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Vanessa Paradis em 'Oh Les Filles!' | Fonte: divulgação DocLisboa

‘Oh Les Filles!’: o documentário feminista sobre Rock ‘n’ Roll que nada traz de novo

Inserido na secção Heart Beat da programação do DocLisboa’19, Oh Les Filles! é um documentário francês sobre o papel das mulheres no panorama do Rock ‘n’ Roll francês, realizado pelo jornalista e realizador François Armanet (que também dirigiu os filmes Laband du drugstore House of Times).

Este conta com a participação de variadas cantoras francesas como as meias-irmãs Charlotte Gainsbourg e Lou Doillon (filhas de Jane Birkin e de Serge Gaisnbourg e Jacques Doillon), Françoise Hardy, Brigitte Fontaine, Imany, Vanessa Paradis, Jeanne Added, Jehnny BethElli Medeiros e Camélia Jordana.

O Rock ‘n’ Roll não começou com Elvis Presley, diz-nos o voz-off, mas sim com a rendição apaixonante e deseperada de Hymne a l’Amour que Edith Piaf cantou em 1949 após a morte do grande amor da sua vida, o boxeador Marcel Cerdan, vítima da queda de um avião enquanto sobrevoava os Açores.

Finda esta introdução, o documentário passa a focar-se nas cantoras entrevistadas que falam sobre a infância, os efeitos das suas carreiras precoces (no caso de Charlotte Gainsbourg e Vanessa Paradis), as suas inseguranças acerca da aparência ou até da voz (Françoise Hardy achava-se demasiado andrógena para ser atraente, Imany era vítima de bullying por “ter voz de ogre”). Explicam que a música podia deitá-las abaixo e, ao mesmo tempo, levá-las ao paraíso. A fúria, tristeza e euforia culminaram na paixão pela música, a grande responsável pela recuperação da autoestima outrora escondida.

As entrevistas são intercaladas por filmagens de concertos ao vivo das cantoras entrevistadas, numa pletora de géneros: o bubblegum pop de Camélia Jordana, o soul de Imany, o rock pesado de Jeanne Added e o pop-rock de tons quentes de Vanessa Paradis. Estas têm como propósito mostrar a diversidade, que as mulheres podem ser multifacetadas, podem gostar de vários estilos, podem querer dançar femininamente ou bater com o pé no chão e berrar “como um homem”.

A rainha deste documentário é, sem dúvida, a cantora avant-garde francesa Brigitte Fontaine que, sempre com um cigarro no canto da boca e um leque a tapar metade da cara,  fala sobre temas como o aborto, a imigração, e a world music. “Eu quero é que a world music se f***“, diz Fontaine, destacando a obsolescência do termo.

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Brigitte Fontaine | Fonte: Radio Nova

80 minutos de Oh Les Filles!

Oh Les Filles! é divertido e dançante, mas esconde-se por trás de muitos clichês. Mostra-nos uma sociedade utópica onde as mulheres e os homens atingiram o mesmo patamar no mundo da música, mas sabemos que não é assim nem na música nem em qualquer outra atividade artística, económica, política ou social.

A certo ponto, Camélia Jordana diz que não conhece ninguém que não se considere feminista — ou vive numa bolha utópica ou então foi uma declaração esperançosa imbuída no espírito do documentário. No fim, concordam todas que cada um de nós tem, dentro de si, partes femme e masculin e essa acaba por ser a consideração mais profunda dos 80 minutos de documentário.

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