Com o Halloween à porta, não faltam planos para a noite mais assustadora do ano, adaptáveis a todos os gostos. Para os que procuram um bom susto, mas não pelos melhores motivos, há vários filmes que transformam o medo numa sessão de gargalhadas sem fim.
Seja por más interpretações, péssimos efeitos ou um enredo de fugir, não há nada como uma boa maratona das tentativas mais infortunas e hilariantes de espalhar o terror. O Espalha-Factos leva-te numa viagem aos últimos anos de arrepios no cinema, onde muitas produções fracassaram, algumas até ao ponto de se converterem em obras de arte.
Semente de Chucky (2004)
Qualquer um já ouviu falar de Chucky, o boneco mais diabólico do mundo do cinema. Será justo dizer que o franchise Child’s Play teve os seus altos e baixos, com os três primeiros filmes num registo de terror estrito e os seguintes numa mescla de susto e comédia. Contudo, ninguém estava preparado para o espetáculo macabro de Semente de Chucky, a desconexa continuação de Noiva de Chucky que culmina no nascimento de um estranho bebé.
Na sexta longa-metragem da saga, Glen ou Glenda (Billy Boyd), há muito separado dos pais, decide procurá-los, rumando a Hollywood. Os progenitores, Chucky (Brad Dourif) e Tiffany (Jennifer Tilly), servem, agora, de meros adereços num projeto cinematográfico barato, fator reminiscente da própria essência do filme. Após serem ressuscitados por Glen/Glenda, a família embarca na mesma aventura que alimentou os restantes filmes do franchise: encontrar corpos humanos nos quais os seus espíritos possam habitar.
Uma boa palavra para descrever Semente de Chucky seria, sem dúvida, bizarro. O caos impera, numa narrativa pontuada por punchlines sobre a identidade sexual de Glen/Glenda, uma inseminação artificial forçada, o regresso do rapper Redman, múltiplos cenários sexuais com bonecos e momentos gore tão espalhafatosos que apenas dão vontade de rir. Se a produção é, certamente, marcante, a execução da sequela deixa bastante a desejar.
Birdemic: Shock and Terror (2010)
The Birds (1963), realizado pelo cineasta Alfred Hitchcock, constitui um excelente exemplo de como é possível operar um bom filme de suspense, cujo principais antagonistas são espécies de aves. Birdemic: Shock and Terror é o primo afastado, delirante e low-budget deste clássico, apesar de ambos deterem o estatuto de filme de culto.
Birdemic desenrola-se à volta do reencontro de Natalie (Whitney Moore) e Rod (Alan Bagh), ex-colegas que se apaixonam perdidamente, depois de vários anos separados. Perdidamente ao ponto de não prestarem atenção aos acontecimentos peculiares relacionados com aves da zona. É verdade, pássaros mutantes estão a atacar a pacífica região de Sillicon Valley.
Desengane-se o espetador que tente subestimar as investidas dos espécimes. As suas vastas habilidades englobam cuspir ácido, explodir no seguimento de qualquer tipo de contacto, repetir a mesma gravação de sons furiosos vezes sem conta e incendiar casas. Já para não falar dos “luxuosos” recursos cinematográficos despendidos na execução de toda a parafernália, aliados a desempenhos monótonos por parte dos atores.
Birdemic abarca todos os erros possíveis de cometer na produção de um filme. Talvez seja um alerta à frente do seu tempo para as consequências nefastas do aquecimento global. De facto, apenas a mente insana e muito criativa do realizador James Nguyen pode responder a tais questões.
Jason X (2005)
Mais um caso de sequelas falhadas, Jason X ridiculariza os propósitos originais da icónica sequência de Sexta-Feira 13. Num futuro pós-apocalíptico, Jason (Kane Hodder), responsável por inúmeras mortes no campo de férias Crystal Lake, encontra-se, desta vez, no espaço sideral. A Terra transformou-se num local inóspito, mas o corpo congelado de Jason perdura nas mãos de estudantes intergalácticos.
A premissa do filme afigura-se demasiado fantasiosa para ser levada a sério, especialmente quando se trata de um assassino tão visceral e pragmático como Jason. As restantes componentes da narrativa acabam, assim, por confirmar os preconceitos iniciais. Os clichés são abundantes para o décimo filme da saga, invocando a necessidade de soletrar princípios básicos de sobrevivência aos protagonistas (quando se pensa que o assassino está morto, provavelmente não está).
Dotado de um enredo previsível, Jason X destaca-se como espetáculo à beira do colapso, semelhante ao armamento espacial, claramente de plástico, que o filme tenta vender como tecnologia de ponta. Se semicerrarmos os olhos o suficiente torna-se até possível ignorar os vários buracos no enredo. O pior do sci-fi numa pequena dose de 90 minutos.
O Intruso (2019)
O Intruso pode ser considerada a película menos duvidosa da listagem. Todavia, afirma-se como uma interessante experiência cinematográfica, à qual tive o prazer de assistir numa sala de cinema dominada pelas gargalhadas, face a momentos de grande tensão.
Em suma, O Intruso foca-se na espiral psicótica do ator Dennis Quaid, conhecido por marcos de infância como Pai para mim… Mãe para ti… (1998). Desta vez, Quaid interpreta o vilão Charlie Peck, o típico homem americano obrigado a vender a sua casa, invadindo-a, de vez em quando, para cumprimentar os novos ocupantes ou espiá-los na casa de banho.
E claro que Annie (Meagan Good), residente na habitação, avalia o caráter de Peck como resultado da mera solidão inerente à velhice. Uma e outra vez, Annie abre-lhe a porta, mesmo quando Charlie emerge dos arbustos pronto a consolá-la, após acontecimentos trágicos que não tinha maneira de saber.
No grande desfecho do filme, o antagonista tenta matar a mulher e o marido, numa intensa batalha em slow-motion repleta de… rugidos? Aliás, a cena chega a ser cortada, de forma repentina, para dar lugar aos créditos finais, oscilantes entre a anedota e o teledisco do Lil Wayne. O perfil voyeurista do personagem, a ingenuidade dos bons da fita e o exagero nos mais inócuos pormenores transformam O Intruso numa longa-metragem obrigatória, bastante próxima da telenovela.
O Ataque do Tubarão de 3 Cabeças (2015)
Seria impossível não mencionar outra lenda obscura, somente existente nos confins do canal SYFY. Muitos conhecem Jaws (1975), no entanto será que ouviram falar do mítico tubarão de 3 cabeças? O tubarão branco mais temido dos Estados Unidos, cujo único propósito consiste em perseguir jovens estereotipados?
De navio em navio, o preguiçoso projeto destrói todas as oportunidades que tem para ser considerado minimamente razoável. O baixo orçamento é notório, não existindo, por isso, desculpa para a incoerência humorística da ação. O peculiar organismo fareja festas de adolescentes em embarcações à distância, sempre disposto a causar desordem no meio da euforia.
A animação da criatura converte-se numa hilariante mostra de incompetência, até mesmo para os atores. Muitos parecem rir quando se atiram dos barcos, em extravagantes movimentos de parkour. Deve-se, também, sublinhar o óbvio ao referir a falta de substância das prestações, filmagens medíocres e frases incongruentes, proferidas sem nexo algum.
O Ataque do Tubarão de 3 Cabeças acabou por servir de base a outras grandes criações, como O Ataque do Tubarão de 5 Cabeças (2017) ou O Ataque do Tubarão de 6 Cabeças (2018). A lógica em acrescentar mais cabeças a tubarões para otimizar um conceito, à partida, estapafúrdio parece inexistente. Por outro lado, há que atribuir mérito, onde este existe: pode ser um espetáculo desnecessário, mas nunca aborrecido.