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Terra Comum, de Susana Nobre | Fonte: Divulgação

‘Tempo Comum’, um retrato delicado sobre a maternidade

Tempo Comum é o mais recente filme da realizadora portuguesa Susana Nobre. A longa-metragem segue os passos de Marta (Marta Lança) e Pedro (Pedro Castanheira) enquanto pais de primeira viagem da pequena Clara (Clara Castanheira). A linha entre o que é documental e o que é ficção é muito ténue neste sincero retrato da maternidade que estreia a 5 de dezembro nos cinemas portugueses.

Susana Nobre é veterana no que toca o mundo documental português; o primeiro que realizou foi Os Narradores em 2001 e, até agora, quatro – O que pode um rosto (2003), Estados da Matéria (2006), Vida Activa (2013), No Trilho dos Naturalistas – As Viagens Filosóficas (2016) – dos sete filmes que realizou enquadram-se neste género.

No entanto, ao contrário da maioria das suas obras, Tempo Comum é um trabalho de ficção. Susana Nobre conta que foi o primeiro a ter diálogos trabalhados e moldados para a duração dos planos, “Aquilo que é para mim inaugural neste projeto, em relação aquilo que é a ficção, está ao nível dos diálogos, como a palavra é trabalhada”.

O filme foi apresentado primeiramente no IFFR Netherlands’18 (International Film Festival Roterdam) e passou por 17 festivais de cinema como o  IndieLisboa’18 (competiu na categoria Competição Nacional), o Festival do Rio – Rio de Janeiro International Film Festival ’18 ou o Festival Internazionale di Cinema e Donne ’18.

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Marta antes do parto em Tempo Comum | Fonte: Divulgação

Quando conhecemos Marta, ainda não teve a bebé. Um longo plano da quase-mãe tranquila, deitada na cama a passar a mão pela barriga. O filme é marcado por diversos momentos que, para além de observados, são respirados – Pedro, o pai, a descrever o parto como o germinar de uma flor exótica; um plano quase poético da mãe a dormir uma sesta ainda com as luvas de limpeza; fotografias nostálgicas de uma infância bem passada; uma viagem ao Alentejo para apresentar a pequena ao avô materno… E, sobretudo, a beleza das relações intergeracionais.

A rotina vai-se estabelecendo aos poucos, entre visitas de amigos que partilham com Marta as suas experiências enquanto pais divorciados, enquanto mães com partos complicados ou enquanto amigos que não têm certezas acerca da paternidade. A normalização da amamentação dá-se quando Marta dá de mamar enquanto fala com os amigos, dando uma visão natural do que é a maternidade. “Uma mãe que vai ter um primeiro filho, recebe os amigos que lhe contam as suas vivências, e como é que essas histórias de certa maneira ligam ao que ela está a viver. Era somente isto“.

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Clara com os avós paternos em Lisboa | Fonte: Divulgação

O filme é fechado no espaço do apartamento pequeno onde o casal vive em Lisboa, mas, ao mesmo tempo, vai além nas histórias que são contadas e ganham campo num espaço imagético paralelo à “trama” principal. Trama entre aspas porque a verdade é que esta docu-ficção (se assim a podemos chamar) não tem propriamente desenlace, tensão ou catarse. O filme encenado apenas acontece, assim como a vida real de Marta, Pedro e Clara continuará a acontecer, agora sem diálogos trabalhados, nem câmaras, nem planos bem-pensados.

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