Onde estás, Bernadette, de Richard Linklater, parece à partida (até mesmo pelo próprio título) tratar-se de um mistério, mas vai muito mais além. Aprofunda-se no complexo da alma da protagonista (Cate Blanchett) que, entre várias complicações na vida, deixou de ser ela própria.
A temática da doença mental percorre todo o filme e é tratada com enorme respeito, embora sempre de uma forma superficial e até com um certo humor. No entanto, nunca deixamos de sentir o peso nos ombros de Bernadette, uma mulher que faz de tudo para se isolar de tudo e de todos. Ela só consegue estar próxima da filha (Emma Nelson) e do marido (Billy Crudup). Ainda assim, é com este último que tudo se começa a complicar devido a faltas de entendimento de parte a parte. Ele quer ajudar e ela quer negar que algo se passa e descarregar a sua energia de outra forma.
Bernardette era uma arquiteta famosa ou, como a mesma gosta de dizer, uma “solucionadora de problemas” com um toque estético apurado. Deixou o seu lado artístico para trás quando se casou e teve a filha. Apesar de ser mencionado que esta última é doente, não é nunca demonstrado um cuidado extra com ela, o que retira algum realismo à história.
Cate Blanchett dá corpo a Bernadette
A narrativa desenrola-se em torno de pequenos acontecimentos, sendo que o central é uma viagem em família, à Antártica. É um enredo simples que, sobretudo no terceiro ato, se perde a tentar ser mais glorioso do que na verdade é. É previsível, mas não deixa de ser interessante ver como a cabeça de uma artista pode ser afetada por não criar.
O filme procura trazer alguma comédia, mas confesso que, à parte de um momento, esse aspeto não foi bem conseguido. O que realmente se destaca são os momentos dramáticos. É justamente nesses que vemos Cate Blanchett a brilhar. A atriz é bastante competente e eleva o filme com uma performance sincera de alguém demasiado afetada mentalmente com a banalidade da vida.
Embora lhe falte mais emoção, não há como dizer que não é o típico filme fofinho e calha bem para ser visto, em família, na época natalícia. Trata a união familiar, o não desistir do outro e sobretudo dos próprios sonhos.
A longa-metragem deixa-nos com a importante mensagem de que só seguindo o verdadeiro propósito é que podemos contribuir para a sociedade e evitar a autodestruição.
Baseado no romance bestseller de Maria Semple e produzido por Nina Jacobson, Brad Simpson e Ginger Sledge, Onde estás, Bernadette chega às salas de cinema portuguesas a 28 de novembro.