O Espalha-Factos terminou. Sabe mais aqui.
à escuta janeiro
Imagem: Divulgação

Janeiro alterou canção ‘(sem título)’ para que ela passasse na rádio

Numa entrevista dada ao Espalha-Factos e publicada esta quinta (7), o cantor e compositor Janeiro admite que a versão da canção ‘(sem título) 2.0‘ foi criada simplesmente para que a Rádio Comercial a incluísse nas playlists. Refere que “a indústria nos afasta da arte, afasta-nos de nós próprios“.

O tema, que ficou conhecido em 2018, quando o autor concorreu ao Festival da Canção, teve uma nova versão lançada no início deste ano. Janeiro conta que isso aconteceu por proposta da agência que o representa – “A Rádio Comercial aceitou passar a ‘(sem título)’ mas diz que é muito minimalista. Só aceitam passar a ‘(sem título)’ se fizeres um arranjo em que preenchas os silêncios da música”.

O cantor, embora numa fase inicial tenha recusado esta ideia, por defender que “a música vive dos seus silêncios” e por a ter composto de forma minimalista como reação ao que Salvador Sobral tinha feito em 2017, confessa que apenas fez uma ‘(sem título) 2.0’ devido à pressão da indústria, em particular da Rádio Comercial.

“«Queres fazer? É que assim passamos, se não houver silêncios. E eu ok, façam um arranjo com a mesma melodia e a mesma harmonia e só porque tem segundas vozes e uma orquestra já passam? E eles ya. Então bora». É um bocado triste. Se depois as pessoas vêm aos concertos e vão ver realmente quem sou… tudo bem, posso fazer essa cedência. Acho que a versão não me comprometeu, ficou bonita, mas não era assim que a idealizava. Foi meramente para a rádio passar a música“, conta ao EF.

Na conversa com o jornalista Paulo Ricardo Pereira, Janeiro considera que “Há tantas definições [de arte], tantas quanto humanos“, explicando que “se existirem oito mil milhões de humanos, vão existir oito mil milhões de conceções de arte“. O cantor refere que pode haver tentativas de normalização, “criar a crítica e fazer as pessoas pensarem a mesma coisa mas, se pensarem singularmente, vão chegar à conclusão de que acham arte numa coisa que o outro não“, no entanto, é crítico com a indústria – “eu diria que a indústria nos afasta da arte, afasta-nos de nós próprios. Se nós próprios formos a arte então essa frase faz sentido“.

Janeiro foi ao Festival “meio a gozar com aquilo”

O Festival da Canção foi outro dos temas abordados. Janeiro considera que o evento foi uma rampa de lançamento para a carreira – “Criei essa narrativa [da rampa de lançamento] porque fui lá meio que a gozar com aquilo“. O artista acrescenta que tentou juntar uma “barreira ténue entre descomprometimento e a consistência. Por um lado, estou a representar uma canção que é forte, uma balada tuga clássica. Por outro lado, estou a fazer uma performance em que estou a comer uma banana“. 

Notícia atualizada às 19h22 de dia 7/05 com correção sobre a importância do Festival da Canção como rampa de lançamento.