Faz esta segunda-feira (22), cinco anos desde que o mundo perdeu James Horner, um dos compositores de cinema mais conhecidos de sempre, para um trágico acidente de avião, aos 61 anos. Horner contou na sua carreira com mais de 150 bandas sonoras para filmes, mas destacam-se os dois Óscares ganhos em 1997 com a composição de Titanic, e as restantes oito nomeações para Óscar, ao longo da sua vida, por filmes como Braveheart (1995) e Uma Mente Brilhante (2001).
Com a vitória dos dois galardões, 1997 tornou-se no ano em que finalmente existiu o maior reconhecimento do trabalho de Horner. O compositor ganhou, com Titanic, o famoso filme realizado por James Cameron, o Óscar de Melhor Banda Sonora Original e também o Óscar de Melhor Canção Original, partilhado com o letrista Will Jennings, pela mítica canção My Heart Will Go On, interpretada por Céline Dion nos créditos finais do filme.
Em homenagem a James Horner e ao seu trabalho prolífico, que se estendeu por mais de 30 anos de carreira, o Espalha-Factos decidiu escolher as 10 bandas sonoras mais icónicas do compositor. Alerta-se o facto de, naturalmente, existirem grandes composições que, infelizmente, terão de ficar de fora desta lista.
Titanic (1997)
Quando James Cameron escolheu Horner para conduzir a banda sonora do seu novo filme, Titanic, houve alguma polémica em torno do anúncio. A dupla tinha trabalhado em conjunto, pela última vez, 12 anos antes, em Aliens (1986), o qual rendeu a James a sua primeira nomeação a Óscar mas, apesar do sucesso, o compositor não guardou as melhores das recordações desses tempos. Horner contou, na altura, que lhe deram apenas 10 dias para acabar a composição de Aliens, o que tornou a experiência num “pesadelo”, segundo palavras suas.
Apesar das divergências entre os dois profissionais, o trabalho anterior desenvolvido por Horner em Braveheart, de Mel Gibson, foi o elemento que os reuniu de novo. Antes de Titanic, a trilha-sonora de Braveheart era o trabalho mais famoso do compositor e, para Cameron, era das melhores que já tinha ouvido em toda a sua vida. “Aparantemente, o Braveheart foi uma das melhores bandas sonoras que ele já ouviu, ele confessou-me,” lembrou James. “E ele queria trazer algo para o Titanic, algo que ele pensava que só eu podia oferecer.”
De forma invulgar, Horner aceitou o convite de Cameron, sem existir ainda qualquer argumento nem filmagens existentes, mas empolgado com o desafio colocado pelo lado emocional do enredo. O filme, de forma célebre, narra o relacionamento amoroso de Jack e Rose, duas pessoas oriundas de diferentes classes sociais, interpretados por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Na altura, James tentou evitar qualquer semelhança sonora com épicos anteriores sobre desastres marítimos ou que fizesse lembrar em demasia elementos de drama e fantasia.
Ao invés disso, brincou com sons que evocassem as diferenças culturais que existiam entre os passageiros a bordo do navio, ao mesmo tempo que a sua trilha anuncia, de forma subtil, os sinais da tragédia iminente, misturando a sua orquestra com sintetizadores e vozes.
“Para mim, escrever e compor são muito parecidos à pintura, sobre cores e pincéis,” explicou uma vez Horner. “Eu não uso um computador quando escrevo nem uso um piano… Eu penso de forma bastante abstracta quando estou a escrever. Portanto, quando o projecto avança, parece que estás a esculpir um objecto.”
A música mais conhecida do filme, My Heart Will Go On, foi preparada em segredo, pois Cameron tinha insistido que queria apenas música instrumental. Horner, contrariando as instruções do realizador, gravou uma demo com Céline Dion, mas manteve a gravação em segredo durante três semanas, antes de arranjar coragem para a mostrar a James. “Eu não lhe contei o que era,”, relembrou.
“E… ele ficou completamente pasmado. E eu disse ʽIsto é a Céline a cantar uma canção que escrevi. Estás interessado?ʼ E ele disse, ʽisto é inacreditável, eu adoro isto.ʼ” Um facto curioso é que na altura, apesar de James Cameron ter gostado bastante da demo, desconhecia completamente o trabalho de Céline Dion.
Inicialmente, Dion também se mostrou pouco favorável a gravar a música para o filme pois, na altura, não estava interessada nesse tipo de trabalhos. Para além disso, não gostou da música quando James a tocou pela primeira vez, pois não era grande fã das habilidades vocais de Horner. Depois de ter sido convencida pelo marido, René Angélil, Céline gravou a música num só take, logo a versão que foi usada nos créditos finais e posteriormente lançada para o público foi a demo apresentada inicialmente ao realizador James Cameron.
A banda sonora de Horner para Titanic tornou-se na mais vendida da história, ao mesmo tempo que My Heart Will Go On alcançou o primeiro lugar de vendas, para além de ter sido um dos pontos altos da carreira de Celine Dion, e um dos elementos mais marcantes do filme.
Apesar deste sucesso ter tornado James num dos músicos mais ricos de Hollywood, este insistiu que isso não ia mudar a sua vida: “As profundezas da indústria cinematográfica são tão extremas que me esforço muito para nunca me sentir demasiado em êxtase ou, em contraste, deprimido”, confessou. “Eu tento manter um rumo certo.”
Braveheart (1995)
Esta foi a segunda de três colaborações entre Mel Gibson e Horner, a primeira tinha sido em Um Homem Sem Rosto, de 1993 e a última foi com Apocalypto em 2006. A sua composição para Braveheart foi uma das suas bandas sonoras mais bem sucedidas, dado que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Banda Sonora Original e foi considerada um dos seus trabalhos mais épicos e arrebatadores de sempre.
Desde o instrumento de sopro que fornece o principal tema romântico do filme, até à conhecida Freedom e à música da Escócia rural e medieval, Braveheart é marcado pela habilidade de Horner em compor para cenas que são íntimas mas, ao mesmo tempo, universais. O filme, de 1995, narra a história de William Wallace, que luta para derrubar o domínio inglês sobre a Escócia, e sua trilha-sonora é repleta de influências celtas e escocesas tradicionais, combinadas com a orquestra moderna.
Aliens (1986)
Já se sabe que James descreveu o ambiente em torno da produção da sequela de Alien, realizada por James Cameron, como um “pesadelo”. Porém, vale a pena aqui contar os detalhes da história. Quando Horner chegou aos estúdios da Abbey Road, em Londres, para trabalhar na composição, o filme ainda não estava perto de estar acabado, quanto mais editado.
Cameron passou dias a misturar os efeitos de som, e os produtores recusaram-se a adiar a agenda em torno do lançamento do filme, de modo a permitir que o compositor pudesse escrever uma banda sonora com que se sentisse verdadeiramente satisfeito. O compositor teve então de trabalhar na composição enquanto o filme estava ainda a ser filmado e editado, não conseguindo ter uma percepção geral da história nem dos arcos narrativos, o que lhe dificultou imenso o trabalho.
Apesar de todos estes problemas, o filme valeu a James a sua primeira nomeação para um Óscar, em 1987, perdido para a composição de À Volta da Meia Noite, a cargo de Herbie Hancock. De salientar que James conseguiu, no mesmo ano, outra nomeação, mas para Óscar de Melhor Canção Original, com a música Somewhere Out There, do filme Um Conto Americano.
A banda sonora de Horner recebeu uma variedade de reações por parte dos críticos, sendo que alguns deles a consideraram um clássico instantâneo, e outros viram-na como demasiado parecida a trabalhos seus anteriores. Esta é uma crítica válida, dado que há reminiscências das músicas compostas por Horner para Star Trek II: A Ira de Khan e para Star Trek III: A Aventura Continua, porém o compositor cobre-as aqui com percussões militares e sons explosivos, fazendo com que a trilha de Aliens soe única.
Respondendo às opiniões que não gostaram do seu trabalho, Horner justificou-se com o facto de ter tido muito pouco tempo para desenvolver uma composição substancial durante a produção do filme, e admitiu que teve de recorrer a trilhas suas anteriores. Mas é, sem dúvida, uma composição atmosférica e assustadora que se incorpora de uma forma magistral ao tom do próprio filme, e mostra o domínio que o compositor tem sobre a sua orquestra.
Para o efeito, Horner revelou que trabalhou desde as quatro da manhã até às dez da noite nos meses finais de produção do filme, para conseguir produzir o volume necessário de música que era requerido para um filme de quase três horas. Apesar da necessidade de corresponder aos exigentes pedidos de Cameron, a dupla conseguiu arranjar um método de trabalho mais saudável, apesar de terem existido ainda alguns arrufos.
O compositor produziu uma trilha que combina vozes digitalmente alteradas de todo o mundo e um instrumento balinês parecido com um sino, chamado gamelão, e ainda baterias de estilo africano. Horner confessou que a mistura de instrumentos foi “uma fusão muito bonita de diferentes mundos que dá lugar a uma qualidade mágica. Usar o gamelão para a trilha, ao invés de baterias ou outro instrumento qualquer, dá um brilho mágico a tudo.”
Para o filme, também inventou novos instrumentos de percussão para criar uma música nativa única para a lua Pandora. Foi um resultado monumental e, apesar de não ser considerado dos melhores trabalhos do compositor, percebe-se que Horner utilizou todos os seus conhecimentos apreendidos durante a sua vasta e experiente carreira. Avatar valeu a James mais uma nomeação para o Óscar de Melhor Banda Sonora Original.
Apollo 13 (1995)
Apesar de 1997 ter sido o ano em que o trabalho de Horner foi devidamente reconhecido, com a conquista de dois Óscares, 1995 também foi um ano marcante para a carreira do compositor. James conseguiu o feito de, tanto o seu trabalho em Braveheart, como o que desenvolveu para Apollo 13, terem sido ambos nomeados para o Óscar de Melhor Banda Sonora Original.
O elemento mais memorável do filme é um som repetitivo, semelhante a um relógio, que ecoa na mente obsessiva e matemática do protagonista de Uma Mente Brilhante, John Forbes Nash Jr. que, na realidade, foi vencedor de um Nobel, e era esquizofrénico. A trilha complexa mais profunda foi mesmo um triunfo.
Na altura, Horner desvendou o porquê de ter escolhido Church para cantar os vocais sopranos, depois de ter decidido que queria um equilíbrio entre uma voz adulta e uma de criança. Horner queria alcançar a “claridade, pureza e iluminação de um instrumento” mas também um vibrato que mantivesse a humanidade da voz.
A sua criação musical valeu-lhe outra nomeação para o Óscar, mas Horner perdeu-o para O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel. Ironicamente, James tinha recusado a hipótese de trabalhar neste último filme, dado que apresentava sempre imensa cautela pois tinha receio de ser eternamente rotulado por trabalhado em demasiados filmes épicos de ação e fantasia de seguida.
Star Trek II: A Ira de Khan (1982)
O primeiro grande triunfo de Horner, a trilha sonora do segundo (e para muitos o melhor) filme da antiga saga de Star Trek tem, na sua estrutura, alguns dos melhores trabalhos alguma vez desenvolvidos pelo compositor. James conseguiu magistralmente capturar o optimismo desmesurado do Capitão Kirk, a missão brutal e mortal que Khan quis concretizar e ainda a silenciosa e digna morte de Spock. A melhor parte da composição chega na hora da grande batalha final, que é muitas vezes comparada ao trabalho de John Williams, na saga Star Wars.
Apesar de não ter estado envolvido no primeiro filme de Star Trek, Horner conseguiu o trabalho da sequela dado que o compositor do filme original, Jerry Goldsmith, queria um salário demasiado alto, que a produtora Paramount não estava disposta a pagar. Dada a situação, a produtora decidiu contratar James, que era relativamente desconhecido aos olhos do grande público, naquela época.
A Paramount gostou das demos que ouviu dos trabalhos anteriores de Horner, e queria ir numa direção diferente daquela tomada por Goldsmith no filme anterior, desejando uma trilha mais moderna e James conseguiu realizar esse desejo. Saliento a dificuldade que é entrar a meio de um grande projecto, que contava já com um filme e uma série de televisão dos anos 60, e conseguir ainda produzir material original que fosse ao mesmo tempo fiel à serie, mas que soasse igualmente único.
O compositor, jovem na época em questão, apresentou efetivamente uma banda sonora que marcou a sua carreira, e tratou o Espaço da mesma forma como trataria uma aventura náutica de grande intensidade. Foi considerada uma composição de excelência, na qual Horner mostrou pela primeira vez o seu estilo e alguns dos sons que iriam posteriormente caracterizar a sua carreira lucrativa de sucesso.
A natureza emocional do confronto entre Kirk e Khan, bem como o relacionamento e cena dramática entre Kirk e Spock, na morte deste último, providenciaram a Horner os elementos dramáticos necessários para completar a trilha. A Paramount ficou bastante satisfeita com o resultado final, e voltou a chamar Horner para o terceiro filme da saga, Star Trek III: A Aventura Continua, lançado em 1984.
Um dado interessante é que o filme de 1982 conta com uma rápida aparição do próprio compositor, que pode ser visto a correr num corredor durante a preparação para a batalha final, pouco antes dos torpedos serem carregados na área de lançamento.
Tempo de Glória (1989)
Tempo de Glória, realizado por Edward Zwick, conta a trágica história do primeiro regimento negro da América e a trilha sonora de Horner é considerada uma das suas mais brilhantes. A composição tem um enorme impacto emocional e tornou-se num best-seller do compositor, antes de começar a cair em comparação com outros dos seus trabalhos, como Braveheart e Titanic. Juntando baterias do tempo da Guerra Civil americana, trompetes e flautins, é a junção da orquestra que dá verdadeira grandeza à trilha.