Por exemplo, para apresentar o prémio de Melhor Série Dramática, estiveram presentes, remotamente, a atriz Gabrielle Union, e o marido e ex-jogador profissional de basquetebol norte-americano, Dwayne Wade.
O casal é um assumido aliado da comunidade LGBTQ+, e aproveitou o momento para demonstrar o quão orgulhosos se sentem por serem pais de uma criança transgénero. “A nossa filha Zaya está a guiar-nos nesta jornada,”, disse Wade, admitindo que existiram momentos em que ainda não percebia o que significava o facto de alguém querer viver a sua verdadeira essência. “Quero agradecer à Zaya por me ensinar e à GLAAD por elevar as imagens e mensagens que aceleram a aceitação em cada familia.”
Union acrescentou: “Essa missão ainda tem mais significado para nós, agora, enquanto educamos todas as nossas crianças negras. As vidas negras importam e as vidas trans negras importam. Estamos a convocar todos os nossos guerreiros da justiça racial para abrirem os vossos corações, e as vossas mentes, para a comunidade LGBTQ+, para podermos trabalhar todos juntos, servirmos de apoio de uns para os outros e salvarmos vidas.”
Demi Lovato, que apresentou Shea Diamond, antes de esta cantar a canção We Are Here, também fez questão de dizer algumas palavras: “Para todos os jovens trans, quero assegurar-me que vocês sabem que importam. Fiquem orgulhosos por quem são, mantenham as vossas vozes altas e fortes, e saibam que estamos a lutar por vocês.”
A componente política da cerimónia
Rachel Maddow ganhou o prémio de Melhor Segmento Televisivo, na área do jornalismo, pela sua entrevista com Pete Buttigieg, ex-candidato presidencial norte-americano, no seu programa, The Rachel Maddow Show. Na hora de agradecer o prémio disse que “estamos num ponto em que uma apresentadora de televisão, assumidamente gay, consegue aceitar um prémio por ter feito uma entrevista a um candidato principal a presidente, também assumidamente gay.”
A jornalista prosseguiu, referindo que o progresso nos Estados Unidos “raramente é linear, e raras são as vezes em que acontece por si próprio. Se estás, no mínimo, inspirado pelo progresso que vês, vota, por favor, organiza-te, candidata-te à presidência, e se ficas chocado com a regressão que vês, vota, por favor, organiza-te e candidata-te à presidência.”
Apresentada pelos comediantes Fortune Feimster e Gina Yashire, a cerimónia virtual contou ainda com as performances musicais de Ben Platt, vencedor de um Tony Award e uma das estrelas do elenco de The Politician, a série de Ryan Murphy, e de Shea Diamond, cantora e ativista. Recorde-se que a gala aconteceu remotamente, depois de ter sido adiada devido à pandemia.
A dupla Chloe x Halle encerrou a gala com uma performance do single Do It, contando com a participação de Vanessa Vanjie Mateo, Mayhem Miller e Naomi Smalls, participantes do reality show RuPaul’s Drag Race, todas vestidas à semelhança das Spice Girls.
Podes ver aqui, na íntegra, a lista dos vencedores da noite.
Representação LGBTQ no cinema em subida desigual em 2019
Recorde-se que a GLAAD (Aliança Gay e Lésbica contra a Difamação) publicou recentemente um estudo, onde refere que os grandes estúdios de Hollywood conseguiram ter maior representação LGBTQ nos seus filmes, em 2019, mas a diversidade racial e a representação trans continuaram a ser quase inexistentes.
Os 118 filmes provenientes dos grandes estúdios de Hollywood, no ano passado, conseguiram aumentar os níveis de representatividade da comunidade LGBTQ para valores recorde. Dos 118, 22 filmes (representando 18,6%) incluíram personagens que eram lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, e/ou queer. O número deste ano é o mais alto de sempre desde que o estudo da GLAAD começou a ser feito, há oito anos atrás.
Apesar deste desenvolvimento no que toca à inclusão de personagens lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e queer, a GLAAD diz que a indústria tem ainda um longo caminho a percorrer para alcançar um retrato fiel da comunidade em causa. Isto justifica-se pelo facto de apenas nove de todos os filmes inclusivos terem tido uma personagem LGBTQ com mais de dez minutos de tempo de ecrã. Mais de metade destas personagens (28 em 50), tiveram menos de três minutos de tempo de ecrã total, e 21 dessas 50 apareceram menos de um minuto.
No que toca à diversidade racial de personagens LGBTQ, os valores diminuíram pelo terceiro ano consecutivo. No ano passado, apenas 34% das personagens LGBTQ eram de cor (17 em 50), sendo esta uma queda face aos 42% alcançados em 2018, e uma diminuição em 23% comparado aos valores apresentados em 2017, que se fixaram nos 57%. Para combater esta progressiva diminuição, a GLAAD pede para que, nos próximos dois anos e meio, metade das personagens LGBTQ dos filmes dos grandes estúdios, sejam pessoas de cor.
A representação transgénero foi inexistente no ano passado, dado que não houve nenhuma personagem trans nos filmes que serviram de base ao estudo da GLAAD, pelo terceiro ano consecutivo.
O estudo deste ano, de modo a incrementar e melhorar as formas de representar personagens LGBTQ, inclui uma série de recomendações aos estúdios, para não cometerem erros críticos. Entre elas, salienta-se a necessidade de aumentar o tempo de ecrã de personagens queer, uma maior prioridade para a interseccionalidade com pessoas de cor e personagens com deficiências, a inclusão de retratos autênticos de pessoas bissexuais e, por último, mais personagens trans.
Em relação a esta temática, podes recordar a edição do podcast do Espalha-Factos, o Fita Isoladora, em que se discutiu este tema no contexto nacional.