A terceira temporada de Elite estreou na Netflix na sexta-feira 13. Não sou supersticiosa, mas, depois de assistir aos oito episódios, tenho de arranjar uma desculpa para o que vi. Quer seja azar, perda de magia, pressa. Depois da qualidade da segunda temporada – para mim, a melhor -, as expetativas estavam altíssimas. É com muita pena que digo que não foram, de todo, cumpridas.
Pelo trailer, já tínhamos entendido que, como era costume, a temporada trataria mais um homicídio. Neste caso, era o de Polo (Álvaro Rico Ladera), que, mais tarde ou mais cedo, pagaria por ter matado Marina (María Pedraza). Ficamos com a sensação de que a morte de Polo se trata de vingança por parte de um dos seus colegas. Durante o nosso binge-watch, vamos tentando encontrar o verdadeiro culpado, missão que se revela impossível, uma vez que são vários os estudantes de Las Encinas com motivos plausíveis para requerer justiça pelas próprias mãos. Mas afinal o que me fez ficar desiludida com esta temporada?
Novas adições ao elenco que pouco ou nada acrescentaram à série
Na minha opinião, as melhores personagens mantêm-se as que estiveram na série desde o início. A verdade é que, na temporada passada, nos foram apresentadas três novas personagens – Cayetana (Georgina Amorós), Rebeca (Claudia Salas) e Valerio (Jorge Lopez) -, que vieram agitar as águas e definir o rumo dos acontecimentos. Contribuíram mesmo para que a série se tornasse mais interessante. O mesmo não se pode dizer destas duas novas caras.
Malick (Leïti Sène) e Yeray (Sergio Momo) são os novos alunos de Las Encinas… que não trazem nada de novo. Enquanto Malick serve para entreter os irmãos Nadia (Mina El Hammani) e Omar (Omar Ayuso), Yeray vem ocupar os tempos de Carla (Ester Expósito). É mesmo só isso que estes dois rapazes vêm fazer: criar novas storylines para personagens que são relegadas para segundo plano – e que erro. Ambos são enfadonhos e desnecessários, mal construídos e aleatórios. Quando aparecem em cena dá vontade de andar para a frente, o que não costuma acontecer em Elite. Considero um erro terem introduzido duas novas personagens, pois não faziam falta e apenas serviram de distração. É possível que os criadores os tenham trazido para que houvesse uma maior diversidade étnica, mas acabaram por descuidar a sua personalidade.
Amizades demasiado improváveis

Há sempre algumas personagens que, por mais icónicas que sejam, não se suportam. Todos gostamos de ver as suas picardias, tal como as suas reconciliações, mas, desta vez, as amizades que surgiram parecem forçadas e demasiado improváveis. Nadia (Mina El Hammani) e Lu (Danna Paola) foram inimigas desde o primeiro dia e, do dia para a noite, tornam-se unha com carne. Não digo que não apreciei vê-las a colocar os conflitos de parte, mas acho que temos de nos manter realistas. São duas mulheres que sempre lutaram para chegar longe e, quando deparadas com a melhor oportunidade para o seu futuro, veem-se prontas a abdicar dela em prol desta nova amizade? É muito far-fetched para mim.
Outra amizade que pareceu vinda do nada foi a de Rebeca (Claudia Salas) e Ander (Arón Piper). Se foi bonita? Foi. No entanto, não podia ser mais aleatória. Este tipo de conexão entre personagens tem de fazer sentido, tem de começar do zero. Não podem simplesmente começar a unir personagens para que, na próxima temporada, a sua aproximação já seja normal. Tive bastante esta sensação ao longo dos últimos episódios: várias decisões que foram tomadas – desde novas amizades, relações, términos – pareceram apressadas e arquitetadas com vista para a próxima temporada. Falta um fio condutor!
Os casais? A maior salganhada de sempre

Eu sei que Elite sempre nos habituou à flexibilidade dos protagonistas, que ora estão com este, ora estão com aquela. Ainda assim, enough is enough. Uma coisa é formar-se um casal à toa, outra coisa é toda a gente estar envolvida sem a menor coerência. Tive de me adaptar a Carla (Ester Expósito) + Samuel (Itzan Escamilla), apesar de nunca ter apoiado. Polo (Álvaro Rico Ladera) + Cayetana (Georgina Amorós) até fez sentido. Por mais errado que seja, torci por Lucrecia (Danna Paola) + Valerio (Jorge Lopez) – más influências dos Lannisters. Mas tenho de traçar os limites quando começam a juntar Nadia (Mina El Hammani) + Malick (Leïti Sène) ou, ainda mais ridículo, Omar (Omar Ayuso) + Malick (Leïti Sène) e Carla (Ester Expósito) + Yeray (Sergio Momo).
Há que distinguir entre inovar e inventar. Chega a um ponto em que já só estão a colocar empecilhos entre os verdadeiros casais – como Nadia (Mina El Hammani) + Guzmán (Miguel Bernardeau) – para adiar a sua estabilidade. O novo trio amoroso -, que, a meu ver, é uma tentativa falhada de compensar o fim de Christian (Miguel Herrán) + Carla (Ester Expósito)+ Polo (Álvaro Rico Ladera) – surge sem qualquer nexo. Mais uma vez, um casal – Polo (Álvaro Rico Ladera) + Cayetana (Georgina Amorós) – que decide apimentar as coisas ao introduzir um terceiro elemento – Valerio (Jorge López). Parece-me uma repetição sem êxito. E nem me devia pronunciar acerca do que fizeram ao casal Omar (Omar Ayuso) + Ander (Arón Piper), que tinha efetivamente pernas para andar e que se tornou uma agonia. Por falar nisso…
O cancro irrealista de Ander

Mais uma vez, um passo mal dado. Não fazia falta uma história mais trágica se era para a retratarem de uma forma ridícula. Fizeram com que nos despedíssemos dos caracóis de Arón Piper em vão. Toda a história em torno do cancro de Ander está mal desenvolvida. Para já, a forma como a doença é detetada. What the actual fuck. Mas isso é o menos. Ander tenta afastar todos aqueles que com ele se preocupam para que não sofram – sim, até faz sentido -, mas essa narrativa torna-se maçadora. A quimioterapia é retratada de forma descuidada e, o pior de tudo, é o rumo que a sua relação toma.
Desde a primeira temporada que Omar (Omar Ayuso) + Ander (Arón Piper) fez sentido. Contudo, à medida que a série foi avançando, esta relação foi constantemente sabotada. Chegou ao ponto de parar sequer de fazer sentido. Numa altura em que Omar vê o seu namorado diagnosticado com um cancro, o que faz o jovem? Pois claro, arranja um amante. Nada melhor do que um belo par de cornos para o amor da sua vida nesta fase tão turbulenta. Esta escrita não faz sentido. É pura sabotagem das poucas coisas que tínhamos como certas. “Agora cada um segue o seu caminho”. “Não, afinal não vivemos um sem o outro”. “Ah, mas agora vou emigrar para os EUA com o meu novo namorado”. “Hm, se calhar fico por cá e vou tentar acabar o secundário”. ?????
As inúmeras pontas soltas

Foram vários os acontecimentos que não fizeram sentido. Outros que até entendo, mas aos quais não deram seguimento. O enredo está uma mess total. Passo a dar alguns exemplos. Lu (Danna Paola) é expulsa de casa e deserdada pelo pai após o mesmo saber do que se passou com Valerio (Jorge López). Apesar de fazer sentido, é uma narrativa descuidada que apenas foi criada para mudar o rumo à história. Depois do que viveram na segunda temporada, mal interagem nesta terceira.
Outro exemplo é a narrativa de Carla (Ester Expósito), outrora uma personagem crucial e agora secundária. As confusões com a sua família – nomeadamente o seu pai controlador – foram mal desenvolvidas e irrealistas. A história com Yeray (Sergio Momo) é frustrante de tão aborrecida. Desperdiçaram uma personagem icónica com uma história lamentável. O seu final é o mais revoltante.
Lembram-se de Christian (Miguel Herrán) e Nano (Jaime Lorente Lopez)? Têm uma vaga ideia? Pois. São duas personagens que afetaram bastante o rumo da história em Elite, mas que, devido à agenda dos atores (mais conhecidos pelos seus papéis em La Casa de Papel), foram gradualmente apagadas da história. Christian foi enviado para uma clínica na Suíça e Nano fugiu do país. O segundo ainda é mencionado nesta temporada, menos mal, mas do primeiro ninguém fala. Acho mal.
[alert type=red ]Os parágrafos que se seguem incluem spoilers relevantes sobre o fim da temporada.[/alert]
O verdadeiro autor do crime

Para mim, esta foi uma das maiores desilusões. Afinal, não se tratava de vingança ou de um crime premeditado, e sim… de um acidente. Um acidente! Vou só “acidentalmente” espetar uma garrafa partida no coração da inimiga. Foi basicamente isso que aconteceu. E escolherem Lu (Danna Paola) para o papel de autora do crime ainda menos sentido tem. Era das personagens com menos razões de queixa de Polo, com uma das personalidades menos propensas a cometer o crime e mesmo assim decidiram colocar as culpas nela.
Aliás, na verdade, ela não matou Polo, porque este, mesmo tendo vidros espetados no coração, não morreu. Foi a queda que o matou (e também não foi de forma imediata! Adoramos este realismo). A tal queda de cuja autoria todos nos questionávamos. Então não é que foi também um acidente? Alguém lhe deu um encontrão e ele, trapalhão, caiu para a morte certa. Não antes de ter todo um momento com o seu ex-melhor amigo Guzmán (Miguel Bernardeau), que só no leito na morte de Polo é que decidiu perdoá-lo pelo assassinato da irmã – mais uma vez, realismo é a palavra.
Também não posso estar só para aqui a criticar. Gostei bastante do twist final de “um por todos, todos por um”, em que a grupeta de Las Encinas coloca de parte as picardias e decide unir-se para evitar que haja apenas um culpado. A ideia de baralharem os testemunhos foi genial e, acima de tudo, bonita. Mostra desenvolvimento do caráter de cada um.
O fim de um ciclo

Consta que vamos poder contar, pelo menos, com uma quarta e uma quinta temporadas de Elite. No entanto, nem tudo é bom. Como já era de prever para quem viu o episódio final, a série continua com alterações drásticas no elenco. Custa-me a crer que não estejam a dar um tiro no próprio pé.
Personagens amadas pelo público e que carregam a série às costas como Lu (Danna Paola), Carla (Ester Expósito) e Nadia (Mina El Hammani) parecem ter-se despedido de vez. O que vão ser Las Encinas sem elas? Será que vale a pena prosseguir?
O elenco que se mantém, pelo menos com base no tal episódio derradeiro, parece-me insuficiente. Algo como Samuel (Itzan Escamilla), Guzmán (Miguel Bernardeau), Omar (Omar Ayuso), Ander (Arón Piper), Cayetana (Georgina Amorós) e Rebeca (Claudia Salas), mais coisa, menos coisa. Já estou aborrecida.
Dizem que tudo o que é bom acaba depressa e Elite parece ter sucumbido à monotonia caraterística de muitas séries que vão além do que deviam por colocarem os lucros à frente do sucesso. É torcer para que consiga, qual Fénix, reerguer-se das cinzas desta terceira temporada, regressando ao drama imperdível e viciante que foi até então.
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