O mais antigo apresentador de televisão nunca foi funcionário da casa. Júlio Isidro é o cartão de visita da RTP há 59 anos, o precursor e a referência da geração que viria a conduzir o pequeno ecrã — mas a sua residência na sala de estar de Portugal teve, durante anos, a periodicidade de 13 semanas, acumuladas sem fim. Hoje, os seus contratos têm a duração técnica de um ano, só que acabam a tender para infinito.
É Júlio Isidro que enverga uma das mais suadas camisolas do serviço público, ostentada num número recordista de diretos e em formatos que vão do perene Passeio dos Alegres até ao atual Inesquecível — duas balizas temporais que simbolizam a sua transição da RTP1 para a RTP Memória, onde também integra a mesa redonda de Traz P’rá Frente.
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Se parece uma situação ingrata, há que perceber o que é, 15 anos depois do seu nascimento, o canal do arquivo: uma estação efervescente, manobrada por uma equipa jovem e especializada, em que a memória é energia — da qual o ‘Senhor Televisão’ tem carregamento vitalício. No 15.º aniversário da RTP Memória, que teve lugar no Lisboa ao Vivo, o Espalha-Factos teve a honra de conversar brevemente com o ícone da televisão portuguesa.
Acompanhou a RTP ao longo de toda a sua carreira, esteve na proa do serviço público durante imensos anos e ainda está — como é continuar a ser uma das figuras mais dinâmicas da televisão portuguesa e ver que o seu envolvimento continua a ser crucial para um canal como a RTP Memória?
Olhe, é eu sentir-me tão jovem quanto os jovens que estão na RTP Memória, que são muitos deles ligados à RTP Inovação. Realmente, a história da RTP veste-se no meu corpo como se fosse um fato: eu tenho só menos 2 anos do que a vida da RTP, em termos profissionais, e, portanto, aquilo que eu fiz foi adaptar-me aos tempos. Não é adaptar-me às novas modas de televisão — é adaptar-me aos tempos que correm. Nomeadamente, quando falo nos tempos, é até no aspeto do timing que, hoje em dia, as coisas têm: vivemos mais a correr, a televisão também é feita com mais ritmo, a um outro ritmo mais a correr. Mas, tirando isso, a minha linguagem e os meus princípios éticos e estéticos são os mesmos.
Estava a pensar nisso: tantos anos depois, o que é que o Júlio Isidro consegue aprender com os novatos — se alguma coisa?
Eu acho que seria um disparate se [não aprendesse] nada, é evidente que se aprende. Eu gosto de aprender é com aqueles que querem correr riscos, mesmo que as situações em que estar a correr riscos possa dar uma coisa menos boa, um produto menos bom. Agora, os jovens profissionais que se vão encostar apenas ao que já está feito, ao que é garantido, não aprecio especialmente. Eu gosto daqueles que são capazes, ou que tentam, partir o vidro ou sair da caixa.
Foi o que o Júlio fez e continua a fazer.
Foi o que eu fiz e, portanto, acho que os tempos eram outros e muito mais difíceis; agora que são mais fáceis, têm obrigação de o fazer.
E ainda vamos ver um programa de aeromodelismo com o Júlio?
Ah, se calhar, se calhar, se calhar… Aliás, eu creio que uma parte da minha carreira daqui a mais um ano, ou dois, ou três, é capaz de ser dedicada a ensinar os miúdos a mexer com as mãos, se não um dia só sabem mexer com os dedos.
Depois destes anos, ainda está a fazer o Inesquecível…
Estou a fazer o Inesquecível e o Traz P’rá Frente e agora vou começar um projeto que apresentei ao diretor do canal [Gonçalo Madail] e que ele aprovou, portanto vai haver mais uma coisa.
Ficamos imensamente felizes com isso. Depois de tanto tempo, quando chega às 13 semanas, ainda sente aquele nervosismo?
Não, já não — está-me a falar das 13 semanas, eu agora sou um homem de sorte, que a RTP renova comigo de ano a ano. Só no mês de dezembro é que posso andar mais ansioso.